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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - URBANISMO (Q)
Em direção ao continente (4)

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Metropolização, conurbação, verticalização. Os santistas passaram a segunda metade do século XX se acostumando com essas três palavras, que sintetizam um período de grandes transformações no modo de vida dos habitantes da Ilha de São Vicente e regiões próximas.

O isolamento da área continental em relação ao resto do município santista foi o tema desta matéria, publicada em 30 de julho de 1995 no jornal santista A Tribuna:


Reduto dos mais aprazíveis da região, Monte Cabrão nem parece pertencer a Santos, tal a tranqüilidade que ali se verifica, conforme atestam seus moradores
Fotos: Sílvio Luiz, publicadas com a matéria

Isolada, área continental de Santos enfrenta dificuldades pela falta de serviços básicos

Cecília Rodrigues
Da Editoria Local

Isolada geograficamente da Ilha e com uma população de cerca de 5 mil habitantes, a região continental de Santos passa por uma série de dificuldades por falta de serviços básicos. Para desfrutar de uma vida mais digna, as comunidades dos principais núcleos urbanos da área, Monte Cabrão, Caroara e Caiubura, dependem de toda a rede de infra-estrutura dos municípios vizinhos, com os quais fazem divisa.

É o caso de Monte Cabrão, que nem parece pertencer a Santos. Utiliza os equipamentos do Município de Guarujá para tudo, inclusive o transporte coletivo. No local, só há uma escola de 1º Grau, com apenas duas classes. Assim sendo, os jovens são obrigados a se deslocar até o Distrito de Vicente de Carvalho para dar prosseguimento aos estudos.

Em caso de doença, o Pronto-Socorro do distrito também é acionado para atender os pacientes. E, nas (raras) ocorrências policiais em Monte Cabrão, são as polícias Civil e Militar de Guarujá que cuidam dos casos.

Anexação - O mesmo acontece com o maior núcleo populacional da região continental, o Caroara, que possui cerca de 2,5 mil habitantes. Só que, ali, a população se abastece dos serviços e do comércio de Bertioga, o mais novo Município do Litoral.

Por isso, o prefeito Mauro Orlandini está pleiteando à Assembléia Legislativa a anexação daquela área a Bertioga, por intermédio do deputado estadual Oswaldo Justo (PMDB).

Já o Caiubura encontra-se em área de litígio. Em 1989, a ex-prefeita de Santos, Telma de Souza, prevendo a emancipação do então Distrito de Bertioga, criou uma lei que modificou os limites entre as duas localidades.

Divisa - A divisa que era no Rio Iriri (também chamado de Rio Macuco) passou para o Rio Itapanhaú. O território de Bertioga foi reduzido de 482 para 279 quilômetros quadrados.

Os bertioguenses recorreram da decisão, alegando a inconstitucionalidade do ato, e conseguiram recuperar a área perdida. A Prefeitura de Santos, entretanto, recorreu da decisão judicial e o caso está agora no Supremo Tribunal Federal para ser julgado.

Paralelo a toda essa disputa, Bertioga emancipou-se de Santos em maio de 1991, por força de um plebiscito popular.

Investimentos - Hoje, Caiubura recebe investimentos apenas na Prefeitura de Bertioga, que este ano inaugurou no local uma escola de educação infantil, para atender crianças na faixa etária de três a cinco anos. A unidade também é freqüentada pela população infantil do Caroara.

Na sede da Sociedade de Melhoramentos funciona o Núcleo de Aprendizado para Jovens e Adultos e são realizadas aulas de ginástica, crochê, tricô, entre outras, cujos professores são cedidos pela Prefeitura de Bertioga. A limpeza e a manutenção das ruas, além da coleta de lixo, realizada três vezes por semana, também são executadas pelo Município vizinho.

O Caiubura ainda carece de muitas melhorias. A construção de galerias na Rodovia Rio-Santos, para dar vazão às águas pluviais; a implantação de iluminação pública em todas as ruas do núcleo (atualmente só algumas vias são iluminadas) e a instalação de telefones residenciais são as principais reivindicações.

Dependência - Com tanta dependência, cresce o número de moradores que apóia a anexação de Caroara ao novo Município. O ex-presidente da Sociedade de Melhoramentos do núcleo, José dos Santos, diz que não adianta a Cidade de Santos ser a dona da terra, se nada faz para melhorar a vida dos habitantes.

O aposentado Noel Costa engrossa o coro dos insatisfeitos. Ele diz que em caso de plebiscito, os moradores votarão pela anexação de Caroara a Bertioga.

O presidente da Sociedade de Melhoramentos do Caiubura, Stanley Leal de Castro, garante que os moradores já consideram o Caiubura parte integrante do território de Bertioga.

Mais tranqüilos, os moradores de Monte Cabrão aguardam pacientes que a Prefeitura de Santos asfalte a estrada de terra de acesso ao núcleo.


O Continente oferece belos recantos como o portinho em Caroara
Foto: Sílvio Luiz, publicada com a matéria

Prefeitura alega que investe na região

Segundo o coordenador da região continental, Alfredo Coelho Jr., a Prefeitura de Santos tem investido na área de forma a melhorar os acessos aos núcleos, principalmente no Caroara. Ele disse que verifica que a população "mostra-se satisfeita com a Prefeitura".

Coelho conta que no Caroara foram feitas melhorias nas ruas principais; instalada iluminação pública em quatro vias e implantado um posto da Guarda Municipal. "Vamos construir também uma escola municipal e melhorar o campo de futebol, para proporcionar lazer de qualidade aos moradores".

O prefeito David Capistrano esteve recentemente no Caroara para discutir com os moradores sobre a construção da escola de primeiro grau e a implantação de uma policlínica no prédio onde, hoje, funciona a escola estadual.

Coelho disse que a escola do Caroara também irá atender as crianças de Monte Cabrão. Segundo ele, o número de alunos do local é insuficiente para ampliar a escolinha já existente.

Não faz - Quanto ao Caiubura, ele reconhece que a Prefeitura não tem feito investimentos. "Estamos esperando que a Justiça resolva sobre o destino da área em litígio".

Segundo o coordenador, os moradores de Monte Cabrão, Caroara e Caiubura terão que continuar sendo servidos pelo transporte urbano dos municípios vizinhos. Lembrou que a CSTC passa por crise financeira e não tem condições de estender seus serviços aos núcleos.

A Ilha Diana, afirma, também vem recebendo melhorias. Citou a construção do centro comunitário, da escola de primeiro grau e a ampliação dos serviços de catraias, com a contratação de barqueiros da própria comunidade.

Coelho admite que a população da região continental utiliza os serviços públicos de municípios aos quais não paga impostos, mas alega que a Prefeitura santista vem investindo muito para garantir condições de os núcleos urbanos serem auto-suficientes.

Continente tem mais de 400 km²

A região continental de Santos, incluindo a área do Caiubura que está em litígio, tem 434,6 quilômetros quadrados, enquanto a Ilha possui apenas 39,4 quilômetros quadrados.

A área continental começa no Vale do Quilombo, na Serra do Morrão. Neste ponto do território santista fica o porto da Cosipa e toda a unidade portuária da Ultrafértil. A região prossegue por Jurubatuba e Jurubatuba-Mirim, que atravessa a Rodovia Domênico Rangoni, também conhecida como Via Caiçara (antiga Piaçagüera-Guarujá), e desemboca no terminal portuário da Alemoa.

Em seguida, vem o Vale do Diana, onde estão localizados sítios e uma fazenda de criação de búfalos, que faz parte do roteiro de ecoturismo, promovido pela Prefeitura de Santos.

Mar adentro, na direção da Base Aérea, localiza-se a Ilha Diana, uma vila de pescadores surgida em 1941 e que, hoje, tem cerca de 150 moradores.

Na Via Caiçara, próximo ao pedágio, fica a entrada para a Ilha Barnabé, utilizada para a instalação de depósitos de produtos inflamáveis. Às margens da mesma estrada, já na altura da ponte sobre o Canal de Bertioga, situa-se o Monte Cabrão, com cerca de 500 moradores.

Entrando no eixo da Rodovia Rio-Santos fica o Rio Trindade, de onde é retirada a água para abastecer os navios do Porto de Santos, cujo líquido passa por posterior tratamento em Guarujá. Essa atividade está sendo legalizada pela Prefeitura de Santos em conjunto com vários órgãos estaduais.

No eixo da Rio-Santos (Rodovia Prestes Maia), a região continental abrange ainda o Caroara e a área de litígio do Condomínio Chácaras Caiubura, além dos loteamentos Parque Caiubura e sítios São Benedito, São João e Vergara, que juntos abrigam uma população de aproximadamente 300 habitantes.


Contato com a natureza permite lazer saudável para as crianças
Foto: Sílvio Luiz, publicada com a matéria

Plano Diretor prevê a criação de novos bairros

Uma das propostas do novo Plano Diretor Físico de Santos, que está em debate, prevê a transformação dos chamados núcleos urbanos, Monte Cabrão, Caroara, Caiubura e Ilha Diana, em bairros oficiais.

A Prefeitura quer preservar as características naturais da área, um verdadeiro santuário ecológico. Com base na nova legislação, seriam criados centros para pesquisas científicas, áreas de reflorestamento e trilhas para a exploração do ecoturismo, além da permissão para instalação de indústrias não poluentes.

A maior parte da região continental é formada por manguezais e pela Mata Atlântica, que dentro das divisas do Município de Santos foi tombada pelo patrimônio histórico nacional com base em decretos, que criaram também o Parque Estadual da Serra do Mar, com 309.938 hectares.

Devastação - A Santos continental vive em constante risco de devastação, quer pelo lançamento de poluentes das indústrias de Cubatão ou pela intransigência do Poder Público. Próximo à margem da Rodovia Rio-Santos, por exemplo, a Prefeitura de Bertioga mantém um depósito de lixo urbano.

Mas, se o Poder Público não se preocupa em preservar o ambiente, os moradores vivem em perfeita harmonia com ele.

Nascida em São Paulo, a aposentada Efigência Costa Ferraz, de 65 anos, chegou ao Caroara há seis anos "para dali nunca mais sair". Amante das belezas naturais, gosta de ficar observando os pássaros que pousam no seu jardim e contemplar a vegetação em torno de sua casa. Vigilante, quando vê algum moleque com estilingue não permite que ele ataque os passarinhos.

Tucanos - No Caiubura, a integração homem-natureza é uma constante. Enquanto o comerciante Norberto atende à freguesia no balcão do seu bar, vê os tucanos nas árvores em frente ao seu estabelecimento.

No Monte Cabrão a história se repete. Ali, a população é fascinada pelo lugar. "Aqui é o melhor lugar do mundo para se viver", diz o Sildevânio, de 9 anos. Ele que viu a praia apenas duas vezes, não sente falta de freqüentá-la. Não conhece Santos e nem o Guarujá e isso também não o incomoda. "Gosto muito de Monte Cabrão, por isso prefiro ficar aqui".

Nair Nascimento, de 71 anos, garante ser a moradora mais antiga do lugar. Casada com Rosário Nascimento, o casal teve dez filhos, todos criados em contato direto com a natureza.

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