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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - URBANISMO (Q)
Em direção ao continente (2)

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Metropolização, conurbação, verticalização. Os santistas passaram a segunda metade do século XX se acostumando com essas três palavras, que sintetizam um período de grandes transformações no modo de vida dos habitantes da Ilha de São Vicente e regiões próximas.

Tais assuntos foram bastante discutidos na época. Uma época em que os santistas se sentiam sufocados pela falta de autonomia política (a cidade era considerada pelo regime militar brasileiro como área de segurança, motivo pelo qual o prefeito era nomeado pelo governo federal), e o Brasil começava a debater a transição política de retorno à democracia (a abertura política já começava a interessar a setores do governo militar).

Em 29 de março de 1998, a matéria publicada no jornal A Tribuna mostrava em que direção miravam os olhos dos santistas:

Manoel: "Levar o lixão para lá"

Regina: "É para os lados de SV"

Fotos: Mingo Duarte

PLANO DIRETOR
Santistas desconhecem onde fica o continente

As discussões em relação a essa área do Município são antigas, mas estão restritas a técnicos, estudiosos e legisladores

Arminda Augusto
Da Editoria Local

Muito se fala em área continental, mas uma enquete rápida nas ruas, com os moradores da Santos-ilha, prova que nem todos sabem onde ela fica ou como se chega lá. As discussões em torno dessa área, que são antigas, acabam sempre se restringindo a técnicos, estudiosos da questão ambiental, legisladores ou responsáveis por estabelecer políticas públicas de ocupação.

A Tribuna selecionou apenas quatro moradores e formulou duas únicas perguntas: Você sabe onde é a área continental? Na sua opinião, o que deveria ser instalado lá?

A comerciante Regina Correa Rocha diz que já ouviu falar, muito vagamente, e tem a "impressão de que é para os lados de São Vicente". Sozinha, confessa que não conseguiria chegar lá, ainda mais se dependesse de ônibus para isso. "Mas acho que se é tão grande assim, deveriam instalar casas populares e indústrias para gerar emprego".

Valdecir Pigossi, ex-perueiro e atualmente desempregado, também não sabe para que lado fica o continente de Santos, apesar de já ter ouvido falar no assunto várias vezes. "Esse assunto parece muito distante da gente", justifica. Na sua opinião, a prioridade de ocupação deveria ser a indústria, "chamariz de emprego e desenvolvimento".

Parque da Xuxa - Irinete de Carvalho Gonçalves, despachante policial, perguntou: "Não é lá que a Xuxa queria instalar um parque?". Ela ouviu falar em um parque na área continental, mas não sabe onde fica nem como se chega lá. A ocupação, sugere, deveria ser com casas populares. "Mas é tão longe, né? Quem vai querer ir para lá?"

O portuário aposentado Manoel Motta é exceção à regra. Apesar de, inicialmente, ter confundido com o continente de São Vicente, confessa que precisaria pegar a Rio-Santos para chegar em bairros como o Caroara. Para a ocupação, entende que deveria ser levada adiante a proposta de levar o lixão de Santos para lá, no Sítio das Neves.

Valdecir: "Assunto tão distante"

Irinete: "É tão longe, né?"

Fotos: Mingo Duarte

Acesso é feito de duas formas

Nos meios técnicos, convencionou-se chamar o trecho do Município onde moram os 412 mil habitantes de Santos-sede, ou Santos-ilha, área com 39 km², já totalmente ocupados. A Santos-continente tem 231 km² e fica em um trecho que se estende do alto da Serra do Mar até o entroncamento das rodovias Rio-Santos e Cônego Domênico Rangoni (ex-Piaçagüera-Guarujá). Para o Norte, a região vai até o bairro conhecido como Caroara, divisa entre Santos e Bertioga (veja mapa).

Para chegar a esse pedaço de terra, o motorista tem duas opções: pegar a balsa na Ponta da Praia e atravessar um trecho do Guarujá, ou ir pela Piaçagüera-Guarujá, via Cubatão. Na primeira opção, a área continental de Santos começa próximo ao Monte Cabrão, que quase passa despercebido pelo motorista que se dirige ao Litoral Norte.

O Monte Cabrão fica à direita do viaduto onde começa a Rio-Santos. É literalmente um morro, margeado pelo Canal de Bertioga e com a parte baixa densamente ocupada. Estima-se que vivam ali cerca de 600 pessoas, algumas em áreas de risco.

A segunda opção para chegar ao continente é pela antiga Piaçagüera-Guarujá. Santos começa quando acaba a área da Cosipa, no trecho conhecido como Vale do Quilombo.

O que tem lá - Além do Monte Cabrão, o continente de Santos tem ainda dois outros trechos habitados. A Ilha Diana, com 52 famílias, fica na curva de um braço do Rio Diana, logo atrás da Base Aérea de Santos. Sua população é mais ou menos fixa e composta, na maioria, por famílias ali estabelecidas há mais de 60 anos.

Outro núcleo densamente habitado é o bairro do Caroara, há 40 quilômetros da Santos-sede. Pela Rio-Santos, é de fácil identificação: é o único trecho da rodovia, antes de chegar a Bertioga, onde foram colocadas lombadas pelo DER.

É no Caroara onde a Prefeitura instalou, há uma semana, a Coordenadoria da Área Continental, criada em 93, que até então funcionava no Paço Municipal. O Caroara é um dos bairros mais críticos de todo continente em termos de ocupação e loteamentos irregulares.

Originalmente, o bairro tinha quatro ou cinco grandes chácaras, todas legalmente estabelecidas. A partir dos anos 60, as chácaras começaram a ser subdivididas e vendidas irregularmente. Hoje, a preocupação da Prefeitura é coibir novas ocupações ou desmatamentos nesse trecho.

Com 16 casas, Iriri é pouco divulgado

No meio da vegetação remanescente da Mata Atlântica existe ainda um quarto núcleo habitado, que poucos santistas sequer ouviram falar. É o bairro de Iriri, a cerca de um quilômetro de Caroara, do lado direito da Rio-Santos. A estimativa é de que tenham aproximadamente 16 casas, todas com água e iluminação pública.

Segundo o coordenador da Área Continental, Adelino Gonçalves, Iriri é um povoado antigo, de população fixa, mas que não oferece risco de crescer desordenadamente. "Temos mantido uma fiscalização constante, e agora estamos procurando melhorar a infra-estrutura", disse.

A preocupação da coordenadoria tem sido Monte Cabrão, localizado a 18 quilômetros da Santos-ilha. Sem fiscais em número suficiente ou um posto da Guarda Municipal, o Monte Cabrão tem sido invadido por moradores de baixa renda, que do dia para a noite substituem a vegetação por barracos, muitos em área de risco.

Estima-se que 600 pessoas morem nesse local. O adensamento é maior na parte baixa do monte, às margens do Canal de Bertioga. Segundo Adelino, depois da Prefeitura instalar a coordenadoria no Caroara, a intenção agora é construir uma subsede no Cabrão, dotar a principal via de acesso de cancelas e transferir para lá um posto da Guarda Municipal. "Será a única forma de garantir que nenhuma outra casa seja construída irregularmente".


Caroara é habitado, fica há 40 quilômetros de distância do município-sede e é um dos bairros mais críticos em termos de ocupação
Foto: Carlos Nogueira

No Caroara, há destruição de mangue

Caroara é o bairro do continente mais densamente ocupado, com cerca de 4.500 moradores, que ali se instalaram nos anos 60. Quem percorre a "avenida" principal, onde está instalada a coordenadoria, não pode imaginar que é nas quebradas das ruas secundárias onde o desmatamento está mais intenso.

Segundo Adelino Gonçalves, coordenador da área desde o ano passado, oficialmente existem apenas quatro ruas no bairro: Andrade e Soares, Tamoio, Caramuru e Xavantes. As demais, e são muitas, são todas irregulares, construídas à revelia da Prefeitura e sem considerar plano de drenagem ou existência de vegetação nativa.

Um dos casos mais críticos, talvez por ser recente, é o aterramento clandestino que um dos moradores promoveu no final da rua conhecida como Xavantes. Um extenso trecho de mangue estava literalmente sendo destruído para facilitar a ligação dessa rua com a estrada. A ação da coordenadoria e da Polícia Florestal foi rápida, mas ainda hoje o cenário impressiona: parte das raízes que afloram do mangue estão soterradas pelo aterro e pequenos caranguejos, perdidos com a destruição do habitat, entram e saem de tocas improvisadas nas pedras.

Adelino Gonçalves explica que a situação fundiária do bairro é complicada, e por isso vem tentando formalizar um convênio com o Instituto de Terras do Estado (Itesp). Sem sucesso.

Incômodo e inimigos - Antes da coordenadoria se instalar no bairro, os abusos eram mais freqüentes. Corretores vendiam irregularmente lotes sem escrituras, ruas eram abertas sem qualquer critério.

"Eu sei que minha presença aqui incomoda muita gente, e vai incomodar mais ainda", diz Gonçalves, que espera uma grande valorização de toda a área continental quando o túnel for construído entre Santos-ilha e Guarujá. "Hoje, ninguém está querendo vender, porque sabe que o valor vai triplicar".

O Caroara tem pouca infra-estrutura, mas é o bairro melhor provido de todo o continente. Não tem rede de esgoto nem as ruas são pavimentadas, mas os moradores contam com uma escola municipal, uma policlínica, coleta de lixo três vezes por semana e, futuramente, um posto dos correios e da Polícia Militar.

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