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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - CINEMA
O cinema em Santos (31)

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Texto publicado na revista Depois da Cena, produzida pelo jornal A Tribuna para distribuição ao final de espetáculos culturais, edição 2/ano 2, distribuída em 30 de abril de 2009, páginas 56 e 59:


Reprodução da página 56 da revista: o autor Rubens Ewald Filho, Cacilda Becker, Plínio Marcos, Pagu, Lolita Rodrigues e Ney Latorraca
Fotos de Luigi Bongiovani, Walter Mello, Alberto Marques, Acervo Unisanta/Centro de Estudos Pagu, Divulgação

 

Santistas no cinema

Rubens Ewald Filho

Nossa cidade sempre foi conhecida como um celeiro de talentos, sem dúvida por causa de sua história cosmopolita (tradição de grande porto, por onde chegam influências estrangeiras) e a proximidade de São Paulo. Até hoje considerada a melhor cidade do interior do Brasil em termos de freqüência de salas de cinemas, não chegou, porém, a ter um ciclo de filmes, como em outros lugares mais remotos do País. Em compensação, tivemos o mais antigo Clube de Cinema do Brasil (Cineclube), que durante muitos anos sobreviveu sob a direção de Maurice Légeard e hoje ainda dá frutos como a Cinemateca. Talvez nosso problema tenha sido o de exportar talentos mais do que cultivá-los.

Só recentemente foi criada a Film Comission da Cidade (e que dá bons frutos ajudando nas locações, principalmente no Centro) e as Casas de Criação Querô (nascidas a partir do filme de Carlos Cortez estreado em 2007 por iniciativa dos produtores Irmãos Gullane). Esta é uma tentativa, e não exaustiva, de se levantar a trajetória de alguns artistas santistas no cinema.

E o primeiro obstáculo é definir santista. Alguns são apenas de nascimento, outros foram criados aqui em momentos importantes de sua vida (como sucedeu com Patrícia Pillar, Silvia Salgado, que veio de Fortaleza), mas pela própria necessidade de trabalho tiveram que ir para os centros produtores, como é o caso atual de Paulinho Vilhena, que fez sua primeira experiência em cinema em 2004, com Xuxa e o Tesouro da Cidade Perdida. Depois esteve sob as ordens de um músico santista, no polêmico O Magnata (2007), ou seja Chorão do Charlie Brown Jr., que escreveu o roteiro (tecnicamente ele é paulistano de nascimento). Logo depois, Paulo fez Chega de Saudade, de Laís Bodansky. E não deve parar por aí porque tem um estilo de interpretação moderno e discreto, ideal para a tela grande.

Santos teve uma grande cantora internacional em Leny Eversong (1916-84), que, embora hoje esquecida, chegou a fazer filmes com personagens, inclusive o francês O Santo Módico (1984) e aparições musicais em Canjerê (1957) e Tem Boi na Linha (1957). Lolita Rodrigues, outra atriz e cantora de televisão que nasceu em Santos e começou no nosso rádio, fez apenas um filme ainda no começo de carreira, Quase no Céu (1949), de Oduvaldo Viana (pai).

Sou grande admirador de outra santista contratada da Globo e que faz carreira atualmente: Graziella Moretto, premiada no Festival de Paulínia como Melhor Atriz Coadjuvante, por sua participação em Feliz Natal de Selton Mello (2008). Quem também gosta muito dela é Fernando Meirelles, que a utilizou em Domésticas, Cidade de Deus, Não por Acaso (2007, produzida por ele), Viva Voz (também produção dele). Ela veio da Ilha Rá Tim Bum da TV Cultura e esteve também no longa O Martelo de Vulcano (2003), de Eliana Fonseca. Também esteve memorável em O Signo da Cidade, de Carlos Alberto Ricelli.


Reprodução da página 57 da revista: Cacilda Becker

Foto: reprodução

De todas as figuras santistas por adoção, duas são as mais célebres. Primeiro Pagu, a lendária figura da Semana de Arte de 1922, depois Cacilda Becker, que nasceu em Pirassununga, mas que se mudou com a família para Santos ainda muito jovem e aqui começou sua carreira artística. Ela e sua irmã Cleyde Yáconis tiveram dificuldades aqui e isso deixou marcas. Ainda assim, realizou seu primeiro filme em nossas praias, Dançando nas Areias, rodado por Miroel Silveira.

Cacilda, infelizmente, só faria dois filmes, A Luz dos Meus Olhos (do qual sobrevivem apenas trechos) e o último filme da primeira grande fase da Vera Cruz, Floradas na Serra. Cleyde também faria pouco cinema (Na Senda do Crime, na Vera Cruz, depois A Madona de Cedro, 1968; Aventuras de Beto Rockfeller, 1970, Parada 88, 1977; e mais recentemente Dora, Doralina, 1982, Jogo Duro, 1985, Bodas de Papel, 2006).

Plínio Marcos, pupilo de Pagu, não gostava de ser ator e em conseqüência deixou poucos filmes (A Arte de Amar Bem, 1970, Beto Rockfeller, 1970, O Donzelo, 1970, A Santa Donzela, 1978). Em compensação, pelo menos dez filmes foram inspirados em obras suas.

Talvez da minha geração é que tenha saído o maior número de atores que fez cinema. E deles, sem dúvida, Ney Latorraca foi o mais bem-sucedido. Estreou em 1970, num episódio de Audácia, e ganhou o estrelato quando foi premiado como coadjuvante com Sedução (1974), com Sandra Bréa. Estrelou, dentre outros, Anchieta, o José do Brasil (1977), Beijo no Asfalto (1984), Das Tripas Coração (1982), Ópera do Malandro (1986), Ele, o Boto (1987), Fábula da Bela Palomera (1988), Festa (1989), Viva Sapato (2002), Irma Vap, o Retorno (2006), Topografia de um Desnudo (2009).

Na mesma época em Santos surgiu Bete Mendes, logo consagrada na televisão e engajada na luta armada. Eventualmente, seria secretária da Cultura do Estado e deputada, mas teve tempo para fazer alguns filmes memoráveis como Os Amantes da Chuva (1979), de Roberto Santos, e Eles Não Usam Black-Tie (1981), de Leon Hirzman.

Do Grupo Teffi sairiam também o dramaturgo Carlos Alberto Soffredini (roteirista de A Marvada Carne) e a atriz dramaturga Jandira Martini (além de ser atriz em alguns filmes como Olga (2004), escreveu o roteiro e foi assistente de Bruno Barreto em O Casamento de Romeu e Julieta (2005). Jonas Mello fez muita televisão e ocasionalmente cinema: (A Carne, 1975; Que Estranha Forma de Amar, 1977). O mesmo se pode dizer de Serafim Gonzalez, nascido em Sertãozinho mas que se radicou em Santos (fez muitos filmes e o último foi Acquaria, 2003).


Reprodução da página 58 da revista

Imagens: reprodução

Fez muito sucesso no cinema também o santista Nuno Leal Maia, que largou a ECA para entrar no elenco de Hair. Estreou em Anjo Loiro, com Vera Fischer, 1973, e fez muitos filmes, em torno de 50, mas também muito teatro e muita telenovela. Suas duas interpretações premiadas são Loucos por Cinema, em 1994, e seu melhor momento, em Ato de Violência, de Eduardo Escorel (1980).

Mas os santistas brilharam não apenas diante das câmeras, mas também atrás delas. Uma morte muito prematura interrompeu a carreira brilhante de Chico Botelho (1948-91), natural de Santos e que deixou dois belos longas-metragens, Janete, 1983, e Cidade Oculta, 1986.

Outro santista hoje consagrado é José Roberto Eliezer, fotógrafo de Cidade Oculta. Sua carreira reúne filmes notáveis como Encarnação do Demônio, de José Mojica Marins (2008), Cheiro do Ralo (2007), Caixa Dois (2007), Se Eu Fosse Você (2006), A Dona da História (2004), A Grande Arte, de Walter Salles (1991), e muitos outros.

Também merece destaque o excelente diretor de fotografia Icaro (Kiko) Martins, que fez parceria bem-sucedida com José Antonio Garcia, a partir de Olho Mágico do Amor (1981), seguido de Onda Nova (1983) e Estrela Nua (1984). Depois de um tempo se dedicando à política sindical e a filmes institucionais, ele retorna à co-direção com Helena Ignez em O Bandido da Luz Vermelha 2 (2009). Pouca gente se lembra que o ator Francisco de Paula é santista e estreou com o cult Areias Escaldantes (1985) com Regina Casé, e depois fez outro semelhante, Oceano Atlantis, 1983, com Dercy Gonçalves. Também se dedicou a documentários.

Certamente há uma nova geração de jovens cineastas (como Rafael Gomes, um dos criadores do curta Tapa na Pantera, 2006, que estourou na Internet) e atores que mereciam também fazer parte desta retrospectiva. Chegará sua hora, agora ao menos eles sabem que têm uma bela tradição a manter.


Reprodução da página 59 da revista: Serafim Gonzalez, Nuno Leal Maia, Bete Mendes, Cleyde Yáconis e Leny Eversong
Fotos de Rogério Soares, Raimundo Rosa, Silvio Pozatto, Delba Baraldi, Divulgação

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