O navio da Messageries Maritimes, construído no Estaleiro La Ciotat, tinha capacidade para 1.037 passageiros em 3 classes
Em janeiro de 1901, a frota da armadora Compagnie des Messageries Maritimes (MM) se compunha de 60 unidades, das quais 44 eram
transatlânticos de passageiros e 16 eram navios cargueiros, todos estes navios com tonelagem superior a 2,6 mil toneladas de arqueação bruta (TAB) e dos quais o maior em tonelagem e comprimento era o Atlantique.
A Messageries Maritimes empregava então um total de 11 mil pessoas (das quais 6,5 mil eram pessoal embarcado) e seus vapores serviam nada menos do que 13 linhas marítimas diferentes. No decorrer desse ano de 1901
os navios da MM percorreram um total de pouco superior a 1 milhão de léguas marítimas, transportando 167 mil passageiros, 700 mil toneladas de carga e consumindo 163 mil toneladas de carvão combustível.
Com o nome Indus, chegando ao porto de Marselha, antes de 1903
Foto: Messageries Maritimes
Dividendos modestos - Apesar desses números impressionantes, o resultado global financeiro da armadora deixava a desejar, pois os dividendos pagos aos acionistas no início de 1902 e referentes ao balanço do
ano anterior eram relativamente modestos. Para a direção geral da MM, a situação tornava-se mais preocupante a partir de abril de 1902, com a entrada em vigor de nova lei que regulamentava os assuntos referentes à Marinha Mercante francesa.
Através dessa nova legislação, eliminavam-se praticamente os subsídios concedidos no regime postal e consolidava-se a política do pagamento de prêmios por léguas ou milha de navegação percorrida.
Tal corte nos subsídios governamentais afetava diretamente a linha transoceânica Marselha-Yokohama (Japão), a maior e a mais importante da MM, e que era servida em cadência quinzenal por dez grandes vapores
postais.
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A nova lei eliminava os subsídios postais |
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Sem prêmios - Por outro lado, a linha sul-americana, que pelo acordo de 1894 já havia sofrido cortes nos subsídios do Estado, a partir de 1903 ficava também sem os prêmios por milhas percorridas.
Visto o envelhecimento de alguns de seus vapores que serviam a Rota de Ouro e Prata (Guadiana, Charente, Adour, Brésil e La Plata), a MM achou por bem transferir, em princípios de
1903, dois de seus transatlânticos da linha do Extremo Oriente para a linha da costa Leste da América do Sul.
O Magellan no cais de Marselha, entre 1903 e 1905
Foto: Messageries Maritimes
Novos rumos - Foram escolhidos o Laos e o Indus, os quais, sem nenhuma transição de reforma, mas com seus nomes modificados respectivamente para Amazone e
Magellan, realizaram em 1903 suas primeiras viagens entre Bordeaux e Buenos Aires, via escalas intermediárias tradicionais dessa linha, ou seja: Lisboa, Dacar, Rio de Janeiro e Santos. O Magellan zarpou para o Brasil e o Prata em 6 de
março desse ano, seguido um mês depois pelo Amazone.
Além da modificação de seus nomes e da rota de serviços, o par de transatlânticos continuou com as mesmas características de sua construção original. O par assegurava junto ao Atlantique e ao Cordillere
ligação quinzenal na Rota de Ouro e Prata. O Chili, que era o quinto navio da MM nessa linha, havia sofrido adernamento no Porto de Bordeaux em abril de 1093 e encontrava-se temporariamente fora de uso.
O Magellan permaneceu durante nove anos a navegar para o Atlântico Sul, realizando cerca de dez viagens, em média, por ano, sem nenhum acontecimento extraordinário fora da rotina a ser mencionado. A partir
de 1905, seu casco fora pintado de preto.
O Magellan na baía da Guanabara
Cartão postal: Messageries Maritimes
Concorrentes - No decorrer de 1912, chegou ao fim o acordo da convenção de 1907 (que por sua vez prolongara e modificara as convenções de 1894 e 1902) e a Messageries Maritimes decidiu abandonar de vez o
serviço sulamericano, preferindo concentrar-se em outras suas linhas. Diga-se de passagem que tal decisão foi altamente influenciada pela pressão governamental, que desejava apoiar outro grupo de armadores franceses para explorar a navegação
mercante entre a França, o Brasil e a área do Prata.
Desse estado de coisas, nasceu a Compagnie de Navigation Sud-Atlantique, por trás da qual se encontravam armadoras concorrentes da MM: a Cyprien Fabre, a Fraissinet e a Societé Générale de
Transports Maritimes. Encerrava-se assim, de maneira um pouco melancólica, um ciclo de 52 anos iniciado com a viagem pioneira do La Guienne para o Rio de Janeiro, em 1860.
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Encerrava-se um ciclo de maneira melancólica |
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Reformas - Todos os navios da Messageries foram transferidos para outras linhas e o Amazone e o Magellan retornaram às suas origens, ou seja, a linha de e para o Extremo Oriente. Mantiveram os
nomes, mas sofreram reforma nas acomodações e revisão do maquinário propulsor, as caldeiras originais do tipo Belleville sendo substituídas por caldeiras cilíndricas aquecidas a carvão.
O início da Primeira Guerra Mundial obrigou a requisição de muitos vapores batendo pavilhão francês e entre estes o Magellan, que passou para o controle do Ministério da Marinha, sendo então utilizado,
durante dois anos de conflito, ora como transporte de tropas, ora como vapor postal oficial. Em 1915, entre março e abril, participou da expedição aliada ao Estreito de Dardanelles (Turquia), mas sua utilização principal continuou sendo a ligação
postal para o Extremo Oriente.
O Magellan no cais de Bordeaux, na França
Foto: Cartão postal da Messageries Maritimes
Última viagem - Foi por ocasião de uma de suas viagens entre a China e a França que o Magellan chegou ao seu fim. Em 11 de dezembro de 1916, quando atravessava o
Mediterrâneo, em comboio sob escolta, foi torpedeado em plena luz do dia pelo submarino alemão U-63, numa área do mar ao sudeste da Ilha de Pentellaria, ponto focal entre as partes orientais e ocidentais do Mediterrâneo.
Atingido por dois torpedos, o Magellan imobilizou-se e começou a afundar muito lentamente, o que permitiu a evacuação de cerca de 700 pessoas, isto apesar de um início de pânico entre algumas delas.
Acorreram ao local dois navios de guerra, o britânico Cyclamen e o francês Sagaie, que recolheram os sobreviventes embarcados nos diversos botes salva-vidas arriados. Dos 526 passageiros a bordo, 26 pereceram, assim como dez
tripulantes, entre os 210 que levava.
A embarcação, zarpando de Bordeaux para uma viagem na Rota de Ouro e Prata, em 1906
Foto: cartão postal da coleção do autor
O ataque ao Magellan foi obra do U-63, sob o comando de Kurt Hartwing, que um mês mais tarde conseguiria também pôr a pique o couraçado de batalha Cornwallis,
pertencente à Royal Navy, torpedeando-o nas águas próximas a Malta. Hartwing e seu submarino também foram responsáveis pelo afundamento, no mesmo dia da perda do Magellan, de outro navio pertencente à Messageries Maritimes, o Sinai,
que havia recolhido, horas antes, náufragos do primeiro mencionado.
Salão de jantar de primeira classe do Magellan
Foto: Messageries Maritimes
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