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HISTÓRIAS E LENDAS DE GUARUJÁ
Antonio Prado, um dos fundadores do Guarujá

 

Embora o sobrenome Prado esteja ligado diretamente à criação do balneário de Guarujá, e a personalidade tenha merecido destaque nacional nos tempos do Império e da República, não mereceu ainda sua lembrança para a denominação de uma via pública neste município (mas foi lembrado para uma rua em Santos).

O conselheiro Antonio da Silva Prado  nasceu em São Paulo a 25 de fevereiro de 1840 e se formou pela Faculdade de Direito de São Paulo a 22 de novembro de 1861. Jornalista, foi proprietário do Correio Paulistano e - junto com Rodrigues Augusto da Silva - fundou o jornal O Paiz, no Rio de Janeiro. Conselheiro do Império, quando se tornou em 1885 ministro da Agricultura, assinou a lei que concedeu liberdade incondicional aos escravos maiores de 60 anos.

Foi deputado à Assembleia Provincial de S. Paulo, em 1865; deputado à Câmara dos Deputados em 1869, 1870, 1871 e 1874; presidente da Câmara Municipal de S. Paulo; senador em 1887 e 1888 e presidente da Assembleia Provincial de S. Paulo.

Proclamada a República, publicou manifesto de apoio ao Governo Provisório e exerceu durante 35 anos o cargo de presidente da Companhia Paulista de Estradas de Ferro. Foi fundador do Jóquei Clube, do Velódromo, do Automóvel Clube. Também foi prefeito de São Paulo nos períodos de 1889-1890 e 1901-1904, além de exercer a presidência do Banco do Estado de São Paulo. Foi diretor, ainda, do Banco do Comércio e Indústria.

Presidente da firma Prado, Chaves e Cia., de que participavam seu cunhado Elias Chaves, parentes e amigos - quase todos grandes produtores de café e empresários urbanos de sucesso -, o conselheiro Antonio Prado ajudou a constituir a Companhia Balneária da Ilha de Santo Amaro, que em 1892 decidiu organizar um conjunto turístico no local hoje ocupado pelo centro da cidade do Guarujá. Esta companhia ficou sob a presidência de Elias Fausto Pacheco Jordão, que era o gerente da firma Prado, Chaves e Cia. Todo em madeira importada (pinho da Geórgia), o conjunto incluiu um grande hotel, 46 casas residenciais, igreja, cassino, estação ferroviária e uma linha férrea ligando com o canal do porto de Santos) em frente ao terminal da S.P. Railway), que foi inaugurada em 2 de setembro de 1893. O hotel foi destruído por um incêndio em 1897. Em 1910, o conselheiro Antonio Prado vendeu o conjunto de Guarujá para um grupo econômico representado pelo grande aventureiro das finanças internacionais, Percival Farquhar (mais lembrado como o construtor da ferrovia Madeira-Mamoré).

Antonio Prado faleceu a 23 de abril de 1929, no Rio de Janeiro. No dia seguinte, em sua primeira página, o jornal santista A Tribuna destacou o fato:


Detalhe da primeira página do jornal santista A Tribuna em 24 de abril de 1929

 

Memória

Faleceu o conselheiro Antonio da Silva Prado

As fases da agonia do venerando paulista - O seu passamento - Manifestações de pesar - Trasladação do corpo para São Paulo

Após muitos dias de longa e dolorosa agonia, faleceu o conselheiro Antonio Prado, que era a encarnação das tradições paulistas do Segundo Império, a figura mais representativa dos paulistas do Brasil monárquico.

A sua figura inconfundível projetou-se, desde os primeiros tempos de sua vida de homem formado, no cenário paulistano, já como simples advogado, já como político militante.

A família Silva Prado de há muito conserva, em S. Paulo, uma posição de merecido destaque, jamais excedido: em todos os departamentos da atividade paulista ela mantinha representantes que honravam a cultura e a operosidade peculiares aos paulistas.

Astípide de uma nova mocidade, então promissora de novos batalhadores em prol do nome de sua terra e de seu país, o conselheiro Antonio Prado se desdobrou numa plêiade de notabilidades no mundo das letras, da política e do jornalismo - Eduardo Prado, Caio Prado, Antonio Prado Junior, Martinho e Martinico Prado, e, mais longe, Armando Prado, que consolidaram o nome e a glória dessa privilegiada família, tão ligada a todas as fases modernas da história de S. Paulo.

No Gabinete Saraiva, Antonio Prado assinalou magnificamente a sua atuação em face do grave problema da Escravidão, o que é solene desmentido ao que se procura faze acreditar em contrário de sua sobranceria e desinteresse; na administração da Companhia Paulista de Vias Férreas de S. Paulo e na prefeitura de . Paulo, fez-se admirar o administrador emérito; e nas relações sociais, na família, o cavalheiro elegante e fino, o pai afetuoso e bom, que se constituiu paradigma na culta e inquieta capital paulista.

(...) no gabinete de 20 de agosto de 1885, que lhe confiou a pasta da Agricultura, em cuja função se tornou Conselheiro de Estado do Império. Seus serviços ao gabinete Saraiva contribuíram poderosamente para a votação da lei de 25 de setembro de 1885, que declarou livre o escravo que atingisse os 65 anos. Foi o primeiro passo para a abolição da escravatura que, perseverantemente, defendeu, pela imprensa de São Paulo e do Rio, coadjuvado por seu chefe de gabinete, o dr. F. L. Gusmão Lobo, figura por demais saliente na propaganda antiescravocrata no Brasil.

Em 1887, o dr. Antonio Prado foi eleito senador do Império (...)

Todos os filhos do conselheiro Antonio Prado estão no Rio e assistiram ao seu traspasse. São eles: Paulo, Antonio, Luis, Sylvio, Herminia e Nazareth. Todos eles, inclusive mesmo o prefeito, irão hoje, à noite, a São Paulo, acompanhando os sagrados despojos do seu pai. - H. R.

Um trem especial organizado pela Central do Brasil

RIO, 23 - A chefia do movimento da Central do Brasil mandou organizar, para hoje à noite, um trem especial, que deverá conduzir a família, amigos e admiradores do ilustre extinto.

Esse especial sairá momentos antes do Luxo Paulista. - H. R.

Comparecimento à estação Pedro II dos admiradores do extinto

RIO, 23 - Foram convidados todos os membros dos diretórios central e regionais da Seção Universitária e os filiados em geral do Partido Democrático, a comparecerem às 21 horas à estação D. Pedro II, de onde serão trasladados para S. Paulo, em trem especial, os despojos do conselheiro Antonio Prado. - H. R.

(...)


Conselheiro Antonio da Silva Prado

Detalhe da primeira página do jornal santista A Tribuna em 24 de abril de 1929

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