Segunda-Feira, 8 de Janeiro de 2007, 07:40
Irmão de Lula também tem acesso barrado no Forte
Da Reportagem
MANOEL ALVES FERNANDES
Dois irmãos, dois destinos, duas histórias vividas ontem pela manhã nas dependências do Forte dos Andradas, em Guarujá. Um dos personagens chegou de helicóptero, na noite da última sexta-feira, para
merecidas férias de verão na Praia do Monduba, protegido por duas montanhas, e militares fortemente armados.
O outro veio em um ônibus das linhas urbanas de Guarujá, acompanhado pelo filho, desde a Rua Santa Isabel, 240, em Vicente de Carvalho, onde mora há 20 anos.
Germano Ignácio da Silva, 41 anos, foi o último filho de Aristides Ignácio da Silva, pai de nove outros meninos e meninas, com duas esposas. Ontem, levantou-se às 8 horas para visitar um
dos irmãos por parte de pai: Luiz Ignácio Lula da Silva, presidente do Brasil.
Germano chegou à porta do forte, às 11 horas. Identificou-se e foi barrado. O soldado primeiro procurou o nome do irmão do presidente na lista de visitantes aguardados. E como não o
encontrou, por cautela, mandou que esperasse a comunicação com o comando, via rádio.
Lula não estava. Havia saído para pescar, a bordo de uma embarcação da Marinha e longe da Imprensa, como puderam constatar os repórteres que cobriam as férias presidenciais.
Duas horas antes de Germano tentar entrar no forte, o catraieiro Marcelo conduzia o Netuno, um barco de alumínio com potente motor de popa, desde a Praia de Nossa Senhora dos Navegantes
(que os mais antigos chamam de "Pouca Farinha") até o largo da pequena baía da Praia do Monduba.
Transportava uma equipe de jornalistas, que tentava fotografar o irmão de Germano, nas superprotegidas areias das instalações militares.
Duas corvetas impediam a aproximação. De uma lancha da Capitania dos Portos, fortemente armada, partiu a ordem para que a pequena embarcação se afastasse, pois a área estava interditada
à navegação.
No retorno à praia, Marcelo ouviu a já esperada gozação dos demais catraieiros: "E aí, conseguiram falar com o Lula?"
Segunda-Feira, 8 de Janeiro de 2007, 07:41
Idéia era sugerir uma reunião com os que residem em SP
Da Reportagem
Enquanto esperava a autorização para entrar, Germano contava ontem no portão do forte (distante cerca de um quilometro e meio da praia, com acesso por uma estrada que circunda as duas
montanhas antes de chegar ao mar), que pretendia sugerir uma reunião de Lula com os irmãos que residem em São Paulo.
Entre os participantes do possível encontro, estará Jackson Ignácio da Silva, um mestre de obras de 52 anos, residente em Mongaguá, que na última eleição votou em Alckmin, revoltado com o atendimento médico naquela cidade e contrário à reeleição
presidencial. Um detalhe que não escapou à família. E que foi mal interpretado, segundo Germano.
"Acho que o Jackson vai tomar uns cascudos carinhosos do Lula. Todos nós gostamos do Lula, sempre votamos nele. Ajuda a gente quando pode, embora cada um tenha o seu caminho e a sua
vida. Mas está fazendo muito pelo povo brasileiro", afirmou.
Sorvete - A menos de cinco quilômetros da "Pouca Farinha", na antiga localidade de Itapema, em um ambiente mais pobre do que o apresentado pelo atual Distrito de Vicente de
Carvalho (nome oficial do antigo Itapema), Luiz Ignácio Lula da Silva viveu os primeiros anos da sua vida no Estado, vindo de Garanhuns, em Pernambuco, para morar com o pai, Aristides Ignácio, na humilde casa 275 da Rua Minas Gerais.
Lula e Francisco (o Frei Chico) nasceram em Pernambuco, filhos do primeiro casamento de Aristides. Outros oito irmãos vieram ao mundo em Vicente de Carvalho. Dois deles morreram. Germano
Ignácio da Silva foi o último dos filhos. "Fui a raspa do tacho do velho Aristides", conta.
De Lula,"que já era era grandinho" quando Germano nasceu, o irmão caçula só se lembra, da infância, "que ele gostava de tomar sorvete".
Enquanto falava com os jornalistas, Germano foi chamado à entrada do forte e lá lhe comunicaram que, quando Lula retornasse da pescaria, ele seria chamado em casa e transportado de
carro, com a família, para visitar o presidente e dona Marisa.
Sem saber a que horas terminaria a diversão marítima do irmão, e preocupado como filho Nathan Lyneker Rodrigues Ignácio da Silva, Germano decidiu voltar para casa, de ônibus.
Goleiro alemão - Em lugar de tomar o ônibus, Germano e Nathan - que estuda na Escola Municipal Walter Scheppis — ganharam uma carona no carro de A Tribuna. Durante a viagem, o
irmão caçula de Lula explicou porque deu ao único filho um nome bíblico.
"Eu era evangélico na época em que ele nasceu. E o segundo nome (Lineker) é uma lembrança do goleiro alemão, que eu aprecio. Aliás, meu pai me chamou de Germano em homenagem a um amigo
também alemão", esclareceu.
Empregado de uma prestadora de serviços sob contrato com a Petrobras — emprego que conseguiu sem interferência do irmão Lula —, Germano viveu algum tempo em Mongaguá, ainda na infância.
E depois retornou a Vicente de Carvalho, onde reside numa casa simples.
Segunda-Feira, 8 de Janeiro de 2007, 07:43
Ingresso na política foi cogitado mas falta filiação a um partido
Da Reportagem
Germano Ignácio da Silva tem vontade de participar da política, e já chegou a pensar em candidatar-se a vereador. Mas até agora não se filiou a nenhum partido.
O irmão do presidente gostaria de integrar um movimento que lutasse pela emancipação de Vicente de Carvalho, por acreditar no potencial econômico do distrito, que tem indústrias e
instalações portuárias de grande porte. "Acho que a população de Vicente de Carvalho teria melhores condições de vida se conseguisse separar-se de Guarujá", avalia.
Segundo Germano, há alguns anos, Jackson decidiu se candidatar a vereador, animado com a carreira política de Lula. Mas não se elegeu. "Acho que só a família votou nele" observou o
caçula.
Às 13h30, já em casa, Germano foi saborear o tradicional prato de operário brasileiro — feijão e arroz — enquanto esperava o chamado do irmão mais velho, na expectativa de jantar algum
robalo pescado por Lula.
Livro - Depois das flores no sábado, o presidente Lula recebeu mais um presente ontem. O engenheiro da Petrobras Fábio Campos Morais foi até o Forte dos Andradas entregar seu
livro A mente no Cosmos e os pés no chão. "Quero que chegue às mãos dele", assinalou, sabendo que seria quase impossível entregar o presente, pessoalmente, ao chefe do Executivo do País.
Ele estava acompanhado da noiva Gerliane Gondim de Menezes e explicou que sua obra procura fazer "uma divulgação do pensamento científico".
Morador de Santos, o engenheiro, de 37 anos, nasceu em Fortaleza e disse não ser fã do presidente da República, embora reconheça pontos positivos de seu governo. "Ele afastou o fantasma
da privatização da Petrobras, que rondava no Governo Fernando Henrique Cardoso".
Na obra, Fábio Morais trata dos quatro tipos de inteligência: corporal, bioenergética, emocional e intelectual. "A corporal está associada à saúde; a bioenergética, à liberdade; a
emocional, à disciplina e a intelectual ao dinheiro".
Antes de deixar a obra ao sargento Leal, que se comprometeu fazer chegar o presente ao presidente, Morais assinou a dedicatória: "A Vossa Excelência presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
que tem os desafios como fonte de energia. Grande abraço, Fábio Campos Morais".
Visita? - Uma informação não confirmada ontem dava conta que o ex-governador do Mato Grosso do Sul, Zeca do PT, teria visitado o presidente em Guarujá. Apreciador da pesca, Zeca
teria chegado na madrugada de domingo, de carro.
Colaborou Luigi Di Vaio |