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HISTÓRIAS E LENDAS DE GUARUJÁ - BARRA GRANDE
Um vento vermelho na capela da fortaleza (3)

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Unindo patrimônios histórico e artístico, numa simbiose entre passado, presente e futuro, um painel abstracionista de Manabu Mabe surge no interior da centenária Fortaleza de Santo Amaro da Barra Grande, surpreendendo por sua atualidade os visitantes que ali talvez esperassem encontrar um altar.
 


Antigo canhão e detalhes da fortaleza
Fotomontagem: Élcio Rogério Secomandi, em folheto de divulgação turística editado pela Universidade Católica de Santos

Fortaleza da Barra Grande
e Fortaleza de Santo Amaro

Francisco Martins dos Santos (*)

Esta fortaleza teve começo em 1584, durante o reinado de Felipe II, o de Espanha e I de Portugal, logo após a invasão de Santos pelo comandante inglês "Sir" Edward Fenton.

A esquadra do almirante espanhol Diogo Florez Valdez cruzava os mares do Sul em vigilância ao Estreito de Magalhães, e um dos seus comandantes, André Hygino, navegava na altura da barra santista, quando alguém de terra lhe mandou aviso de que as naus de Fenton ocupavam o porto de Santos. Hygino entrou, à noite, pelo canal, surpreendendo os ingleses, tomando um navio de assalto e retirando-lhe toda a artilharia - que foi servir, pouco mais tarde, ao forte então instalado nas terras da sesmaria de Estevam da Costa, sendo capitão-mor Jerônimo Leitão.

Parece, porém, que não só a defesa, como o pessoal desse forte não bastavam para o guarnecimento da barra santista, porque, em 1590/91, vemos Cavendish atravessando a barreira e tomando o porto, e, em 1615, Van Spilbergen assaltando a Vila, incendiando a igreja e o Engenho, acossado por forças numerosas descidas de São Paulo, que realizaram a sua expulsão. (Ver histórico das invasões).


A fortaleza e a Baía de Santos, tendo ao fundo as praias de São Vicente e Santos
Foto: Carlos Marques, em folheto de divulgação turística da Universidade Católica de Santos

A carta régia de 26 de janeiro de 1715 aceitou o oferecimento que fez Manoel de Castro Oliveira de reconstruir a velha fortaleza e armá-la devidamente, mediante a mercê do foro de fidalgo, do hábito de Cristo com tença de 80$000 por ano e um ofício nas minas, que tivesse de rendimento 400$000 anuais para o seu filho. A reconstrução da fortaleza, porém, só teve início pelos anos de 1723 a 1725, sob o governo do capitão-general Rodrigo César de Menezes.

Nessa época, segundo Azevedo Marques, ficou ela montada com 32 bocas de fogo. A 30 de junho de 1770, o capitão-general D. Luiz Antônio de Souza Botelho Mourão, dando conta ao governo da Metrópole do estado das fortificações da Capitania, diz que, na Fortaleza da Barra Grande de Santos, só existiam montanhas (N.E.: montadas?), 28 peças, sendo 3 de calibre 21, 8 de 18, 3 de 12, 3 de 8 e 11 de 6.

Em 1765, observara o capitão-general citado que esta fortaleza precisava ficar abrigada pelo lado de trás, e, logo no ano seguinte, construía o mesmo capitão o Forte da Praia do Góis [...].


Portão da fortaleza que dá acesso à trilha até a praia do Góis
Foto: Eraldo Silva, em folheto de divulgação turística da Universidade Católica de Santos

Em 1830, como informa o marechal Daniel Pedro Müller, em seu Ensaio Estatístico da Província de S. Paulo, pág. 219/220, esta fortaleza tinha para tempo de guerra uma guarnição de 2 oficiais, 4 inferiores, 50 artilheiros, 92 artilheiros serventes e 100 soldados de infantaria.

Continuando suas informações sobre os fortes de Santos, dizia o mesmo técnico "que a maior parte deles estava em mau estado de petrechos, e os que se podiam aproveitar, como obras permanentes, eram os de São João e São Luís, em Bertioga, o de Itapema, e o da Barra Grande, os quais necessitavam somente pequenas reparações no que respeitava à construção".

Durante muitos anos e desde meados do século XVII, serviu a Fortaleza da Barra Grande de presídio político ou prisão do Estado, e em seus calabouços estiveram muitas personalidades da vida colonial de S. Paulo.


Guarita da fortaleza e a Baía de Santos, tendo ao fundo a praia santista de Aparecida
Foto: Eraldo Silva, em folheto de divulgação turística da Universidade Católica de Santos

No início deste século (N.E.: século XX), pela altura de 1902/1903, esta fortaleza ainda prestava serviços, reformada então a artilharia modernamente, possuindo uma guarnição de 28 homens, bateria do 3º Batalhão de Artilharia de Posição. Era seu comandante, naquela época, o capitão dr. Francisco Álvaro de Souza, servindo de médico da guarnição o dr. Álvaro Motta e Silva.

O último comandante que teve esta fortaleza foi o capitão Souza Filho, até cerca de 1911, quando ela caiu em completo desuso militar, verificando-se a transferência de suas últimas baterias para Itaipu e a criação do 3º Grupo de Artilharia de Costa, com sede nesta última.

Passou, desde então, a velha e famosa fortaleza colonial do tempo dos Felipes a ser um simples Posto Fiscal da barra e depósito de pólvora e materiais diversos, situação em que, com pouca diferença, ainda se achava até 20 ou 30 anos atrás.


Arcos na frente da fortaleza
Foto: Eraldo Silva, em folheto de divulgação turística da Universidade Católica de Santos


Entrada da antiga capela na fortaleza
Foto: Eraldo Silva, em folheto de divulgação turística da Universidade Católica de Santos

(*) Francisco Martins dos Santos foi pesquisador da história santista, tendo em 1937 publicado sua História de Santos. Texto reproduzido do primeiro volume da segunda edição, publicada em 1986 pela Editora Caudex Ltda., de São Vicente, junto com a Poliantéia Santista de Fernando Martins Lichti.


Acesso à antiga capela na fortaleza
Foto: Eraldo Silva, em folheto de divulgação turística da Universidade Católica de Santos

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