A população e a sua composição GOLDENSTEIN, Léa. A Baixada Santista, aspectos geográficos.
São Paulo, Editora da USP, 1965, Vol. IV, p. 56 e seguintes.
Sendo Cubatão uma cidade em formação, é influenciada pela natureza da mão-de-obra empregada na construção das indústrias, isto é, de uma população flutuante.
Parte da população de Cubatão não está enraizada. Além dos que ainda não se fixaram, em virtude do pouco tempo de estadia, há os que não se enraízam pelo caráter instável de sua
permanência. Levas sucessivas de operários têm ali chegado, mas apenas uma parcela desses forasteiros se fixa.
A cidade sofreu impactos de progresso por ocasião da construção da Light, da Via Anchieta, da Usina Subterrânea e, mais diretamente, por ocasião da construção da Refinaria, das
indústrias petroquímicas e, atualmente, da Cosipa. O número de homens ocupados nessa fase pelas grandes indústrias é muitas vezes maior do que o necessário para mantê-las em funcionamento.
O comércio e os bancos têm lembrança da crise que ocorreu quando, por ocasião do término das obras da Refinaria, milhares de trabalhadores foram dispensados em poucos dias.
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Vila Parisi: uma comunidade rural?
Foto: enciclopédia Retrato do Brasil (Editora Três/Política Editora, São Paulo/SP, volume I, 1985)
Os dados de 1960, que acusam para Cubatão uma população de 25.166 habitantes, já estão inteiramente ultrapassados. Basta considerar, por exemplo, que a Cosipa tinha naquele momento de
4.500 a 5.000 operários e, em 1963, tem de 15.000 a 16.000.
Por outro lado, os dados de 1960 acusam 6.281 (1) habitantes na zona rural, o que é, certamente, muito
superior à realidade na época. Basta lembrar que os operários dos alojamentos da Cosipa (em número de 1.200, naquele momento), assim como os moradores da Vila Parisi, Jardim São Marcos, Piaçagüera, Curtume, Olaria, Oleoduto, Fabril, Light, todos
habitados por operários, foram recenseados como habitantes da zona rural.
Seria interessante poder analisar a composição profissional em diferentes períodos; entretanto, isto só foi possível para o ano de 1950, em que 15,3% da população ativa exercia atividade
no setor primário, 62,1% no setor secundário e 22,4% no setor terciário.
Os dados da composição profissional para o ano de 1960 ainda não foram publicados; todavia, considerando que o total de pessoas ocupadas no setor secundário em 1961, segundo o
Departamento de Estatística do Estado de São Paulo, era cerca de 5.200, constata-se que houve um aumento de 75% em relação a 1950. Praticamente no mesmo período, isto é, entre 1950 e 1960, o crescimento da população urbana foi de 193%.
Como o setor primário só tende a decrescer (pelo menos na fase atual de vida agrícola), verifica-se que o aumento maior foi o do setor terciário. Realmente, a alta especialização e o
nível técnico, levando a uma quase completa mecanização, fazem com que a indústria ocupe número relativamente pequeno de operários e que esse número não suba na medida em que as fábricas são ampliadas e aumentam de produção.
Trata-se de uma mão-de-obra de alto nível salarial, talvez dos mais altos (senão o mais alto) do Brasil, em que a elevação do padrão de vida traduz-se pelo aumento do poder aquisitivo (o
que explica o enorme progresso do comércio e dos serviços). Cabe lembrar, nesse momento, que este aumento no setor terciário não reflete toda a possibilidade dos operários de Cubatão, uma vez que grande número (exatamente os melhor remunerados) não
habita o núcleo. Sendo o recenseamento domiciliar, os operários das indústrias de Cubatão, residentes em Santos, não foram computados.
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Objetivando analisar a população, na falta de dados estatísticos, procuramos verificar, no comércio, na indústria e nas escolas, a composição da população quanto à procedência, a
qualificação etc. Os resultados quanto à mão-de-obra já foram citados quando nos referimos aos operários da indústria petroquímica. Também foi feito um levantamento da procedência dos convocados na Junta Militar, sendo amplamente confirmado o
elevado índice de brasileiros oriundos da Bahia e do Nordeste.
Os dados foram colhidos entre os anos de 1952 e 1962; a partir desse período, a contribuição das regiões mencionadas foi sempre superior a 50%, ultrapassando, às vezes, 70%. O número de
convocados aumentou em dez vezes de 1952 a 1962 (de 118 para 1.152), o que dá idéia do mercado de mão-de-obra em que se vem transformando Cubatão. Mão-de-obra jovem, analfabeta, sem qualificação, introduzida principalmente pelas firmas
empreiteiras, construtoras das indústrias. Entretanto, mão-de-obra que está evoluindo, transformando-se, numa adaptação que se verifica no próprio processo de trabalho, o que foi constatado, por exemplo, na indústria petroquímica em que porcentagem
importante de operários qualificados são originários desses Estados, conforme já ficou acentuado.
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A população de Cubatão é toda urbana sob o ponto de vista Atividade. Distribui-se pelo núcleo, bairros periféricos, bairros impropriamente chamados de rurais, "vilas" operárias e
acampamentos do D.E.R. (N.E.: Departamento de Estradas de Rodagem).
Na estrutura urbana da cidade constata-se uma diferenciação social bastante clara entre os bairros; são nitidamente mais abastados os bairros constituídos pelo núcleo mais antigo e pelos
loteamentos que lhe estão próximos, inclusive as ruas comerciais, onde também se acham as residências mais finas (Av. Nove de Abril, Rua Miguel Couto e Rua São Paulo).
Seguem-se os grandes loteamentos operários, em que distinguem-se nitidamente dois tipos de casas: os chalés de madeira, mais antigos e mais precários, numerosos, principalmente em
direção à Via Anchieta, onde se prolongam pelos acampamentos do D.E.R. (cujas casas são todas de madeira). As autoridades municipais favorecem a construção de alvenaria ou pelo menos mistas, isto é, algumas dependências de madeira e outras de
alvenaria.
Numa terceira categoria estão os loteamentos "rurais" de Vila Parisi e Jardim São Marcos, com casas precárias e improvisadas,
insalubres e feias, sem água nem luz, conforme descrição já feita. Ainda nesta categoria, inclui-se a Vila Operária do Curtume, aliás em via de desaparecer devido à construção da estrada Cubatão-Pedro Taques (2).
Jardim São Marcos em 2004
Foto: Carlos Moura, publicada no jornal Folha de Cubatão, semana de 19 a 22/1/2004
PROBLEMAS E PERSPECTIVAS DE CUBATÃO
A cidade ressente-se da falta de planejamento global ou parcial. Sua "espinha dorsal" é a antiga estrada e seu alargamento é o único objetivo de urbanização, no momento atual. Em torno
desse eixo, sucedem-se os loteamentos, cuja regularidade é quebrada pela presença de um ou outro córrego. A especulação imobiliária tem-se antecipado ao crescimento urbano.
A instabilidade política vem acompanhando o crescimento e até perturbações violentas têm ocorrido, visando o controle político e econômico, o que contribui para retardar a consolidação
social e econômica do organismo urbano.
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A concentração industrial de Cubatão está promovendo a organização de toda uma infra-estrutura que, por si só, já exerce atração sobre novos setores industriais; é o que acontece com a
Cosipa, por exemplo. As possibilidades de expansão das indústrias de derivados de petróleo estão longe de esgotar-se e, com a multiplicação dessas, o setor das indústrias químicas tende a ampliar-se e diversificar-se. Tudo depende, porém,
diretamente da capacidade de fornecimento de matéria-prima por parte da Refinaria Artur Bernardes.
Cabe mencionar o forte retraimento que se constata por parte desse setor industrial em realizar novos investimentos na Baixada Santista, em virtude das dificuldades que tem encontrado
nas relações empregador-empregado. Os salários, excepcionais para o padrão brasileiro, dos empregados da indústria de petróleo e dos empregados das Docas, são reivindicados pelos demais operários, assim como a equiparação de um sem-número de
privilégios. Movimentos e greves são freqüentes, criando um clima de instabilidade que, se persistir, poderá prejudicar a expansão do parque industrial.
Todavia, se isto é verdade no momento, não se pode deixar de reafirmar que a indústria de Cubatão é um corolário da Refinaria Artur Bernardes. Se, no âmbito nacional, a indústria dobrou
depois que a Petrobrás passou a ter funcionamento pleno, em Cubatão significou a abertura de uma nova frente industrial - a da indústria petroquímica -, a qual representou para o País uma enorme economia de divisas e importante progresso no caminho
da emancipação industrial.
Acreditamos no caráter passageiro dos problemas acima indicados, considerando-os de certa forma naturais numa área em que a implantação industrial e de uma indústria de técnica altamente avançada
está se fazendo de maneira tão rápida e de forma tão surpreendente.
A indústria, através da criação do mercado de trabalho, foi responsável pelo crescimento demográfico e, conseqüentemente, pela existência da própria cidade. A consolidação
dessa indústria dará certamente condições para que Cubatão absorva e amalgame toda essa população de arrivistas e organize seu espaço urbano em moldes mais funcionais, dispondo de serviços à altura de sua posição de 4º município do País em valor da
produção, segundo dados de 1958 (3).
Na placa, o registro de um antigo paradoxo
Foto de Juca Martins, no nº 1 da revista Brasil Extra (Cia. Editora Joruês, São Paulo/SP), 8/1984
NOTA COMPLEMENTAR:
(1) Pelo recenseamento de 1970 a população total de Cubatão foi de 50.906; a urbana de 37.147 e a rural de 13.759. A densidade
demográfica é de 318,16 habitantes/km². A estimativa para 1975 é de 66.179 habitantes.
(2) Neste momento (1974), a abertura da Rodovia dos Imigrantes obrigou a DERSA a construir os
acampamentos de operários e funcionários à margem direita do rio Cubatão. Essa importante obra pública atraiu numerosa mão-de-obra para o município, repetindo curiosos aspectos sociais que caracterizam os empreendimentos das áreas pioneiras.
(3) Segundo dados de 1970, Cubatão é o quarto município do País, em valor de produção. |