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HISTÓRIAS E LENDAS DE CUBATÃO - CUBATÃO EM... - 1839 - BIBLIOTECA NM
1839-1855 - por Kidder e Fletcher - 16

Clique na imagem para ir ao índice do livroEm meados do século XIX, os missionários metodistas estadunidenses Daniel Parrish Kidder (1815-1892) e James Cooley Fletcher (1823-1901) percorreram extensamente o território brasileiro - passando inclusive por Santos e por Cubatão em 1839 (Kidder) e 1855 (Fletcher) -, fazendo anotações de viagem para o livro O Brasil e os Brasileiros, que teve sua primeira edição em 1857, no estado de Filadélfia/EUA.

Kidder fez suas explorações em duas viagens (de 1836 a 1842), e em 1845 publicou sua obra Reminiscências de Viagens e Permanência no Brasil (leia), sendo seguido por Fletcher (a partir de 1851), que complementou suas anotações, resultando na obra O Brasil e os Brasileiros, com primeira edição inglesa em 1857 e sucessivamente reeditada.

Esta transcrição integral é baseada na primeira edição brasileira (1941, Coleção "Brasiliana", série 5ª, vol. 205), com tradução de Elias Dolianiti, revisão e notas de Edgard Süssekind de Mendonça, publicada pela Companhia Editora Nacional (de São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Porto Alegre), publicada em forma digital (volume 1 e volume 2) no site Brasiliana, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ - acesso em 30/1/2013 - ortografia atualizada - páginas 1 a 18 do volume 2):

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O Brasil e os Brasileiros

Daniel Parrish Kidder/James Cooley Fletcher

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Venda à beira da estrada

Imagem: reprodução da página 6 do 2º volume da edição de 1941, da Cia. Editora Nacional

Capítulo XVI

Visita às Províncias do Sul

Embora tendo eu residido vários anos no Império, nunca visitei as províncias do Sul. Em junho de 1855, o dever, somando-se à vontade, proporcionou-me o ensejo que há muito desejara.

Bondosamente munido por amigos brasileiros, alemães e ingleses do Rio, de cartas de apresentação, e principalmente amparado por forte carta de recomendação do venerável Senador Vergueiro, (um dos últimos dos patriotas da Constituinte), tinha toda a facilidade para visitar o sul do Brasil em condições vantajosas.

Desejando viajar descansado, procurei meu passaporte, vários dias antes da minha partida, na repartição conveniente. Uma das primeiras lições aprendidas pelo viajante no Brasil, é ter paciência e conformidade com todas as formalidades existentes. Não importa quanto sejam absurdas as exigências, como, por exemplo, a de obter um passaporte para deixar a cidade do Rio de Janeiro em demanda das províncias (onde nunca ele seria exigido), devemo-nos submeter a isso.

Protestos motivam apenas um dar de ombros do funcionário tomador de rapé, e ai de nós se a hora de fechar o escritório chega antes de se ter obtido o documento necessário. Para estar perfeitamente dentro da regra, o cidadão que parte ou o estrangeiro deve ter seu nome registrado na alfândega ou estampado em algum jornal, três dias antes de ser seu passaporte concedido, para que seus credores possam ter a oportunidade de conhecer os seus passos. Mas o sistema de passaporte, assim como o de quarentenas, nunca evita o adit ou o exit dos velhacos ou das pestes.

Sabendo disso, eu havia preparado desde o dia anterior, a minha bagagem, que se compunha de uma mala e alguns caixotes de livros, e tinha feito um ajuste com um empregado subalterno de uma casa mercantil, para ter a bagagem colocada no vapor bem cedo. Acreditando-me perfeitamente seguro, ocupei-me em escrever até meia hora antes da partida. Ao entrar no estabelecimento mercantil referido, encontrei minha bagagem descansando quietamente onde eu a tinha deixado na véspera.

Havia somente tempo para levá-la a toda pressa num carro para o Consulado. Saímos a toda pressa e, ao alcançar este lugar, passamos por uma série de formalidades para embarcar as caixas; então, tomando um bote (pois os navios não atracam em docas), chegamos ao vapor, e tivemos o desgosto de ser informado pelo segundo piloto brasileiro que os motivos de nossa pressa não podiam ser recebidos a bordo naquela hora, sem uma permissão especial do oficial do vapor, que estava na rua, a uma milha distante do Consulado.

Os negros remaram comigo rapidamente em direção à terra, onde saltei para um tílburi e percorri barulhentamente as ruas até o ambicionado escritório da Southern Steam-Packet Company. Obtive a permissão e, voltando com a mesma rapidez com que vim, cheguei logo a bordo. Deixo ao leitor julgar quão mais fácil e mais razoável seria tudo na Inglaterra ou nos Estados Unidos, mesmo me cabendo a culpa de não atender à minha própria bagagem para vê-la belamente no vapor um dia antes.

Uma vez a bordo, verifiquei não ter havido necessidade da minha grande correria, pois a máquina roncou e assobiou mais de uma hora antes de deixarmos o ancoradouro. Nossos passaportes foram todos examinados pelo oficial de polícia, e nossas identidades pessoais verificadas pelo agente do paquete, para descobrir se todos os passageiros tinham pago sua passagem; o capitão tomou seu posto sobre a casa do leme e à voz de "pequena volta para frente" movemo-nos através do ancoradouro dos navios de guerra e outras embarcações carregando e descarregando, até se ouvir a voz de "para a máquina", quando estávamos sob os canhões de Villegagnon.

Recebemos aqui a última visita do agente, e depois os oficiais do governo abordaram-nos para ver se estava tudo conforme e — se imaginam os leitores que navegamos fora da baía, a sua imaginação os teria completamente enganado, pois ficamos em frente de Villegagnon por duas horas mortais, flutuando para cima para baixo em ondas que nos chegavam diretamente do azulado Atlântico. Alguma coisa tinha sido esquecida pela esposa do comandante (de mais valor que uma caixa de chapéus), que se verificou ter sido uma grande caixa contendo dinheiro e despachada "expressa" para o Sul; daí a nossa demora.

Já passavam das cinco horas quando transpusemos as gigantescas sentinelas do Pão de Açúcar e Santa Cruz. Os passageiros, com exceção da minha pessoa, de um francês e um lombardo, eram brasileiros ou portugueses. O capitão, natural de Baltimore, tinha renunciado a seus direitos nos Estados Unidos, e se naturalizado brasileiro. Logo chegou a noite, e um forte e revolto mar obrigou-me a ir para o camarote — não antes de ter visto os brasileiros horrivelmente enjoados pelo mar; e tinham todos uma tal aparência biliosa que se podia prever para eles um grau extraordinário de sofrimento no alto-mar.

Cedo, na manhã seguinte, pude ver da janela do meu camarote as montanhas da costa. O mesmo magnífico cenário que agrada tanto os viajantes nas vizinhanças do Rio de Janeiro se reproduzia em todo o trajeto até o Rio Grande do Sul, apenas as montanhas variam de forma, e em alguns lugares as palmeiras são mais exuberantes. Quando me dirigi ao tombadilho, estávamos justamente entrando na linda baía de Ubatuba. Dois navios estavam ancorados; e, tratando-se de um pequeno lugar, havia considerável comércio de café, que era trazido do interior e daí embarcado para o Rio.

Ubatuba

A vila de Ubatuba estende-se por uma praia circular e suas casas, muito brancas, ficam em forte contraste com as montanhas verdejantes que se erguem ao fundo. A tempestade tinha cessado; raramente tenho presenciado uma cena mais agradável que essa paisagem sulina. O capitão, vendo a tranquilidade da água, teve o bom senso, nessa ocasião, de convidar os passageiros para um almoço mais substancial, pois quase todos a bordo se tinham plenamente preparado para ele com o seu tributo noturno pago às ondas enraivecidas.

Todos os olhares brilhavam de prazer (sem dúvida o almoço tivera o seu papel em tal efeito) quando se passou em revista a beleza que surgia em nossa frente. Afabilidade e bondade são característicos predominantes dos brasileiros; até um pobretão teria ficado alegre naquelas circunstâncias.

Nós apenas tratamos da nossa correspondência e compramos as laranjas (cem das mais deliciosas podem ser compradas por três pence ingleses) e, despedindo-nos de Ubatuba, em curto tempo estávamos navegando de novo entre as ilhas e a costa coberta de matas. O mar estava manso, os passageiros foram todos para o tombadilho, e os melhores sentimentos dominavam todos os presentes.

Desejando aproveitar a ocasião, desci à minha mala e levei para cima uma bíblia portuguesa, que ofereci a um passageiro conforme as regras da Sociedade Bíblica Americana (American Bible Society). Pouco tempo foi necessário para eu dispor de todos os volumes da Sagrada Palavra que estavam ao meu dispor e, de todos os lados, os meus amigos de viagem estavam lendo com curiosidade um livro que nunca haviam visto antes.

De vez em quando chamavam-me para dar explicações, e convenci-me mais uma vez da falta de fanatismo que é uma qualidade característica dos brasileiros. Um oficial da Marinha Imperial que tinha voltado da esquadra brasileira no Rio da Prata, voltando ao seio de sua família em Santos, desejou a Sagrada Escritura para dar de presente a seus filhos e, adquirindo-a, comentava. "Embora eu seja um homem de quarenta e cinco anos de idade, nunca tinha visto até agora a Santa Bíblia escrita em língua que eu pudesse compreender".

Ubatuba difere de certo modo de muitas cidades vizinhas, pois foi dotada de uma denominação indígena sonora, como outras, já encontradas em toda a região quando se deu a descoberta. A não muitas léguas dessa vila, está a grande cidade de Angra dos Reis e a ilha denominada Ilha Grande dos Magos, cujos nomes foram dados por Martim Afonso de Souza.

Embora vários destes portos e ilhas tenham sido previamente descobertos e provavelmente batizados — devido à circunstância de Souza ser um colonizador de fato, circunstância essa somada ao fato de que, respeitando o calendário romano, ele correspondia aos preconceitos peculiares aos seus compatriotas — os nomes impostos por ele são os únicos conservados pela posteridade.

O dia 6 de janeiro, designado em inglês como a Epifania, é chamado em português, Dia dos Reis Magos. A Ilha de São Sebastião e o porto de São Vicente foram denominados de maneira semelhante, nos dias 20 e 22 do mesmo mês. Os nomes indígenas das cidades brasileiras podem incluir-se entre os mais fluentes e sonoros encontrados em qualquer língua: — como Itaparica, Pindamonhangaba, Inhomirim, Guaratinguetá Paraíba e seu diminutivo Paraibuna, etc.

São Sebastião

De Ubatuba até o nosso seguinte ponto de escala, foi apenas uma corrida de algumas horas. Percorremos continuamente uma das mais íngremes e pitorescas costas que tenho observado. Junto à ilha e a cidade de São Sebastião (esta em terra firme), vieram-me à lembrança as margens do Reno, o cenário dos lagos e montanhas da Suíça, embora aqui a perpétua vegetação embeleze penhascos e rochedos, os vales estejam cobertos com plantações de café e açúcar,
e as laranjeiras sejam pródigas em seus frutos dourados.

A costa escarpada e alta, e promontórios bem arborizados projetam-se com grande nitidez de detalhes na brilhante e pura atmosfera. A Ilha de São Sebastião está separada do continente apenas por um estreito braço de mar, e pareceu-me, ao contemplá-la, uma das fabulosas Ilhas Hespérides. As íngremes e rochosas encostas de suas cadeias de montanhas são entremeadas de faixas de floresta, de cuja folhagem espessa, cascatas de beleza verdadeiramente alpina deixam cair suas águas espumantes de centenas de pés de altura.

Foi numa aldeia dessa romântica ilha que Wilberforce — um jovial e imaginoso guarda-marinha inglês — diz ter visto traços de mãos portuguesas em uma linda e branca igreja que se ergue no meio das casas de barro. "
A antiguidade da construção", escreve ele, "não era a única prova de sua origem. A presença de uma igreja é em si suficiente para mostrar que portugueses ou brasileiros haviam encontrado a vila. Costuma-se dizer que a primeira construção que colonos portugueses erigem é uma igreja: e a primeira que os brasileiros constroem é uma taberna de bebidas". E Wilberforce acrescenta significativamente: "Nós regulamos essas coisas melhor na Inglaterra e construímos as duas ao mesmo tempo".

Não posso dizer que as observações do guarda-marinha inglês sejam inteiramente exatas; mas é um fato que os brasileiros já tenham demasiado igrejas para os sacerdotes, e também que principiem os núcleos de suas povoações por uma venda, que não serve apenas como casa de bebidas, mas como lugar para repousarem e comer.

Os brasileiros são um povo moderado, como já observei, e não dado a bebidas como os povos do Norte; por conseguinte, "taverna de bebidas" não é o termo correto para expressar a fundação de uma colônia brasileira. A religião e a venda não são sempre inseparáveis; pois se encontrará frequentemente uma pequena cruz perto da estrada da venda e algumas vezes uma caixa de almas pregada na sua porta, na qual estão pintadas "almas brancas e pretas" que elevam mãos de súplica das chamas do purgatório, e duro deve ser o coração que possa resistir a tão piedoso espetáculo.

O guarda-marinha é, todavia, inteiramente justo em sua observação sobre mosquitos e os maléficos borrachudos. A indignação juntamente com a poesia, nasceram do aborrecimento que eles lhe deram; pois ele eloquentemente expandiu-se no seguinte trecho: — "
Quem escrevesse uma ode à paisagem brasileira em [São Sebastião] provavelmente começaria,

"Ye mountains, on whose woody heights
The greedy borruchudo bites;
Ye forests, in whose tangled mazes
The dire mosquitos sting like blazes!
"

e assim por diante até o fim do canto. Coisas que seriam poéticas tristemente se estragam com a intromissão desses utilitários complementos — os mosquitos. Vorazes animais! Envergonho-me em vosso nome. Não poderíeis dispensar o vosso jantar e deleitar a vossa mente com a poesia da paisagem?"

São Sebastião tem doze ou quatorze milhas de extensão, e quase tanto de largura. É bem cultivada e algum tanto populosa. Bem como a Ilha Grande, era o ponto de reunião dos navios empenhados no comércio de escravos. Essas embarcações tinham grandes facilidades de desembarcar as suas cargas de seres humanos nesses e noutros pontos contíguos; e quando não precisavam ir fazer reparos no porto do Rio, podiam munir-se em São Sebastião dos papéis necessários para nova viagem. Não foi por outro objetivo que o vice-consulado de Portugal se estabeleceu na vila do lado oposto.

O sol estava se pondo quando o nosso pequeno vapor saiu da Baía de São Sebastião, e antes do amanhecer estávamos nos aproximando dos Alcatrazes, duas ilhas rochosas de forma curiosa, bem conhecidas por todos os paulistas viajados.

Antes de me retirar para o camarote, tive uma interessante conversa com um português que estava orgulhoso de seu pequeno reino peninsular, e jactava-se de seus grandes feitos e passados esforços, mas não falava de sua glória presente. O passageiro lombardo entretinha-se com narrativas da revolta milanesa de 1848, e com canções bélicas em que o nome de Carlos Alberto "Il Ré di Sardegna" vinha sempre à baila.


Caixa das Almas

Imagem: reprodução da página 7 do 2º volume da edição de 1941, da Cia. Editora Nacional

Santos

Na manhã seguinte chegamos a Santos, situada algumas milhas acima do rio do mesmo nome, que é o principal porto da florescente província de São Paulo. Aqui desembarquei minhas duas caixas destinadas ao interior, e que esperava chegariam o seu destino antes que eu voltasse a Santos, para que eu pudesse cavalgar com presteza sem o estorvo das mesmas, sem me atrasar nas excursões análogas que eu fizera na zona rural da província do Rio de Janeiro.

Tive que vencer algumas dificuldades na alfândega; e ninguém, a não ser os estrangeiros que tenham feito semelhante experiência no Brasil, pode imaginar os vários prejuízos a que cada objeto está sujeito. Não houve objeções para os livros porque eram Bíblias, mas tive que pagar direitos (pequenos, é verdade) mais uma vez pelas mesmas. Pensei que já tendo pago direito no Rio, seria suficiente; mas aqui há uma tarifa provincial, da qual ninguém está isento.

Tinha cartas do senador Vergueiro para seus dois filhos, que tem uma casa comercial aqui e, assim como o pai, tem imensas plantações no interior; e foi para uma dessas plantações que resolvi me dirigir e, enquanto trabalhava pelo bem, habilitar-me a ver, por mim próprio, a condição dos milhares de colonos europeus que os empreendedores Vergueiros tem sob suas ordens.

O sr. José Vergueiro, chefe da casa de Santos (Vergueiro & Filhos), estava ausente, e seu irmão, o quarto filho do senador, estava indisposto. Mas, por sua ordem, fui tratado com a maior gentileza pelos empregados do estabelecimento; e, por um deles, meus livros foram logo despachados na alfândega. Declinei seu convite para jantar no Trapiche, pois já tinha aceitado a boa oferta de meus companheiros de viagem brasileiros no hotel do sr. Francisco. Diziam que este era um perfeito poliglota; mas achei, experimentando falar com ele em três línguas, que apenas falava um pouco de cada uma.

O jantar foi abundante e excelente. Achei que as joviais qualidades dos brasileiros eram tão notáveis como as de John Bull, — não que houvesse bebidas em excesso, mas comem com gosto, e divertem-se muitíssimo em cada brinde ou saudação, que pareceu-me, o nosso banquete foi tão abundantemente provido como de substanciosos alimentos e doces. Os brasileiros são grandes fazedores de brindes; numa mesa em que vinte ou mais pessoas estavam reunidas, vi cada qual propor pelo menos uma "saúde", enquanto alguns propunham, no fim da refeição a saúde de nada menos de seis diferentes pessoas. Alguns destes brindes terminavam por hinos cantados por todos em tão altas vozes que parecia serem estudantes alemães os seus executores.

O grupo, em casa do sr. Francisco, era composto de mercadores, médicos, alguns funcionários civis do Governo, e um coronel do exército regular. Vinho em abundância foi posto sobre a mesa; mesmo assim foi usado com grande moderação pelos que beberam, alguns se abstendo totalmente. No ajuste de contas ($1 cada), nenhum deles permitiu-me participar da despesa; e durante a refeição, sabendo que eu era um sacerdote protestante, foram mais respeitosos em suas expansões, aprovando todos o trabalho em que me achava empenhado.

Refiro-me a esse particular, por causa de alguns escritores e visitantes do Brasil, que certamente nunca viram mais do que casas de armadores de navios, hotéis ou, no máximo, alguma cidade costeira, e por isso se queixaram de que os brasileiros são inóspitos, interesseiros e inteiramente desconfiados para com o estrangeiro. Quanto à falta de hospitalidade, fora das grandes cidades, não é própria dos brasileiros; e mesmo no Rio e na Bahia, as maiores cidades do Brasil, sempre recebi o mais cordial tratamento dos brasileiros, a quem nunca vira antes de entregar as minhas cartas de apresentação.

Entre as mais agradáveis lembranças de minha vida ficarão as provas da boa hospitalidade manifestada para comigo pelos brasileiros na metrópole, onde mais do que em qualquer outro lugar costuma haver frieza. Quanto a egoísmo e desconfiança para com os estrangeiros, possuem do primeiro o que faz parte da natureza humana, e do segundo não mais do que o manifestado por ingleses ou americanos quando se aproximam de estrangeiros recém-chegados sem cartas de recomendação.

Do hotel do sr. Francisco fomos para bordo. Esta tarde, num grupo de passageiros, juntamente com o capitão e o piloto, estivemos acordados até alta noite conversando a respeito da literatura desmoralizante que presentemente enche a França. Eles ouviam com grande atenção as opiniões que aconselhavam cortar o mal pela raiz, e a religião corrompida foi avaliada pelo único e verdadeiro padrão — a grande Regra de Fé que nos é dada por Deus em Seu verbo.

No dia seguinte, nosso vapor só deixou Santos à noite, tanto assim que tive oportunidade de ir outra vez ao armazém do sr. Vergueiro & Filhos. Fiquei satisfeito por saber que o mais jovem Vergueiro pôde ir a seu escritório, embora o sr. José não tivesse ainda voltado do interior.

Ele sentiu muito que eu não pudesse então aceitar a hospitalidade de sua casa, expondo que seu pai tinha escrito para eles pedindo-lhes que me prestassem todas as atenções, mas desejava que na minha volta de São Francisco do Sul lhes concedesse uma longa visita. Tudo isto foi dito de uma maneira tão natural e cordial que excluía toda ideia de formalidade e insinceridade.

Às oito horas o vapor deixou Santos, e pouco depois passávamos velozmente pela barra.

São Vicente

Santos está situada sobre a porção Norte da ilha de São Vicente, que é destacada do continente apenas pelas duas bocas do Rio Cubatão. O rio principal permite a entrada de grandes navios na maré alta, e é usualmente chamado "Rio de Santos", até o ponto em que está a cidade. Na sua saída, na margem Norte, fica a fortaleza de S. Amaro. Esta relíquia dos tempos antigos está ocupada por alguns soldados, cuja principal ocupação é ir a bordo dos navios quando saem e entram no porto, para servirem de guarda contra o contrabando.

O curso do rio é sinuoso e seu fundo lodoso. Suas margens são baixas e cobertas de mangues, tanto assim que o fundo não é muito convidativo; mas da casa do leme contempla-se uma bela vista da região costeira e das montanhas distantes, que se veem ao Norte. O capitão apontou o local de São Vicente — a primeira colônia regularmente estabelecida no Brasil. Como Martim Afonso de Souza pôde escolher este lugar de preferência àquele em que atualmente está o Rio de Janeiro, é verdade difícil de justificar, exceto pelo motivo de serem os índios Tamoios demasiado numerosos nas redondezas da Baía de Niterói.

Paranaguá

Tornando-se o mar agitado, tomei o meu velho e soberano remédio contra o enjoo: um bom leito — e não me levantei senão quando o sol já ia alto acima das montanhas, e estávamos entrando no intrincado porto de Paranaguá. Antes de atravessar a barra, vimos fora uma escuna brasileira ancorada e balouçando sobre as ondas. O capitão, com seu óculo, percebeu que era um navio fretado pela Steam Packet Company, e estava carregado com carvão de que ele se devia abastecer para o resto da viagem. Era da maior importância, pois que a escuna atravessasse a barra. Com o presente vento seria impossível. A proa do vapor foi dirigida para a escuna.

Essa gente do mar dificilmente se anima: e a maior indiferença foi manifestada pelo capitão do pequeno navio a vela a essa proposta de reboque, que teria feito um marinheiro inglês ou yankee dançar de prazer. Sua resposta descansada foi, "Se o sr. quiser". Essa resposta estava perfeitamente de acordo com a falta geral de energia, que caracteriza uma certa classe de brasileiros. O navio foi amarrado ao P..., e fomos logo para a barra, subindo o difícil canal.

Um certo número de cartas que escrevi a um amigo durante a viagem foram guardadas por ele e depois devolvidas a mim; e julguei que seria melhor intercalar aqui alguns trechos das mesmas, que possuem pelo menos o interesse de terem sido escritas no meio das cenas que descrevem. A seguinte foi escrita do porto imediato ao Sul de Paranaguá.


Vista de Paranaguá

Imagem: reprodução da página 12 do 2º volume da edição de 1941, da Cia. Editora Nacional

São Francisco do Sul — Província de Santa Catarina.

Este não é o São Francisco das maravilhas de progresso, dos aventureiros e dos sonhos dourados. Quanto ao ouro, não há nenhum; quanto aos aventureiros, apenas dois marinheiros desertores; e quanto ao progresso, este está revirado, pois aqui há uma porção de casas para alugar, precipitando-se depressa (a única pressa aqui notada) para uma ruína geral.

Mas eu voltarei atrás um dia ou dois em minha viagem.

Deixei Santos no dia 15. É agradável viajar em um vapor brasileiro, desde que não se esteja com pressa. Consideram tudo tão fácil: quero dizer, os vapores e as pessoas. E deixe-me dizer que, de todos os viajantes com quem tenho viajado, os brasileiros são os de melhor temperamento e mais agradáveis depois de travar amizade com eles. São muito corteses, mas mesmo assim de vez em quando podem demonstrar egoísmo como outros sentimentos humanos em um navio — esse pequeno mundo em miniatura, onde tudo que é mau é facilmente tornado conhecido. Paciência é a palavra de ordem deles.

Quando se chega a uma finalidade, depois de ter sido terrivelmente sacudida pelo jogo do navio e sofrido o mal do mar, pode-se contar com umas boas vinte e quatro ou trinta e seis horas em terra. É um grande luxo. Os passageiros abandonam o navio, (muito embora bons jantares se lhes proporcionem a bordo), e correm para os hotéis; ou, na falta destes, procuram as "Casas de pasto", e entregam-se a tais violências que se poderia julgá-los meio famintos.

A "ordem de exercícios" a bordo do vapor em alto-mar, pode ser facilmente dada. Toda manhã às seis horas o moço do camarote desperta-nos para dar uma xícara de café, e trinta ou quarenta minutos depois uma grande tigela de mingau, (araruta ou maisena), bem salpicado de canela e açúcar, é colocada na mesa, e um corpulento camarada, reforçado com uma colherona, está pronto para servir-nos com toda a graça e celeridade dos benfazejos gênios que se encontra no "Faubourg du Temple" em Paris.

Às dez horas um imenso almoço composto de roast-beef e carne cozida, carne de porco, peixe fresco, pirão, (preparado com mandioca) etc, etc., é colocado diante de nós. Comece a servir-se ou do contrário os seus vizinhos farão a mesma coisa sem a menor demora e, quando se julgam satisfeitos ou fatigados com esta operação, variam de ocupação bebendo o chá que o despenseiro trouxe fervendo.

Depois sobe-se para o passadiço. Se o mar não está forte, os cachimbos, charutos e passeios são o número seguinte do programa. O panorama litorâneo é o meu charuto; e até agora não houve diminuição no meu prazer em contemplá-lo. Pelo contrário, as montanhas são ainda mais fantásticas e variadas do que no Rio, e as baías e ilhotas são grandemente pitorescas. Os passageiros se mostram fecundos em anedotas e gracejos durante uma ou duas horas, e depois dormem a sesta ou leem. Eu me arriscarei a afirmar que até agora nunca houve tantos leitores da Bíblia a bordo de um navio brasileiro.

Por causa do ardor do clima, cada um destes vapores costeiros tem, em redor de todo o passadiço superior, pequenos camarotes ou, mais propriamente, respeitáveis casas de cachorro, com uma janela de correr. Embora haja confortáveis leitos nos de baixo, estes camarotes superiores são os mais agradáveis pois, de noite e de dia, tem-se sempre ar fresco e puro.

Os meus companheiros de viagem estavam todos ocupando esses pequenos camarotes com as janelas de correr levantadas, e assim tive a oportunidade de vê-los quando passeava no tombadilho. Fui muitas vezes chamado para explicar as Escrituras, e alegrava-me com a oportunidade de espalhar a semente que, embora semeada em região aparentemente imprópria, o Senhor pode fazer com que se multiplique cem vezes.

Chegamos a Paranaguá na manhã do primeiro sábado depois de deixar o Rio, e agora posso dizer que estive na mais nova província brasileira — a de Paraná. A entrada da baía é um perfeito "quebra-cabeça", e as montanhas ao fundo da cidade são altas e pitorescas. Enquanto o sol estava batendo sobre o tombadilho do nosso vapor, fiz um rápido esboço a lápis de um trecho do porto, esboço que junto a esta carta, explicando-lhe de antemão a impossibilidade de corresponder à beleza de toda esta costa sem o poder de um Constable, um Turner ou um Calame.

Paranaguá foi antigamente um célebre ponto de reunião para aventureiros de todas as nações empenhados no comércio de escravo; e quando o governo britânico, há alguns anos passados, ordenou seus cruzadores que fizessem uma vigorosa demonstração na costa brasileira, o Cormorant, da Marinha Real, navegou por esses canais, entrou no porto, e acabou um ninho inteiro de navios negreiros. O forte estava bem situado perto da barra, e H. B. M. Cormorant devia passar neste ponto.

Depois de uma leve resistência antes de render-se aos seus navios, os capitães dos piratas e tripulações correram por terra para o forte e apontaram os canhões, esperando ansiosamente o Cormorant quando ele se encaminhasse para o mar, arrastando seus troféus consigo. Orgulhosamente navegou outra vez através a sinuosa saída para o oceano.

Os canhões do forte estavam bem apontados, mas H. B. M. Cormorant provou ter tanto de uma sagaz raposa como de uma ave de rapina pois, percebendo a armadilha arranjada para ele, preparou um golpe mais engenhoso. A tripulação muito habilmente colocou os maiores navios piratas entre o navio e o forte, e assim foi navegando para a frente o Cormorant. Ruidosamente troou o canhão da fortaleza: mas as balas não atingiram a ave de rapina; num momento, ela se adiantou inesperadamente na frente dos navios piratas, descarregou os pesados canhões de sua proa, e os desmantelados canhões do forte, que digam como foi certa a pontaria dos artilheiros da H. B. M.

Os navios piratas, todavia, prepararam-se para responder; mas o prudente Cormorant astutamente escondeu-se por trás de um grande navio, embora apenas por um instante. Navegou uma vez mais para a frente e descarregou seu tiro de despedida com tal efeito sobre o velho forte, que os piratas não fizeram mais tentativas para estorvar o Cormorant, que logo ganhou o mar alto, e em poucos momentos, habilmente pondo-os a fundo, retirou os navios piratas do tráfico, que é como chamam os brasileiros o amaldiçoado comércio de escravos.

A maior parte dos nossos passageiros desembarcou aqui, muitos deles destinando-se a Curitiba, a capital dessa jovem província. Nunca me hei de esquecer das suas gentilezas; e sinto-me feliz por pensar que levarão consigo a Bíblia, talvez pela primeira vez, para lugares que provavelmente nunca presenciaram casos de salvação.

Eu também fui à terra. Paranaguá é uma linda e asseada cidade — um pouco em decadência, pensei a princípio; mas a segunda inspeção mostrou-me que não fizera justiça ao único porto do Paraná. Esta cidade tem cerca de três mil habitantes, e exporta anualmente um milhão de dólares de erva-mate. O mate é a folha seca e a haste nova de uma espécie de planta que é colhida no interior e trazida para o litoral em pelos de couro cru, muito apertadamente amarrados, sendo aqui embarcada para as repúblicas hispano-americanas.

Encontrei um certo número de grandes armazéns atacadistas fazendo bom negócio com os que vão buscar os produtos do interior. Um desses negociantes convidou-me a ir para a casa de seu irmão para examinar o mapa da província, que em vão eu procurara no Rio de Janeiro, os limites não tendo ainda sido definitivamente fixados.

Imaginem o que senti, quando, depois de passar por numerosas ruas, entrei numa casa onde uma recente lavagem do assoalho fez tudo parecer úmido, e um grande mapa me foi apresentado, que parecia estar tão embebido de umidade quanto possível sem se desfazer e, embora estivesse todo o resto em estado perfeito, só estava destruído na parte que justamente eu desejava ver — isto é: o limite entre Paraná e São Paulo. A umidade, o mofo e os ratos tinham destruído cuidadosamente todo o desenho do engenheiro e todo o trabalho do gravador, tanto assim que tive de regressar, lamentando a inconstância dos mapas e o descuido dos homens de Paranaguá.

Em uma destas ruas as ruínas de uma igreja atraíram minha atenção; e informaram-me que era um edifício quase concluído pelos jesuítas quando foram expulsos. Pode-se raramente viajar centenas de milhas ao longo do litoral do Brasil (que se estende, com suas baías e ilhas, aproximadamente por quatro milhas) sem se encontrar, em algum rico vale ou sobre alguma pitoresca eminência, uma imensa igreja, capela ou convento dessa ordem, cujos membros entraram no Brasil quando sua prosperidade estava no auge e quando sua ambição não fora ainda embaraçada por circunstâncias externas. Surpreendeu-me mais a grandeza excessiva de alguns dos edifícios de conventos do Brasil do que todos os do mesmo gênero que vi na França, Alemanha ou Itália.

Quando a pequena canoa, na qual fomos do vapor para a cidade, se aproximava do porto interior, onde os navios estavam ancorados junto à costa, percebi dois que pareciam notavelmente desolados e abandonados. Eram navios russos que se encontravam nas imediações desse porto no início das hostilidades e que, temendo ser apanhados inesperadamente por algum H. B. M. Bulldog, Grabber, ou Jowler, refugiaram-se nesse remoto esconderijo.

Parece muito singular ver estes pássaros do oceano do Norte, com suas asas aparadas aqui. Eles estão verdadeiramente deslocados; pois suas vergas estão arrebatadas, os mastaréus caídos e, com seus sólidos cascos, cobertos por um toldo em estilo de telhado de casa, e com sua falta geral de cordoalha, parecem os vulcões Fury e Hecla em seus trajes islandeses, ou melhor que a frigidíssima Baía de Archangel fosse seu lugar de descanso, e ele e as margens que o circundam fossem repentinamente cobertas pelas mãos divinas com o calor, as flores e a vegetação dessas terras de perpétuo verão.

Quando, na minha volta, entrei no vapor, reparei que uma senhora, cujo gosto singular de vestir-se tinha atraído a atenção de todos a bordo, recebia as atenções de uns guapos senhores, cujos bigodes bem elegantes e sapatos bem lustrosos indicavam que pertenciam a uma classe bem diferente aos daqueles passageiros, vestidos de ponche, que se dirigiam a Curitiba e aos sertões. Pouco depois fui informado que a senhora em questão era a "brilhante estrela" de uma companhia teatral, que viajava então pelas províncias, e que os senhores eram da mesma companhia, tendo chegado alguns dias antes da sua prima donna assoluta.

Os passageiros que se destinavam a Santa Catarina permaneceram esta noite no vapor; mas no dia seguinte (domingo), muito cedo, saíram todos, com exceção de minha pessoa, para passar as horas do dia de descanso em Paranaguá, onde havia uma grande festa em honra daquela santa. Uma das maiores atrações foram as representações teatrais dos atores viajantes, que deviam emprestar dignidade e honra à festa com comédias tolas e vulgares. Dirás talvez: "Qual a vantagem de propagar a palavra de Deus entre pessoas como essas?" Responderei: "Não se poupe em fazer o bem"; e estas são as próprias palavras de Deus. Meu dever é espalhá-lo em todas as partes, pregá-lo pelo exemplo sempre que possa, e deixar o resto por conta d'Ele. Já encontrei mais de um notável caso no Brasil, onde a Bíblia, semeada sob circunstâncias justamente tão adversas, produziu seus frutos.

Passei o dia a bordo, mas tive muito pouco descanso por estar o vapor passando a sua carga de carvão da escuna para o costado, carvão esse do qual, coisa inconcebível para o capitão do navio havia muitas toneladas a menos. Eu tinha tudo o de que necessitava, uma grande mesa provida com comida; mas, sendo de natureza sociável, convidei o engenheiro (um jovem de bom senso e inteligente de Manchester) e o segundo piloto brasileiro, para se associarem comigo.

Descobri do inglês que seus filhos e muitos de seus compatriotas residiam na Saúde (um distrito municipal da cidade do Rio de Janeiro), abandonados moral e intelectualmente. Moram muito longe da Igreja Inglesa para assistirem ao serviço religioso: mas este pretexto da distância talvez seja apenas para esconder o único real — o da indiferença.

Mas a verdade é que se podia arranjar alguma coisa para eles. São trabalhadores, e tanto os adultos como as crianças não fazem o que deviam fazer, uma classe correndo para a cachaça e a outra para a ignorância, e para eles o "domingo não é domingo". No próximo ano milhares de trabalhadores ingleses e irlandeses, virão para a Estrada de Ferro Pedro II, e por causa da distância e dos deveres do sacerdote rev. ..., este não poderá atendê-los intelectual e espiritualmente.

Sobre o assunto aqui referido, algumas senhoras inglesas e um estudante americano de Teologia (então em visita ao Brasil) tomaram-no a si, e interessaram negociantes americanos e ingleses em seu plano.

Forneciam os meios e, por coincidência, quando tudo estava bem organizado, encontraram um homem competente na pessoa de um piloto inglês, que então viajava para a sua pátria, vindo da Austrália, e tencionando devotar o resto de seus dias a Deus de outro modo, que não fosse o de percorrer o oceano, foi persuadido a se encarregar da nova escola, que em curto espaço de tempo estava em completo funcionamento, espalhando sua influência benéfica sobre os pais e os filhos. Esta escola, em 1865, estava ainda muito florescente.

São Francisco do Sul

No dia seguinte (segunda-feira) deixamos Paranaguá. Após uma agradável corrida de oito horas ao longo da costa, em que abundavam as repetições de Corcovados e Picos da Tijuca, entramos na segura Baía de São Francisco do Sul.

Cartas de apresentação são uma grande coisa no Brasil. Facilitaram o caminho para mim, em qualquer parte antes da chegada a este porto, e não encontrei aqui nenhuma exceção à regra geral expressa nas linhas acima.

O sr. V., o agente da companhia de vapores, recebeu-me muito gentilmente, e minhas caixas foram logo despachadas e desembarcadas na praia, que estava cheia de pescadores, mulatas, crianças seminuas, e uma indescritível porção de diferentes coisas, arroz espalhado para secar, canoas viradas para cima etc. etc. Em mais uma hora o vapor tinha contornado o promontório, e perdeu-se de vista em sua rota para Desterro. E eu, desta vez, vou dizendo: Adeus [A42].


Notas do Autor

[A42] Nota de 1866 - A Escola da Saúde, referida neste capítulo, tem sido agente de muitos benefícios no Rio; e, embora sua patrona chefe, sra. Jane S. D. Garrett, tenha voltado à Inglaterra, deixando assim um vazio dificilmente preenchível, está cumprindo regularmente a sua boa tarefa.

Um reconhecimento pela hospitalidade recebida é devida aqui aos srs. Garrett, cuja lembrança de sua casa em Laranjeiras será por muito tempo um dos meus "prazeres de memória".

O autor mais moço, durante suas visitas de 1862, 63, 64 e 65, recebeu no Rio muitas gentilezas da família suíça do sr. Gustave Lutz, e nas casas americanas do sr. George N. Davis, sr. Henry E. Milford e sr. John Hayes. Sentimos prazer também em reconhecer as cortesias do almirante Tamandaré, senhora Andrade Pinto (da Rua Santo Ignacio), do barão de Mauá, sr. Militão Maximo de Souza, sr. Pinto W. G. Ginty e sr. Bennett.