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HISTÓRIAS E LENDAS DE CUBATÃO - CUBATÃO EM... - 1839 - BIBLIOTECA NM
1839-1855 - por Kidder e Fletcher - 10

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Em meados do século XIX, os missionários metodistas estadunidenses Daniel Parrish Kidder (1815-1892) e James Cooley Fletcher (1823-1901) percorreram extensamente o território brasileiro - passando inclusive por Santos e por Cubatão em 1839 (Kidder) e 1855 (Fletcher) -, fazendo anotações de viagem para o livro O Brasil e os Brasileiros, que teve sua primeira edição em 1857, no estado de Filadélfia/EUA.

Kidder fez suas explorações em duas viagens (de 1836 a 1842), e em 1845 publicou sua obra Reminiscências de Viagens e Permanência no Brasil (leia), sendo seguido por Fletcher (a partir de 1851), que complementou suas anotações, resultando na obra O Brasil e os Brasileiros, com primeira edição inglesa em 1857 e sucessivamente reeditada.

Esta transcrição integral é baseada na primeira edição brasileira (1941, Coleção "Brasiliana", série 5ª, vol. 205), com tradução de Elias Dolianiti, revisão e notas de Edgard Süssekind de Mendonça, publicada pela Companhia Editora Nacional (de São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Porto Alegre), publicada em forma digital (volume 1 e volume 2) no site Brasiliana, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ - acesso em 30/1/2013 - ortografia atualizada - páginas 178 a 209 do volume 1):

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O Brasil e os Brasileiros

Daniel Parrish Kidder/James Cooley Fletcher

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Velha moradia brasileira

Imagem: reprodução da página 179 do 1º volume da edição de 1941, da Cia. Editora Nacional

Capítulo X

Sentimento doméstico entre os brasileiros.

Os alemães, os ingleses, e seus descendentes não possuem característico mais notável que o seu sentimento doméstico. O círculo em volta da lareira, com suas alegrias e cuidados, não pertence propriamente aos gauleses ou aos italianos. O europeu do Sul possui muitas coisas no seu delicioso clima que o torna um ser que vive fora de casa.

Os antigos romanos eram um povo que vivia em público. A sua existência parecia fazer parte do fórum, dos banhos públicos, dos círculos e teatros. "Sem livros, revistas e jornais, sem cartas para escrever, e com um belo clima sempre os atraindo para o ar livre, nada os prendia à casa, a não ser as necessidades de comer e dormir". A cidade de Pompeia, provavelmente, não contava mais de 25 mil habitantes, e somente um sexto de sua área foi exumado. Nesse pequeno espaço foram encontrados vários edifícios públicos para diversões teatrais, podendo conter cerca de 1.700 espectadores.

A maioria das nações que descendem dos romanos não têm, como eles, instituições estreitamente relacionadas com a palavra lar. Há, contudo, uma importante exceção a essa regra, que é o caso da nação portuguesa que, sob todos os demais aspectos, é mais romana do que qualquer outro povo da atualidade. A casa e a família aí existem e, sem duvida, os lusitanos devem-nos aos mouros, que somaram à tradição latina algo de seu exclusivismo oriental.

Os portugueses e seus descendentes sul-americanos, até hoje, fiscalizam com ciúme as suas casas particulares, e, passando muitas horas do dia dentro dos recintos fechados das mesmas, que são seus verdadeiros castelos, onde as ligações domésticas e as instituições de família têm sido ampliadas e perpetuadas.

A casa brasileira.

Proponho-me neste capítulo estudar a residência e a família, — traçar a educação das crianças desde a infância até quando vão ocupar as posições da idade adulta.

A casa da cidade não é um lugar atraente: as cocheiras e as cavalariças ficam no primeiro andar, enquanto que a sala de visitas, as alcovas e a cozinha ficam no segundo. Não é raro existir uma pequena área ou pátio ocupando o espaço entre a cocheira e a cavalariça, e esse espaço separa, no segundo andar, a cozinha da sala de jantar.

A gravura junto representa uma das mais velhas residências de cidade no Rio; o acesso à escada se dá por uma grande porta pela qual a carruagem entra barulhentamente, nos dias de festa e dias santos. A noite é fechada com grades de ferro, das dimensões das que são usadas nas prisões. Todos os seus ferrolhos, trancas, fechaduras, ou outro qualquer gênero de ferragem, parecem ter sido trazidos da seção pompeana do museu Bourbônico de Nápoles. As paredes, compostas de blocos de pedra, cimentados por argamassa comum, são tão espessas como as de uma fortaleza.

Durante o dia, entra-se pela grande porta e para-se no começo da escada; nenhuma aldrava ou sineta anuncia a presença do visitante. É preciso que a gente bata com as mãos juntas, rapidamente e, a não ser quando a família pertence à mais alta classe, pode-se estar certo de ser saudado por um escravo, do alto da escada, com um "Quem é?". Se acontece ver-se um amigo no balcão da janela, deve-se, havendo intimidade, cumprimentar-se o mesmo tirando-lhe o chapéu, e também movendo-se rapidamente os dedos da mão, como se se estivesse acenando para alguém.

O mobiliário da sala de visitas varia em preço, de acordo com o estilo adotado; mas, o que se pode sempre esperar encontrar é um sofá forrado de palhinha, a um canto da sala e três ou quatro cadeiras arrumadas em filas rigorosamente paralelas, estendendo-se de cada uma das pontas do sofá até o meio da sala. Em sociedade, é próprio as senhoras ocuparem o sofá, e os cavalheiros as cadeiras.

As residências urbanas, nas velhas cidades, pareceram-me excessivamente tristes, porém o mesmo não pode ser dito das novas residências urbanas, das lindas vilas suburbanas, cercadas por jardins, cobertos de folhagens, muitas flores e frutos pendentes.

Alguns trechos de Santa Tereza, Laranjeiras, Botafogo, Catumbi, Engenho Velho, Praia Grande e São Domingos, não podem ser ultrapassados na beleza e pitoresco de suas casas. Cito, em particular, as casas do sr. Maximo de Souza [T33 bis] e do sr. Ginty.

Há diferentes classes sociais no Brasil, como em qualquer outro país, a descrição de uma não podendo servir para as outras; mas, tendo esboçado a descrição da casa, devo agora tentar descrever os moradores desde as crianças até os adultos.

A mãe brasileira quase invariavelmente entrega o seu filho a uma preta para ser criado. Assim que as crianças se tornam muito incômodas ao conforto da senhora, são despachadas para a escola; e coitado do pobre professor que tem de impor-se a esse espécime irrequieto do gênero humano! Acostumado a dominar suas amas pretas, e com a ilimitada indulgência de seus pais, mete-se na cabeça tudo poder e dever fazer para frustrar os esforços feitos para discipliná-lo. Não fazem isso por maldade, mas por falta de disciplina paterna.

São afetivos e dóceis, embora impacientes e apaixonados, dotados de inteligência, embora extremamente preguiçosos e incapazes de prolongada atenção. Rapidamente adquirem uma tintura de conhecimentos: o francês e o italiano são fáceis para eles, por serem línguas irmãs da portuguesa. A música, o canto e a dança adaptam-se bem aos seus temperamentos volúveis; raramente tenho ouvido um amador italiano cantar melhor do que os amadores do Rio de Janeiro e da Bahia.

Pianos, veem-se abundantemente em cada rua, e ambos os sexos se tornam seus executantes consumados. A ópera é mantida pelo governo, como na Europa, e os principais artistas vêm ao Brasil. Thalberg triunfou no Rio de Janeiro antes de visitar Nova York.

A mulher brasileira.

As maneiras e costumes das damas brasileiras são gentis, e seu porte gracioso. É verdade que não têm uma base de conhecimentos variados para tornar agradável e instrutiva a sua palestra; mas tagarelam insignificâncias de modo sempre agradável, exceto pelo alto tom de sua voz, que eu suponho lhes venha das ordens frequentes que dá aos congos e moçambiques.

Suas reservas literárias consistem principalmente em novelas de Balzac, Eugenio Sue, Dumas pai e filho, George Sand, em intrigas de pacotilhas e folhetins dos jornais. Assim elas se preparam para esposas e mães.

O dr. P. da S.
[T34] — cavalheiro que toma um profundo interesse por todos os assuntos de educação e cujas ideias aplica com sucesso aos seus próprios filhos, e que possui sólidos conhecimentos somados a belos dotes de espírito, disse-me uma vez "Desejo de todo meu coração ver o dia em que as nossas escolas para meninas sejam de tal natureza que uma jovem brasileira nelas se possa preparar, por sua educação intelectual e moral, a tornar-se uma digna mãe, capaz de ensinar aos seus próprios filhos os elementos da educação e os seus deveres para com Deus e os homens: para esse objetivo, sr., é que estou me esforçando".

Escolas como essa estão aparecendo, e algumas excelentes; mas, em oito casos em dez, os pais brasileiros pensam ter cumprido seu dever mandando sua filha cursar, durante alguns anos, uma escola da moda, dirigida por estrangeiro: — quando completam treze ou quatorze anos, são daí retiradas, acreditando o pai que a sua educação está completa.

Se é rica, está desde logo preparada para a vida, e pouco depois disso o pai apresenta-lhe algum dos seus amigos, com a consoladora observação. "Minha filha, este é o teu futuro esposo".

A perspectiva dos diamantes, das rendas e das carruagens, ofusca a sua imaginação; ela sufoca a pequena parte do coração, que ainda lhe deixaram, e passivamente aquiesce ao arranjo do pai, provavelmente consolando-se com a reflexão de que não lhe é exigido dar o afeto total ao seu futuro companheiro, justamente como já se deu com os seus avós. Agora os pais ficam à vontade, o cuidado de fiscalizar essa ambiciosa moça está entregue ao seu marido e, daí em diante, este é o único responsável.

O marido, porém, coitado, tendo uma justa compreensão da sua incapacidade para tal tarefa, arranja uma antiga parenta, como duenna da sua jovem esposa, e sai de casa para o seu escritório, satisfeito e seguro. À noite volta para casa, e leva a esposa à ópera, onde exibe o preço que seus contos [A34] conseguiram obter, e recebe os cumprimentos dos amigos pela amável esposa que comprou. "Isso é uma velha história". Nem o Brasil tem o monopólio de semelhantes casamentos.

Começa em seguida o mesmo ciclo de erros: seus filhos sentem o efeito do próprio sistema que tornou a mãe um ser frívolo e de aparências. Sai de casa aos domingos e dias de festa, de braço dado com o marido ou o irmão, precedida das crianças, de acordo com a idade, toda vestida de seda preta, com o colo e os braços geralmente descobertos ou, no máximo, com uma leve mantilha ou capa sobre eles, seus cabelos luxuriantemente belos, bem arranjados e ornamentados e, às vezes, cobertos por um véu de renda preta, um livro de missa na mão, caminhando para a igreja. Terminada a missa, e colocada a esmola numa caixa, elas voltam para casa na mesma ordem em que foram.


A caminho da missa

Imagem: reprodução da página 183 do 1º volume da edição de 1941, da Cia. Editora Nacional

A caminho da missa

É muitas vezes motivo de surpresa, para os homens do Norte, a forma pela qual as damas brasileiras podem suportar descobertas os raios do sol; as europeias andam debaixo da proteção de chapéus e de sombrinhas; porém, esses grupos, no seu trajeto para a igreja, passam sem parecer que estão sentindo o sol. Todavia o chapéu vai-se tornando uma moda dominante.

O leitor pode notar, nestas moças vestidas de preto e de cintura estreita, um contraste com a gorda matrona que as segue. Uma matrona brasileira torna-se em geral extraordinariamente gorda em poucos anos — provavelmente devido à ausência de exercícios ao ar livre, de que as privam os hábitos nacionais; pois não se pode atribuir a sua gordura a qualquer falta de temperança, pois devemos sempre lembrar que as senhoras brasileiras raramente tomam vinho, ou qualquer outro estimulante. Nas ocasiões solenes, quando se bebe a Sande, somente tocam a taça com os lábios, por mera formalidade.

Durante os vários anos em que residi no Brasil, nunca assisti a um caso de senhora suspeita de tal vício que, a seus olhos constitui a mais horrível censura que pode ser feita ao caráter. "Está bêbado" pronunciado em tom alto, e quase parecendo um pito, por uma mulher brasileira, é uma das mais severas e secas repreensões que podem fazer.

Em alguns pontos do país, a expressão para um bêbado, é "Um baieta inglês"; e o termo para um indivíduo tocado, nas províncias do Norte é: "Ele está bem inglês". O contraste entre a geral sobriedade de todas as classes brasileiras e o constante estado de bebedeira dos estrangeiros e a comum animação de outros é extremamente lamentável.

As esposas no Brasil não suportam maridos bêbados, porém alguns velhos preconceitos mouros as tornam objetos de muito ciúme. Há entretanto um progresso nesse sentido e, muito mais frequentemente do que outrora, são as mulheres vistas fora das igrejas, das salas de baile e dos teatros.

Entretanto, devido a opinião dominante de que as mulheres não devem aparecer na rua, a não ser protegidas por um parente do sexo masculino — a vida das senhoras brasileiras é triste e monótona, o bastante para tornar melancólica uma dama europeia ou americana.

Desde manhã cedo, todo o pessoal de casa está em movimento, e o principal trabalho caseiro termina antes das nove horas. Depois disso, as damas vão para as janelas, durante algumas horas, "se refestelarem", conversar com suas vizinhas, e esperar o leiteiro e as quitandeiras.

O primeiro traz o leite, num veículo de novo aspecto, para o estrangeiro — ou que pelo menos ele nunca viu usado para esse fim antes de conhecer o Brasil. A vaca é o carro de leite! Antes que o sol se levante, a vaca, acompanhada de seu bezerro, é levada de porta em porta por um camponês português. Pequenina campainha pendurada no pescoço da vaca anuncia a sua presença. Uma escrava desce com uma garrafa e recebe certa porção do líquido alimentício, pela qual paga cerca de seis pence ingleses. Pode-se pensar que desse modo, toda adulteração é evitada.

O inimitável Punch diz ou escreve que, se no mundo dos homens, "a criança é o pai do homem" no mundo de Londres a bomba d'água é o pai da vaca, a julgar pelo resultado, isto é pelo leite vendido naquela grande metrópole. Ai de nós! a Humanidade é a mesma no Brasil e em Londres.

O leite pode ser obtido puro, diretamente da vaca, se a gente fica fiscalizando da janela a operação; de outro modo a nossa garrafa é cheia do conteúdo de uma vasilha de estanho, trazida pelo portuense que, muitas vezes, introduz a devida proporção de água, que brotando do alto do Corcovado, veio rolando através do Aqueduto até a fonte da esquina da rua.

As quitandeiras são as vendedoras de verduras, laranjas, goiabas, maracujás, ou frutas da flor-da-paixão, mangas, doces, canas-de-açúcar, brinquedos etc... Elas vendem a sua mercadoria com uma voz vigorosa, e os diferentes pregões com que atraem a atenção do público lembram os de Dublin e Edinburgo. O mesmo tom nasal e alto diapasão podem ser notados em todos eles.

As crianças ficam encantadas quando avistam na rua as pretas com o favorito tabuleiro cheio de doces e brinquedos. "Lá vem ela", a quitandeira, com o seu filhinho africano amarrado nas costas, e o tabuleiro na cabeça, gritando:

"Chora menina, Chora menino
Papai tem dinheiro bastante
Compra menina, compra menino!
"


e, atendendo a esse convite, os meninos e as meninas correm a comprar doces, duplamente açucarados, com evidente destruição de seus dentes e sucos digestivos. Note-se de passagem, que nenhuma profissão tem mais sucesso no Rio que a de dentista.

 

Finalmente, faz sua aparição no fundo da rua o vendedor de sedas, e gazes, que é o encanto do dia de uma senhora brasileira. Anuncia a sua chegada com o bater do seu côvado (pau de medir), seguido de um ou mais pretos conduzindo caixas na cabeça. O vendedor sobe as escadas, certo de ser bem recebido; pois se as damas não têm necessidade alguma de seus artigos, têm necessidade de divertir-se, examinando-os.

 

Os negros depositam as caixas no chão e retiram-se; então o hábil italiano ou português vai tirando da caixa uma coisa após outra; e julga-se agindo com rara inabilidade se não consegue dominar a dama econômica de modo a torná-la possuidora pelo menos de um artigo barato.

 

Quanto ao pagamento, não há necessidade de pressa — ele voltará na próxima semana ou, venderá a prestação. Exatamente como a senhora achar melhor, somente ele gostaria que a senhora possuísse aquele vestido, que vai tão bem no seu corpo; pensou logo na senhora assim que o viu e o preço, quase nada; em seguida mostra-lhe uma caixa de rendas, feitas justamente para ela, um novo padrão para as pontas da toalha, para os travesseiros, e enfeites para roupas de baixo.



A quitandeira

Imagem: reprodução da página 186 do 1º volume da edição de 1941, da Cia. Editora Nacional

Algumas famílias possuem negrinhas para fabricarem rendas, cujo fio vem de Portugal, e os seus orgulhosos senhores tiram grandes proveitos trocando os produtos das almofadas das pretas por artigos de vestiário. Uma espécie de trabalho de agulha, em que se mostram excelentes, é o chamado crivo, feito sobre desenho, com fios de linha, e como que cerzido, num padrão. As toalhas que se oferecem aos hóspedes depois do jantar são da mais trabalhosa execução, consistindo num larga barra de crivo, terminando em franja, de larga renda brasileira.

Estes vendedores ambulantes, italianos e portugueses, vendem os mais belos e custosos artigos. O guarda-roupa de uma dama brasileira é quase todo ele escolhido e comprado em casa, pois mesmo quando não compra no mascate, despacha um preto para a Rua do Ouvidor ou Quitanda e encomenda um sortimento de artigos, e escolhe em casa o que precisa.

As mais modernas damas agora começam a usar chapéu, que são porém sempre tirados na igreja. Quase todas as senhoras fazem os seus próprios vestidos ou pelo menos cortam-nos e arranjam-nos para as escravas costurarem, pelos últimos figurinos de Paris.

Sentam-se no meio de um círculo de negrinhas, pois sabem bem que, se "o olhar do mestre engorda o cavalo" da mesma forma o olhar da patroa faz a agulha andar mais depressa. A dama brasileira responde à descrição de uma boa mulher no último capítulo dos provérbios: "Levanta-se quando ainda é noite, e dá os encargos a suas servas; faz belos tecidos (crivos e rendas) para vender; e apesar de suas mãos não serem feitas exatamente para a roca e para o fuso, todavia elas olham bem para os afazeres domésticos e não comem o pão da ociosidade". Excetuando, já se vê, o tempo gasto na janela.

Podemos inferir que os hábitos dos servos eram os mesmos no tempo de Salomão que no Brasil de hoje. A julgar pelo menos pela série de contrariedades que dão às suas senhoras. Uma dama de alta classe no Brasil declarou que havia perdido inteiramente a sua saúde na interessante ocupação de repreender negrinhas, de que possuía algumas dezenas, e não conhecia que ocupação lhes dar a fim de evitar que vadiassem.

Uma senhora, de família nobre, pediu um dia a uma amiga minha, que lhe dissesse se conhecia alguém que desejava lavar roupa fora, pois ela tinha nove escravas preguiçosas em casa, para as quais não tinha ocupação.

Contou melancolicamente a sua história, dizendo "É um princípio nosso não vender nossos escravos, são os tormentos da minha vida; não consigo arranjar trabalho bastante para conservá-los fora da vadiação e da preguiça." Uma outra disse: "Os meus pretos são a minha morte".

A escravidão no Brasil, deixando de lado, qualquer consideração moral, é a mesma que encontramos em todo o mundo, isto é, uma instituição dispendiosa e, em todos os sentidos, muito pouco econômica. Quando consideramos o trabalho descuidado e indiferente dos escravos e, levamos em conta a fraqueza da carne do senhor, penso muitas vezes que este último é o mais para lamentar.

Toda crueldade que possa ser infringida aos pretos pelos brancos, é amplamente compensada pelos vícios introduzidos na família, e os aborrecimentos dados aos senhores. Uma das principais tarefas da vida de uma senhora brasileira, é a fiscalização dos escravos, que manda à rua para fazer compra e carregar água.


O encanto das senhoras brasileiras

Imagem: reprodução da página 187 do 1º volume da edição de 1941, da Cia. Editora Nacional

Os Mercados.

Os mercados do Rio são abundantemente supridos de toda espécie de peixe, entre os quais muitas espécies delicadas, desconhecidas no Norte. Pagam-se altos preços pelas espécies mais finas. As chamadas garoupas são muito procuradas como prato de resistência para as ceias e noites de baile, 50$000 (cerca de 25 dólares) chega a ser pago por um peixe nessas ocasiões. Um peixe é sempre o emblema de uma casa de pasto, ou restaurante comum, no Rio.

O mercado, junto do Largo do Paço, é um ponto agradável de se visitar nas horas frescas da manhã. Ramos de flores perfumam o ambiente, e as verduras e frutos vistosos contrastam com o rosto escuro das imponentes negras minas que os vendem. "Qual é o preço disto?" — "Quanto o sr. dá?" — é a resposta infalível; e ai daquele que oferece o primeiro preço de inocente comprador, na sua tentativa de negociar com essas damas de ar majestoso, cuja aparência parece indicar que, para elas, vender ou não vender é igualmente indiferente, está abaixo de suas preocupações.

Os frutos indígenas do país são excessivamente ricos e variados. Além das laranjas, limas, cocos, e abacaxis, bem conhecidos entre nós, há mangas, bananas, frutas-de-conde, maracujás, jambos, mamões, romãs, goiabas, araçás, cambucás, cajus, cajás, mangabas, e muitas outras espécies, cujos nomes são hebraico para os ouvidos do Norte, mas que sugerem a um brasileiro a ideia de frutos ricos, refrescantes e delicados, cada qual com o seu sabor peculiar e delicioso.

Com tal variedade capaz de suprir a todos os desejos, quer digam com as necessidades quer com os luxos da vida, ninguém se pode queixar. Esses artigos são encontrados profusamente nos mercados e são, também, levados pela cidade e subúrbios por escravos e negros livres, que geralmente os carregam na cabeça em cestos. As pessoas, que desejam comprá-los, têm apenas de chamar com uma espécie de assovio comprimido (alguma coisa pronunciada perfeitamente como em inglês tissue) que eles geralmente interpretam com um convite para parar, e mostrar a sua mercadoria.

Num círculo fora do mercado, encontramos algumas lojas, cheias de aves e animais. Aí veem-se alegres araras e palradores papagaios em perpétuo concerto com os barulhentos macacos e pequeninos micos. A pequena distância, veem-se enormes pilhas de laranjas, cestas de outros frutos, prontos a serem vendidos aos retalhistas e às quitandeiras; balaios de vime cheios de galinhas e hastes de palmito para cozinhar. É triste pensar-se que os que colhem tais palmitos, destroem uma graciosa palmeira (Euterpe edulis), mas o que não estamos nós prontos a sacrificar a esses Maelstrom o estômago?

Uma das belas árvores, que eu vi em Constancia [T35] a cinquenta milhas do Rio, pertencia a essa espécie. Não era reta, porém, como de costume, graciosamente curvada, e quando vista na sua forma delicada e com o seu cimo tufoso dominando a floresta tropical, ela apresenta um espetáculo de incomum beleza; eu, dia a dia, visitava o lugar em que a vira pela primeira vez para fazer na sua contemplação o meu suprimento de beleza.

Lá vem o preto cozinheiro, José ou Cezar, de cesto no braço, contando pelos dedos, e curvando-se para uma preta etiópica, de dentadura branca, pedindo que ela abaixe o preço, pois tem apenas poucos vinténs, tirados de seu senhor para gastar e, quando voltar para casa, precisa tomar um pouco de cachaça, "para matar o bicho". Que terrível animal é esse, nunca me disseram, mas certamente, a julgar pelo grande esforço que requer para ser morto, deve ser de notável resistência à morte — uma espécie de fênix entre os animais!

Uma vez feitas as compras que deseja de peixes, verduras, frutas e indispensáveis galinhas, o preto dirige-se para a rua onde estão os açougues. Compra alguma carne de vaca, magra porém não deteriorada, uma imitação de carneiro, facilmente confundida com o bode patriarcal ou, uma macia e polposa substância, considerada grande delicadeza, e que é a carne de uma infortunada vitela, que apenas teve o tempo de olhar o céu azul, e ser mandada para a faca do carniceiro. Depois o preto dirige-se a venda para comprar a pequena dose destinada ao seu bicho, e volta para casa, muito bem humorado para preparar o almoço.


Uma barganha

Imagem: reprodução da página 191 do 1º volume da edição de 1941, da Cia. Editora Nacional

Alimentação diária.

Em muitas famílias, uma xícara de café forte é tomada ao amanhecer, seguindo-se uma refeição substancial. O jantar é geralmente servido aproximadamente a uma ou duas horas - pelo menos onde ainda não foi adotada a hora dos estrangeiros. A sopa faz parte comumente dessa refeição, seguindo-se-lhe carne, peixe, juntamente com massas.

Exceto no jantar de cerimônia, um excelente prato, muito apreciado pelo estrangeiro, encontra sempre lugar na mesa brasileira. Compõe-se de feijão, (feijão preto do país) misturado com carne-seca e toucinho. Farinha é espalhada por cima ou, preparada como uma pasta espessa. Essa farinha é o pão para milhões de pessoas, e é o principal alimento dos pretos em todo o país, que a consideram como prejudicada em seu paladar quando comida sem ser com os dedos.

É um excelente e nutritivo alimento, com que podem suportar as mais pesadas tarefas. O café e o mate, tomam-se, muitas vezes, depois do jantar, tendo-se generalizado ultimamente, o uso do chá. O chá nacional pretende rivalizar com o da China; mas o mate, embora não geralmente usado nas províncias do Norte e do centro do Brasil, é considerado mais saudável do que o chá por ser menos excitante dos nervos.

Algumas famílias, na ceia, têm peixe frequentemente; mas em outras, nada de substancial se toma depois do jantar, retirando-se as pessoas muito cedo para dormir. O Rio está tão quieto às 10 horas da noite, como as cidades europeias às 2 da madrugada. Mesmo os frequentadores de teatro fazem muito pouco ruído, pois andam geralmente a pé —pelo menos os que residem na cidade.

Tanto os lugares de diversões públicas dependem dos pedestres que, se a noite é chuvosa, é comum adiar o espetáculo até outra noite. Deve ser lembrado que uma chuva de meia hora transforma as ruas do Rio em verdadeiros canais, pois toda a sua drenagem é superficial. Num dia de aguaceiro, os pretos de ganho, que estão na esquina de cada rua, fazem boa colheita, carregando as pessoas às costas, através desses cursos d'água improvisados. As vendas em hasta pública são anunciadas muitas vezes sob essa condição — "se o tempo permitir".

Um dos maiores prazeres para a população preta do Rio, é a necessidade de buscar água no chafariz, ou nas bicas d'água que estão na esquina de quase todas as ruas. Os pretos aí, indolentemente, vadiam, com sua pipa embaixo do braço; e feliz é o preto congo, quando vê uma longa cauda de seus patrícios esperando pela sua vez junto à torneira.

Então, as novidades de seu pequeno mundo são objeto de conversa, no meio dos risos dos etíopes; ou fazem um pequeno namoro com Rosa ou Joaquina, da rua vizinha; ou, então, são discursos improvisados por algum desses pretos de azeviche da Angola, cuja voz, para sua maior tristeza, não é de modo algum pianíssima. Há um outro negócio, ao ar livre, muito mais próprio deles: muitos deles vão matar o bicho, na venda próxima, enquanto a água enche as pipas dos que chegaram primeiro.

Algumas donas de casa, entretanto, que acham que os seus cozinheiros estão sempre esperando pela água, arranjam-se com os carregadores d'água, que perambulam pelas ruas, guiando uma imensa pipa, montada sobre rodas e conduzida por uma mula. Esse veículo, durante os incêndios, que ocorrem raramente, é requisitado para substituir as bombas contra incêndio.

Esses aguadeiros são geralmente naturais de Portugal ou dos Açores, e parecem eminentemente dotados pela natureza para serem cortadores de lenha ou carregadores de água. Eles carregam a água até em cima das escadas, e derramam-na em largas bilhas de barro, que lembram os potes d'água nas bodas de Caná, na Galileia.

Os enormes vasos de barro são arrumados sobre prateleiras em lugares por onde passa uma corrente de ar, e o líquido elemento dentro deles adquire uma frescura que, se não é igual à água gelada dos Estados Unidos, é deliciosamente fria. O gelo no Brasil, é um luxo muito caro, trazido exclusivamente da América do Norte, e não usado geralmente nem mesmo no Rio e, portanto, desconhecido no país.

As maçãs de Boston e o gelo são ambos muitíssimo estimados; mas o gelo era rejeitado como também prejudicial a saúde, na época de sua primeira introdução em 1833. Tanto assim que o primeiro carregamento foi um prejuízo total para os seus introdutores. Atualmente, as maçãs e o gelo vendem-se por bom preço; e, no mês de janeiro, as quitandeiras podem ser ouvidas gritando em voz alta, — "maçãs americanas", que elas vendem por cinco ou seis vinténs, cada uma.


A censura da preta de Angola

Imagem: reprodução da página 193 do 1º volume da edição de 1941, da Cia. Editora Nacional

Diversões familiares.

A senhora fluminense tem, de vez em quando, alguma folga na sua faina de andar fiscalizando escravos e tomando conta da casa: é quando o marido as leva para Petrópolis ou Tijuca, ou lhes dá algumas semanas de ar livre, em Constância
[T35b] e Nova Friburgo. Tais visitas não são, entretanto, tão frequentes, como as desejariam elas. As senhoras devem contentar-se com as festas, a ópera e os bailes, como um fato extraordinário no meio do seu ciclo usual de deveres.

Uma reunião noturna, no Rio, significa geralmente um baile. As relações familiares com as famílias da mais alta sociedade são coisa difícil de ser conseguida pelos estrangeiros; mas, quando um estrangeiro é admitido, sente-se verdadeiramente em família, e toda cerimônia é posta de lado. Em tais reuniões caseiras, passam-se as noites, muitas vezes, fazendo música, dançando-se e jogando prendas. Veem-se cavalheiros da mais alta posição social perderem o seu ar sério e entregarem-se de coração a inocentes folguedos.

Um jogo chamado pilha três é um dos favoritos, e é quase tão primitivo e barulhento como o gatinho procura um canto. Um cavalheiro americano informou-me que, certa ocasião, tomou parte nesse brinquedo com o ministro do Império, com a viscondessa, (sua esposa) dois senadores, um ex-ministro plenipotenciário, três encarregados de negócios estrangeiros e as senhoras e crianças da família. Ninguém sentia qualquer perda de dignidade por deixar assim de lado, por alguns instantes, a sua gravidade costumeira, parecendo todos se divertirem no mais alto grau.

Os brasileiros têm famílias numerosas, e não é incomum verem-se dez, doze, ou quinze filhos de uma mesma mãe. Vi um senhor — um plantador — na província de Minas Gerais, que era um dos vinte e cinco filhos da mesma mãe. Fui mais tarde apresentado a essa digna matrona, no Rio de Janeiro.

Estou convencido de que há muito sentimento doméstico entre os brasileiros. As festas de famílias e os aniversários são celebrados com entusiasmo. Embora o padrão da moralidade geral seja muito mais baixo do que nos Estados Unidos e na Inglaterra, acredito que seja superior ao da França, e há um sentimento doméstico difundido em todas a classes, que tende a fazer do brasileiro um homem mais amante da ordem que os gauleses. Com uma religião pura, essas excelentes qualidades teriam feito dele um ente infinitamente superior a esses.

O menino brasileiro — Sua educação.

A educação do menino brasileiro é melhor do que a de sua irmã. Há, contudo, uma grande dose de superficialidade: — Ele é transformado num "pequenino velho" artes de ter doze anos de idade, com o seu chapéu duro de seda preta, colarinho em pé e bengala; e, na cidade, anda como se todos estivessem olhando para ele, e como se o houvessem enfiado num colete. Não corre, não trepa, nem roda o arco ou atira pedras, como as crianças da Europa e da América do Norte.

É mandado na mais tenra idade para um colégio onde cedo adquire o conhecimento da língua francesa, e os rudimentos comuns da educação em português. Embora os pais residam na cidade, fica interno no colégio e somente em certas ocasiões é visitado. Aprende a escrever em boa caligrafia, o que é um dom universal entre os brasileiros: e a maioria dos meninos das classes superiores são bons músicos, tornam-se adeptos do latim, e muitos deles, segundo dizem, falam inglês com certa fluência.

O dia de exames era, antigamente, um grande dia, quando os pequenos estudantes mostravam-se apertados nas suas roupas, espessas, e sua mente "abarrotada" para o efeito da solenidade. Os meninos desempenhavam seus papéis, e os vários professores, exaltando as suas próprias funções, liam discursos memoriam diante dos pais maravilhados; tudo isso era realizado sob o patrocínio de um santo, padroeiro da escola, coroando-se os bons alunos, que ocupavam um assento mais alto durante as sessões. O colégio então entrava em férias durante algumas semanas e, de novo, se iniciavam as aulas para os pequenos cavalheiros estudantes. Tais coisas, porém, sofreram grandes mudanças para melhor, e muitos colégios são agora habilmente dirigidos.

Os diretores desses estabelecimentos, quando dotados de boas capacidades administrativas, ganham muito dinheiro. Um deles, com que fiz relações, após alguns anos de ensino, depositou nos bancos vinte contos de réis. Os professores nem sempre moram no colégio, mas ensinam por hora, percebendo uma certa quantia estipulada, podendo, assim, ensinar em certo número de escolas durante o dia. A língua inglesa tornou-se por tal forma um desideratum no Rio, que todos os colégios têm o seu professor inglês.

Ultimamente tem havido grandes melhorias nos colégios, bem como nas escolas públicas. Os professores são fiscalizados por uma comissão sob as ordens do superintendente da instrução pública, sendo obrigados a comparecer na Academia Militar, para serem examinados nas suas habilitações para ensinar. Se passam nesses exames, que são muito rigorosos, recebem licença para ensinar, pelo que têm que pagar uma certa taxa; também os diretores devem sofrer um exame, se a comissão o julgar conveniente; e não podem dirigir os seus colégios, sem o certificado.

As autoridades educativas também se arrogam o direito de visitar as escolas particulares, a qualquer hora do dia ou da noite, para examinar a proficiência dos alunos, em qualquer época do ano, fiscalizar seus dormitórios, sua alimentação e tudo que diga respeito ao seu bem-estar intelectual ou material; não é isso uma simples ameaça, mas as escolas são de fato visitadas e algumas se reformaram mais rapidamente do que o desejariam.

O sistema de abarrotamento foi realmente sustado, e o Império tomou sob sua fiscalização a instrução ministrada tanto nas aulas particulares como nas públicas. Essa inovação educacional, na capital do Império, deve-se às medidas enérgicas tomadas pelo visconde de Itaborahy e pelo dr. Manoel Pacheco da Silva, que presentemente é o diretor da primeira instituição clássica do Rio de Janeiro, o Imperial Colégio de D. Pedro II.

A nota da reforma já soou; os deveres atinentes aos professores e alunos foram plenamente investigados e a revolução se processou, apesar das queixas dos professores, que foram demitidos como incompetentes, e dos pais, que acham que seus filhos são rigidamente examinados, sem serem promovidos nas escolas públicas senão depois de provas decisivas de real adiantamento.

Há um sistema de educação primária que abrange todo o Império, mais ou menos modificado pela legislação de cada província. O Governo geral, durante os anos de 1854-II
(N. E.: SIC) educou 65.413 crianças: — há provavelmente muito mais do que informa o relatório oficial, pois algumas são educadas em estabelecimentos particulares, ou sob a direção de autoridades provinciais. Quando, entretanto, consideramos o número de escravos e de índios no Brasil, e refletimos que o sistema das escolas primárias está ainda na sua infância, aquele total representa uma porcentagem animadora.

Há grandes defeitos nessas escolas elementares mas, de ano para ano, vêm melhorando. Parece haver um certo interesse entre os homens cultos e os estadistas sobre o melhor plano de ensino a ser adaptado ao país.

Esse interesse não se limita às classes superiores dos cidadãos; uma vez no interior, fui despertado das minhas meditações por alguém batendo em minha porta; abri-a apressadamente, e vi um respeitável brasileiro, que me informou ser um mestre escola e que, sabendo que havia um americano na aldeia, prestes a partir naquela mesma manhã, ousara chegar àquela hora matinal (o sol apenas piscava sobre os coqueiros) para me perguntar se lhe podia dar alguma informação a respeito dos sistemas americanos de ensino, ou mandar-lhe alguns documentos sobre o assunto. Na mesma localidade, outro professor falou-me dos relatórios de Horace Mann sobre as escolas primárias de Massachusetts!

Uma grande ignorância domina ainda grande parte da população e, embora muitos anos ainda tenham que passar antes que um tolerável grau de conhecimento se tenha propriamente difundido, todavia o começo já foi feito e o provérbio francês se verifica aqui, como em outros pontos ce n'est que le prémier pas qui coûte.

Na cidade do Rio de Janeiro, a instrução é dividida em primária, secundária e particulares (colégios). O Colégio de D. Pedro II, as Academias Militar e Naval, a Faculdade Médica, assim como o Seminário Teológico de São José, estão também sob a direção do Estado. Nas escolas particulares, estão matriculados cerca de cinco mil alunos.

Instrução superior.

Cursando um desses estabelecimentos, os jovens brasileiros chegam ao ponto mais alto de sua instrução. Um estabelecimento a que já nos referimos, e que ultimamente despertou maior interesse do que todos os demais, na capital do Brasil, foi fundado nos últimos meses do ano de 1837, sob a denominação de Colégio de D. Pedro II.

É destinado a dar uma completa educação escolástica, e corresponde, ao seu plano geral, aos liceus estabelecidos na maioria das províncias, embora a sua dotação e patrocínio sejam provavelmente superiores aos de qualquer outro estabelecimento congênere. Na sua fundação houve uma ativa competição para constituir o seu professorado, composto de oito ou nove membros. Todos os postos, segundo se diz, foram preenchidos dignamente. A concorrência de estudantes foi muito considerável, para a constituição das primeiras turmas.

Um ponto de grande interesse relacionado com essa instituição é a circunstância de que os seus estatutos preveem expressamente a leitura e o estudo dos Sagrados Evangelhos em língua vernácula. Algum tempo antes da fundação do Colégio, a Bíblia era adotada em outras escolas e seminários da cidade, onde não ficaram menos consideradas depois de um exemplo tão digno de imitação da parte do colégio do imperador.

O reverendíssimo sr. Spaulding [T36] (que foi companheiro do dr. Kidder, no Rio de Janeiro), aplicou-se em fornecer Bíblias a um professor e a uma classe inteira de estudantes, tendo isso feito com grande satisfação por meio de uma oferta das Sociedades Bíblicas e Missionárias.

As Academias Militar e Naval são destinadas à instrução sistemática dos jovens que vão para esses cargos públicos. Aos 15 anos de idade, todo rapaz brasileiro, que conhece os ramos elementares de uma educação geral, assim como a língua francesa, de modo a poder com facilidade traduzi-la no idioma nacional, pode, aplicando-se pessoalmente, ser admitido em qualquer um daqueles estabelecimentos.

Tenho testemunhado raras cenas mais interessantes do que a reunião desses jovens para assistirem aulas da manhã. Isso faz reportar às universidades do Norte, tal o vigor e o espírito manifestado pelos estudantes brasileiros, em seus exercícios ou competições, ou na explicação de qualquer ponto difícil da geometria e mecânica que levavam prontos para os seus mestres.

O exército regular do Brasil é de cerca de 22 mil homens, a Guarda Nacional compõe-se nominalmente de mais de 400 mil homens.

A Academia Naval antigamente funcionava à bordo de um navio de guerra, ancorado no porto e, assim introduzia-se desde cedo os seus alunos na vida do mar. (1865: a Academia foi transferida para a cidade).

A Academia Imperial de Medicina ocupa um grande edifício junto do Morro do Castelo, e é frequentada por estudantes em número de mais de 300 em seus diferentes departamentos. Um corpo de professores, alguns dos quais educados na Europa, ocupam as diferentes cadeiras e, pela sua reputação, garantem aos estudantes brasileiros um desenvolvido curso de preleções e estudos. A instituição está estreitamente ligada ao Hospital da Misericórdia que, a qualquer hora, lhes oferece um vasto campo para observações médicas.

O Seminário Teológico de S. José exerce menor atração na juventude brasileira do que qualquer outro estabelecimento de educação no Rio.


O aguadeiro ilhéu

Imagem: reprodução da página 194 do 1º volume da edição de 1941, da Cia. Editora Nacional

O moço brasileiro.

O jovem brasileiro (falo naturalmente do filho de família de alta posição social), depois de deixar o colégio, entra para a Academia Médica ou, se tem inclinação guerreira, torna-se um aspirante ou um cadete, ou possivelmente entra para o Seminário de S. José. Se tem vocação para o Direito, é mandado para a Escola de Direito, de São Paulo ou Pernambuco.

O jovem brasileiro não aprecia coisa nenhuma que seja vulgar, prefere ter uma fita dourada em volta de seu boné, um alto salário garantido, aos cuidados e trabalhos do escritório. Os ingleses e alemães são os importadores, os portugueses os trabalhadores, os franceses cabeleireiros e vendedores de modas, o italiano é o vendedor ambulante, o ilhéu português é o dono da venda, e o brasileiro é o cavalheiro.

Todos os lugares que dependem do governo estão repletos de jovens adidos, desde os cargos diplomáticos até algum rendoso cargo na Alfândega. O brasileiro, sentindo-se superior a essas mesquinharias da vida, é um homem de lazeres e, olha por baixo, com perfeita satisfação de si próprio, o estrangeiro que está sempre sobrecarregado, preocupado, atarefado.

O brasileiro de 25 anos é um requintado. Veste-se pela última moda de Paris, usa uma bela bengala, seus cabelos são os mais macios e alisados que a escova pode fazer, seus bigodes irrepreensíveis, seus sapatos do modelo mais vistoso e do menor tamanho, seus diamantes brilhando e seus anéis excepcionais em suma, ele faz um alto conceito de si próprio e de sua indumentária. O seu tema de conversação pode ser a ópera, o próximo baile, ou alguma jovem dama cujo pai tenha muitos contos de réis.

Apesar de tantos requintes, muitos destes homens, na vida prática — no círculo diplomático, na corte, na Câmara dos Deputados ou no Senado — demonstram não ser deficientes, tendo talento e capacidade. Todos eles, quase, sabem tornear uma frase, rimar quando querem ou fazer um belo discurso ore rotundo, acompanhado dos apoiados dos seus companheiros.

Alguns poucos tornam-se belos eruditos, e são, em maior número do que se pensa, bons leitores de boas obras. Muitos deles viajam durante um ou dois anos, são educados na Europa ou nos Estados Unidos. O interesse que os brasileiros, com d. Pedro II à frente, estão atualmente manifestando pelas sociedades cultas, — cujos membros são recrutados nas próprias classes acima mencionadas, — demonstram que, o moço-velho de 12 anos, de todo não se transformou, embora muito de supérfluo, brilhante e superficial se possa dizer do brasileiro que joga cartas, baila, e frequenta a ópera, como parte essencial de sua existência.

De tais homens não se pode esperar muito de eficiente, para constituir a estrutura de grandes estadistas. Contudo o país tem feito admirável progresso e deve-se acrescentar que, de tempos em tempos, se elevam alguns das baixas classes da sociedade, verdadeiros homens de energia, que se tornam pioneiros, pois nada há relacionado com a origem ou a cor de um homem que o conserve inferior no Brasil.

Não deve pensar o leitor que o brasileiro assim descrito não é o retrato da grande maioria dos cidadãos do Império, porque apenas representa as classes altas geralmente encontradas nas cidades. Há exceções; porém a mesma religião e o mesmo modo de pensar deram, em maior ou menor grau, certa semelhança a todos os que constituem as mais altas camadas da sociedade, donde provêm os magistrados, os funcionários, os diplomatas e os legisladores.

O seu maior defeito não é a falta de uma educação polida, mas a falta de uma moralidade profunda e de uma pura religião. Sem elas, um homem pode ser amável, requintado, cerimonioso; mas, a ausência delas o torna irresponsável, insincero e egoísta.

Como a nação é feita de indivíduos, deve ser um ardente desejo de todos os cristãos e filantropos que esses povos do Sul, que tão favoravelmente são feitos para progredir como nação, devem ter alguma cousa que seja muito superior a um mero requinte de educação.

Os deveres do cidadão.

Os deveres dos cidadãos brasileiros vêm claramente definidos na Constituição e nas leis ordinárias do Império. Cada cidadão do sexo masculino que atinge a maioridade tem o direito de votar, se possui uma renda de 100$000. Os frades, os domésticos e os indivíduos que não têm semelhante renda bem como, naturalmente, os menores, são excluídos do voto.

Escolhem-se os deputados à Assembleia Geral por meio de eleição, por um período de quatro anos. O senador, que tem a sua posição vitalícia, é eleito de modo algum tanto diferente dos deputados. Os eleitores, escolhidos por sufrágio universal, colocam suas cédulas para os candidatos que aspiram à cadeira senatorial. Os nomes dos três que alcançam a mais alta votação na lista são mandados ao imperador, que escolhe um dentre eles, e assim, aquele que foi escolhido pelo povo, pelos eleitores e pelo imperador assume o seu posto por toda a vida na Câmara Brasileira dos Pares.

Parece haver grande sabedoria em todas essas medidas conservadoras, e a excelência das mesmas ainda é mais enaltecida quando examinadas as diferentes leis e requisitos que regulam as eleições e os candidatos nas nações da América espanhola. A Câmara dos Deputados compõe-se de 111 membros, e o Senado, de acordo com a Constituição, deve conter a metade desse número. Os legisladores das províncias são escolhidos diretamente pelo povo.

Eleições.

Uma eleição no Brasil não é muito diferente de uma eleição nos Estados Unidos. O Rio de Janeiro é dividido em 10 ou 12 freguesias, ou distritos. Uma lista de votantes em cada freguesia é organizada e publicada, algumas semanas antes da eleição, designando o Governo funcionários e fiscais para cada uma delas. As eleições são feitas nas Igrejas.

Quando um americano exprime a um brasileiro a sua surpresa em relação a essa aparente inconsistência, num país católico — onde a importância dada ao templo visível é tão grande como se ele fosse, a própria entrada do céu — nenhuma resposta satisfatória é obtida. A única teoria, pela qual o fluminense tenta explicar o fato, é a suposição de que, quando o Governo Constitucional foi adotado, pareceu conveniente emprestar solenidade ao ato do voto, pois os homens, no edifício sagrado, e diante do altar, dominar-se-iam contra atos de violência de que estariam mais bem abrigados na igreja do que em qualquer outro edifício secular.

A experiência, contudo, mostrou que os ódios políticos sobrepujam toda a veneração religiosa; pois dizem que, em certas ocasiões, em algumas das províncias, os eleitores desesperados agarraram os castiçais das velas e as delicadas imagens dos altares, para convencerem à força a cabeça dos seus adversários.

Uma caixa em forma arredondada, com o aspecto de uma arca de couro, é cercada pelos funcionários e fiscais; o voto é entregue ao presidente; o nome do votante é anunciado e a cédula é então depositada na urna. Grupos formados por populares, ativos eleitores e distribuidores de votos, podem-se ver no interior e nas cercanias da Igreja, como os bandos de unterrified nas proximidades dos postos eleitorais nos Estados Unidos.

O governo tem grande poder nas eleições através dos seus numerosos agentes, mas, muitas vezes, sofre derrotas. A autoridade suprema tem o direito de anular uma eleição em caso de violência ou processo fraudulento.

Partidos políticos.

Os partidos políticos eram os de dentro e o de fora, isto é o governo e a oposição. Os principais partidos tinham antigamente o seu programa muito fechado, sob os nomes de Saquaremas (Conservadores) e Luzias (Progressistas). Esses nomes derivam de duas freguesias sem importância das províncias do Rio de Janeiro e de Minas Gerais. Os liberais (1866) estão agora de dentro.

Esses partidos por muitos anos lutaram pelo poder, e por questões de princípio, tão ardentes foram as suas lutas que, às vezes, parecia bater-se mais pelo mando do que pelo sucesso de seus princípios. Os Luzias se comprometiam a promover o bem-estar do Brasil, com adoção de leis e regulamentos para os quais os Saquaremas não julgavam o país preparado. Ambos lutaram por muitos anos tendo em suas mãos alternadamente as rédeas do Governo. Finalmente triunfou o partido Saquarema, que em 1848 a 1864 esteve à frente dos negócios públicos. (1866: os partidos chamam-se agora Liberal e Conservador).

Em 1854 os dois partidos quase se reconciliaram, havendo poucos dissidentes. Isto foi devido à sábia política dos Saquaremas. Fizeram muito bom emprego de sua grande influência, adotaram algumas ideias dos seus adversários e promoveram, em empregos oficiais, muitos dos Luzias, que eram homens de conhecida habilidade e probidade.

Essa reconciliação foi na maior parte devida a tática política do falecido marquês do Paraná, que era um político habilíssimo e fluente orador. Era um exemplo de homem de talento conquistando pelo seu engenho e energia as mais altas posições na graça do monarca e do povo. Sabia bem como empregar a intriga, e o seu caráter moral não era, de modo algum, sem mácula; contudo, por ocasião de sua morte, em setembro de 1856, o espírito partidário foi posto de lado, as faltas do homem esquecidas, e apenas lembrados a sua energia e o seu talento.

Estadistas brasileiros.

Entre os notáveis políticos e oradores do Brasil, pode-se contar o marquês de Olinda, (Pedro de Araujo Lima) que foi educado na universidade portuguesa de Coimbra, e tem dedicado mais de 30 anos de sua vida ao serviço do país. Foi regente durante a minoridade do Imperador e, por várias vezes, membro do gabinete.

O marquês de Abrantes (Miguel Calmon du Pin), hábil diplomata, consumado financista e notável orador, foi em diferentes períodos membro do gabinete, tornando-se ainda mais conhecido por uma obra em que relatou a sua missão diplomática na Europa.

O marquês de Abrantes foi presidente de uma das úteis e importantes sociedades do Brasil — a Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional — sociedade particular de homens cujo objeto é fazer progredir os interesses agrícolas, mecânicos e minerais do país pela importação de maquinismos modelos, pela correspondência com agricultores e fabricantes de todo o mundo, pelo combate à indiferença e indolência e todas as desastradas rotinas da agricultura, e pelo desenvolvimento dos recursos do país. (Morreu em 1865).

Entre os Estadistas veteranos pode-se mencionar o senador Vergueiro (que foi regente durante a minoridade de Pedro II) que materialmente fez progredir a prosperidade de seu país, promovendo, à sua própria custa, a imigração europeia. Um retrato mais minucioso desse nobre octogenário encontra-se em outro capítulo (Morreu em 1860).

O visconde do Uruguay (Paulino José Soares de Souza) foi antigamente orientador da política brasileira, tendo sido Ministro das Relações Exteriores quando o cruel ditador Rosas foi vencido pelos exércitos aliados do Brasil e da Argentina e expulso de Buenos Aires. (Morreu em 1866).

O visconde de Itaboray (Joaquim José Rodrigues Torres), é um hábil financista, que foi por várias vezes membro do gabinete. Deve-se-lhe a reforma do Tesouro Público, assim como a criação de um Banco Nacional. Recentemente empenhou-se em promover os interesses da educação e reformar instituições públicas. Suas vistas acerca de vapores e estradas de ferro são bastante estreitas.

O visconde de Abaeté (Antonio Paulino Limpo de Abreu), foi muitas vezes ministro das Relações Exteriores, sendo um brilhante e persuasivo orador.

O visconde de Sepetiba (Aureliano de Souza Oliveira) que também, por várias vezes, foi membro do Gabinete, foi um dos primeiros que promoveu a organização de companhias para levar avante diversas empresas de progresso interno. (Morreu em 1855).

O atual (1857) ministro da Marinha, (João Mauricio Wanderley) foi presidente durante três anos da província da Bahia, e dirigiu seus negócios com tanta energia e prudência que foi investido da honra de ser convidado pelo imperador a tomar parte no Gabinete. (Agora é o barão de Cotegipe).

Zacarias de Góes e Vasconcelos, primeiro presidente da nova província do Paraná, é um brilhante orador, tendo sido convidado para membro do gabinete que subiu em 1853. (É chefe do gabinete em 1864-66).

Luiz Pedreira do Couto Ferraz, embora relativamente jovem, foi chamado a posições de alta dignidade e confiança, e em 1854, a 1857, exerceu o importante posto de ministro do Império.

O marquês de Caxias
[T37], ministro da Guerra do Gabinete que por tantos anos esteve à frente do governo — foi, pela morte do marquês de Paraná, colocado pelo imperador no Ministério das Finanças. É um cavalheiro de grande habilidade, afável em suas maneiras, e notável como comandante em chefe dos exércitos brasileiros na guerra contra Rosas e, em 1865-66, contra o Paraguai.

O visconde de Jequitinhonha (Montezuma)
[T38], como político, diplomata, jurisconsulto, figura entre os primeiros homens do Império. (1865: tem pronunciado fortes discursos pela emancipação dos escravos).

O Brasil tem sido bem representado nos países estrangeiros, e seu corpo diplomático não é como o dos Estados Unidos, recrutado entre os meros partidários políticos, mas seus membros são feitos para o seu posto, pela educação, disciplina e promoção gradativa, à maneira da carreira diplomática da Inglaterra e da França.

Entre eles, nenhuma figura mais alta do que o barão de Penedo
[T39], que representou o Brasil nos Estados Unidos de 1852 a 1855. Esse distinto cavalheiro, como advogado no Rio de Janeiro, muito se notabilizou e é atualmente ministro junto à Corte de St. James. É um homem de variada cultura e vistas largas de verdadeiro estadista.

Esses são apenas alguns dos principais homens do Império, impedindo-nos a falta de espaço de mencionar muitos outros.

Os títulos de nobreza foram por nós citados várias vezes, nas páginas anteriores, e pedem uma explicação.

A nobreza no Brasil não é hereditária, porém benemérita e, não confere interesses de terra ou influência política. Se um brasileiro se distinguiu pela sua capacidade como estadista, seu valor ou sua filantropia e recebe privilégio de nobreza, do imperador, e seu filho não se torna por isso, nobre: o título se perde para a família, com a morte do seu possuidor. Os títulos de nobreza são seis: marquês, conde, visconde com grandeza, barão com grandeza, visconde e barão. Há também seis ordens dignitárias
[A35].


Notas do autor:

[A34] Um conto de réis equivale a mil réis, ou sejam 500 dólares. Um brasileiro nunca se refere a um homem rico dizendo "possui tantos mil réis", mas sim: "Tem tantos contos".

[A35] Nota de 1866: — Em outro capítulo, fazemos menção de outros estadistas brasileiros, porém não podemos deixar de referir aqui os seguintes: Visconde de Camaragipe, chefe conservador de Pernambuco; sr. Sinimbu [T40], juiz, senador e ministro; sr. Paranhos, ilustre como senador, diplomata, ministro, e orador; sr. Souza Franco, senador pelo Pará.

O sr. Otaviano ocupa alta posição entre os escritores, oradores e diplomatas. Os irmãos Ottoni são bastante conhecidos, um como chefe político, outro como promotor de diversos melhoramentos internos. Silveira da Motta, honrosamente conhecido pelos seus projetos sobre a emancipação dos escravos. Nabuco, como ministro e senador, é um cavalheiro de grande prestígio. Saraiva, ex-ministro dos Negócios Exteriores, é um homem hábil, franco e enérgico; já foi dono da situação, e os interesses do Brasil durante a guerra do Paraguai receberam novo impulso pela mudança de gabinete que trouxe Saraiva ao poder. Sr. Sá e Albuquerque é um jovem estadista de grande futuro.

O barão do Prado, possuidor de rara cultura científica, presidiu dignamente a Câmara em 1864-65. José Bonifácio, Pedro Luiz, Junqueira, e muitos outros, são novas personalidades que surgem. Martinho Campos é um deputado de grande independência e vistas largas. A. C. Tavares Bastos, o mais moço dos estadistas brasileiros, tem atraído muita atenção, dentro e fora do país, pela sua política liberal em relação a reformas do comércio, educação e administração. Entre os principais diplomatas, ainda não mencionados, estão os dois Lisboa, um em Paris e outro em Bruxelas, e o sr. d'Azambuja, por largo tempo subsecretário de Estado, atualmente em Washington. O sr. C. F. Ribeiro, deputado pelo Maranhão, é um ex-aluno de Yale.

Notas do tradutor:

[T33 bis] Barão do Andaraí.

[T34] Dr. Manuel Pacheco da Silva, diretor do Colégio de Pedro II.

[T35] [T35b] Constância, na Serra dos Órgãos, situada provavelmente próximo do atual "Quebra-Frascos" em Teresópolis, Estado do Rio. A fazenda do sr. Marsh, depois ocupada pelo Hotel Bessa, fica no atual Alto de Teresópolis e é referida por todos os historiadores da cidade fluminense; mas, nem mesmo no seu maior historiador, Armando Vieira, há referências ao hotel do sr. Heath, na então localidade de Constância.

[T36] Sobre o rev. Spaulding, lê-se, no Expositor Christão de julho de 1936, em artigo sobre a história do Protestantismo no Brasil, o seguinte: "Justin Spaulding, juntamente com Daniel P. Kidder, John Dempster e J. F. Thompsbn e outros pioneiros que, de 1836 em diante, levaram avante a obra iniciada por Pitts".

[T37] Luiz Alves de Lima e Silva, depois duque de Caxias.

[T38] Francisco Gê Acaiaba de Montezuma.

[T39] Francisco Ignacio de Carvalho Moreira.

[T40]: Damos por extenso os nomes citados nesta nota: João Luiz Vieira Cansanção de Sinimbú, José Paranhos (visconde do Rio Branco), Francisco Octaviano de Almeida Rosa, Benedito e Teófilo Ottoni, José Antonio Saraiva, José Bonifácio, o Moço (sobrinho do Patriarca), Pedro Luiz Soares de Souza a Luiz José Junqueira Freire.