CÂMARA
E AGENDA 21 REGIONAL - PARTE II - Capítulo 3 (cont.)
Sílvia
de Castro Bacellar do Carmo
3.3 - Diagnósticos
Ambientais Regionais
A
presente seção procura formatar um diagnóstico ambiental
regional a partir da síntese de vários documentos elaborados
por órgãos públicos ou a pedido destes. Oficialmente,
não existe em relação às questões de
saneamento básico nenhum relatório regional. As informações
específicas para cada município foram extraídas de
relatórios estaduais e posteriormente agrupadas.
3.3.1 -
Relatório Zero: UGRHI-7
Este relatório
foi elaborado em 1999, não constando nenhuma atualização
oficial disponível. Baseado em levantamentos de campo efetuados
junto às Prefeituras, contem informações sobre a área
abrangida pela UGRHI-7, e análises dos dados coletados.
Apresenta primeiramente
uma caracterização física da área, com dados
sobre geologia, recursos minerais, geomorfologia, e potencial agrícola.
Trata também do enquadramento e da qualidade dos corpos d’água.
Dedica um capítulo às áreas protegidas por lei, incluindo
as áreas degradadas.
Constata que
as áreas mais degradadas correspondem à vegetação
afetada por desmatamento e por poluição atmosférica,
aos manguezais alterados por diversas atividades, as áreas de lixões,
favelas e minerações, sendo que na região ainda existem
áreas sujeitas à contaminação por fontes potencialmente
poluidoras e diversas áreas contaminadas por produtos químicos
tóxicos.
As conclusões
apresentadas pelo Relatório e listadas a seguir demonstram a gravidade
da situação ambiental regional:
a
Baixada Santista encontra-se em uma situação crítica
em relação à disponibilidade hídrica superficial,
com uma demanda de consumo em torno de 65% da vazão mínima
disponível;
a
água distribuída não atende aos padrões de
potabilidade definidos em lei;
as
perdas de água atingem níveis muito altos nos municípios
de Itanhaém, Mongaguá e Praia Grande;
a
situação é grave em relação à
destinação dos resíduos sólidos, sendo que
nenhum dos municípios se enquadra em condições adequadas;
as
doenças por veiculação hídrica diminuíram
nos últimos anos;
as
águas superficiais, em média apresentam um elevado grau de
contaminação;
são
necessários mais pontos para monitoramento das águas;
as
praias
apresentam balneabilidade inadequada;
o
estado de degradação das praias é decorrente da má
qualidade dos cursos d’água que afluem em sua direção;
e,
a
maioria dos municípios não dispõe de competente estrutura
jurídico-institucional capaz de estabelecer diretrizes e normas
de uso e ocupação do solo, bem como, de recuperação,
preservação e conservação dos recursos naturais,
em especial da água.
Este último
item é extremamente relevante, dada não só a autonomia
municipal para a resolução da maioria das questões
apresentadas, mas como a obrigatoriedade estipulada por lei da elaboração
de Planos Diretores pelos municípios pertencentes a regiões
metropolitanas. O zoneamento é um dos principais instrumentos para
a implantação do PD, devendo ser elaborado com o maior critério
técnico e social possível, por pessoas competentes nas dimensões
a serem trabalhadas.
3.3.2 -
Resíduos Sólidos
A CETESB publica
desde 1997 o Inventário Estadual de Resíduos Sólidos
Domiciliares, no formato de relatório, com objetivo de analisar
o Índice de Qualidade do Aterro (IQR) e o Índice de Qualidade
de Usinas de Compostagem (IQC).
Visando embasar
os dados apresentados na seqüência, a tabela
3.12 mostra o enquadramento dos referidos índices, conforme
utilizados pela CETESB.
Tabela
3.12
ENQUADRAMENTO
DAS INSTALAÇÕES DE DESTINAÇÃO FINAL DE RESÍDUOS
SÓLIDOS DOMICILIARES
|
IQR/IQC
|
Enquadramento
|
0,0 £
IQR / IQC £
6,0
|
Condições
Inadequadas
|
6,0 <
IQR / IQC £
8,0
|
Condições
Controladas
|
8,0
< IQR / IQC £
10,0
|
Condições
Adequadas
|
Fonte:
CETESB, 2002. |
Segundo a tabela
3.13, que contem as avaliações para os anos de 2000,
2001 e 2002, os municípios da RMBS que apresentam piores condições
para a disposição final de resíduos domiciliares são
os de Santos, Praia Grande, Mongaguá e Itanhaém. Para o ano
de 2002 foram produzidas duas versões, sendo que a segunda incluiu
atualizações referentes a dezembro de 2002 e janeiro de 2003.
Santos desativou
o lixão do Alemoa, que foi o local avaliado na primeira versão
do inventário, em janeiro de 2003, passando a utilizar o Aterro
do Sítio das Neves, na área continental. Cubatão,
Guarujá e São Vicente apresentaram os melhores índices.
Porém,
deve-se ressaltar que o lixão de São Vicente foi desativado
no início do ano de 2002, e os resíduos passaram a ser levados
para um Aterro fora da cidade; somente a atividade de transbordo é
realizada em uma área reservada no lixão desativado.
Tabela
3.13
ENQUADRAMENTO
DOS MUNICÍPIOS DA RMBS
|
Municípios
|
Lixo (t/dia)
|
Inventário
– dados IQR
|
TAC
|
nº
catadores
|
Área ocupada (m²)
|
LI
|
LF
|
2000
|
2001
|
2002
|
V.1
|
V.2
|
Bertioga |
14,0
|
6,4
|
5,8
|
6,8
|
sim
|
0
|
0
|
12000
|
-
|
-
|
Cubatão |
55,0
|
7,5
|
7,5
|
7,5
|
sim
|
0
|
0
|
8000
|
-
|
-
|
Guarujá |
165,5
|
7,2
|
7,6
|
8,0
|
sim
|
0
|
0
|
2000
|
S
|
S
|
Itanhaém |
30,0
|
4,5
|
4,0
|
4,8
|
sim
|
22
|
30
|
20000
|
-
|
-
|
Mongaguá |
14,9
|
2,2
|
2,1
|
2,9
|
sim
|
25
|
32
|
40000
|
-
|
-
|
Peruíbe |
21,2
|
8,2
|
8,2
|
7,6
|
sim
|
0
|
0
|
50000
|
S
|
-
|
P. Grande |
101,9
|
2,6
|
2,4
|
2,8
|
sim
|
37
|
5
|
40000
|
-
|
-
|
Santos |
250,1
|
3,4
|
2,8
|
2,8
|
sim
|
135
|
150
|
98000
|
-
|
-
|
S. Vicente |
185,2
|
1,9
|
2,2
|
9
|
sim
|
95
|
0
|
96500
|
-
|
-
|
Fonte:
CETESB, 2002 e 2003. (adaptada pela autora) LI = Licenças
de Instalação / LF = Licença de Funcionamento |
O Sumário
de Dados da Região Metropolitana da Baixada Santista lançado
pela EMPLASA no ano de 2002 apresenta para este assunto os dados da CETESB
relativos ao ano de 2000, portanto, dados desatualizados diante da alta
dinâmica da questão.
De acordo com
informações obtidas junto a CETESB – Agência Ambiental
de Santos, todos os municípios assinaram Termos de Ajustamento de
Conduta (TAC) no ano de 1999, com o objetivo de solucionar os problemas
relativos à disposição dos resíduos e das contaminações
decorrentes. Não existe uma política regional para a questão,
com cada município tratando da situação somente anível local.
3.3.3 -
Qualidade do ar
A CETESB apresentou
em 2002 o Relatório de Qualidade do Ar do Estado de São
Paulo referente ao ano de 2001. O município de Cubatão
encontra-se inserido nos trabalhos de monitoramento devido ser uma área
afetada por graves problemas de poluição atmosférica
decorrente da dificuldade de dispersão de poluentes emitidos pelo
parque industrial, dificuldade causada pela associação de
sua topografia acidentada com as condições metereológicas
locais.
São
duas as estações de medição, a de Vila Parisi
e a do Centro, as quais monitoram um total de 280 fontes de emissão
de poluentes. A Vila Parisi é a região de maior preocupação
dentro do contexto da região devido às altas concentrações
de material particulado, porém, a estação Cubatão-Centro
também ultrapassa o padrão de qualidade do ar.
Apesar dos
dados observados a partir de 1997 indicarem um decréscimo das concentrações
de poluentes, estas ainda permanecem acima dos padrões legais. O
gráfico apresentado na figura 3.26 representa
as medições e sua evolução nos dois pontos
de observação em Cubatão na última década,
além da linha que define o nível aceitável: confirma
a preocupação da CETESB em relação à
qualidade do ar, pois evidencia os altos índices que ocorreram na
Vila Parisi até 1997, e a relativa estabilidade a partir de então,
mesmo acima do desejável.
Figura
3.26: Partículas Inaláveis (mg/m3) Fonte: Cetesb;
2001.Elaboração: Emplasa, 2002.
(1) O Padrão
Nacional de Qualidade do Ar Anual (PQAr), corresponde ao limite anual admissível
para a concentração de um determinado poluente, acima da
qual, a qualidade do ar torna-se prejudicial a saúde.
A tabela
3.14 apresenta a qualidade do ar durante o ano de 2000, a partir dos
resultados obtidos nas mesmas duas estações retro citadas,
podendo ser verificado as condições em relação
às partículas inaláveis durante o ano. Enquanto que
a Estação Centro aponta para uma condição considerada
boa para pouco mais da metade do ano, a Estação de Vila Parisi
mostra que durante 70% do tempo monitorado, a condição foi
considerada apenas regular, portanto, que a região ainda é
carente de monitoramento.
Tabela
3.14
QUALIDADE
DO AR EM CUBATÃO – ANO DE 2000
|
Parâmetros Monitorados (Poluentes) |
QUALIDADE
DO AR considerando
o número de dias monitorados durante o ano
|
Estação
Centro
|
Estação
Vila Parisi
|
nº
total de dias moni-
torados
|
Condição
|
nº
total de diasmoni-
torados |
Condição
|
Boa
|
Regular |
Ruim
(1)
|
Boa
|
Regular |
Ruim
(1)
|
Partículas Inaláveis
(PI) |
351
|
78,1
|
21,6
|
0,3
|
344
|
19,5
|
73,2
|
7,3
|
Dióxido
de Enxofre (SO2) |
338
|
99,4
|
0,6
|
0,0
|
259
|
97,3
|
2,7
|
0,0
|
Ozônio
(O3) |
333
|
63,1
|
35,1
|
1,8
|
X
|
X
|
X
|
X
|
Dióxido
de Nitrogênio (NO2) |
342
|
99,4
|
0,6
|
0,0
|
X
|
X
|
X
|
X
|
Índice
Geral |
353
|
55,2
|
42,8
|
2,0
|
344
|
19,5
|
73,3
|
7,3
|
Fonte:
Cetesb, 2000. Elaboração: Emplasa, 2002. (1) corresponde
à soma dos percentuais obtidos para as qualificações
Inadequada, Má, Péssima e Crítica. (X) Parâmetro
não monitorado. |
O Relatório
referente ao ano de 2002 (CETESB, 2003b) coloca que a partir de estudos
realizados na área de Cubatão, confirmam-se as considerações
de que as condições metereológicas são desfavoráveis
à dispersão e diluição dos poluentes na estação
do inverno, e que, portanto, nesta época do ano deve ser realizada
a maior redução possível da emissão de poluentes.
3.3.4 -
Áreas Contaminadas - Solos
Segundo a definição
utilizada pela Cetesb, áreas contaminadas são uma área,
local ou terreno onde há comprovadamente poluição
ou contaminação causada pela introdução de
quaisquer substâncias ou resíduos que nela tenham sido depositados,
acumulados, armazenados, enterrados ou infiltrados de forma planejada,
acidental ou até mesmo natural.
Nessa área,
os poluentes ou contaminantes podem concentrar-se em sub-superfície
nos diferentes compartimentos do ambiente, como por exemplo, no solo, nos
sedimentos, nas rochas, nos materiais utilizados para aterrar os terrenos,
nas águas subterrâneas ou, de uma forma geral, nas zonas não
saturada e saturada, além de poderem concentrar-se nas paredes,
nos pisos e nas estruturas de construções.
Os poluentes,
ou contaminantes, podem ser transportados a partir desses meios, propagando-se
por diferentes vias, como o ar, o próprio solo, as águas
subterrâneas e superficiais, alterando suas características
naturais de qualidade e determinando impactos negativos e/ou riscos sobre
os bens a proteger, localizados na própria área ou em seus
arredores.
A CETESB vem
realizando um cadastro das áreas contaminadas do Estado a partir
de levantamentos na Região Metropolitana de São Paulo, tendo
incluindo as demais áreas a partir de maio de 2001.
Segundo relatório
divulgado em maio de 2002 havia no Estado de São Paulo 145 locais
com atividades de remediação em curso, sendo que quinze destas
áreas consideradas contaminadas foram detectadas na RMBS.
No relatório
divulgado em outubro de 2003, o número total de áreas na
RMBS subiu para sessenta e três.
A tabela
3.15 apresenta o número de áreas contaminadas detectadas
em cada município em ambos os anos, podendo ser constatado que os
nove municípios apresentam áreas com solos contaminados.
Cubatão é o município que apresenta uma pior condição,
seguido de Santos e São Vicente.
Tabela
3.15
ÁREAS
CONTAMINADAS NA RMBS
|
Município
|
Maio
de 2002
|
Outubro
de 2003
|
Bertioga
|
zero
|
01
|
Cubatão
|
08
|
20
|
Guarujá
|
01
|
04
|
Itanhaém
|
zero
|
04
|
Mongaguá
|
zero
|
02
|
Peruíbe
|
zero
|
01
|
Praia
Grande
|
02
|
05
|
Santos
|
02
|
15
|
São
Vicente
|
02
|
08
|
Fonte:
CETESB, 2002, 2003. Elaboração: Bacellar do Carmo, 2003. |
Consulta realizada
junto à Agência Ambiental de Santos da CETESB a respeito do
expressivo aumento da relação de áreas contaminadas
na RMBS levantou que o fator preponderante por este aumento foi a inclusão
dos Postos de Abastecimento de Combustíveis na lista de atividades
a ser licenciada pela CETESB, após a publicação da
Resolução CONAMA nº 273/00.
Esta mesma
resolução determina a apresentação de Estudos
de Passivos Ambientais pelos postos já existentes na época
de publicação da mesma, o que resultou na confirmação,
e, por conseguinte, no registro da presença de contaminantes acima
dos valores de referência adotados pela CETESB.
3.3.5 -
Balneabilidade das Praias
Balneabilidade
é entendida como a qualidade da água para fins de recreação
de contato primário, onde existe um contato direto e prolongado
com a água, e a possibilidade do banhista ingerir quantidades elevadas
do líquido. A densidade dos coliformes fecais é o parâmetro
indicador básico utilizado para a classificação das
praias em relação a balneabilidade e sob o aspecto sanitário.
No Relatório
Anual de Balneabilidade das Praias Paulistas, referente ao ano de 2001
e divulgado em 2002, a CETESB constatou que a Baixada Santista apresentou
os maiores comprometimentos em relação à balneabilidade,
apesar de os municípios serem detentores dos maiores índices
de atendimento por sistema de esgoto sanitário, em relação
aos demais municípios da faixa litorânea. A RMBS possui uma
extensão total de 160 km de praias, onde a CETESB instalou 62 postos
de monitoramento.
Através
da figura 3.27 e 3.28, inseridas em formato de gráfico, pode-se
constatar que a maioria das praias da Região, 71%, foi considerada
como de qualidade regular no ano de 2001, e que houve uma considerável
melhora em 2002, quando a categoria regular abaixou para 42%, e a categoria
boa subiu de 13% para 37%. A leitura
dos gráficos posteriores, figuras 3.29 e 3.30, reproduzem os dados
do Relatório, podendo ser verificado que as melhoras nas condições
de balneabilidade ocorreram nos municípios de Guarujá e Peruíbe.
Figura
3.27: Qualidade das Praias – 2001 Fonte: CETESB,
2002.
Figura
3.28: Qualidade das Praias – 2002 Fonte: CETESB,
2003.
Figura
3.29: Gráfico da Evolução das Praias: 2000-2001. Fonte: CETESB,
2002.
Figura
3.30: Gráfico da Evolução das Praias: 2001-2002. Fonte: CETESB,
2003.
3.3.6 -
Considerações
Procurou-se
nos itens anteriores desta seção montar um diagnóstico
ambiental da RMBS a partir de dados sobre os resíduos sólidos,
a qualidade do ar, áreas com solos contaminados e a balneabilidade
das praias, precedidos pelas considerações formuladas pelo
relatório do Comitê de Bacias.
Muitas outras
questões podem ser levantadas para complementar este diagnóstico,
como por exemplo, a questão dos assentamentos subnormais nos municípios
da região, que além das implicações habitacionais
e sociais, acarretam vários danos ao meio-ambiente local e circundante.
Sobre este assunto específico, foi realizado um levantamento pelo
IBGE a partir de dados fornecidos pelas próprias Prefeituras, no
ano de 2001.
Esta pesquisa
mostrou que todas as cidades da Baixada Santista possuem favelas, mas ao
mesmo tempo, que não existem registros que utilizem os mesmos paradigmas
para uma sistematização científica. Enquanto Bertioga,
Guarujá e Itanhaém apresentaram dados do próprio ano
de 2001, Cubatão encaminhou dados de 1993, Mongaguá e São
Vicente de 1997, Praia Grande e Santos de 1999, e Peruíbe não
apresentou cadastro de nenhuma das favelas existentes em seu território
(TODAS as..., 2003).
A principal
consideração a ser registrada é a importância
da formatação de um documento único que reúna
todos os dados, possibilitando a formatação de um inventário
global que possa viabilizar a tomada de decisões necessárias
em futuros projetos metropolitanos. Este documento poderia ser viabilizado
a partir dos esforços conjuntos dos nove municípios, como
também a partir da tabulação dos dados extraídos
de relatórios de agências estaduais e federais.
NOTA:
[1]
O tratamento dispensado ao sistema dos resíduos sólidos em
cada município foi detalhado nos sub-itens Quadro e Política
Ambiental, da seção dedicada às especificidades
de cada um (item 3.2). |