CÂMARA
E AGENDA 21 REGIONAL - PARTE II - Capítulo 3 (cont.)
Sílvia
de Castro Bacellar do Carmo
3.2.9 -
Município de São Vicente
3.2.9.1
- História
São
Vicente foi fundada oficialmente em 22 de janeiro de 1532 por Martim Afonso
de Souza, ocasião em que recebeu a denominação de
Vila. A povoação já era reconhecida na Europa como
eficiente ponto de parada para reabastecimento de mantimentos e tráfico
de escravos índios, e a expedição de Martim Afonso
foi enviada para dar início à colonização oficial
das novas terras e garantir a soberania de Portugal.
Logo após
sua chegada, Martim Afonso instalou a primeira Câmara de Vereadores
das Três Américas, o Pelourinho, a Cadeia e a Igreja. Foram
demarcadas terras e distribuídos lotes aos colonos, tendo início
o cultivo organizado de vários produtos, destacando-se a cana de
açúcar, o que levou à construção do
primeiro engenho. De São Vicente partiram expedições
para o interior do Brasil, inclusive a que fundou a cidade de São
Paulo.
Em outubro
de 1700, São Vicente foi elevada à condição
de Município através de Carta Régia, e em 31 de dezembro
de 1895, através de lei municipal, a sede municipal foi elevada
à categoria de Cidade.
O Município
sofreu vários retalhamentos em sua extensão territorial.
O primeiro desmembramento vicentino ocorreu em 1545, quando a Cidade de
Santos recebeu seu foral de Vila. Em 1561, aproximadamente, desmembrou-se
a área que se constituiu na Freguesia de Conceição
de Itanhaém. Em 1944 perdeu Evangelista de Souza, no alto da Serra
do Mar, que se anexou ao Distrito de Parelheiros, no Município de
São Paulo. Em 1948, através de plebiscito, ficou sem o Bairro
de Mongaguá, que se agregou a Itanhaém. De 1940 a 1960 sofreu
as retificações de suas divisas com o Município
de Santos, perdendo abruptamente 20 quilômetros quadrados de área
dentro da cidade.
Em 1966, depois
de mais de dois anos de batalha judicial, São Vicente perdeu
o Distrito de Solemar e o Bairro do Boqueirão da Praia Grande para
a constituição do Município de Praia Grande, com 145
quilômetros quadrados tirados do território vicentino. Na
década de 40 São Vicente possuía uma área municipal
de 476 quilômetros quadrados, porém, no início da década
de 80, estava reduzida a 146 quilômetros quadrados.
Desde 1965,
pela Lei Federal n° 4603 São Vicente detém o título
de Cidade Monumento da História Pátria, Cellula
Mater da Nacionalidade.
3.2.9.2
- Caracterização
São
Vicente localiza-se a uma distância de 71 km, por rodovia, da Capital
do Estado de São Paulo. Divide a Ilha de São Vicente com
Santos, limitando-se ao Norte e Noroeste com Cubatão, São
Bernardo do Campo e São Paulo. Sua extensão e forma fazem-no
ainda
limitar ao Sul e Sudoeste com Praia Grande, Mongaguá e Itanhaém,
sendo banhado ao Sul e Sudeste pelo Oceano Atlântico. Sua localização
dentro do espaço geográfico da RMBS pode ser verificada na
figura
3.24.
Figura
3.24: Localização de São Vicente na RMBS Fonte:
CETESB, 2003b.
Possui uma
superfície total de 146 km², dividida em uma porção
de 18 km² na Ilha de São Vicente, e outra Continental de 117
km², separadas pelo canal dos Barreiros, tendo ainda, 11 km²
de rios e canais. Cabe ressaltar que dos 117 km² da Área Continental,
71 km² compõem a Área de Preservação da
Serra do Mar e 6 km² a Área Rural.
A maior parte
do território de São Vicente era originalmente coberta pela
Mata Atlântica, representando 52% do total. As matas de restinga
representavam 24% e os manguezais 16%, sendo os 8% restantes constituídos
de rios e canais. Até 1991, 36km², ou 26,7% do território,
foram ocupados por estruturas urbanas e industriais, mediante desmatamentos,
cortes de aterros e alterações nos fluxos dos rios.
O ecossistema
mais degradado foi a mata de restinga, que teve mais de 88% de sua área
original destruída. O manguezal teve, até 1991, 46% de área
degradada, tendo este número aumentado devido ao crescimento das
favelas na Área Insular, principalmente no Dique do Sambaiatuba
e no Cacheta (não existem dados numéricos disponíveis,
somente a constatação visual). Nos morros situados na parte
insular, observam-se processos de erosão, rastejo e escorregamentos.
Na Área
Continental, a degradação das matas de restinga foi decorrente
das atividades de extração de areia dos terraços para
a indústria dos vidros. Esta atividade desenvolveu-se sem critérios,
deixando as áreas de mata de um tal modo destruídas que impossibilita
a regeneração natural. Nas médias e baixas vertentes
dos rios Cubatão e Branco, a Mata Atlântica está bastante
alterada, tendo sido a degradação causada, provavelmente,
pelos desmatamentos provocados pelas atividades agrícolas, principalmente
a cultura da banana, que apesar de estar em decadência, ainda é
a principal atividade agrícola da região.
No período
de 1980 a 1991, o Município registrou um crescimento de 3,05% ao
ano, e de 1991 a 2000 de 1,37% ao ano, resultando em uma taxa de urbanização
de 99,95%. Considerando o período das décadas de 70 a 90,
houve um aumento da densidade demográfica superior a 100%. Contudo,
se forem consideradas as características físicas do Município,
isto é, ilha e continente, as diferenças são expressivas:
12.294,22 hab/ km² na parte insular e 1064,13 hab/ km² na área
continental.
Aspecto relevante
no Município é o aumento periódico e sazonal de sua
população em época de férias prolongadas e
feriados. Essa constatação é significativa na medida
em que se pode inferir que, em períodos de utilização
máxima, soma-se à população residente um contingente
de 102.000 pessoas, sendo que este acréscimo populacional concentra-se
em áreas próximas à orla, sobrecarregando a capacidade
da infra-estrutura instalada e de prestação de serviços
da cidade (SABESP, 1999).
Nota-se também
uma tendência ao envelhecimento da população, com o
aumento do extrato acima de 50 anos e da redução da presença
do extrato mais jovem com menos de 20 anos. Isso se deve, em parte, por
São Vicente ser uma estância balneária, próxima
a um grande centro industrial e de serviços (Região Metropolitana
da Grande São Paulo), que acaba recebendo parcelas do contingente
que se retira do setor produtivo.
No intenso
processo de industrialização e urbanização
que caracterizou a Baixada Santista nas décadas de 1960 e 70, São
Vicente cumpriu papel e funções auxiliares, não registrando
uma implantação industrial significativa. O comércio
local sofreu e sofre, uma forte concorrência de Santos, voltando-se
para a população local e parcela de Praia Grande; situação
que também se encontra em processo de alteração, com
os incrementos ao comércio na cidade vizinha de Praia Grande. O
setor de serviços é voltado exclusivamente às demandas
internas.
Apesar de desfrutar
de uma orla atrativa e de uma grande capacidade de turismo ecológico,
a cidade não desenvolveu toda a sua potencialidade turística,
ficando atrás das cidades vizinhas no que se refere a atração
de turistas. São Vicente também se caracteriza como cidade-dormitório,
fornecendo mão de obra para Santos e Cubatão.
Até
1998 o Município de São Vicente esteve dividido em 25 Unidades
Territoriais de Planejamento, tendo como referência a configuração
urbana resultante dos parcelamentos efetuados, os limites e as denominações
consagradas para alguns bairros e condicionantes urbanísticas, tais
como estradas, rodovias, canais e outras barreiras físicas.
A Lei Complementar
n° 216/98, que dispõe sobre o abairramento da zona urbana do
Município, introduziu mudanças no critério de espacialização
dos dados das Unidades Territoriais e a área urbana do Município
passou a compreender 28 bairros. Os bairros mais populosos encontram-se
localizados na Área Insular. Porém, deve-se ressaltar a maior
extensão dos bairros localizados na área Continental, que
lhe conferem densidades demográficas menores.
Verifica-se
na Área Continental um aumento muito grande de construções,
sem que haja dados oficiais a respeito desta expansão. Este fato
é decorrente da implantação de loteamentos ilegais
e ampliações de residências sem respeito à legislação
edilícia.
Até
1940, o crescimento urbano em São Vicente deu-se estritamente no
sentido horizontal. A partir deste período deu-se início
a verticalização, estando este fato relacionado com o aumento
da demanda de imóveis para veraneio pela população
de classe média da capital, que teve seu acesso à região
facilitado com a inauguração da Via Anchieta em 1947.
Os edifícios
podem ser facilmente notados nas regiões próximas à
praia, que abrigam a parte da população com maior poder aquisitivo,
e no Centro, área caracterizada pelos estabelecimentos comerciais
e de serviços. A figura 3.25 mostra a
orla da Praia do Itararé, podendo-se observar a linha de edificações
verticais que a caracterizam.
Figura
3.25: Praia do Itararé, São Vicente. Fonte: AGEM,
2004.
Uma alta parcela
da população vicentina reside em habitações
consideradas subnormais. O número de favelas no Município
chega a dezessete, além de existirem oito loteamentos irregulares
e três loteamentos clandestinos no Município [1].
Uma significativa
parcela dos núcleos favelados está localizada ao longo dos
córregos e canais que cortam o município. Já os loteamentos
clandestinos e irregulares concentram-se na Área Continental, onde
o processo de ocupação é mais recente, mas não
menos predatório, se for considerado a ocupação irregular
dos mangues e faixas lindeiras aos córregos e a poluição
ambiental dos depósitos industriais.
Como a maior
parte dos assentamentos subnormais situa-se em áreas sujeitas a
inundações, a precariedade do sítio onde estão
implantados faz com que as moradias assumam, em sua maioria, um caráter
provisório, ou seja, as construções apresentam uma
baixa qualidade construtiva, e um alto índice de adensamento. Traço
comum a favelas, loteamentos clandestinos e irregulares é a inexistência
de infra-estrutura e saneamento básico. Na quase totalidade dos
casos, a eletrificação é feita através de ligações
clandestinas ao sistema oficial e de forma precária.
O abastecimento
de água atinge todos os núcleos. Até 1889 São
Vicente não dispunha de nenhum serviço de abastecimento de
água encanada, sendo abastecida através de suas muitas fontes
naturais e através de poços (particulares e coletivos). Em
outubro de 1889 foi construída a primeira caixa d’água no
Morro dos Barbosas, que recebia água de nascentes do próprio
morro. Posteriormente foram construídas mais caixas d’água
no morro do Voturuá, as quais só foram desativadas em 1972.
Em dezembro
de 1971 a SABESP assumiu o fornecimento de água do Município.
O Município de São Vicente é atendido pelo Sistema
Produtor Cubatão e Pilões, sendo que o primeiro é
o mais importante dos sistemas produtores da Baixada Santista.
O serviço
de esgoto domiciliar só começou a ser implantado em 1915,
pela Repartição de Saneamento de Santos. Em 1995 somente
22,9% dos domicílios do Município estavam ligados à
rede coletora de esgoto. A área Central-Praias possuía um
índice de 83,1%, abrangendo apenas 11,8% da população,
atingindo um índice de atendimento de 48% somente no ano de 1998.
A coleta dos
resíduos sólidos é realizada de forma alternada, 3
vezes por semana, na Área Insular. Na Área Continental o
problema se agrava devido à periodicidade, que a aproxima do nível
insatisfatório. A Prefeitura tem buscado soluções
alternativas, como contratar moradores das favelas, onde não há
condições de entrada de caminhões, para retirar o
lixo em carrinhos.
O Município
de São Vicente apresenta os mesmos problemas naturais de drenagem
das águas pluviais existentes em Santos, pois fazem parte da mesma
ilha. Porém, a porcentagem dos canais não revestidos em São
Vicente é bem maior do que os canais revestidos, o oposto da cidade
vizinha. Praticamente toda a cidade tem a drenagem insatisfatória.
Dos 42.402 metros de canais existentes, cerca de 35.982 metros não
possuem revestimento.
Somente os
canais localizados na Vila Valença, São Jorge, Voturuá,
Parque Continental e Centro, encontram-se totalmente revestidos, o que
representa 15,3% do total. Estes dados vêm de encontro à realidade
de que a maior parte da população vicentina encontra-se em
precária condição sanitária, vítimas
de inúmeros transtornos por ocasião das enchentes no verão,
estação das chuvas.
3.2.9.3
- Quadro e Política Ambiental
São
Vicente foi o único município da RMBS que não atendeu
à solicitação de responder ao questionário
norteador, nem por escrito, nem por entrevista. As informações
que se seguem baseiam-se em dados obtidos na imprensa escrita e em informações
verbais não oficiais, tendo havido a preocupação de
seguir o esquema proposto no questionário formatado.
A questão
ambiental é desenvolvida por departamento específico da Secretaria
de Obras e Meio-Ambiente. Com uma pequena estrutura física e funcional,
foi transferida do Paço Municipal para as instalações
do Horto Municipal no ano de 2002.
O município
apresenta vários problemas ambientais, podendo ser citados entre
outros: ligações clandestinas de esgoto, invasões
de mangues, assentamentos subnormais, e, existência de vários
pontos passíveis de enchentes por ocasião das chuvas.
Em relação
às invasões de terras, a Secretaria de Obras e Meio-Ambiente,
junto com a Defesa Civil, realizam fiscalização rigorosa,
coibindo novas construções e demolindo as que por ventura
aconteçam. A região mais atingida pelo processo de invasão
é a Área Continental.
A Prefeitura
mantêm parceria com uma ONG da cidade, a BIO Verde, através
de repasse financeiro para a execução de serviços
de prevenção ambiental. Esta ONG desenvolve o Projeto "Cata-Maré":
utiliza quatro barcos, que diariamente percorrem a área estuarina,
retirando das águas resíduos sólidos flutuantes procedentes
de diversos pontos da região, colaborando com a despoluição
destas águas; calcula-se que são retiradas aproximadamente
200 toneladas de resíduos por mês, os quais são primeiramente
descarregados em um núcleo de pescadores, para posterior transporte
pela empresa de limpeza pública (CATA-MARÉ, 2002).
Um importante
projeto em desenvolvimento desde o ano de 2000 é a reurbanização
do Dique do Sambaiatuba, localizada na divida com o Município de
Santos, área que sofreu uma intensa invasão de moradias nas
décadas de 1980 e 1990, comprometendo as matas ciliares e o mangue.
O Dique foi construído na década de 1950 com o objetivo de
utilizar os manguezais para a implantação de atividades agrícolas
próprias ao solo úmido, tendo sido equipado com comportas
para impedir a entrada das marés altas.
As atividades
agrícolas nunca aconteceram, e a área começou a ser
ocupada para fins habitacionais a partir de 1960. No ano de 2000 estimava-se
uma população de 6.360 pessoas, moradoras em 1.920 domicílios,
com características de favelas: apresentava precariedade de infra-estrutura
de saneamento e serviços públicos, lotes e construções
irregulares, assentados em vielas estreitas, sendo muito delas em palafitas.
O Projeto de
Urbanização teve início com a questão da regularização
fundiária, visto ocupar terrenos municipais e federais, tendo sido
integrado ao "Programa Habitar Brasil/BID". As obras envolvem: construção
de casas-embrião, para as famílias que precisam ter suas
moradias deslocadas, remoção de palafitas, execução
de micro e macrodrenagem, instalação de rede de esgoto e
abastecimento de água para todo o conjunto, pavimentação
do viário principal, obras de contenção nas bordas
do dique, e construção de um Centro Comunitário (SÃO
VICENTE, 2000).
No início
de 2004 foram entregues as primeiras 256 casas, correspondentes à
primeira fase do projeto, com o compromisso do Governo Federal de repasse
de verbas referente à segunda fase (SÃO VICENTE, 2004).
A Educação
Ambiental é de responsabilidade da Secretaria de Educação
(SEDUC), que desenvolve as atividades integradas à grade escolar.
O Núcleo de Educação Ambiental, do Horto Municipal,
cuja responsabilidade cabe aos biólogos e veterinários do
próprio Horto, desenvolve curso de capacitação de
monitores, e promove cursos de férias para turmas de 30 crianças,
quando realizam palestras sobre o meio-ambiente e caminhadas nas trilhas
existentes no próprio Horto.
Além
disso, é mantida uma sala destinada a Educação Ambiental
na área do antigo Lixão que foi desativado, sendo administrada
pela Companhia de Desenvolvimento de São Vicente (CODESAVI), empresa
municipal responsável pela limpeza pública da cidade. Em
janeiro de 2004 foi lançado o "Projeto Área Continental",
o qual possui em seu escopo o Centro de Apoio à Educação
Ambiental, com o objetivo de formar monitores ambientais, além de
promover oficinas de reciclagem.
Em relação
aos resíduos sólidos, São Vicente conta com bons índices
na análise da CETESB. O Lixão do Sambaiatuba que iniciou
suas operações em 1970 foi desativado em abril de 2002 após
32 anos, passando os resíduos a serem transportados para um Aterro
Sanitário na cidade de Mauá. Por ocasião do seu fechamento
ocupava uma área de 47.000 m², com uma altura aproximada de
resíduos de 20 metros, resultante do depósito diário
de resíduos calculado em 250 toneladas.
A desativação
foi decorrente do TAC assinado com a CETESB no ano de 1999, que também
obrigava à adequação técnica e ambiental das
instalações desativadas. O local foi transformado em uma
área de lazer para a comunidade, com exceção de 800
m² reservados para uma unidade de transbordo; com o nome de "Parque
Ecológico Sambaiatuba", recebeu inicialmente uma cobertura destinado
à separação física dos detritos depositados
das novas instalações a serem construídas, com a manutenção
dos 27 drenos existentes, que auxiliam na retirada dos gases gerados na
desintegração dos resíduos orgânicos; foram
construídos: viveiro de plantas com 360 m² para fornecimento
de mudas aos projetos de arborização do Município,
uma sala de Educação Ambiental, parquinho infantil, e três
quadras esportivas (LIXÃO..., 2003).
Em nenhuma
das reportagens locais ou informes oficiais da administração
são encontradas referÊncias à questão do chorume
que continua sendo produzido e afetando as águas do Rio do Bugre,
que margeia o local. O relatório de uma visita técnica realizada
por alunos do Curso de Tecnologia Ambiental da UNESP ao local, no início
de 2003, conclui que existe uma preocupação com a aparência
do local, em detrimento às preocupações de monitorização
geotécnica e do lençol freático (SEIKAM et al, 2003).
O Conselho
Municipal de Defesa do Meio-Ambiente foi instituído originalmente
pela Lei nº 1977 de 04 de dezembro de 1984, a qual foi complementada
pela Lei nº 2050, de 22 de novembro de 1985, sofrendo alterações
em relação ao número de seus componentes (diminui
de quinze para nove) pela Lei nº 545-a, em 1997. O COMDEMA nunca foi
ativado pela administração que assumiu o governo em 1997
e foi reeleito em 2001, sendo que sua ativação não
é considerada como desejável pelo atual quadro executivo
[2].
O Plano Diretor
de São Vicente foi instituído através da Lei Complementar
nº 270, de 29 de dezembro de 1999. Foi elaborado por uma equipe multidisciplinar
composta por técnicos do quadro funcional da administração
executiva, locados em Secretarias diversas. Constituiu-se de um elenco
de diretrizes, que necessitam de outras leis e decretos para que se tornem
efetivas, conforme definido no artigo 12: "Para efeito do disposto neste
Plano Diretor, leis específicas regulamentarão as matérias
nele contidas, com a indicação dos instrumentos e mecanismos
competentes".
Este documento
legal dedica seu artigo 5º às diretrizes ambientais, mas não
delibera sobre as estratégias a serem seguidas para o alcance das
mesmas. Destaca-se os § IV e V, transcrito a seguir, por referenciar-se
às políticas metropolitanas:
Art. 5º-
Constituem Diretrizes Ambientais do Município:
[...]
IV - acompanhar
as políticas metropolitanas de preservação dos recursos
e das reservas naturais da região, especialmente as relativas ao: a) gerenciamento
costeiro; b) gerenciamento
dos recursos hídricos; c) gerenciamento
da disposição final dos resíduos sólidos;
V - promover
e incentivar ações integradas entre os municípios
da região, destinadas à proteção, preservação,
conservação, recuperação, controle e fiscalização
dos seus ecossistemas;
[...]
O artigo 10
menciona a função social da propriedade urbana associada
às exigências
expressas no Plano Diretor em si, e na Lei Complementar nº 271, Lei
de Uso e Ocupação do Solo, editada para regulamentar algumas
das diretrizes expressas no PD; e, o artigo 11 discrimina três dos
instrumentos que comporiam o Estatuto da Cidade promulgado posteriormente
à aprovação do PD em pauta, aplicados aos proprietários
de solo urbano com área não edificada, subutilizada ou não
utilizada: o parcelamento ou edificação compulsórios,
o IPTU progressivo, e a desapropriação.
Importante
destacar que em um dos seus últimos artigos, cria a Comissão
de Acompanhamento do Plano Diretor (COPLAD), composta pelos mesmos membros
que elaboraram o PD, visto ter estipulado a revisão anual do documento.
Segundo Mercier (2003), é para esta Comissão que devem ser
dirigidas todas as questões relativas às políticas
urbanas do Município. Porém, na prática, a revisão
anual é realizada em cima da Lei de Uso e Ocupação,
não tendo havido nenhuma alteração no PD nos anos
de 2000 a 2003.
Ainda de acordo
com Mercier, o Plano Diretor ocupa-se da preservação ambiental,
nos aspectos "natural, artificial, cultural e do trabalho" [3]
como fim primordial. Formula este parecer com base no artigo 2, que institui
os objetivos da política urbana [4].
São
Vicente não desenvolve o processo de Agenda 21 Local, não
havendo demonstração de que haja interesse para tal.
NOTAS:
[1]Loteamento
irregular é aquele promovido pela iniciativa privada, comercializado
sem a devida aprovação dos órgãos competentes.
São definidos tão somente o plano viário e o parcelamento
do solo, sem os sistemas básicos de infra-estrutura.A demanda gerada
não é atendida pelos órgãos responsáveis
agravando o quadro de carências e degradação do local.
O loteamento
clandestino diferencia-se do irregular pela forma de ocupação
e apropriação do terreno.Típica de áreas de
proteção ambiental, a ocupação ocorre de forma
paulatina e espontânea, com sistema viário e lotes definidos
de forma empírica pelo loteador.
[2]
Informação verbal, não oficial.
[3]
Mercier utiliza, neste caso, as definições formuladas pelo
Prof. Dr. Celso Fiorillo, Doutor em Direito:
a) Meio-Ambiente
Natural ou físico compreendendo o solo, a água, o ar atmosférico,
flora e fauna;
b) Meio-Ambiente
Artificial constituído pelo espaço urbano construído,
edificações e equipamentos urbanos;
c) Meio-Ambiente
Cultural integrado pelo patrimônio histórico, artístico,
arqueológico e paisagístico;
d) Meio-Ambiente
do Trabalho é o local onde as pessoas desempenham suas atividades
laborais, ou seja, talvez a maior parte de suas vidas, e, portanto, imprescindível
a boa qualidade deste ambiente para assegurar uma boa qualidade de vida.
[4]
Art. 2º - Constituem objetivos político econômicos, físico
territoriais e sociais do Município:
I - instituir
normas que garantam o desenvolvimento do turismo, por constituir a vocação
econômica prioritária do Município, como gerador de
emprego e renda, protetor do meio ambiente e do patrimônio histórico-cultural,
arrecadador de recursos e promotor de uma imagem positiva da cidade;
II - dispor
sobre a integração da economia do Município à
regional, enfatizando a posição de São Vicente como
berço político da Região Metropolitana da Baixada
Santista, por ter sido a primeira vila fundada no país e ter sediado
a primeira Câmara das Três Américas;
III - enaltecer
e preservar, através de preceitos normativos e da atuação
do Município na Região Metropolitana da Baixada Santista,
os recursos naturais, especialmente as nascentes e afluentes de rios, como
fontes econômicas e de abastecimento;
IV - estabelecer
normas gerais de proteção, recuperação, uso
e ocupação do solo, adequando-as às normas estaduais
e federais;
V - assegurar
a integração dos sistemas de circulação e transporte
do Município à Região Metropolitana;
VI - instituir
formas e incentivar parcerias entre o Poder Público e a iniciativa
privada, na elaboração e execução dos projetos
de interesse público;
VII - priorizar,
através de diretrizes, os serviços públicos do Município
relativos a cultura, educação, saúde, esporte e lazer;
VIII - estabelecer
instrumentos de política habitacional, proporcionando a gestão
de reserva de terras no Município, assim como o processo integrado
de urbanização e regularização fundiária
de áreas ocupadas espontaneamente e loteamentos clandestinos. |