CÂMARA
E AGENDA 21 REGIONAL - PARTE I
Sílvia
de Castro Bacellar do Carmo
PARTE I Investigação
histórica e conceitual com foco na
construção de Agendas 21 locais
CAPÍTULO
1 FUNDAMENTOS
PARA O ESTUDO DA SUSTENTABILIDADE URBANA
1.1 - Meio-Ambiente
e Desenvolvimento Sustentável
A
Revolução Industrial promoveu um modelo de desenvolvimento
onde a busca da melhoria das condições da vida humana priorizou
as necessidades econômicas. Além de preterir a realização
social em favor da satisfação das necessidades econômico-financeiras,
esse modelo de desenvolvimento também considerou o ambiente como
mero provedor dos recursos naturais necessários à produção
(AFONSO, 1999).
Este modelo
industrial de desenvolvimento predominante é baseado no caráter
acumulativo do sistema econômico, traduzindo o crescimento de bens
como a base do desenvolvimento, e na valorização do instrumental
técnico-científico, e considerando que o avanço tecnológico
e as descobertas científicas representam as soluções
para os problemas de um modo geral. A qualidade ambiental e a eqüidade
social não são elementos computados na avaliação
de desenvolvimento das nações, sendo esta avaliação
realizada a partir de indicadores puramente econômicos: o processo
de produção vigente acarreta a degradação e
contaminação de vários ambientes naturais, sendo que
o custo para a sua recuperação - passivo ambiental -, não
é aplicado na formulação dos indicadores referidos
(GUTBERLET, 1998).
À proposta
de se investigar as conseqüências das atividades antrópicas
sobre o meio-ambiente e os meios para a reparação de tais
ações, deve-se agregar o conhecimento das relações
entre o homem e a natureza como ponto de partida, pois se encontra neste
relacionamento o cerne da questão.
Em meados
do século XIX Marx e Engels (1846) [1],
filósofos alemães, já levantavam a questão
de que como base de qualquer análise da história humana deve-se
considerar a relação entre as condições naturais
existentes e a transformação decorrente da ação
dos homens no decorrer dos tempos. Acrescentavam a este pressuposto que
a distinção entre os homens e os animais encontrava-se no
fato de que os primeiros produzem seus meios de existência, e o fazem
a partir do que já encontram estabelecidos, isto é, das condições
naturais: condições geológicas, hidrográficas,
climáticas etc... .
Considerando
que a maneira como os seres humanos realizam a reprodução
do meio de existência encontrado traduz o seu meio de vida, e que
este reflete o que são, concluem que "O que os indivíduos
são depende, portanto, das condições materiais da
sua produção" (2001, p. 11). Evoluindo a linha de pensamento
chega-se ao aumento da população, o qual acarreta na necessidade
de intercâmbio entre os indivíduos, ficando este condicionado
à produção realizada pelos mesmos. Passa-se então,
o desenvolvimento de uma nação a ser avaliado através
de suas forças produtivas.
As idéias
expostas por estes pensadores e formuladas a mais de um século reforçam
o apresentado nos parágrafos anteriores: a natureza é considerada
pelo modelo capitalista de desenvolvimento simplesmente como a matéria
prima original dos meios de produção humanos.
Outra questão
a ser considerada é sobre o alcance dos problemas ambientais. A
visão local de um dado problema ambiental passou a ter abrangência
global a partir do momento em que pode também afetar as relações
econômicas do aglomerado urbano ou do país onde ocorreu. Além
da atual interdependência econômica a nível mundial,
existe a interdependência ambiental, devido à abrangência
que um dado fenômeno pode acarretar, não ficando seus efeitos
limitados à área de ocorrência.
A conscientização
da população mundial sobre a degradação do
meio-ambiente nos anos 60, através da constatação
de alterações nas características de determinados
ambientes e suas implicações, levou ao início de reuniões,
conferências e elaboração de acordos e documentos,
visando discutir e estudar as causas ao mesmo tempo em que buscavam soluções
e alternativas para os problemas de ordem ambiental do planeta.
Estes procedimentos,
por sua vez, levaram à formulação do conceito de desenvolvimento
sustentável ao final do século XX, considerado mundialmente
como o caminho a ser trilhado para alcançar níveis adequados
de qualidade de vida no presente e no futuro. A este conceito é
acrescido o de qualidade de vida, representado, segundo Franco (2001, p.43),
pelo "grau de prazer, satisfação e realizações
alcançadas por um indivíduo no seu processo de vida", e complementado
pelo direito e oportunidade de acesso às necessidades básicas
da vida, como habitação, alimentação, vestimentas,
educação, lazer e saneamento.
Relaciona-se
na seqüência os principais eventos realizados a nível
mundial e os documentos que foram os detonadores ou resultantes das novas
posturas, com a finalidade de realizar uma breve retrospectiva que possibilite
um melhor entendimento das questões posteriores. Foram incluídos
os eventos e documentos relacionados aos Assentamentos Humanos, visto a
cidade, o aglomerado urbano, ser um dos componentes do Meio-Ambiente, caracterizado
como o Meio-Ambiente Construído.
Torna-se imprescindível
sua inclusão neste trabalho quando se considera que o processo de
urbanização brasileiro se apresenta como uma máquina
de produzir favelas e de agredir o Meio-Ambiente Natural, constatação
elaborada pela Professora Dra. Ermínia Maricato (2001) e inserida
nesta pesquisa como um dos fatores norteadores na observação
do campo espacial definido.
Pode-se considerar
que a conscientização ambiental em termos mundiais teve início
com o livro "Primavera Silenciosa" de Rachel Carson, publicado no início
dos anos 60 (LEFF, 2001). Tendo como foco central de estudo o impacto do
uso dos pesticidas sobre os seres vivos e o ambiente, defendia a observância
aos limites de capacidade dos ecossistemas pelas atividades antrópicas
(SILVA, 2000).
Em 1972 foi
divulgado pelo Clube de Roma, grupo formado por cientistas, o relatório
denominado "Limites do Crescimento", onde se demonstrava através
de modelos matemáticos que a continuidade do crescimento demográfico
e econômico nos mesmos moldes prevalecentes na época levariam
à escassez de recursos, poluição, fome e doenças,
culminando com uma grande mortandade (FRANCO, 2001). Em suas conclusões
defendiam a diminuição do processo de crescimento da população
mundial com a criação de condições de estabilidade
ecológicas e econômicas (MEADOWS et al., 1972).
A repercussão
a este documento foi altamente negativa. Layrargues (1998) destaca a crítica
onde se afirmava que o crescimento econômico zero produziria uma
recessão industrial no primeiro mundo, ao mesmo tempo em que estancaria
o desenvolvimento no terceiro mundo, o qual permaneceria dependente e subdesenvolvido;
porém, o documento não propunha uma imposição
tão drástica, o limite ao crescimento foi erroneamente interpretado
como não crescimento, e as críticas contra as conclusões
do estudo diminuíram a contribuição do mesmo para
a problemática ambiental.
Neste mesmo
ano realizou-se a "Conferência das Nações Unidas sobre
o Meio-Ambiente Humano", também conhecida como "Conferência
de Estocolmo", reunindo pela primeira vez representantes de diversas nações
para debater sobre as conseqüências do desenvolvimento econômico
na degradação ambiental.
Apesar de na
abertura dos trabalhos Maurice Strong, secretário-geral do evento,
ter afirmado que o crescimento zero proposto pelo Clube de Roma era inviável,
defendeu a alteração dos modelos de crescimento econômicos
vigentes na época.
Segundo Franco
(2001) este evento foi marcado por discussões sobre meio ambiente
versus desenvolvimento, com destaque para os problemas da pobreza e o crescimento
da população: enquanto os países desenvolvidos defendiam
um programa internacional voltado para a conservação dos
recursos naturais, através de medidas preventivas com aplicação
imediata, os países em desenvolvimento questionavam estas recomendações
por entenderem que as exigências de controle ambiental que estavam
sendo propostas iriam encarecer e retardar a industrialização
em seus territórios, e que os países ricos que estavam propondo
estes controles haviam atingido seus poderios industriais justamente com
o uso predatório dos referidos recursos.
Cardoso (2001)
considera que a palavra-chave que norteou a reunião foi poluição,
interpretada como atora principal no processo de deterioração
da qualidade de vida. Sobre este assunto Layrargues (1998) comenta que
como a poluição era vista pelos países em desenvolvimento
como uma conseqüência do desenvolvimento, estes temiam que a
proposta da Conferência fosse o limite ao desenvolvimento, adotando
posturas reativas a todos os princípios declarados.
Entre estes
países encontrava-se o Brasil, que junto com a maioria dos países
do terceiro mundo estabeleceram o desafio da resolução da
pobreza como meta principal, delegando a um segundo plano os cuidados com
o meio-ambiente. Os resultados imediatos desta Conferência foram
a criação do "Programa das Nações Unidas para
o Meio-Ambiente" (PNUMA) e o documento intitulado "Declaração
de Estocolmo sobre o Meio-Ambiente Humano".
O "Relatório
Brundtland", denominação mais popular do documento "Nosso
Futuro Comum", produzido pela "Comissão Mundial sobre Meio-Ambiente
e Desenvolvimento" (CMMAD), e publicado em 1987 após três
anos de estudos, deliberações e audiências públicas,
não ignorou as diferenças entre os povos e países,
e propôs uma política de consenso visando alcançar
"[...] uma estratégia política para a sustentabilidade ecológica
do processo de globalização e como condição
para a sobrevivência do gênero humano, através do esforço
compartilhado de todas as nações do orbe" (LEFF, 2001, p.19).
Surgem os
termos desenvolvimento sustentável e sustentabilidade
como conceitos norteadores para as novas práticas políticas
no campo econômico e ambiental [2].
Na opinião de Layargues (1998), este documento permitiu que ficasse
definido que desenvolvimento e meio-ambiente não são realidades
antagônicas, mas sim que o desenvolvimento não significa necessariamente
causar danos ecológicos, e que a preservação ambiental
não implica na paralisação do progresso.
No ano de
1976 ocorreu em Vancouver, Canadá, a "Conferência sobre Assentamentos
Humanos - Habitat I", organizada pela Organização das Nações
Unidas (ONU). Os principais assuntos discutidos durante este evento foram
a habitação, quanto a demanda e incapacidade de atendimento
desta pelos governos, a reurbanização, a questão EEUU
x URSS, a crise do petróleo, as tecnologias alternativas, o controle
público do uso da terra urbana, a opção das cidades
de porte médio, e as críticas à reurbanização
violenta [3].
O pensamento
dominante era fixar a população no campo para evitar o êxodo
rural e, desta maneira, também evitar um maior crescimento das cidades,
caracterizando-se por uma política antiurbanização.
A Declaração
de Vancouver, fruto desta Conferência, mostrou um consenso internacional
em relação às políticas públicas acerca
dos assentamentos humanos, indicando uma série de medidas a serem
postas em prática pelos governos, de forma a garantir uma melhoria
progressiva da qualidade devida e do bem-estar humano (LORENZETTI, 2001).
A criação
do Centro das Nações Unidas para Assentamentos Humanos [4],
também conhecido por HABITAT, com sede em Nairobi, Quênia,
foi decorrente desta reunião. Seu principal objetivo é manter
uma discussão permanente sobre os assuntos relacionados a assentamentos
humanos, assessorando e financiando projetos ligados ao setor urbano.
Um outro desdobramento
do Habitat I foi a Resolução 1993/77 da Comissão de
Direitos Humanos da ONU, onde ficaram proibidos os despejos forçados
por serem considerados como violação ao direito a moradia
(MANCE, 1995).
Vinte anos
após Estocolmo, em 1992, realizou-se no Rio de Janeiro a "Conferência
das Nações Unidas sobre Meio-Ambiente e Desenvolvimento"
(CNUMAD) também conhecida como Cúpula da Terra ou ECO-92,
visando "[...] elaborar estratégias que permitissem interromper
e reverter os efeitos da degradação ambiental" (CNUMAD [5],
1997, p. 9). Contou com a presença de 116 chefes de Estado, enquanto
que em Estocolmo só houve a presença de um, tendo uma repercussão
muito grande por parte da mídia.
Esta Conferência
tornou oficial o que a população mundial já tinha
pleno conhecimento: o esgotamento do modelo de desenvolvimento praticado
que se mostrou ecologicamente predatório e socialmente perverso.
Segundo Layrargues (1998), a sociedade em geral mantinha ainda, como na
época de Estocolmo, uma postura antropocêntrica - utilitarista,
sendo o homem considerado o centro de todas as coisas e a proteção
ambiental vinculada aos benefícios do ser humano, considerando também
que as instâncias decisórias mundiais possuíam um baixo
grau de comprometimento com a proposta de transformação de
valores e paradigmas da civilização ocidental industrial,
visto que os problemas que se pretendiam resolver em 1972, só haviam
se agravado no decorrer destes 20 anos.
A ECO-92 produziu
cinco documentos:
"Declaração
do Rio sobre Meio-Ambiente e Desenvolvimento": tratado de Educação
Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global.
"Princípios
para a Administração Sustentável das Florestas": declaração
de princípios com o objetivo de implantação da proteção
ambiental de forma integral e integrada.
"Convenção
da Biodiversidade": tendo como objetivo a preservação das
espécies vivas do planeta, propôs a compatibilização
do desenvolvimento sócio-econômico com a proteção
dos recursos biológicos.
"Convenção
sobre Mudanças Climáticas": objetivava estabilizar a concentração
de gases na atmosfera, precavendo-se contra o efeito-estufa; assegurar
a preservação da produção alimentar; e possibilitar
o desenvolvimento econômico de forma sustentável.
"Agenda
21": documento que melhor expressa as intenções mundiais,
também é chamado de Agenda 21 Global. É composto por
recomendações e referências sobre como alcançar
o desenvolvimento sustentável, possuindo desdobramentos em nível
de cada nação, com suas peculiaridades e características,
e também em nível de cada região e município.
Em junho de
1996 ocorreu em Istambul a "II Conferência das Nações
Unidas sobre Assentamentos Humanos (HABITAT II)", cujos dois objetivos
principais eram os assentamentos humanos sustentáveis e habitação
adequada para todos (UNCHS, 1996). Na opinião de Maricato (2001),
o Habitat II representou o fim das concepções urbanísticas
que vigoraram no séc. XX, tornando imprescindível a participação
dos indivíduos e da comunidade nas questões do espaço
urbano.
O documento
final produzido por este evento foi denominado Agenda Habitat, que em seu
escopo defende que para que se atinja a sustentabilidade dos aglomerados
urbanos são necessários os combates à pobreza e o
oferecimento de moradia adequada para todos. Rolnik e Saule Jr. (1997)
destacam a ênfase dada ao Poder Local nos itens que tratam da questão
ambiental, pois é colocado como o principal agente para a promoção
do desenvolvimento sustentável nos assentamentos humanos, e em especialmente,
nas áreas metropolitanas.
Além
do Fórum Oficial, governamental, e o Fórum Paralelo, ou não
governamental, foram realizados vários fóruns pelos empresários,
parlamentares, pesquisadores, tecnólogos, sindicatos, cientistas
e fundações. Seus representantes participavam do Comitê
II, que trabalhava paralelamente ao Comitê I, onde era discutido
o documento oficial. Acontecimento inédito em se tratado de Conferências
deste gênero.
Visando à
"Conferência Habitat II", foi divulgado pela Secretaria de Política
Urbana (SEPURB), posteriormente denominada Secretaria de Desenvolvimento
Urbano da Presidência da República [6]
(SEDU/PR), o documento denominado "Política Nacional de Habitação",
onde foram expostos os conceitos, princípios, diretrizes e programas
básicos da atuação federal na área habitacional,
assumindo, como compromisso de governo, os princípios que seriam
defendidos na referida Conferência (LORENZETTI, 2001).
No ano de 2001,
portanto, 5 anos após a realização do Habitat II,
realizou-se em Nova York uma Sessão Especial da Assembléia-Geral
das Nações Unidas para Revisão Geral e Avaliação
da Implementação do Resultado da Conferência Habitat
II, tendo sido chamada de "Conferência Istambul +5", onde compareceram
representantes de 171 países.
Além
de reafirmarem o compromisso com os princípios da Agenda Habitat,
os conferencistas concordaram em tomar medidas efetivas para o reconhecimento
dos que vivem sob ocupação colonial e estrangeira. Muitos
países admitiram que obtiveram pouco progresso nos cinco anos entre
os eventos, ficando constatado que o crescimento das favelas foi muito
rápidos nas cercanias das cidades asiáticas, africanas e
latino-americanas (HABITAT..., 2001).
O "Relatório
Nacional Brasileiro" para a "Conferência Istambul +5" apresentou
um déficit quantitativo de 5,6 milhões de unidades habitacionais
e informou que, naquele ano, existiam cerca de 13 milhões de moradias
urbanas com condições de saneamento básico precário.
Registrava ainda que, em 1998, havia por volta de 1,3 milhão de
domicílios localizados em áreas de assentamentos subnormais
[7],
sendo que 79,8% deste montante estariam concentrados em áreas metropolitanas
(SEDU/PR, 2001).
Com a finalidade
de realizar um balanço das ações posteriores a CNUMAD,
realizou-se em 1997, no Rio de Janeiro, o evento conhecido como "Rio+5".
Foi caracterizado pela forte participação empresarial e a
presença de apenas 50 ONGs. Segundo o Ministério do Meio-Ambiente
(1997), os objetivos fundamentais da "Conferência Rio+5" foram resumidos
a quatro:
Criar
uma nova estrutura para a operacionalização do desenvolvimento
sustentável, com a participação significativa da sociedade
civil e econômica;
Compartilhar
práticas bem sucedidas e valores para uma ação em
prol do desenvolvimento sustentável;
Produzir
recomendações para a criação e implantação
de programas locais e nacionais para sustentabilidade com base na Agenda
21;
Produzir
recomendações para a "governabilidade global" no marco do
desenvolvimento sustentável focalizando-se nos acordos, instituições
e organizações internacionais e regionais.
A participação
dos países foi restringida aos que já haviam constituído
um Conselho de Desenvolvimento Sustentável, conforme exigência
estabelecida na Agenda 21, sendo que o Brasil só teve sua participação
garantida antecipadamente por ter sido o anfitrião da "ECO-92".
Foi criada uma Câmara de Desenvolvimento Sustentável dentro
da Casa Civil da Presidência às vésperas da Conferência
Internacional, com a finalidade de viabilizar moralmente a participação
brasileira [8].
Como conclusão
principal do evento ficou patente que pouco foi realizado no espaço
de cinco anos entre as duas Conferências (SCHARF, 1997), e também
o avanço das participações da sociedade civil e das
autoridades municipais em relação aos princípios e
compromissos da Agenda 21 Global, enquanto que os representantes dos governos
nacionais quase nada apresentaram.
A "Conferência
de Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável", chamada
também de "Rio+10" por ter como objetivos principais a discussão
e elaboração de um balanço dos 10 anos sobre os acordos
firmados na "ECO-92" foi realizada de 26 de agosto a 04 de setembro do
ano de 2002, em Johanesburgo, África do Sul. Segundo Kofi Annan
(2002), secretário geral da ONU, a prioridade deste evento seria
o de conduzir a um reconhecimento global mais forte da importância
de se conquistar um equilíbrio sustentável entre a natureza
e a economia humana.
Gardner (2002)
em publicação especial do Wordwatch Institute (WWI) sobre
a "Rio+10" defende a idéia de que atualmente o meio-ambiente continua
a ser desvalorizado e cada vez mais degradado apesar de toda a teórica
preocupação mundial. Foram realizadas quatro reuniões
preparatórias, as PREPCOMs, sendo que não foi formatada uma
pauta definitiva de discussões para o evento devido à falta
de acordos. Segundo o Ministro do Meio-Ambiente do Brasil, presente a PREPCOM
4, realizada na cidade de Bali em junho de 2002, não houve neste
encontro a mesma determinação política verificada
na "RIO-92" (CAMPANILI, 2002).
A "Rio+10"
contou com a presença de 191 delegações oficiais e
produziu, após dez dias de amplos debates, dois documentos: o "Plano
de Ação" e a "Declaração de Johannesburgo".
As considerações sobre os resultados obtidos são polêmicas,
havendo um grande número de pessoas e organizações
que consideraram o evento um fracasso, ao mesmo tempo que apontam alguns
avanços na busca da sustentabilidade. Na avaliação
sobre a situação atual do planeta em comparação
à 1992 constatou-se o aumento da pobreza e da degradação
ambiental.
O assunto que
tornou-se um dos pontos centrais das discussões foi a proposta brasileira
de aumentar para 10% o total de fontes renováveis na matriz energética
dos países até 2010: esta questão não constava
da Agenda 21 e foi incluída no documento final com alterações
à proposta original, pois não houve consenso sobre as metas
percentuais e prazos expressos, ficando somente acordado a diversificação
de desenvolvimento de tecnologias energéticas mais avançadas
e limpas.
O "Plano de
Ação" formulado é composto de recomendações
e objetivos para conciliar o crescimento econômico, a justiça
social e a proteção do meio-ambiente, mas não apresenta
os instrumentos necessários para tal, sendo este um dos pontos negativos
a ser considerado.
NOTAS:
[1]
Engels redigiram o manuscrito A Ideologia Alemã no decorrer
dos anos de 1845 e 1846, publicado pela primeira vez no ano de 1933, em
Moscou e Leipzig. Apesar da pesquisa deste texto ter sido realizada em
publicação do ano de 2001, optou-se por evidenciar a data
de elaboração do manuscrito por acreditar-se que contribui
para a localização histórica, em termos temporais,
das idéias apresentadas.
[2]
A definição destes conceitos é investigada no item
seguinte.
[3]
Regina MEYER, 1996 - Painel F do II Encontro Nacional das Empresas de Arquitetura
e Engenharia Consultiva.
[4]
A sigla correspondente em inglês é UNCHS, pela qual é
comumente identificado.
[5]
Esta citação foi extraída do documento Agenda 21,
que tem como autor a Conferência das Nações Unidas
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Publicação da Secretaria
do Meio Ambiente do Governo do Estado de São Paulo.
[6]
A SEDU/PR foi extinta no início de 2003, com a incorporação
de suas funções ao Ministério das Cidades, criado
pelo novo governo eleito no final de 2002.
[7]
Entende-se aqui por assentamento subnormal as favelas e aglomerados semelhantes.
Academicamente esta designação tem sido alterada para assentamentos
especiais, conforme Grade Curricular da FAUUSP.
[8]
A Comissão de Políticas e de Desenvolvimento Sustentável
e da Agenda 21 Nacional (CPDS) foi criada oficialmente em 27 de fevereiro
de 1997. Dados a respeito são encontrados no item 2.3.1
- Agenda 21 Brasileira. |