ECONOMIA
Preço? O que é isso?
Prepare-se para rever todos
os seus conceitos de valor, oferta e demanda
Carlos Pimentel Mendes
Editor
Você
vai à loja de automóveis, escolhe modelo, cor, marca e faz
o preço, problema do vendedor aceitar ou não. Em seguida,
vai ao supermercado, escolhe os produtos que deseja e diz para o caixa:
só pago tal quantia, se quiser vender, tudo bem, é concordar
ou largar. Absurdo? Aí, passa no magazine,
e vê na etiqueta eletrônica se o preço daquela camisa
já baixou o suficiente para você resolver comprar. Futurista?
Passa a mão no telefone e vê se o governo daquele país
topou lhe vender aqueles títulos públicos pela sua oferta.
Irreal? A campainha toca, é o entregador
que veio lhe trazer um computador multimídia completo, oferecido
por uma empresa, sem custo algum para você. Impensável?
Mas, já está na hora de ir para o aeroporto, para visitar
aquele parente. Então, consulta o serviço de passagens para
ver se o bilhete aéreo, emitido pela décima parte do preço
normal, já pode ser retirado. Incrível?
Não, meu caro Jetson. Tudo
isso já está acontecendo, e os exemplos são apenas
uma amostra de como a relação de oferta e demanda de produtos
e serviços, e consequentemente o próprio conceito de preço,
estão sendo virados do avesso. Tempo é dinheiro? O que significa
isso, quando pelo computador você pode fazer lances para qualquer
produto ou serviço, em qualquer leilão do planeta (como no
pioneiro eBay) e agir de forma a revolucionar
o mercado de qualquer produto, em qualquer lugar e a qualquer tempo?
O próprio preço já
começa a ser vendido, tornando-se uma mercadoria. Você tem
a opção de pagar para que alguém pesquise produtos
e encontre a condição mais vantajosa de pagamento. Ou seja,
na prática você paga para... obter preços!
Inovações como essas
viram do avesso todo o conceito de preço, ao ponto da empresa não
mais poder usar preços para prever receitas. O fator tempo tem de
ser agregado ao valor: mesmo no caso dos commodities - produtos
de diversas origens que podem ser misturados, como diferentes safras de
trigo estocadas juntas num silo - o preço deixa de ser uniforme:
nos novos leilões, quem mais precisar vai fazer o maior lance pela
quantidade maior, em seguida quem precisa um pouco menos fará um
lance menor por uma parte do que sobrou e assim por diante, até
acabar o estoque.
Prepare-se para ouvir expressões
como precificação dinâmica, preço flexível,
"cartel" de compradores (é fácil, pela Internet, encontrar
outros interessados no mesmo produto que nós, e fazer um consórcio
de compradores para obter escala de compra e forçar a baixa do preço
desse produto). Sem preços fixos, a reposição da mercadoria
na prateleira significa nova negociação, resultando portanto
em preço maior ou menor do que o anterior - explique isso para o
freguês!
Comecemos pelo exemplo futurista
citado acima: já é coisa do presente. É conhecido
como leilão holandês: o preço de um produto vai sendo
reduzido a cada intervalo de tempo (de hora em hora, por exemplo), até
que alguém se disponha a comprar ou seja impossível reduzir
mais. Veja como funciona no site da PriceDrop.
É uma evolução das tradicionais promoções-relâmpago
que as grandes lojas anunciam pelos alto-falantes. Com a vantagem de que
você não precisa estar na loja para aproveitar. E, mesmo para
quem estiver fisicamente na loja, a tendência do uso de etiquetas
eletrônicas de preços permite que o lojista, a um clique no
mouse, faça uma liquidação, atualizando instantaneamente
os preços dos produtos.
Veja mais:
Quando
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É
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Muito
além dos shopping-centers
Um
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Gibraltar
traz ao Brasil o modelo dos leilões eBay |