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Publicado originalmente pelo editor de Novo Milênio no caderno Informática do jornal A Tribuna de Santos, em 2/2/1999.
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 01/07/00 14:06:59
BUG DO MILÊNIO
Governos crêem que não alertar sobre o caos ajuda a evitá-lo 

"Imagine-se uma companhia tentando fazer negócios com algum país no mundo, sem usar computadores. Todas usam computadores atualmente, e se alguém não puder usá-los por causa do Bug, eis o problema. Um dia, dois, uma semana, duas, quanto tempo mais até o caos? Alguma demora na primeira semana, uma demora maior na seguinte, os problemas se agravando, depois de três meses como estarão o abastecimento, a distribuição de combustíveis, os transportes?", pergunta o consultor William David Kiss IV, preocupado com o chegada de uma nova era de recessão mundial. Não é por acaso que a própria Cruz Vermelha Internacional já possui seu próprio manual sobre o Bug do Milênio.

Um estudo do Gartner Group afirma que todas as empresas brasileiras, sem exceção, serão de alguma forma afetadas pelo problema: ou diretamente, através de falhas em seus sistemas, ou indiretamente, por falhas atribuídas aos parceiros comerciais e financeiros. Várias corporações em todo o mundo, como estratégia de sobrevivência, estão treinando funcionários para a volta temporária aos métodos manuais, com máquina de escrever e outras formas de trabalho que não dependam de computadores, para o caso de alguma falha obrigá-las a paralisar os sistemas informatizados.

"O Bug não é um problema de computador, mas um problema gerencial, e afeta as economias de cada país num mundo globalizado, ao mesmo tempo. O que se aplica a uma companhia pode ser aplicado a um país", foi o alerta feito ao presidente norte-americano Bill Clinton, em agosto de 1998, em reunião na Academia Nacional de Ciências dos EUA pelo presidente do Comitê Ano 2000 do Senado Americano, Robert Bennett. Esse comitê foi criado há um ano e meio para acompanhar o problema do Bug do Milênio.

Caos mascarado – Apesar de seu potencial explosivo, o assunto vem sendo minimizado pelas autoridades, devido às enormes implicações envolvidas, em termos jurídicos, econômicos e sociais. Sabendo que podem ser acionadas juridicamente pelos usuários prejudicados, e que os competidores podem usar essas informações para conquistar seus clientes, as grandes companhias evitam comentar o problema e não o assumem. Há grandes implicações políticas e econômicas, por isso os governos também se calam, na crença de que assim evitam o caos.

O problema não acaba no ano 2000. Segundo estudos do Dr. Edward Yardeni, diretor-gerente do Deutsch Bank Securities em Nova Iorque, serão necessários pelo menos cinco anos até que todos os computadores dos Estados Unidos estejam compatíveis com o bug, e em todo o mundo o problema deve continuar existindo até o ano 2010.

Veja o exemplo: a Previdência Social dos Estados Unidos começou a cuidar do problema em 1994, e ainda não terminou. Hoje, seu maior problema não é emitir corretamente os cheques de pagamento aos pensionistas e aposentados, mas fazer com que eles cheguem ao destino de forma segura, passando por uma grande cadeia de entidades diversas, possuidoras de equipamentos não garantidos contra o Bug.

"Acho que se as pessoas forem educadas a pensar sobre o problema, elas começam a se preparar para enfrentá-lo, mas se a informação é pouca, e se faz menos ainda, estaremos criando um cenário perfeito para o caos", completa o especialista.

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