BUG DO
MILÊNIO
Dez anos para acabar com o bug
Sente-se
antes de continuar a leitura: não haverá tempo nem gente
especializada para corrigir todos os sistemas neste ano: a previsão
otimista é que o processo se estenda pelo menos até 2010
em todo o mundo. É preciso verificar cerca de 250 milhões
de PCs, 85 mil computadores de grande porte e 21 bilhões de eletro-eletrônicos
em
todo o mundo, a um custo estimado em US$ 1 trilhão 635 bilhões,
equivalente ao que teria sido gasto com três guerras do Vietnã.
Aliás, o Gartner Group, conceituada entidade de pesquisas do setor,
que inicialmente estimava um custo global de uns US$ 4 bilhões,
e depois refez o cálculo para dez vezes mais, hoje estima o valor
em US$ 4 trilhões (não é erro de cálculo: os
custos é que estão aumentando, com a falta de especialistas
no mercado para atender toda a demanda).
O sistema de uma pequena empresa
tem pelo menos 400 mil linhas de código-fonte, a serem depuradas.
Multiplique esse número pelo tempo médio de 2,6 segundos
para analisar cada linha. Mesmo trabalhando 24 horas ao dia a essa velocidade,
doze dias serão insuficientes. Mas, esta é apenas uma etapa
do processo, pois além da conferência dos programas é
necessário verificar fisicamente os equipamentos, corrigir os aplicativos
padronizados que a empresas utiliza, verificar as redes e estender o processo
de controle a todos os fornecedores, agentes financeiros etc.
Apenas para corrigir um conhecido
sistema composto por editor de textos, planilha de cálculos e banco
de dados, é necessário gastar em média quatro horas
por computador, e esse é apenas um passo entre sete etapas de verificação.
Multiplique esse tempo por um parque de centenas e até milhares
de computadores de uma grande corporação, e terá a
dimensão do enfarte que aguarda o seu gerente de informática...
Mais dinamite – Para completar
o quadro, se o leitor possui ou administra uma empresa com sistemas e computadores
compatíveis com o bug do ano 2000, experimente ler as letras
miúdas dos contratos de hardware e software. Descobrirá
estar provavelmente sendo vítima de um jogo de palavras numa pequena
cláusula, pela qual os fornecedores desses sistemas e equipamentos
mascaram outro problema. Como alerta William David Kiss IV, em inglês
a palavra compliant tem um sentido pleno, de total compatibilidade
durante todo o tempo. A palavra latina compatível não
tem o mesmo sentido pleno, dando a entender que a compatibilidade existe,
mas não necessariamente em todas as situações e em
todo o tempo.
Assim, muito administrador de rede
ou empresário que acredita estar livre do problema em seus sistemas
e equipamentos vai cair das nuvens, ao descobrir que essa não é
a realidade. Esse jogo de palavras esconde, por exemplo, que a maioria
dos computadores tem um relógio de tempo real (RTC) informando a
data errada e um BIOS (sistema básico do computador, aquele que
assume o controle assim que ele é ligado, para identificar os componentes
existentes) que recebe essa data e faz uma conversão. A maioria
dos programas vai buscar a informação de data no BIOS, e
não terá problemas com isso, mas existem casos documentados
de programas que sobrepassam o BIOS, buscando a informação
de data diretamente no relógio de tempo real, o RTC. Nesses casos,
mesmo sendo o computador compatível com o bug, a falha do
milênio surgirá.
No caso do software, esconde
por exemplo que ao ser iniciado o sistema pode ser rodado um pequeno programa
tipo TSR (Terminate and Stay Resident - ou seja, que fica residente
na memória) para conversão de datas: ele recebe a data errada
do BIOS e faz a correção, informando uma data correta ao
sistema. Todos os programas que utilizam a data do sistema funcionarão
normalmente, mas basta que um deles busque a data no BIOS ou no RTC e a
falha aparecerá. Ou então, que na primeira reinstalação
dos programas aquele TSR seja excluído por engano. Ou que, por alguma
outra razão, o TSR não seja carregado quando da inicialização
do sistema. Basta que um computador, por um pequeno período, funcione
sem o TSR ativo para todo o sistema estar comprometido.
Nas duas situações,
o problema será ainda mais grave, pois as pessoas estarão
imaginando que o sistema é seguro e vai passar muito tempo até
que alguém se lembre de rever os testes de certificação
contra o Bug do Milênio.
Veja mais:
Sem
bug!
Entenda
o problema... e fique arrepiado!
Verificação
é feita em sete níveis
Maioria
da organizações sequer sabe que o problema existe
Governos
crêem que não alertar sobre o caos ajuda a evitá-lo
Falha
foi prevista com muita antecedência |