A palestra de Jean Paul em Santos
"A Internet
recolocou o ser humano no centro do universo. Tudo aí está
para servir o ser humano. Das cinco tecnologias que mais devem mudar nossas
vidas hoje, nenhuma delas foi pensada há dez anos (exemplo: o telefone
celular). Logo, os computadores serão descartáveis, não
se vai mais ganhar dinheiro fazendo hardware. No futuro, tudo será
digital. Teremos uma sociedade de objetos que se comunicam entre si, equipamentos
onipresentes e até invisíveis, que captarão nossos
sentimentos, perceberão nossas necessidades e emoções
e agirão com base nessas informações." - São
alguns trechos da palestra que o divulgador da IBM, Jean Paul Jacob, realizou
no dia 29/11 em Santos, em dependências da Universidade Santa
Cecília (Unisanta).
"Em 1997, recebi um cartão
de Boas Festas com uma música natalina. Tinha um chip descartável
e custou R$ 2,00, com capacidade computacional maior do que o maior computador
do mundo de 1955. Hoje, uma folha de papel pode conter uma lanterna. Lojas
com produtos de um dólar têm relógios com microprocessadores,
mostrador de cristal líquido etc. E ainda são produtos caros.
Logo, os computadores serão descartáveis, uma câmera
já custa US$ 6. Não se vai mais ganhar dinheiro fazendo hardware,
pois os equipamentos terão valor muito pequeno", destacou, introduzindo
o tema "Ambientes atentos".
Nesse tópico, destacou que
em futuro próximo uma câmera de valor mínimo, com foco
na pupila, registrará o movimento dos olhos da pessoa. Por exemplo,
se fizer uma busca na Web por assuntos ligados a negócios eletrônicos,
serão encontradas 1.130.000 páginas, das quais as primeiras
dez são mostradas na tela. Acompanhando o movimento dos olhos, o
equipamento notará em que palavras a pessoa se fixou mais, e ao
mostrar as páginas seguintes já fará uma seleção
com base nesse indicador de interesse. Já se pode também
fixar a pupila em um ponto da tela e com isso levar o cursor até
esse ponto, dispensando o uso de um dispositivo apontador, como o mouse.
"O computador terá de tender
nossas emoções". Já foi desenvolvido um emotion
mouse, com sensores da temperatura do dedo, batimento cardíaco
e resistência galvânica da pele (que diminui quando transpiramos
- é o princípio do detetor de mentiras). Com esses dados,
pode-se saber o que a pessoa está sentindo (pressa, raiva, contentamento).
Um equipamento assim poderia perceber,
por exemplo, se um controlador de tráfego aéreo está
irritado, nervoso, o que poderia comprometer seu trabalho e colocar em
risco a segurança dos passageiros nos aviões. Um volante
com tais sensores poderia verificar se o motorista tem condições
de dirigir, evitando acidentes.
Mas, há outras aplicações
para os computadores sensíveis: como é a sensação
de se chegar a um ambiente e a porta se abrir automaticamente? Um ambiente
com tais sensores poderia fazer mais. Obtendo dados de um cartão
inteligente (smart card) transportado pela pessoa, poderia adequar as condições
de iluminação, temperatura e som ambiente às preferências
desa pessoa. Seria possível dizer a um telefone para que ligue para
alguém conhecido, sem precisar dizer o número. Num centro
de compras, a pessoa poderia passear usando um smart card com a informação
de que ela deseja adquirir determinado produto, e sensores das lojas poderiam
responder oferecendo esse produto.
"Da mesma forma como não preciso
dizer quem sou a cada vez que encontro minha esposa, um computador também
saberá quem sou eu, sem a necessidade de decorar e apresentar senhas",
lembrou o palestrante, citando que, da mesma forma, uma geladeira conectada
à Internet poderá sentir que está prestes a falhar
(a geladeira comum começa a vibrar quando isso acontece, só
precisaria captar essa vibração) e chamar a assistência
técnica para que providencie o conserto, sem que o usuário
precise fazer nada. O próprio conserto poderá ser transmitido
pela Internet, na forma de um software de reparo."
Dilúvio - Jean observou
que os próprios computadores vão mudar muito. Deu um exemplo,
comparando com o ato de tomar banho: se fosse da mesma forma como usamos
um computador, iniciaríamos o programa Águas-95, esperaríamos
cinco minutos para começar. No meio do banho tudo pára, o
banheiro fica completamente escuro, só uma janela azul com uma instrução
que você segue, mas nada acontece. Então, você aplica
a solução final. Aperta Control+Alt+Dilúvio e reinicia
o banho...
Em pouco tempo, os computadores ficarão
funcionando de forma constante, ou terão condições
de começar a funcionar imediatamente após serem ligados,
como o telefone em que se obtém linha assim que o fone é
tirado do gancho.
"Temos hoje mais de seis bilhões
de pessoas no mundo. Destas, só 20 milhões (0,83%) usam a
Internet. Mas esses 0,38% são pessoas felizes por terem acesso a
serviços que não tinham antes, desintermediando o processo
por saberem mais que os intermediários e, com isso, reduzindo custos.
A Nova Economia Digital obedece à lei simples da oferta e demanda:
o preço cai com maior oferta e aumenta com maior demanda. A Internet
está fazendo com que essa lei funcione efetivamente. O site Mercata
tem um gráfico de preço e demanda, permitindo uma sindicalizaçãoinstantânea
entre os internautas interessados em comprar um produto. A Priceline.com
vende produtos perecíveis como um quarto de hotel à meia-noite
ou um assento num avião prestes a partir. São produtos que
compensa vender por valor mínimo, pois horas depois já não
existirão. Assim, a Internet recolocou o ser humano no centro do
universo, tudo ali está para servir o ser humano.", destacou.
Das cinco tecnologias que mais devem
mudar nossas vidas hoje, nenhuma delas foi pensada há dez anos (exemplo:
o telefone celular). Um novo conceito que vem ganhando força é
o da computação pervasiva, em que o computador acompanha
a pessoa aonde quer que ela vá.
"A idéia é levar o
escritório conosco, mas transportar um notebook, um laptop ou um
e-book (livro eletrônico) não é sastisfatória,
tanto que não vejo ninguém aqui usando um laptop. Teremos
acesso à informação nos objetos comuns que usamos
atualmente: no Brasil, o exemplo é o telefone celular com WAP, mas
há mais de 300 objetos testados para a computação
pervasiva, como o relógio com Internet. Nesse sentido, um conceito
é que podemos ter numa tela minúscula os mesmos dados de
uma tela grande, desde que a definição seja altíssima.
Uma tela OLEP (sigla de Organic Light Emitting Diods) funciona como se
cada ponto fosse o terminal de uma fibra óptica."
O palestrante destacou também
a tecnologia Bluetooth, que conta com o apoio de 23 empresas para se tornar
um padrão, eliminando fios e cabos de conexão entre os equipamentos
ao usar um pequeno transmissor de rádio, de baixa potência
e com alcance de 5 a 10 metros. "Assim, poderei colocar o laptop no banco
de trás do carro e ele transmitir os e-mails recebidos para o rádio
do veículo, daí posso sintonizar a emissora com um grupo
específico de e-mails a ser lido."
Sociedade de objetos - Um
bom mercado de trabalho nos próximos anos será o de se adaptar
conteúdo da Web para ser visto em objetos como computadores Palm,
telefones celulares etc. Todos os objetos terão um chip de alguns
centavos, energizados por radiofreqüência, como no pedágio
automático, que reconhece o usuário e debita o valor sem
que ele precise parar o carro.
Na Suécia, onde já
foi abolido o uso de frentistas nos postos de gasolina, já é
usado um chip na tampa do tanque de gasolina do carro que orienta o braço
da bomba de combustível para o local de acoplagem. Então,
a bomba desatarraxa a tampa, injeta a gasolina e recoloca a tampa no carro,
enquanto o sistema debita a despesa, sem que o motorista precise sair do
carro (uma vantagem considerável no clima congelante daquele país).
Dentro de cinco a dez anos, um billhão
de pessoas se comunicarão pela Internet, enquanto um trilhão
de objetos formarão uma sociedade de objetos, se comunicando entre
si para pedir reposição de produtos, conserto etc.
Microeletrônica - Aliás,
a palavra Microeletrônica já praticamente não existe
mais, foi substituída pela sigla MEMS (Micro Electro Mechanical
Systems - microsistemas eletromecânicos). A IBM tem um chip com quatro
milhões de espelhos, dois mil pixels, que permite montar um videowall
numa parede (como quando dezenas de televisores são empilhados formando
essa parede, cada um transmitindo um pedaço da imagem ou imagens
diferentes, coordenadas).
Falando sobre os nanocomputadores,
Jean comentou: "Teremos motores e câmeras de televisão que
caberão num grão de poeira, flutuando da mesma forma. Expressões
como doenças da computação e alergia a poeira ganharão
novos sentidos..."
"Na ponta dos dedos, seguro um disco
rígido (HD) de 1 GB, que tem o tamanho de uma moeda de R$ 1,00.
Com ele, uma câmera digital Casio permite registrar oito mil fotografias
- ou vários minutos de vídeo, e com a tecnologia Bluetooth
transmiti-las para o computador. Não haverá mais diferença
entre câmera fotográfica e de vídeo, poderemos inclusive
programar filmagens sobrepostas, para captar um evento específico
que esteja na iminência de ocorrer.
"A cada ano, dobra a densidade na
armazenagem de dados: continuando assim, dentro
de 35 a 40 anos teremos um chip com a capacidade de cálculo de um
cérebro humano - o que não significa inteligência.
Poderemos carregar um cérebro no bolso, numa peça com cinco
polegadas quadradas que poderá processar 10^14 bits (10^11 neurônios,
cada um ligado a mil outros, como em nosso cérebro).
"Mas os grandes problemas da humanidade
não serão resolvidos assim, são problemas de saúde
e qualidade de vida. No caminho da cura dos males físicos, há
o Projeto Genoma, que é como um livro de receitas, cada receita
é um gene, uma fita com 22 cores diferentes, cada cor é um
aminoácido. Todas as nossas características são determinadas
por ela. Investimos US$ 100 milhões num supercomputador, o BlueGenie,
que ficará pronto em cinco anos. Ele demorará um ano para
dobrar (analisar) uma proteína.
"O poder dos atuais computadores
não é nada, vêm aí os computadores quânticos.
Em fevereiro deste ano, um pesquisador mostrou ser possível fazer
o movimento instantâneo de informações usando a miragem
atômica, feito possível pela computação
quântica. "Vejo um futuro sem computadores fisicamente presentes,
mas presentes em todos os lugares. A nova economia será de serviços,
ganha quem agrega informação", completou Jean Paul, convidando
o público a visitar o site dos laboratórios Almaden
da IBM, especialmente o setor de informática.
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IBM
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Série:
"História do computador/Computador
do futuro" (1997/98) |