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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 11/29/00 18:25:26
A palestra de Jean Paul em Santos 

"A Internet recolocou o ser humano no centro do universo. Tudo aí está para servir o ser humano. Das cinco tecnologias que mais devem mudar nossas vidas hoje, nenhuma delas foi pensada há dez anos (exemplo: o telefone celular). Logo, os computadores serão descartáveis, não se vai mais ganhar dinheiro fazendo hardware. No futuro, tudo será digital. Teremos uma sociedade de objetos que se comunicam entre si, equipamentos onipresentes e até invisíveis, que captarão nossos sentimentos, perceberão nossas necessidades e emoções e agirão com base nessas informações." - São alguns trechos da palestra que o divulgador da IBM, Jean Paul Jacob, realizou no dia 29/11 em Santos, em dependências da Universidade Santa Cecília (Unisanta).

Jean Paul analisou as perspectivas da computação para futuro próximo com base na tecnologia já disponível

"Em 1997, recebi um cartão de Boas Festas com uma música natalina. Tinha um chip descartável e custou R$ 2,00, com capacidade computacional maior do que o maior computador do mundo de 1955. Hoje, uma folha de papel pode conter uma lanterna. Lojas com produtos de um dólar têm relógios com microprocessadores, mostrador de cristal líquido etc. E ainda são produtos caros. Logo, os computadores serão descartáveis, uma câmera já custa US$ 6. Não se vai mais ganhar dinheiro fazendo hardware, pois os equipamentos terão valor muito pequeno", destacou, introduzindo o tema "Ambientes atentos".

Nesse tópico, destacou que em futuro próximo uma câmera de valor mínimo, com foco na pupila, registrará o movimento dos olhos da pessoa. Por exemplo, se fizer uma busca na Web por assuntos ligados a negócios eletrônicos, serão encontradas 1.130.000 páginas, das quais as primeiras dez são mostradas na tela. Acompanhando o movimento dos olhos, o equipamento notará em que palavras a pessoa se fixou mais, e ao mostrar as páginas seguintes já fará uma seleção com base nesse indicador de interesse. Já se pode também fixar a pupila em um ponto da tela e com isso levar o cursor até esse ponto, dispensando o uso de um dispositivo apontador, como o mouse.

"O computador terá de tender nossas emoções". Já foi desenvolvido um emotion mouse, com sensores da temperatura do dedo, batimento cardíaco e resistência galvânica da pele (que diminui quando transpiramos - é o princípio do detetor de mentiras). Com esses dados, pode-se saber o que a pessoa está sentindo (pressa, raiva, contentamento).

Um equipamento assim poderia perceber, por exemplo, se um controlador de tráfego aéreo está irritado, nervoso, o que poderia comprometer seu trabalho e colocar em risco a segurança dos passageiros nos aviões. Um volante com tais sensores poderia verificar se o motorista tem condições de dirigir, evitando acidentes.
Os anfiteatros I e II ficaram lotados durante a palestra
Mas, há outras aplicações para os computadores sensíveis: como é a sensação de se chegar a um ambiente e a porta se abrir automaticamente? Um ambiente com tais sensores poderia fazer mais. Obtendo dados de um cartão inteligente (smart card) transportado pela pessoa, poderia adequar as condições de iluminação, temperatura e som ambiente às preferências desa pessoa. Seria possível dizer a um telefone para que ligue para alguém conhecido, sem precisar dizer o número. Num centro de compras, a pessoa poderia passear usando um smart card com a informação de que ela deseja adquirir determinado produto, e sensores das lojas poderiam responder oferecendo esse produto.

"Da mesma forma como não preciso dizer quem sou a cada vez que encontro minha esposa, um computador também saberá quem sou eu, sem a necessidade de decorar e apresentar senhas", lembrou o palestrante, citando que, da mesma forma, uma geladeira conectada à Internet poderá sentir que está prestes a falhar (a geladeira comum começa a vibrar quando isso acontece, só precisaria captar essa vibração) e chamar a assistência técnica para que providencie o conserto, sem que o usuário precise fazer nada. O próprio conserto poderá ser transmitido pela Internet, na forma de um software de reparo."

Dilúvio - Jean observou que os próprios computadores vão mudar muito. Deu um exemplo, comparando com o ato de tomar banho: se fosse da mesma forma como usamos um computador, iniciaríamos o programa Águas-95, esperaríamos cinco minutos para começar. No meio do banho tudo pára, o banheiro fica completamente escuro, só uma janela azul com uma instrução que você segue, mas nada acontece. Então, você aplica a solução final. Aperta Control+Alt+Dilúvio e reinicia o banho...

Em pouco tempo, os computadores ficarão funcionando de forma constante, ou terão condições de começar a funcionar imediatamente após serem ligados, como o telefone em que se obtém linha assim que o fone é tirado do gancho.

"Temos hoje mais de seis bilhões de pessoas no mundo. Destas, só 20 milhões (0,83%) usam a Internet. Mas esses 0,38% são pessoas felizes por terem acesso a serviços que não tinham antes, desintermediando o processo por saberem mais que os intermediários e, com isso, reduzindo custos. A Nova Economia Digital obedece à lei simples da oferta e demanda: o preço cai com maior oferta e aumenta com maior demanda. A Internet está fazendo com que essa lei funcione efetivamente. O site Mercata tem um gráfico de preço e demanda, permitindo uma sindicalizaçãoMinúsculos chips como este e câmeras, que chegarão ao tamanho de um grão de poeira...instantânea entre os internautas interessados em comprar um produto. A Priceline.com vende produtos perecíveis como um quarto de hotel à meia-noite ou um assento num avião prestes a partir. São produtos que compensa vender por valor mínimo, pois horas depois já não existirão. Assim, a Internet recolocou o ser humano no centro do universo, tudo ali está para servir o ser humano.", destacou.

Das cinco tecnologias que mais devem mudar nossas vidas hoje, nenhuma delas foi pensada há dez anos (exemplo: o telefone celular). Um novo conceito que vem ganhando força é o da computação pervasiva, em que o computador acompanha a pessoa aonde quer que ela vá. 

"A idéia é levar o escritório conosco, mas transportar um notebook, um laptop ou um e-book (livro eletrônico) não é sastisfatória, tanto que não vejo ninguém aqui usando um laptop. Teremos acesso à informação nos objetos comuns que usamos atualmente: no Brasil, o exemplo é o telefone celular com WAP, mas há mais de 300 objetos testados para a computação pervasiva, como o relógio com Internet. Nesse sentido, um conceito é que podemos ter numa tela minúscula os mesmos dados de uma tela grande, desde que a definição seja altíssima. Uma tela OLEP (sigla de Organic Light Emitting Diods) funciona como se cada ponto fosse o terminal de uma fibra óptica."

O palestrante destacou também a tecnologia Bluetooth, que conta com o apoio de 23 empresas para se tornar um padrão, eliminando fios e cabos de conexão entre os equipamentos ao usar um pequeno transmissor de rádio, de baixa potência e com alcance de 5 a 10 metros. "Assim, poderei colocar o laptop no banco de trás do carro e ele transmitir os e-mails recebidos para o rádio do veículo, daí posso sintonizar a emissora com um grupo específico de e-mails a ser lido."

Sociedade de objetos - Um bom mercado de trabalho nos próximos anos será o de se adaptar conteúdo da Web para ser visto em objetos como computadores Palm, telefones celulares etc. Todos os objetos terão um chip de alguns centavos, energizados por radiofreqüência, como no pedágio automático, que reconhece o usuário e debita o valor sem que ele precise parar o carro.

Na Suécia, onde já foi abolido o uso de frentistas nos postos de gasolina, já é usado um chip na tampa do tanque de gasolina do carro que orienta o braço da bomba de combustível para o local de acoplagem. Então, a bomba desatarraxa a tampa, injeta a gasolina e recoloca a tampa no carro, enquanto o sistema debita a despesa, sem que o motorista precise sair do carro (uma vantagem considerável no clima congelante daquele país). 
 

Gene Genie
"It's a hundred times faster than the best serial  supercomputer. It's a billion times more energy efficient. It's a trillion times denser than the best storage media. It's a teaspoonful of DNA that's a computer! And  Leonard Adleman invented it."

Dentro de cinco a dez anos, um billhão de pessoas se comunicarão pela Internet, enquanto um trilhão de objetos formarão uma sociedade de objetos, se comunicando entre si para pedir reposição de produtos, conserto etc.

Microeletrônica - Aliás, a palavra Microeletrônica já praticamente não existe mais, foi substituída pela sigla MEMS (Micro Electro Mechanical Systems - microsistemas eletromecânicos). A IBM tem um chip com quatro milhões de espelhos, dois mil pixels, que permite montar um videowall numa parede (como quando dezenas de televisores são empilhados formando essa parede, cada um transmitindo um pedaço da imagem ou imagens diferentes, coordenadas). 

Falando sobre os nanocomputadores, Jean comentou: "Teremos motores e câmeras de televisão que caberão num grão de poeira, flutuando da mesma forma. Expressões como doenças da computação e alergia a poeira ganharão novos sentidos..."

"Na ponta dos dedos, seguro um disco rígido (HD) de 1 GB, que tem o tamanho de uma moeda de R$ 1,00. Com ele, uma câmera digital Casio permite registrar oito mil fotografias - ou vários minutos de vídeo, e com a tecnologia Bluetooth transmiti-las para o computador. Não haverá mais diferença entre câmera fotográfica e de vídeo, poderemos inclusive programar filmagens sobrepostas, para captar um evento específico que esteja na iminência de ocorrer. 

"A cada ano, dobra a densidade na armazenagem de dados: continuando assim, 'Em minha mão, um disco rígido com a capacidade de 1 GB'...dentro de 35 a 40 anos teremos um chip com a capacidade de cálculo de um cérebro humano - o que não significa inteligência. Poderemos carregar um cérebro no bolso, numa peça com cinco polegadas quadradas que poderá processar 10^14 bits (10^11 neurônios, cada um ligado a mil outros, como em nosso cérebro).

"Mas os grandes problemas da humanidade não serão resolvidos assim, são problemas de saúde e qualidade de vida. No caminho da cura dos males físicos, há o Projeto Genoma, que é como um livro de receitas, cada receita é um gene, uma fita com 22 cores diferentes, cada cor é um aminoácido. Todas as nossas características são determinadas por ela. Investimos US$ 100 milhões num supercomputador, o BlueGenie, que ficará pronto em cinco anos. Ele demorará um ano para dobrar (analisar) uma proteína.

"O poder dos atuais computadores não é nada, vêm aí os computadores quânticos. Em fevereiro deste ano, um pesquisador mostrou ser possível fazer o movimento instantâneo de informações usando a miragem atômica, feito possível pela computação quântica. "Vejo um futuro sem computadores fisicamente presentes, mas presentes em todos os lugares. A nova economia será de serviços, ganha quem agrega informação", completou Jean Paul, convidando o público a visitar o site dos laboratórios Almaden da IBM, especialmente o setor de informática.

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Série: "História do computador/Computador do futuro" (1997/98)