Comm. Alfaya Rodrigues (João Manoel Alfaya Rodrigues) - Nasceu em Santos a 13 de abril de 1850, e era filho legítimo de dom João Manoel Alfaya Rodrigues, fidalgo espanhol com carta de
brasões, vindo para o Brasil em 1830, e de d. Camilla Leite de Oliveira Alfaya.
Seus primeiros estudos foram feitos em S. Paulo, no Seminário Episcopal da Luz (fundado pelo bispo d. Antonio de Mello), do qual foi um dos primeiros alunos, aos 10 anos de idade. Ano e meio depois, fechada aquela
escola temporariamente, pela epidemia reinante, passou para o afamado Colégio Galvão, onde estudou cerca de 2 anos. Daí passou para o Curso anexo da Faculdade de Direito, visto não haver ginásios então. Aí fez o curso de preparatórios durante 2
anos. Voltou para Santos depois disso, onde ingressou na vida comercial, como ajudante de seu pai, na tradicional casa que este mantinha. Sua vida foi uma constante atividade e suas empresas foram inumeráveis.
Durante a guerra do Paraguai, quando a Santa Casa de Santos se debatia em tremenda crise, sem patrimônio e sem
rendas, foi ele que lhe valeu, correndo todas as quartas-feiras o alto comércio local, recolhendo donativos, em listas sempre abertas por seu pai, Nicolau Vergueiro e o visconde de Embaré, a 10$000 cada um, reunindo importâncias que foram
suficientes para sustentar o velhíssimo hospital, durante aqueles negros anos.
Aos 23 anos, pela Carta Patente de 19 de abril de 1873, o imperador d. Pedro nomeava-o capitão-secretário do Comando Superior do Município de Santos e Anexos da Província de São Paulo. A 4 de agosto do mesmo ano,
era nomeado delegado de polícia da cidade, lugar que ocupou durante dois anos e que ocupava durante a grande epidemia de varíola de 1874, quando o governo provincial o encarregou da assistência e socorro à população, tendo prestado grandes serviços
a Santos, organizando hospitais, secundando os médicos em todos os setores a ponto de ser condecorado pelo governo imperial com a venera de Cavaleiro da Imperial Ordem da Rosa (por serviços prestados à Humanidade), louvado em ofício nos termos mais
honrosos.
A condecoração (uma peça de ouro cravejada de brilhantes) foi adquirida pelo povo, em subscrição pública, tendo falado em nome deste, por ocasião da entrega, o notável padre Francisco Gonçalves Barroso (capelão de
Santo Antonio do Valongo, jornalista, abolicionista e republicano).
Foi reformado no posto de capitão, com acesso a major, pelo marechal Floriano, a 4 de outubro de 1894.
Foi juiz municipal em 1875, 1876 e 1880, exercendo durante um triênio as varas de Comércio, Órfãos, Provedoria etc., funcionando também como substituto do juiz de direito da comarca.
Foi delegado de polícia pela 2ª vez, em 1877. Foi inspetor da Instrução em Santos, por nomeação de 27/6/1878. Foi fundador, com o visconde de Vergueiro, visconde de Embaré e outros, da antiga "Praça do Commércio",
hoje Associação Comercial de Santos, a benemérita instituição da cidade.
A 6 de março de 1887, foi nomeado pela regente, princesa Isabel, diretor oficial, encarregado da Imigração em Santos, sendo então o organizador do movimento imigratório oficial de São Paulo. Feita a Abolição, a
convite de Rodrigo Silva e conselheiro Rodrigues Alves, continuou exercendo o mesmo cargo, no qual foi confirmado também pela República, depois de sua proclamação.
Nessa qualidade, recebeu em Santos centenas de milhares de imigrantes estrangeiros. De 1885 a 1886, por nomeação do governo provincial, de parceria com o cel. Francisco Martins dos Santos, tomou parte nos estudos
da qualidade das terras do município, sua produção e propriedades minerais, organizando relatórios e estatísticas que foram enviadas ao governo, realizando na mesma ocasião o recenseamento demográfico municipal, que foi o último do Império.
Foi, em 1889, um dos fundadores do Asilo de Órfãos de Santos, sendo mais tarde seu vice-presidente, cargo que
ocupa até hoje, há quarenta anos. Entusiasta da Aviação, foi um dos fundadores e presidente da primeira Escola de Aviação Santista, mais tarde desaparecida.
De 1908 em diante, fez parte das Câmaras Municipais desse ano a 1911, de 1913 a 1916, de 1916 a 1919, e de 1922 a 1925, figurando como vice-presidente e presidente em algumas, e sendo sempre um dos principais
membros do Diretório Político local.
Fez muitas viagens à Europa. Fez parte do Congresso Mariano em Roma, como deputado católico ao Vaticano, no jubileu da coroação da Imaculada Conceição, sendo agraciado pelo papa com a Dignitária da Cruz de
Benemerência. A 5 de junho de 1912, estava em Toledo, onde assistiu à colocação da lápide comemorativa de ali se achar sepultado o santista padre Bartholomeu Lourenço de Gusmão.
Em 1923 fez parte da grande comissão que foi à Argentina e ao Chile, a fim de retribuir a gentileza daqueles países, enviando uma representação às comemorações brasileiras do centenário da Independência. Em Buenos
Aires, foi eleito presidente da mesma comissão, por sua habilidade diplomática e conhecimento profundo de vários idiomas, inclusive o castelhano.
Em Valparaíso fez o discurso oficial da inauguração do monumento ao almirante Cochrane, declarando ao povo do país amigo que a figura do famoso almirante inglês era particularmente grata ao seu país, porque a
história brasileira incluía o seu nome entre os nomes daqueles que mais concorreram para a Independência do Brasil. Foi tão grata a sua atuação no Chile, que mereceu da Municipalidade chilena o título de membro honorário do Conselho Municipal da
cidade, e a insígnia do Mérito de 1ª Classe da República.
É o mais velho dos irmãos vivos, e o mais antigo, da Ordem Terceira de S. Francisco da Penitência, sendo ministro jubilado da mesma. É o único fundador vivo da
Associação Comercial de Santos, como também o mais antigo dos irmãos vivos da Irmandade da Misericórdia de Santos, e seu Grande Benemérito.
Damos com prazer a relação dos seus títulos e condecorações, como demonstração de sua pujante atuação na vida social de sua terra: membro de honra da Sociedade dos Estudos Portugueses da França, membro de
honra da Sociedade União-Latino-Americana da França, membro da Academia de História Internacional de Paris, sócio honorário do Aero Clube de Portugal, sócio correspondente da Sociedade de Geografia de Lisboa, sócio correspondente do Instituto
Histórico e Geográfico de São Paulo, membro honorário da Academia Aeronáutica Bartholomeu de Gusmão, de Paris, representante da Santa Sé em missão protetora da imigração italiana no Estado de S. Paulo, membro honorário do Conselho Municipal de
Santiago do Chile, com medalha de ouro, presidente honorário da Associação de Pais e Mestres do Grupo Visc. de S. Leopoldo, sócio honorário do Real Centro Português, benfeitor da Sociedade Portuguesa de Beneficência, sócio honorário da Sociedade Recreio Juvenil de Campinas, sócio honorário da Associação
Beneficente dos Empregados da Cia. Docas de Santos, sócio benfeitor do Real Centro Espanhol de Santos, sócio benemérito da Sociedade Espanhola de Socorros Mútuos e Instrução de Santos, e sócio
honorário da Sociedade Beneficente dos Chauffeurs de Santos.
Condecorações - Cavaleiro da Imperial Ordem da Rosa do Brasil; comendador da Imperial Ordem da Rosa do Brasil; cavaleiro da Real e Distinguida Ordem de Carlos III da Espanha; comm. da Real Ordem de Isabel, a
Católica, de Espanha; medalha de Benemerência e Diploma do Papa Pio X; comm. da Cruz pró-Ecclesie et Pontifice, de Leão XIII; comendador da Real Ordem da Coroa da Itália, pelo rei Vittorio Emmanuele III e Benito Mussolini; Insígnia do Mérito de 1ª
Classe da República do Chile e mais algumas.
Este venerado santista foi, sem exagero algum, o autor direto de quase todos os monumentos de Santos, que nele tiveram o iniciador da idéia e seu melhor paladino, principalmente os monumentos de
Braz Cubas e de Bartholomeu de Gusmão, sendo que, para a ereção deste, conseguiu donativos do Aero Clube da França e do Aero Clube de Portugal, além das
dotações municipais, estaduais e federais.
Um dos principais serviços prestados a Santos pelo comm. Alfaya foi, entretanto, e indiscutivelmente, a criação do Imposto Predial, cujo projeto apresentou, como vereador, à Câmara de 1877, por tê-lo visto na
Europa. Santos era paupérrima então, e não possuía verba alguma para melhoramentos locais. Seu projeto teve o apoio da Assembléia Provincial daquela época e venceu,beneficiando-se Santos, pouco depois, com a renda por tal meio auferida. E basta que
se saiba que tal imposto rende, hoje, a importância de cerca de 7 ou 8 mil contos ao município, para bem se aquilatar do benefício prestado à sua terra por este santista.
Santos foi a primeira cidade do Estado e talvez do Brasil que teve tal imposto, e, logo que ecoou essa notícia, outras cidades o desejaram e obtiveram, valendo-se do precedente santista.
O comm. Alfaya Rodrigues foi cônsul da República Argentina mais de dez anos, e é cônsul da Guatemala há mais de quarenta anos. Reside em Santos, à antiga Rua de Santo Antonio (hoje do Comércio), com a idade de 99
anos, quase cego e surdo mas ainda com energias físicas e uma extraordinária memória, constituindo uma crônica viva, um almanaque de sua terra.
Comendador Alfaya
Imagem publicada com a matéria de A Tribuna em 26/1/1939
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