Galeria dos homens públicos
Esta galeria não é muito extensa em Santos, porque o santista parece ter sido
sempre infenso ou refratário às posições de ordem política, preferindo deixar tais postos a cidadãos de fora, vindos de outras terras. Pode-se dizer
também que, consciente da verdade dogmática do velho axioma "ninguém é profeta em sua terra", o santista que se sentia com valor e forças para
aparecer melhor e crescer, deixava Santos e ia se tornar homem público em outros lugares. Daí a longa lista de eminentes homens públicos de Santos,
em S. Paulo, no Rio de Janeiro e até fora do país, em todas as épocas.
Homens públicos em Santos, foram, nos últimos 100 anos, entre outros, o visconde de
Vergueiro, Lacerda Franco, Ignácio Wallace da Gama Cochrane, dr. Henrique da Cunha Moreira, comm. Antonio Ferreira da Silva, dr. João Galeão
Carvalhal, Carvalho de Mendonça, Júlio Conceição, Almeida Moraes, Azevedo Júnior etc., todos com bastantes serviços prestados à cidade, mas todos
nascidos fora de Santos.
Os nascidos em Santos e que aqui ficaram foram
poucos, contando-se entre todos, do princípio do século passado até hoje: Francisco Xavier da Costa Aguiar, João Baptista da Silva Bueno, Xavier
Pinheiro (o filho), José Antonio Vieira Barbosa, Barnabé Francisco Vaz de Carvalhaes, João Octávio dos Santos, Hygino José Botelho de Carvalho,
Henrique Porchat, Américo Martins dos Santos e mais alguns, de que são uma boa síntese os quatro biografados que ilustram a nossa galeria, a seguir:
Conselheiro
comendador Martins (cap. Antonio Martins dos Santos) - Nasceu em Santos a 16 de agosto de 1792, como filho legítimo do licenciado, cirurgião-mor
do Iguatemy, Manoel Martins dos Santos Rego, e de d. Ângela Ferreira Prestes, de distinta família de Sorocaba.
Fez seus primeiros estudos em S. Paulo, onde também cursou as escolas superiores da época.
Depois voltou para Santos, onde entrou a desempenhar os mais importantes cargos públicos, ao mesmo tempo que geria sua casa comercial e sua fazenda
de chá, em S. Bernardo.
Companheiro e amigo dos Andradas, foi um dos conspiradores santistas, nos pródromos da
Independência, sendo agraciado por d. Pedro I, por sua atuação nos acontecimentos de Santos, com o grau de cavaleiro professo da Ordem de Cristo; Em
1827, na inauguração da estrada de rodagem de Santos para S. Paulo, foi nomeado administrador do Contrato e Barreira do Cubatão, cargo de confiança
do governo provincial, sendo nomeado também administrador de todas as obras executadas.
Criados pela Constituição do Império, artigos 71 a 89, da lei de 17 de agosto de 1828,
os Conselhos gerais das províncias, que duraram por três legislaturas e até o ano de 1834, cujo fim era orientar o governo provincial e dar
conselhos ao imperador sobre as conveniências do Império relativamente às províncias que representavam, foi o comm. Martins eleito conselheiro por
São Paulo, na 2ª e 3ª legislaturas, ao lado do marquês de S. Vicente, de Diogo Feijó, marquês de Caravellas, marquês de Monte Alegre, brigadeiro
Jordão, Vicente Pires da Motta, brigadeiro Tobias, Gavião Peixoto e outros grandes do Império.
Com a organização dos municípios, foi eleito para a primeira Câmara de Santos em 1829,
denominada "Câmara dos Padres" por conter 4 sacerdotes, dos quais um era irmão dos Andradas, o padre Patrício Manoel de Andrada e Silva. Aí ficou o
comm. Martins até 1834, quando passou para o Conselho Provincial.
Depois da primeira legislatura municipal, fez parte, também, por eleição, das
legislaturas de 1834, de 1841, de 1842/44, de 1844/47, de 1849/52, de 1852/54, de 1854/55 e de 1856, tendo sido presidente de 1844 a 1847, e
presidente provisório em outras.
Extintos os Conselhos Provinciais e criada a Assembléia Provincial, pelo Ato Adicional
de 12 de agosto de 1834, foi o comm. Martins eleito deputado à 1ª legislatura, entre os 36 membros de que se compunha a referida Assembléia, tendo
sido eleito também, na 2ª e na 3ª legislaturas, ao lado dos mais eminentes cidadãos do tempo.
Foi provedor da Santa Casa da Misericórdia de Santos, de 1832 a 1833 e de 1835 a 1836,
tendo sido o realizador principal, nessas duas gestões, do hospital provisório da mesma, instalado nas casas de Antonio José Vianna, e do hospital
definitivo, o terceiro hospital próprio da Misericórdia, instalando-o ao sopé do Monte Serrate, contra a vontade e sob a oposição de eminentes
companheiros e beneméritos do hospital, como Martim Francisco, Cláudio Luís da Costa e tantos outros, hospital esse que completou, em 1936, o seu
centenário de instalação, sob grandes festas, procurando a sua direção, entretanto, e não se sabe por qual motivo, dar as glórias de tal feito ao
conselheiro Cláudio Luís da Costa, que era, exatamente, contra a sua construção naquela época, embora voltasse atrás depois, e fosse o seu
inaugurador em setembro de 1836, como novo provedor.
Em 1846, por ocasião da visita do imperador a Santos, foi, como presidente da Câmara,
encarregado pelo governo da Província de recebê-lo com todas as honras, o que fez, realizando uma subscrição pública, que rendeu mais do que toda a
receita municipal de um ano, a fim de não pesar ao município e ao Estado, e com a qual fez todas as despesas necessárias, engalanando a cidade e
oferecendo um grande banquete ao imperador, no Cubatão, na Casa Grande da Barreira.
Nessa ocasião, quis o imperador dar-lhe o título de barão da Barreira, lembrando a
administração exercida pelo santista, título esse que ele delicadamente recusou, aceitando apenas a comenda da Ordem de Cristo e o seu Hábito maior,
uma vez que já era cavaleiro, e o título honorífico de Guarda da Serra da Maioridade, que aludia à sua fidelidade de servidor e à proposta de
Antonio Carlos Ribeiro de Andrada, que marcava o início da vida imperial do então monarca.
Nessa ocasião, inaugurou o comm. Martins o famoso chafariz da Coroação, que ficava no
antigo Largo da Misericórdia, cujo nome mudou também para Largo da Coroação, em homenagem ao imperante, chafariz que jorrou vinho puríssimo no
primeiro dia, e que fora feito por subscrição pública e com donativo especial da marquesa de Santos.
O comm. Martins foi Eleitor da paróquia durante muitos anos, com a atribuição de
indicar e eleger os deputados regionais às Legislaturas Estaduais, e membro do Tribunal do Comércio do Rio de Janeiro, tendo sido sempre um dos
chefes da política santista e seu principal orientador.
Faleceu em sua fazenda do Ponto Alto, em S.
Bernardo, a 24 de abril de 1861.
Cesário Bastos (dr. José
Cesário da Silva Bastos) - Nasceu em Santos, a 16 de setembro de 1849, sendo filho legítimo de Antonio José da Silva Bastos e de d. Maria
Plácida da Costa Bastos.
Fez seus primeiros estudos em Santos, seguindo depois para São Paulo, onde foi discípulo do
ilustre santista dr. Victorino de Brito, entrando depois para a Faculdade de Direito, na qual se formou em 1872.
Pouco depois era nomeado promotor público em Araraquara, cargo que deixou para poder
ingressar na corrente republicana, formando, então, naquela cidade, e em companhia de vários amigos do mesmo ideal, o Partido Republicano
Araraquarense, que chefiou até proclamar-se a República.
Passou então para Santos, onde assumiu importante papel na política local, sendo
eleito para o Conselho de Intendência, a 14 de março de 1891, com Júlio Conceição, Ricardo Pinto de Oliveira, Narciso de Andrade, José Augusto
Pereira e outros.
Nesse mesmo ano foi eleito deputado à Constituinte paulista, ao lado de Vicente de
Carvalho, onde fez parte da Comissão de Fazenda, apresentando, com alguns companheiros da mesma Comissão, o primeiro orçamento do Estado. Fez parte,
também, da Comissão de Legislação, apresentando aí, de colaboração com os demais membros da mesma, a importante reforma judiciária.
A 29 de setembro de 1892 era eleito para a Câmara local, na legislatura de 1892 a
1896, sendo feito presidente da mesma. Nessa ocasião foi o grande impulsionador da instrução primária oficial. Conseguiu Cesário Bastos a criação do
primeiro Grupo Escolar, que recebeu o seu nome, grupo que fez entregar à competência do mestre que era Carlos Escobar, e que hoje funciona em um dos
maiores e mais belos edifícios da cidade, em Vila Mathias.
Conseguiu, também, a criação definitiva da Escola Barnabé, e a fiel observância das
cláusulas de Barnabé Vaz de Carvalhaes, no legado feito para tal fim, como conseguiu também a criação do Grupo Escolar do Macuco, únicos existentes
durante muitos anos, como marcos iniciais da instrução pública municipal.
Foi o realizador responsável por inúmeros melhoramentos santistas, como a construção
das avenidas Ana Costa e Conselheiro Nébias, que entregou concluídas ao Município, o Mercado Municipal, que saneou e drenou toda a região da Vila
Nova e antigo Cemitério dos Ingleses.
Foi chefe do Diretório Republicano de Santos durante muitos anos, criando a chamada
corrente "cesarista", que vencia sempre em eleições disputadíssimas e agitadas.
Em 1894 foi eleito senador estadual, na 3ª legislatura republicana, servindo de 1894 a
1897. Em 1900, a 31 de dezembro, era eleito novamente para o Senado, na 5ª legislatura, de 1900 a 1903, sendo-o ainda na 7ª, de 1907 a 1910, ao lado
de Cândido Rodrigues, Fernando Prestes, Cerqueira César, Bento Bicudo, Ignácio Uchôa, Bernardino de Campos e outros, e, finalmente, na 1ª de 1922 a
1925, depois da reforma constitucional, com Reynaldo Porchat, Cândido Motta, Bento Bueno, Galeão Carvalhal, Antonio Carlos da Silva Telles e outros.
O dr. Cesário Bastos faleceu em S. Paulo a 8 de outubro de 1937, na avançada idade de
88 anos.
Cesário Bastos
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Visconde de Embaré (Antonio Ferreira da Silva Júnior) - Nasceu em Santos, a 21 de dezembro de 1824, como filho legítimo do comm. Antonio
Ferreira da Silva. Fez todos os seus estudos em Santos, não obstante a grande fortuna de seu pai, plasmando o seu caráter e sua vida, na escola da
atividade, da honradez e da filantropia seguida por seu progenitor (N.E.: na verdade, genitor, pai, e não progenitor,
avô).
Dedicou-se à carreira comercial e ocupou em Santos todos os cargos públicos de nomeação e
eleição, desde o de coronel comandante da antiga milícia até o de delegado de polícia. Foi vereador muitos anos, nas legislaturas de 1862, 1863,
1864, 1865, 1866, 1867, 1868 e 1869 a 1873, presidente da Câmara algumas vezes, sendo um dos chefes do antigo Partido Conservador. Foi deputado
provincial na legislatura de 1854 a 1855, representando o distrito de Santos.
Amante acérrimo da instrução popular, considerava-a o termômetro que marcava o grau de
adiantamento de um povo e de sua civilização, e, assim, procurou sempre, na medida de suas forças e de seu prestígio político, difundir o
conhecimento das primeiras letras pela população local, auxiliando a administração pública, no que foi sempre secundado pelo benemérito visconde de
Vergueiro. Fez, para tal fim, várias doações, e entre elas a de um excelente prédio para a instalação de um grupo escolar municipal, que foi aquele
onde esteve muitos anos o Grupo Olavo Bilac, com a Inspetoria da Instrução anexa, demolido no ano passado para construção da atual Caixa Econômica
Estadual, à Rua D. Pedro II.
Espírito progressista, foi ainda com o visconde de Vergueiro, o dr. Cochrane, seu pai,
o comm. Antonio Ferreira da Silva, Henrique Leuba e outros, um dos fundadores principais da antiga "Praça do Commércio", hoje a grande, benemérita e
acatadíssima Associação Comercial de Santos, que assiste, orienta e protege os altos interesses comerciais da cidade.
Em 1846, muito moço ainda, recebeu, com seu pai, e o comm. Martins, presidente da
Câmara, SS. Altezas, os imperadores do Brasil.
Em 1876, sendo já mortos aqueles dois cidadãos, por ocasião da nova visita imperial a
Santos, recebeu em seu solar da Rua Direita e em sua grande chácara da Barra, d. Pedro II e sua comitiva. Nessa ocasião, ele, que já fora feito
barão em 1862, recebeu de d. Pedro o título de visconde.
Foi um dos grandes provedores da Santa Casa da Misericórdia de Santos, em 1880 em 1881
e em 1882.
Construiu, em 1875, na praia de Embaré, junto à sua chácara, a primitiva capela de
Santo Antonio do Embaré, inaugurada a 19 de outubro daquele ano pelo vigário de Santos, o cônego Scipião Junqueira, mais tarde reformada pelo padre
Gastão de Moraes e ultimamente pelos franciscanos que a ocuparam, e que lhe deram grandes proporções e notável aspecto.
Homem culto, versado em lingüística, tendo feito várias viagens à Europa, em recreio,
foi sempre um decidido protetor das letras e das artes, além da proteção que naturalmente dispensava às instituições de assistência e caridade.
Faleceu no Rio de Janeiro, para onde se transferiu
nos últimos anos, a 21 de dezembro de 1887.
Comm. Alfaya
Rodrigues (João Manoel Alfaya Rodrigues) - Nasceu em Santos a 13 de abril de 1850, e era filho legítimo de dom João Manoel Alfaya Rodrigues,
fidalgo espanhol com carta de brasões, vindo para o Brasil em 1830, e de d. Camilla Leite de Oliveira Alfaya.
Seus primeiros estudos foram feitos em S. Paulo, no Seminário Episcopal da Luz (fundado pelo
bispo d. Antonio de Mello), do qual foi um dos primeiros alunos, aos 10 anos de idade. Ano e meio depois, fechada aquela escola temporariamente,
pela epidemia reinante, passou para o afamado Colégio Galvão, onde estudou cerca de 2 anos. Daí passou para o Curso anexo da Faculdade de Direito,
visto não haver ginásios então. Aí fez o curso de preparatórios durante 2 anos. Voltou para Santos depois disso, onde ingressou na vida comercial,
como ajudante de seu pai, na tradicional casa que este mantinha. Sua vida foi uma constante atividade e suas empresas foram inumeráveis.
Durante a guerra do Paraguai, quando a Santa Casa de Santos se debatia em tremenda
crise, sem patrimônio e sem rendas, foi ele que lhe valeu, correndo todas as quartas-feiras o alto comércio local, recolhendo donativos, em listas
sempre abertas por seu pai, Nicolau Vergueiro e o visconde de Embaré, a 10$000 cada um, reunindo importâncias que foram suficientes para sustentar o
velhíssimo hospital, durante aqueles negros anos.
Aos 23 anos, pela Carta Patente de 19 de abril de 1873, o imperador d. Pedro nomeava-o
capitão-secretário do Comando Superior do Município de Santos e Anexos da Província de São Paulo. A 4 de agosto do mesmo ano, era nomeado delegado
de polícia da cidade, lugar que ocupou durante dois anos e que ocupava durante a grande epidemia de varíola de 1874, quando o governo provincial o
encarregou da assistência e socorro à população, tendo prestado grandes serviços a Santos, organizando hospitais, secundando os médicos em todos os
setores a ponto de ser condecorado pelo governo imperial com a venera de Cavaleiro da Imperial Ordem da Rosa (por serviços prestados à Humanidade),
louvado em ofício nos termos mais honrosos. A condecoração (uma peça de ouro cravejada de brilhantes) foi adquirida pelo povo, em subscrição
pública, tendo falado em nome deste, por ocasião da entrega, o notável padre Francisco Gonçalves Barroso (capelão de Santo Antonio do Valongo,
jornalista, abolicionista e republicano).
Foi reformado no posto de capitão, com acesso a major, pelo marechal Floriano, a 4 de
outubro de 1894.
Foi juiz municipal em 1875, 1876 e 1880, exercendo durante um triênio as varas de
Comércio, Órfãos, Provedoria etc., funcionando também como substituto do juiz de direito da comarca.
Foi delegado de polícia pela 2ª vez, em 1877. Foi inspetor da Instrução em Santos, por
nomeação de 27/6/1878. Foi fundador, com o visconde de Vergueiro, visconde de Embaré e outros, da antiga "Praça do Commércio", hoje Associação
Comercial de Santos, a benemérita instituição da cidade.
A 6 de março de 1887, foi nomeado pela regente, princesa Isabel, diretor oficial,
encarregado da Imigração em Santos, sendo então o organizador do movimento imigratório oficial de São Paulo. Feita a Abolição, a convite de Rodrigo
Silva e conselheiro Rodrigues Alves, continuou exercendo o mesmo cargo, no qual foi confirmado também pela República, depois de sua proclamação.
Nessa qualidade, recebeu em Santos centenas de milhares de imigrantes estrangeiros. De
1885 a 1886, por nomeação do governo provincial, de parceria com o cel. Francisco Martins dos Santos, tomou parte nos estudos da qualidade das
terras do município, sua produção e propriedades minerais, organizando relatórios e estatísticas que foram enviadas ao governo, realizando na mesma
ocasião o recenseamento demográfico municipal, que foi o último do Império.
Foi, em 1889, um dos fundadores do Asilo de Órfãos de Santos, sendo mais tarde seu
vice-presidente, cargo que ocupa até hoje, há quarenta anos. Entusiasta da Aviação, foi um dos fundadores e presidente da primeira Escola de Aviação
Santista, mais tarde desaparecida.
De 1908 em diante, fez parte das Câmaras Municipais desse ano a 1911, de 1913 a 1916,
de 1916 a 1919, e de 1922 a 1925, figurando como vice-presidente e presidente em algumas, e sendo sempre um dos principais membros do Diretório
Político local.
Fez muitas viagens à Europa. Fez parte do Congresso Mariano em Roma, como deputado
católico ao Vaticano, no jubileu da coroação da Imaculada Conceição, sendo agraciado pelo papa com a Dignitária da Cruz de Benemerência. A 5 de
junho de 1912, estava em Toledo, onde assistiu à colocação da lápide comemorativa de ali se achar sepultado o santista padre Bartholomeu Lourenço de
Gusmão.
Em 1923 fez parte da grande comissão que foi à Argentina e ao Chile, a fim de
retribuir a gentileza daqueles países, enviando uma representação às comemorações brasileiras do centenário da Independência. Em Buenos Aires, foi
eleito presidente da mesma comissão, por sua habilidade diplomática e conhecimento profundo de vários idiomas, inclusive o castelhano.
Em Valparaíso fez o discurso oficial da inauguração do monumento ao almirante Cochrane,
declarando ao povo do país amigo que a figura do famoso almirante inglês era particularmente grata ao seu país, porque a história brasileira incluía
o seu nome entre os nomes daqueles que mais concorreram para a Independência do Brasil. Foi tão grata a sua atuação no Chile, que mereceu da
Municipalidade chilena o título de membro honorário do Conselho Municipal da cidade, e a insígnia do Mérito de 1ª Classe da República.
É o mais velho dos irmãos vivos, e o mais antigo, da Ordem Terceira de S. Francisco da
Penitência, sendo ministro jubilado da mesma. É o único fundador vivo da Associação Comercial de Santos, como também o mais antigo dos irmãos vivos
da Irmandade da Misericórdia de Santos, e seu Grande Benemérito.
Damos com prazer a relação dos seus títulos e condecorações, como demonstração de sua
pujante atuação na vida social de sua terra: membro de honra da Sociedade dos Estudos Portugueses da França, membro de honra da Sociedade
União-Latino-Americana da França, membro da Academia de História Internacional de Paris, sócio honorário do Aero Clube de Portugal, sócio
correspondente da Sociedade de Geografia de Lisboa, sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, membro honorário da
Academia Aeronáutica Bartholomeu de Gusmão, de Paris, representante da Santa Sé em missão protetora da imigração italiana no Estado de S. Paulo,
membro honorário do Conselho Municipal de Santiago do Chile, com medalha de ouro, presidente honorário da Associação de Pais e Mestres do Grupo Visc.
de S. Leopoldo, sócio honorário do Real Centro Português, benfeitor da Sociedade Portuguesa de Beneficência, sócio honorário da Sociedade Recreio
Juvenil de Campinas, sócio honorário da Associação Beneficente dos Empregados da Cia. Docas de Santos, sócio benfeitor do Real Centro Espanhol de
Santos, sócio benemérito da Sociedade Espanhola de Socorros Mútuos e Instrução de Santos, e sócio honorário da Sociedade Beneficente dos Chauffeurs
de Santos.
Condecorações - Cavaleiro da Imperial Ordem da Rosa do Brasil; comendador da
Imperial Ordem da Rosa do Brasil; cavaleiro da Real e Distinguida Ordem de Carlos III da Espanha; comm. da Real Ordem de Isabel, a Católica, de
Espanha; medalha de Benemerência e Diploma do Papa Pio X; comm. da Cruz pró-Ecclesie et Pontifice, de Leão XIII; comendador da Real Ordem da Coroa
da Itália, pelo rei Vittorio Emmanuele III e Benito Mussolini; Insígnia do Mérito de 1ª Classe da República do Chile e mais algumas.
Este venerado santista foi, sem exagero algum, o autor direto de quase todos os
monumentos de Santos, que nele tiveram o iniciador da idéia e seu melhor paladino, principalmente os monumentos de Braz Cubas e de Bartholomeu de
Gusmão, sendo que, para a ereção deste, conseguiu donativos do Aero Clube da França e do Aero Clube de Portugal, além das dotações municipais,
estaduais e federais.
Um dos principais serviços prestados a Santos pelo comm. Alfaya foi, entretanto, e
indiscutivelmente, a criação do Imposto Predial, cujo projeto apresentou, como vereador, à Câmara de 1877, por tê-lo visto na Europa. Santos era
paupérrima então, e não possuía verba alguma para melhoramentos locais. Seu projeto teve o apoio da Assembléia Provincial daquela época e venceu,
beneficiando-se Santos, pouco depois, com a renda por tal meio auferida. E basta que se saiba que tal imposto rende, hoje, a importância de cerca de
7 ou 8 mil contos ao município, para bem se aquilatar do benefício prestado à sua terra por este santista.
Santos foi a primeira cidade do Estado e talvez do Brasil que teve tal imposto, e,
logo que ecoou essa notícia, outras cidades o desejaram e obtiveram, valendo-se do precedente santista.
O comm. Alfaya Rodrigues foi cônsul da República Argentina mais de dez anos, e é
cônsul da Guatemala há mais de quarenta anos. Reside em Santos, à antiga Rua de Santo Antonio (hoje do Comércio), com a idade de 99 anos, quase cego
e surdo mas ainda com energias físicas e uma extraordinária memória, constituindo uma crônica viva, um almanaque de sua terra.
Comendador Alfaya
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