Aventuras de Patolo e Patilda (5)
Hamleto Rosato (com desenhos de Dino e Lobo)
Durante a ceia de Natal, feita com grande camaradagem entre Patolo,
Patilda e Jabuca, ficou assentado que os três, no primeiro dia de sol, iriam tomar um banho de mar.
Passaram-se alguns dias. Numa manhã, às 8 horas, bateram à porta da casa de Patolo e Patilda.
Esta, que já havia feito o cafezinho, foi abrir.
- Bom dia, Patilda -. Era a voz do Jabuca, que prosseguiu:
- Vim para ver se vocês querem ir à praia. Onde está o Patolo?
- Ainda dorme -, respondeu Patilda -. Mas entre, vou acordá-lo. Sente-se, enquanto eu vou
chamar Patolo.
- Patolo! Patolo! Acorde, dorminhoco. O Jabuca está aí. Vamos à praia!
Espreguiçando-se, abrindo um olho, ao ouvir a voz de ir à praia, Patolo sentou-se na cama,
respondendo: "Vou já. Num minuto eu estarei pronto".
Patilda voltou para a sala e falou para o Jabuca: "Vou buscar um cafezinho para você".
Voltou pouco depois com uma xícara de café, cujo cheirinho gostoso fez Jabuca exclamar: "Deve estar mesmo gostosa essa rubiácea..."
Depois de sorrir, acrescentou para Patilda: "Não repare eu estar falando difícil... É que
outro dia eu estive lendo que esse tal café é rubiácea..." Deu uma gargalhada e sorveu o primeiro gole, acrescentando: "O danado tá bom mesmo".
Patilda riu, dizendo: "Sabe de uma coisa? Vou tomar outra xicrinha..."
Juntou-se aos dois logo depois Patolo, que foi servido com xícara grande e pão.
Quinze minutos depois, os três estavam a caminho da praia. Desciam o morro, contentes,
quando Jabuca viu um coqueiro, repletinho de coco, dando sopa. Dando ação à palavra, disse: "Sabem de uma coisa? Vou apanhar uns coquinhos". E
subiu, ligeiro, como se fosse um nativo da Jamaica...
Lá do alto do coqueiro, Jabuca falou: "Vocês precisam ver
como estão madurinhos... Aparem que eu vou jogar." Uma boa porção de coquinhos caiu ao chão. Pouco depois, Jabuca descia do coqueiro, recolhia também as
frutinhas. Reiniciaram a marcha, saboreando os coquinhos. Quase não falavam. De quando em quando ouvia-se apenas, ora de um, ora de outro:
- Está gostoso mesmo... Está um suco...
Desceram o morro. O bonde 16 tinha partido. Resolveram ir a pé até o
campo da Portuguesa. Lá tomariam o bonde 22 e desceriam na praia. Dito e feito.
Minutos depois estavam junto ao Canal 1. Jabuca, vendo tanta
gente, exclamou logo: "Chii, quanta gente! Também, com esse calor só mesmo a praia resolve..."
Patolo, que ainda tinha uns coquinhos, deixou-os num cantinho do Canal e foi logo dizendo:
"Vamos, Patilda. A água deve estar gostosa..."
Os três entraram no mar. Patolo, ansioso, ia na frente. Começou a fazer piruetas, dentro
d'água. Estava feliz, no seu elemento. Mergulhava, passando por baixo das pernas de Jabuca. Este, ainda temeroso, se assustava. Patilda também
demonstrou as suas habilidades. Jabuca, como é natural, era o mais fraquinho dentro d'água. Mesmo assim mergulhava. Patolo, cada vez mais ansioso, foi
entrando pelo mar afora. Patilda observou logo: "Não é preciso ir tão longe, Patolo". Este não se importou. Deu um longo mergulho.
Nas proximidades estava um barco salva-vida dos Bombeiros. Os dois tripulantes do barco
remavam despreocupadamente, observando o movimento.
Quando Patolo, depois do longo mergulho, voltou à tona, coincidiu do bombeiro dar uma
remada. Pronto. A pá do remo bateu na cabeça de Patolo. Este deu um gritinho. Por uns instantes ficou meio tonto. Mas foi rápido. E deu a bronca:
"Será que vocês não enxergam?"
Patilda aproximou-se, juntamente com Jabuca, e falou ao seu irmão: "Venha, Patolo. Isso
não é nada"...
- Não é nada porque não foi na sua cabeça...
Jabuca, mostrando os alvos dentes, deu uma gargalhada...
Patolo também se revoltou com a gargalhada que Jabuca deu:
"Você, também, seu bobão?... Por que você não mergulha como eu? Viu quanto tempo fiquei em baixo d'água? Agora, só porque a pá do remo bateu na minha
cabeça, você fica mostrando essa dentuça..."
Patilda atalhou, procurando harmonizar: "Patolo, isso não é nada. Vamos aproveitar que a
água está gostosa. O galinho que você tem agora na cabeça até que ficou bonitinho..."
Patolo não respondeu. Olhou de esguelha para Patilda e Jabuca. Fez uma careta e tornou a
mergulhar. Passaram-se alguns minutos. Patilda e Jabuca começaram a procurar por Patolo. Este surgiu bem distanciado.
- Venha cá, Patolo - gritou Patilda -. Vamos brincar os três aqui, juntos.
Patolo, refestelado, não deu bola. Continuou a nadar e a mergulhar. Patilda mudou de
tática. Não ligou mais importância ao seu irmãozinho. Passou a brincar com Jabuca. Os minutos passavam e Patolo, lá ao longe, de vez em quando espiava.
Uns vinte minutos depois, Patilda convidou Jabuca para ir tomar um pouco de sol na areia. Saíram da água. Jabuca correu e foi buscar os coquinhos.
Voltou e sentou-se perto de Patilda. Cinco minutos após, mais calmo, Patolo sentava-se ao lado dos dois. E também entrou nos coquinhos.
Perto, uns marmanjos jogavam futebol. De vez em quando, a bola, em incrível velocidade,
passava por perto. Patilda atalhou: "Acho bom a gente mudar de lugar. Esses bichos querem se transformar em Pelé e quem paga somos nós! Ninguém
vê isso... A polícia fica gastando gasolina, passeando, mas o futebol continua... Já era tempo de acabar com isso. Nesta praia a gente vê coisa
gozada..." E virando-se para o Jabuca: "E quando fazem acrobacia aérea?... Pronto, ninguém pode tomar banho de mar... Os aviões ficam fazendo pirueta
bem em cima do povo..."
Jabuca, Patolo e Patilda deliciavam-se com o banho de sol,
na areia. De quando em vez, uma onda mais forte rebentava, estrepitosamente, vindo a água, feito espuma, morrer aos pés dos três garotos. Patolo, guloso
como ele só, continuava papando os coquinhos. Jabuca observou: "Puxa, você nem oferece uns coquinhos..."
Patolo juntou seis coquinhos, estendeu-os ao Jabuca, exclamando: "Toma, Por que você não
foi buscá-los, junto ao canal? Quer moleza, né?..."
Jabuca, menino esperto, vivaldino, depois de pegar os coquinhos, retrucou: "Te güenta,
Patolo. Bronca é arma de otário..."
Patilda cortou a conversa: "Jabuca, você está falando muito em gíria. Isto não é bom. Só
malandro é que fala nestes termos. E você não é malandro".
Patolo gostou das palavras de sua irmãzinha, ajuntando: "Tá vendo, Jabuca. Você
precisa aprender comigo. Nós temos que entrar na escola para aprender a falar corretamente o português..."
Patilda não deixou seu irmãoziho concluir, advertindo: "Então saiba, meu querido
irmãozinho, que também não se fala tá, mas está, compreendeu?"
Jabuca riu, mostrando os alvos dentes. Nesta ocasião passavam algumas garotas bonitas.
Jabuca e Patolo não perderam tempo. Viraram os olhos, acompanhando-as. Jabuca exclamou: "Puxa, que praia bonita, não, Patolo?"
- É - respondeu este -, aqui em Santos aparece cada material...
Patilda, não compreendendo a conversa, perguntou: "Que material?"
Os dois garotos não responderam. Limitaram-se a rir, sem, contudo, deixar de acompanhar as
beldades que haviam passado.
A manhã estava bela, radiante. Gostosa brisa soprava do mar, amenizando o calor do sol. Os
três meninos continuaram sentados.
Em determinado momento, Jabuca, como que lembrando-se de alguma coisa muito importante,
falou: "Oba, o Carnaval tá aí... Vamos nos preparar para sambar..."
Prestando homenagem aos clubes da cidade -
Santos, Jabaquara e Portuguesa -, Patolo, Patilda e Jabuca fantasiaram-se. O
divertido pretinho Jabuca envergou a célebre camisa nº 10 (do Pelé) e representou o Santos F. Clube; Patilda, com trajes característicos, representou a
A.A. Portuguesa, e Patolo, de toureiro, representou o Jabaquara A. Clube.
Entre Patolo e Jabuca nasceu a primeira discussão. É que ambos, assim como Patilda, são
torcedores do "gigante da Vila Belmiro". Patolo queria representar o Santos, o mesmo acontecendo com Jabuca. Este, pela cor, argumentava: "Patolo, tú
não vê que eu sou da cor do Pelé..."
Patolo não queria saber de nada. Ele era Santos F. Clube e estava terminado. Foi aí que
Patilda entrou em cena, ponderando:
- Vocês estão discutindo à toa. Eu também sou Santos. Mas vou representar a Portuguesa
porque dá certo. Jabuca representará o Santos. Basta pôr a camisa nº 10 para todo mundo saber que se trata do maior. E você, Patolo, de toureiro,
o que lhe fica muito bem, representará o simpático Jabaquara.
As palavras de Patilda foram mágicas. Tudo resolvido, saíram os três. Correram a cidade.
Estiveram nos clubes, principalmente naqueles que eles estavam homenageando. Foi um sucesso completo. Brincaram os três dias. Conheceram até o Joel de
Almeida, que passou o Carnaval em Santos. Depois, cansados, dormiram 18 horas seguidas.
Três dias depois, com livros e cadernos, rumaram para a escola. Patolo, meio assustado,
comentava com Patilda: "Será que a professora não vai me castigar?..."
- Por quê? - respondeu Patilda -. Ela só o fará se você não for um bom
aluno. Trate, pois, de aprender bem as lições para não ficar ignorante. Porque o sujeito ignorante é o atraso de uma nação...
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