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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - RÓTULAS E... - BIBLIOTECA NM
Nos tempos das rótulas e das baetas (10)

Ambas serviam para as pessoas se esconderem, e foram proibidas por lei
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Clique na imagem para voltar ao índice do livroPor influência árabe-mourisca, os primeiros núcleos populacionais paulistas seguiram costumes como a colocação de rótulas nas casas e o uso de um traje conhecido genericamente como baeta, com um capuz que encobria o rosto. Essas histórias foram narradas pelo escritor Edmundo Amaral em sua obra Rótulas e Mantilhas, publicada em 1932 pela editora Civilização Brasileira, na capital paulista, com ilustrações do famoso chargista Belmonte. Um exemplar da obra, esgotada, foi cedido a Novo Milênio para esta reprodução pelo professor e pesquisador santista Francisco V. Carballa:

Edmundo Amaral foi um dos fundadores do Instituto Histórico e Geográfico de Santos (IHGS), ao lado de Júlio Conceição e Francisco Martins dos Santos. Embora suas principais referências no livro sejam à capital paulista, valem também para Santos, onde existiam os mesmos costumes.

Neste capítulo, ao forçar um raciocínio racista como razão para a existência de uma casta paulista de nobreza, o autor demonstra bem a ideologia da época do entre-guerras em que o livro foi escrito, defendendo a supremacia da raça ariana - ideário nazista de eugenia que levaria o ditador Adolf Hitler ao poder na Alemanha e ao conseqüente extermínio dos judeus, em meio à Segunda Guerra Mundial. Sua posição nazista fica bem clara aliás no parágrafo final, quando faz apologia a Hitler e a Mussolini (ortografia atualizada nesta transcrição):

Rótulas e Mantilhas

Edmundo Amaral

PRIMEIRA PARTE

[...]


Ilustração de Belmonte, publicada no livro

Nobreza paulista

Cinco flores de lis vermelhas sobre ouro; escudo negro cortado em palas; campo de ouro fretado de correias vermelhas. Velhas armas dos Martins, dos Proenças, dos Corrêas. Brasões paulistas, símbolos das velhas estirpes que se esquartelaram por mais de três séculos pelos portais de pedra, pelos espaldares de couro, por todas as suntuosas copas de prata das antigas famílias paulistas.

***

As idéias dissolventes de origem semita, corrosivas das velhas instituições que faziam esse esplêndido equilíbrio do mundo passado, não destruíram somente no seu ímpeto demolidor e nivelador os antigos símbolos da fidalguia.

A onda democrática que veio se avolumando desde 89 (N.E.: 1889, ano da proclamação da República) não investiu somente contra as formas coloridas e esmaltadas da nobreza; a Revolução Francesa, essa explosão animalesca de ódios e que tomou foros de reivindicação social, foi, sobretudo,um ataque contra uma raça.

***

O que é a nobreza no seu sentido antropológico? É uma raça. É uma raça mais pura e mais forte que pelas suas qualidades conseguiu cominar, num determinado período da história.

A história da nobreza peninsular é também a história de uma raça pertencente ao ramo ariano nesse lado do Ocidente - a sueva-goda.

***

Sete séculos foi a Península (N.E.: Península Ibérica) colônia romana. Por mais de sete séculos as águias romanas abriram as suas asas dominadoras sobre o mundo, num vôo sereno e ordenado. O vigor e a disciplina de suas legiões impuseram aos outros povos o tributo das riquezas e o cumprimento de suas leis, até o advento do cristianismo. Com a nova fé que surgia vinha, porém, uma nova esperança e uma nova espiritualidade a esse mundo fundado na escravidão e na força.

Abaladas assim as bases do Império Romano, repousadas na força de suas hostes, por essa nova fé que trazia uma nova piedade e um novo amor pelos homens, o mundo começou a tomar novo rumo. O cristianismo que amanhecia era como uma grande árvore, sob cuja sombra se abrigava a caravana dos oprimidos. A árvore cristã deitava então raízes fortes nas terras do Ocidente.

E, aos poucos, essa Roma enfraquecida pelos Césares, amolecida pelo luxo, pelas riquezas saqueadas, e pela sensualidade que importou do Oriente, embriagada de perfumes, exausta de orgia, tomando banho coroada de rosas, nas largas piscinas de mármore, não ouvia mais o passo rude do bárbaro que descia em massas compactas das margens do Danúbio.

Depois foi a invasão. Povos germânicos, eslavos e mongóis, até então contidos pela força e disciplina romana, romperam os diques do Império, inundando como uma grande vaga o Ocidente. A Ibéria e a Lusitânia foram logo invadidas pelos suevos e godos em 408, sendo o seu território então dividido entre seus fidalgos originários de nobreza germânica.

D'entre Douro e Minho irradiaram os suevos pelo Norte até o mar, e pelo Sul até o Mondego. Aí se estabeleceram os suevos até o ano de 411, ano em que - à frente dos godos, Leowigildo invadiu esse primitivo reino dos suevos, estabelecendo o domínio gótico na Península e transformando esse reino em um condado. Destruída assim essa independência dos suevos, ficou entre eles o germe da revolta.

Para além das fronteiras, entretanto, povos diversos ameaçavam esse germânicos estabelecidos na Península: de um lado as hordas sarracenas, trazendo num esvoaçar de albornozes um sopro africano de conquista, ao Norte os Vândalos de origem eslava e os alanos e hunos de origem mongólica, que desde as florestas da Suábia já aspiravam nas suas ventas chatas o perfume da civilização greco-romana que agonizava.

Então, atraídos pela afinidade de raça diante do perigo comum, uniram-se o godo e o suevo para expulsar o invasor. Mouros, mongóis, semitas, toda uma confusão de raças descia como uma avalanche dos lados da Ásia. Unidos, os suevo-godos repelem o huno para o Norte e o mouro para o Sul e desafogam a Península.

O auxílio do suevo na restauração do Império devia também trazer a sua própria restauração. Assim não sucedeu, porém. A nação sueva continuou sob o domínio godo, que fazia suceder os seus condes no condado de Porto-Cale, vindo afinal suceder o conde d. Henriques, o Borguinhão, que, aproveitando-se do enfraquecimento da Espanha, devido às invasões, proclamou, rodeado de seus baroes galegos e de seus ricos-homens, de origem sueva, a independência do reino de Porto-Cale.

Foi desse núcleo suevo de barões e ricos-homens que descendeu a nobreza portucalense d'aquém e d'além-mar.

***

No reino portucalense tumultuava entretanto uma variedade de raças ainda não caldeadas num tipo nacional. Era o celtibero do tempo da dominação romana, o fenício, o berbere, o árabe, o mouro e o judeu, que tinham vindo engrossando as hordas sarracenas da invasão.

Nesse caleidoscópio confuso de raças, de religiões, formigante de mantéus árabes, aljubas brancas de mouros, rosetas escarlates de judeus e dorsos suarentos de etíopes, nesse pulular de raças que formigavam do Al-Garehb ao Minho, dominavam, como senhores do reino e das terras, os barões e ricos-homens dólico-loiros que aí se estabeleceram.

Eram esses barões e ricos-homens que guardavam melhor os característicos da raça ariana na Península. O seu espírito natural de ordem, disciplina e equilíbrio coordenava e continha essas raças díspares e várias que tumultuavam nesse lado da Europa.

É o ariano, que Oliveira Martins e Gobineau apresentam como tipo mais evoluído e mais representativo da raça branca, esse mesmo tipo que Lapouge chama de homo europaeus ou homo alpinus, que domina e controla beneficamente a Península nesse período histórico.

Daí o surto magnificamente grandioso desse reino que amanhecia. É então que se abre o período heróico da Reconquista. Palmo a palmo, pedra a pedra, reconquista esse punhado de bravos a terra tomada pelo mouro invasor. Em 1147 tomam Santarém, atravessam o Tejo, tomam Silves, reconquistam o Al-Gharehb; e, num esforço supremo, empurram os mouros para o extremo Sul.

Desenha-se então no Ocidente o Império Cristão. O ária agora contra-ataca. Armado de uma fé e armado de uma lança, arremete-se contra o asiático. É a luta de raças. De um lado o ariano, cujo símbolo é a Cruz; d'outro lado o não ariano, cujo símbolo é o Crescente.

Cobertos de ferro, com uma cruz sangrando no peito do brial, o homo europaeus contra-ataca o homo aziaticus. Da Aquitânia, da Ibéria, por todas as terras muradas onde tinham castelo senhores de pendão e caldeira, partem, sem descontinuar, hostes à conquista da Palestina.

Diante do ímpeto cheio de fé do cruzado, o turco é levado de vencida. Ricardo Coração de Leão toma s. João do Acre e estabelece o poder cristão no Oriente; Afonso de Castela vence definitivamente o mouro em Navas de Tolosa; e, por todo o Ocidente, o ária vencedor estabelece o Império Cristão, em torno do mais alto e grandioso monumento do espírito ariano: a Igreja Católica.

Abre-se então uma nova era para a história de Portugal. "Nos primeiros três séculos - diz Oliveira Martins -, a independência é um fato originário do merecimento pessoal dos chefes militares, dos barões d'aquém e além Minho. Nacionalidade, propriamente, não há. Só depois da reconquista é que começa a se esboçar nitidamente uma nacionalidade portuguesa".

As raças que habitavam o Reino caldeiam-se numa depuração lenta, em torno desses nobres suevos que permaneciam puros de sangue e que defendiam essa pureza pelos seus preconceitos de casta. A plebe, constituída da mescla do celtibero, fenício, com alguma dosagem de sangue árabe, transformou-se aos poucos nesse povo meio tisnado, peludo, sentimental e risonho que dança nos autos de Gil Vicente, quebra potes nas romarias, fornece peonagem na Batalha de Aljubarrota e marujos trigueiros nas caravelas das Descobertas.

***

A Espanha, entretanto, desafogada do mouro, olha outra vez cobiçosamente as terras de Portugal, mas o antigo condado que a energia e o heroísmo de seus ricos-homens tinham tornado independente, agora consolidado pela vitória de Aljubarrota, cresce e avulta. Comprimido pela Espanha, crescia entretanto o Reino em ânimo e valor; e, num derramamento de vitalidade, abre então um novo rumo através do Atlântico, para além do Mar Tenebroso.

Por todo o século V (N.E.: SIC - correto é século XV), proas de caravelas sulcam as águas atlânticas virgens de quilhas, numa busca inquieta do Preste João. E a epopéia marítima começa. São os grandes navegadores, grandes reveladores de terras, que arremetem dentro da fragilidade das naus pelo Oceano adentro, numa busca incerta de novos mundos.

A Escola de Sagres é então a grande academia de navegação. Portugal possuía os melhores pilotos, os melhores estaleiros e os melhores marinheiros. Possui então o astrolábio de Beheim, o seu regimento e a balestilha, precursores da bússola nesses mares incertos. Comandam essas esquadras almirantes descendentes da velha estirpe. É Gil Eanes, é Vasco da Gama, é Gaspar da Corte Real, é Fernandes Pacheco, é Afonso d'Albuquerque, é Tristão da Cunha, ramos ilustres do velho tronco suevo.

Então, surgem como no esplendor fabuloso de um conto árabe, a riqueza das cidades orientais: é Calicut, Ormuz, Diu; é a Índia d'ouro e especiarias, cheia de pimenta, cravo, sendas, marfins, perfume e mistério...

***

Aos poucos, entretanto, essa Índia exausta não basta a esses mercadores de pimenta e conquistadores de oceanos. Para além da linha azul das águas existem terras novas. Velas ansiosas buscam terras desconhecidas. É o cabo Bojador, são as ilhas do Pacífico, é a Terra de Santa Cruz.

A princípio, as terras que Vaz Caminha admirou foram apenas um novo domínio em que Portugal plantou mais um padrão. Aos poucos, porém, com a Índia já depauperada, surgem as novas riquezas da terra nova. O pau-brasil é precioso nesse mundo pobre de colorantes e a cana-de-açúcar, nestas terras férteis, brota mais grossa e mais rica. Além disso, barcos franceses já rondavam Guanabara.

Foi então que o Reino, numa ânsia de colonizar e frutificar as suas terras, dividiu-as entre os seus nobre e para cá os mandou com armas e bagagens. São esses nobres ainda descendentes da velha estirpe sueva e apenas modificados na pigmentação epidérmica, pelas influências telúricas, que para aqui vieram com o primeiro donatário.

Foram esses vinte ou trinta nobres fidalgos, que desembarcaram das caravelas de Martim Afonso nas águas paradas do Tumiaru em S. Vicente, que formam a cepa da nobreza paulista em terras de Santa Cruz. Descendentes ainda dessa nobreza sueva formada pelos ricos-homens que vestiam cota d'armas no tempo do condado portucalense, aqui aportaram de gibão de veludo e espada de tigela, pergaminhos armoriados, e cartas de sesmarias.

É essa aristocracia rural que vai ser o núcleo de polarização dos elementos arianos nessas terras de coqueiros e de homens cor de bronze. São esses elementos caldeados mais tarde na raça americana que formaram até hoje o melhor de nosso caráter.

No tumulto inicial das raças que povoavam a colônia, nessa balbúrdia étnica de emigrados, aventureiros e judeus, onde se misturavam os "cabras", mamelucos, cafuzos e curibocas, num remoinho de cores e de instintos, são esses elementos que coordenam, disciplinam e classificam, essa sociedade bárbara e violenta, desordenada e primitiva. Deles descendem as mais mais nobres famílias de Piratininga que avultaram pelos sentimentos, lealdade e pelos nobres espíritos; deles descendem esses varões que davam um fio de barba em sinal da palavra empenhada e que se arremetiam com um troço de mosquetes à busca de esmeraldas, através da mataria adentro.

E nesse cenário inicial, onde o mestiço lúbrico, o índio bárbaro e o mameluco sanguinário são tipos antropológicos elementares que só a disciplina ariana pôde dominar e controlar, aparece o fidalgo.

Essa nobreza vinda para a nova terra é, sobretudo, uma nobreza rural, presa à gleba e com avós que já tinham plantado vinha e murado terra nos tempos d'el-rei d. Diniz, edificando o reino com uma enxada e uma lança, no dizer de Alexandre Herculano. Não era ainda essa nobreza degenerada de corte que mais tarde, já no reinado dos Braganças, resultou no cortesão namorador de freiras, com um sinal de veludo preto na face efeminada, "escudeirando em seco" pelos portais dos conventos, esmolando um olhar ou um ladrilho de marmelada, e que mais tarde para aqui veio, corrido pelo temor das baionetas napoleônicas, nas naus de d. João VI, instalando-se sem cerimônia nas casas brasileiras e olhando com insolência o nacional através de suas lunetas de tartaruga.

Esse tronco vindo com Martim Afonso, e que estendeu raízes em terras vicentinas, trazia em seu cerne o sentimento ainda latejante da honra, da lealdade, do cumprimento do dever e do heroísmo, afinados pelas Cruzadas, pela Cavalaria e pelos Descobrimentos. É desse tronco robusto que brotou o fruto da Bandeira e a flor da nossa Civilização.

***

Mau grado as invectivas de Cândido Mendes e de alguns escribas de costela republicana, permanecem intactas na sua verdade documental as provas da nobreza paulista.

Provam exuberantemente frei Gaspar da Madre [de] Deus, Pedro Taques, Leme e outros nomes fidedignos.

"A vila de Santos é uma das quatro principais da Capitania de S. Vicente. Povoou-a Martim Afonso de Souza de muito nobre gente que consigo levou de Portugal". Assim escreve padre Santa Maria na sua obra Santuario Marianno. Tomo X - Livro II. Título 12.

Padre Simão de Vasconcellos, o cronista da Companhia de Jesus, acrescenta que Martim Afonso de Souza trouxe casais em sua armada: "Com uma esquadra de sete naus, conduziu vários casais e muitas pessoas nobres, partiu do Reino".

Frei Vicente Salvador diz das primeiras levas de Martim Afonso: "... a sua nobre gente que consigo trouxe..."

Frei Gaspar da Madre [de] Deus cita os nomes de alguns desses nobres na sua História da Capitania de S. Vicente, cujos nomes achou em "documentos autênticos e livros impressos". (Memórias para a História da Capitania de S. Vicente, hoje chamada S. Paulo).

Assim, cita ele nomes que "com o prenome de dom, indica que era fidalgo ilustre". É d. Martinho Affonso de Souza, casado com d. Custodia Pinto de Magalhães, é d. Pedro de Góes, Luís de Góes, Gabriel de Góes, Domingos Leitão, fidalgo da casa real e marido de d. Cecília de Góes. Cita ainda d. Izabel Leitão, Pedro Leme, Gerônymo Leitão, José Adorno, Ruy Pinto, Antonio Pinto, Braz Cubas, Jorge Ferreira e muitos outros; "todos cavaleiros fidalgos e filhos de pais de qualidade", acrescenta o linhagista.

Além disso, são inúmeros os processos de justificação de genere et nobilitate probanda; são inúmeros ainda os processos de puritate et nobilitate sanguinis requeridos em Piratininga do passado.

Apesar de se ter perdido a maior parte dos livros de tombo e de armaria do tempo, podem-se citar os registros na Câmara Municipal em 1707 dos brasões dos Laras Proenças, Taques e Moraes. Anos mais tarde, requer Taques para si o registro como descendente de Paschoal Leite Furtado, undécimo neto do senhor de Belmonte. Registram-se também nessa época o brasão dos Velhos, Melos e Cabrais. E em 1762-1766 requerem também justificação de nobilitate probanda Francisco Pinto do Rego, Fernão Paes de Barros, Manoel Corrêa de Lacerda, Bonifácio Xavier de Aguirre. (Affonso Taunay - Pedro Taques e seu tempo).

O paulista dessa época tem rígidos preconceitos de separação de casta. Convenções? Não. É o instinto de defesa e conservação da raça ariana numa terra nova onde pululavam raças diversas.

Esses "preconceitos" de cor e sangue, que reinaram tão soberanamente na sociedade do I, II e III século, escreve Oliveira Vianna, "têm para nós uma função verdadeiramente providencial. São admiráveis aparelhos seletivos que impedem a ascensão até as classes dirigentes desses mestiços africanos".

A raça então defende-se tanto nos preconceitos de família como nos de nobreza, evitando a intromissão de elementos estranhos nocivos à unidade da raça. Assim, nos processos de nobilitate probanda e de sanguinis puritate, era preliminarmente necessário provar-se a limpeza de sangue "sem mesclas de judeu, mouro, negro, mulato, malaio ou qualquer outra infecta nação". Como diziam os forais de nobreza.

"Os paulistas da aristocracia paulista são muito orgulhosos de seu sangue. Ensinados e doutrinados em todos os costumes e foros de nobreza, os paulistas de sangue azul ufanavam-se de seus pais, avós paternos e maternos dos mais nobres dessa capitania e do governo dela, fidalgos de Dom, sem infestação nem rumor de cristão novo, mouro, judeu, mulato ou outra infecta nação ou má similha de casta ou mácula". (Alcântara Machado: Vida e Morte do Bandeirante - pg. 153).

Mais adiante, na página 154, acrescenta: "Ao contrário do que seria de supor, são excepcionais os casamentos entre brancos e negros da terra. Dentre os inventários só existe um casado com índia forra, mas esse é evidentemente mameluco> chama-se Francisco Ramalho Tamarutava".

Oposto esse dique de defesa à mescla de outras raças numa terra nova de aventureiros e índios, consegue ser esse núcleo ariano o centro irradiador da família paulista.

Entretanto, ao par dessa rigidez de princípios de separação de castas, não ostentam os paulistas a menor suntuosidade de viver. Viviam entretanto à boa lei da nobreza nas suas relações sociais e domésticas, em que o tratamento é perfeitamente fidalgo. Guardam - descreve Oliveira Vianna "o mesmo desdém pela mestiçagem, a mesma cultura aristocrática, as mesmas vaidades de fidalguia e orgulho sombrio".

Esses homens austeros e graves, que vestem rudemente bernéus de canequim preto e usam grossos feltros de abas largas, são perfeitos no trato e na cortesia. O sentimento da respeitabilidade transparece na urbanidade perfeita do tratamento.

"Jeito de moleque", "modos de moleque", "atos de moleque", são expressões comuns e pejorativas da época.

Em carta anexa ao inventário de Antonio Moreira, dirigindo-se este à sua mulher, escreve: "Minha esposa e senhora". Referindo-se ao irmão: "Meu irmão e senhor". Referindo-se ao sogro: "o senhor seu pai". Eram todos, escreve Taques, "adornados de civilidade e cortês política".

Certos tratamentos entretanto, usados indevidamente por quem não tivesse esse direito, levavam quem os usasse ao pelourinho da vila, onde era fustigado com alguns açoites.

Vistas de agora, parecem excessivamente rudes e violentas essas medidas. Assim não eram no seu tempo. Foram medidas como essas que deram naquela unidade de sentir e de agir, e que uniam os homens da mesma raça numa mesma fé, num mesmo sentimento e num mesmo esforço. O princípio da separação racial não é mais do que um princípio de ordem. Porque divergência de raças subentende divergência de princípios e de ideais, a maior causa de desagregação.

No Brasil colonial, onde se mesclavam confusamente o branco, o índio e o negro, resultando o mulato, o cafuso e o mameluco; padecendo todos dessa "assimetria moral" de que fala Oliveira Vianna, seria impossível a sua coordenação sem o controle desses tipos arianizados e afins que formavam a nobreza paulista.

"É sobre o princípio da unidade natural que se funda inicialmente a unidade espiritual do gênero humano; e a unidade de sangue é a explicação da unidade de espírito e do amor, porque o princípio determina o fim e a origem o instinto". Assim escreve F. Hettinger na sua Apologia do Cristianismo.

***

Nesse momento da história do mundo em que outra vez se desenha a luta das raças; agora em que o crescente, símbolo do homo aziaticus, tomou a forma da foice bolchevista; agora que Moscou é o quartel-general da avançada asiática, em que o semita Trotsky e o mongolóide Lenine desencadearam esse novo ataque dos bárbaros contra a civilização cristã ariana e que tomou o nome marxista de Comunismo. agora que as forças dissolventes da Ásia mais uma vez se dirigem contra o Ocidente, rumando contra a organização ariana e contra a disciplina ocidental, cuja expressão é a Igreja Católica, provocando esse milagre do espírito ariano que se chama Fascismo, organizado pelo gênio de Mussolini; agora que Hitler, na Alemanha, agita todas as forças da raça, num movimento de recomposição ariana; agora que a Contra-Revolução começou e que as forças do bem reagem vitoriosas contra as forças do mal, é também grato a nós arianos dessas terras da América recordar a nobreza paulista, essa esplêndida expressão de arianismo coordenador no tempo colonial de índios e de aventureiros.


Ilustração de Belmonte, publicada no livro


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