HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS -
PORTO & LITERATURA
Porto dos poetas e prosadores (3)
Nacionais e de todo o mundo, como os navios que aqui aportam...
Texto
publicado na revista Depois da Cena, produzida pelo jornal A Tribuna para
distribuição ao final de espetáculos culturais, edição 2/ano 2, distribuída em 30 de abril de 2009, páginas 64 a 66:
Reprodução das páginas 64 e 65 da revista
Depois da Cena
Mar, Porto, histórias e versos
Vanessa
Ratton
S antos
é um verdadeiro porto cultural, que dá vazão a muitos talentos artísticos. Terra da caridade e da liberdade, berço de grandes poetas, como
Vicente de Carvalho, Martins Fontes,
Maria José Aranha de Resende, Roldão Mendes Rosa e Narciso de Andrade.
A poesia se faz presente até hoje em diversos grupos que se encontram nas tardes e noites da cidade praiana. Um dos mais duradouros foi o
Encontro de Poetas, de Brites Quaresma Figueiredo, que por mais de 20 anos encantou a noite dos santistas.
"Mar, belo mar
selvagem/Ah! Vem daí por certo/A voz que escuto em mim, trêmulo e triste". A beleza deste verso rendeu ao poeta santista Vicente de Carvalho o
título de Poeta do Mar. Ele recebeu de Euclides da Cunha o elogio de ser o autor de um dos versos mais grandiosos da língua portuguesa. Sua
obra máxima, Poemas e Canções, atingiu o raro feito de uma 17ª edição.
Vicente de Carvalho
(1866-1924) era advogado, jornalista, político, magistrado, poeta parnasiano, lírico e contista. Integrou a Academia Brasileira e a Academia
Paulista de Letras. Também foi um dos fundadores do Liceu Feminino Santista.
Sua ligação com o mar é tão
grande que se, hoje, as praias de Santos são públicas, devemos ao poeta que persuadiu o então presidente da República,
Epitácio Pessoa, a não vender as praias a particulares. O presidente acabou por doar a orla marítima ao povo
santista.
Como se vê, não é por acaso
que a estátua de Vicente de Carvalho, localizada no jardim da Praia do Boqueirão, está de
frente para a avenida que leva o nome do poeta. A região do Itapema, conhecida como Distrito de
Guarujá, também leva seu nome. Duas justas homenagens ao poeta do mar.
Antes de morrer, Vicente de
Carvalho pediu que em seu túmulo fossem gravados estes versos seus: "o derradeiro sono eu quero assim dormi-lo: Num lago descampado. Tendo em
cima o esplendor do vasto céu tranqüilo. E a Primavera ao lado."
Poesia e Caridade
Médico, poeta parnasiano,
conteur, ensaísta, cronista, conferencista, tradutor e teatrólogo, José Martins Fontes (1884-1937), o poeta Vulcão, também é
homenageado denominando dezenas de ruas nas cidades da Baixada Santista. Membro correspondente da Academia de Ciências
de Lisboa (Portugal), teve projeção internacional, não só pela beleza poética, mas pela conhecida vocação para a caridade. É de sua autoria a
afirmação: "como é bom ser bom!", repetida até hoje.
Zezinho, como era chamado
pelos amigos, começou a escrever versos aos 8 anos de idade, no jornal manuscrito A Metralhadora. Estava sempre presente na Humanitária.
Estudou Medicina, no Rio de Janeiro, convivendo desde a adolescência com poetas como Olavo Bilac, com quem teve mais tarde grande amizade e que o
considerava "a porta ideal da nova geração".
Uma mulher de coragem
Não falta uma mulher entre
os poetas santistas. Entre elas Maria José Aranha de Resende (1911-1999), sobrinha-neta de Vicente de Carvalho. Apesar de ter sido acometida de
poliomielite quando criança, a doença nunca a impediu de escrever, tendo sido a primeira mulher a ser admitida em uma entidade literária, aos 17
anos de idade. Sobre a enfermidade, escreveu: "mas não fiquei amarga, não… O que me faltou em movimento, sobrou em sentimento. O que perdi em ação,
ganhei em imaginação".
Maria José Aranha é
conhecida como a poetisa das rosas, por ser sua flor predileta, inspiração de muitos poemas e título do seu primeiro livro, Rosa Desfolhada.
Escreveu, entre outras obras, a biografia Vicente de Carvalho, o Poeta do Mar, que lhe valeu o prêmio Luiz de Camões da Academia de Ciências
e Letras de Lisboa (Portugal).
Zezinha, como os amigos a
chamavam, foi membro do Instituto Histórico e Geográfico de Santos e fundadora da
Academia Santista de Letras
(N.E.: no histórico da ASL, Zezinha
Rezende aparece como membro fundadora e ocupante da cadeira 25).
Atuou como cronista do jornal A Tribuna. A cidade de Santos a homenageou em 1974, outorgando-lhe o título de
Cidadã Emérita.
Reprodução da página 66 da revista
Depois da Cena
Bibliografia principal: Palavras ao Mar, Cantigas
Praianas, A Ternura do Mar, Fugindo ao Cativeiro, Rosa, Rosa de Amor, Velho Tema, O Pequenino Morto. E ainda:
Ardentias (1885), Relicário (1888), Poemas e Canções (1908), Versos da Mocidade (1909). |
Esperança
Só a
leve esperança em toda a vida
disfarça a pena de viver, mais nada;
nem é
mais a existência resumida
que
uma grande esperança malograda.
O
eterno sonho da alma desterrada,
sonho
que a traz ansiosa e embevecida,
é uma
hora feliz, sempre adiada
e que
não chega nunca em toda a vida.
Essa
felicidade que supomos
árvore milagrosa que sonhamos
toda
arriada de dourados pomos
existe sim, mas nós não n'a encontramos
porque está sempre apenas onde a pomos
e
nunca a pomos onde nós estamos
Vicente de Carvalho. |
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