Um resumo biográfico de Zezinha Rezende (que também foi membro do
Instituto Histórico e Geográfico de Santos e faleceu em 17/6/1999) foi publicado no terceiro volume da obra conjunta
História de Santos/Poliantéia Santista, de Francisco Martins dos Santos/Fernando Martins Lichti (Santos, 1996):
SÍNTESE ANTOLÓGICA DOS POETAS DE SANTOS
Maria José Aranha de Rezende
Nascida em Santos a 2 de outubro de 1912. Filha de Leôncio
de Azevedo Rezende e de Dª. Georgina Aranha de Rezende. Sobrinha-neta de Vicente de Carvalho. Foi funcionária pública
estadual. Usa os pseudônimos de "Augusta Carolina" e "Maria Celeste". Pertence à Academia Santista de Letras.
Nesses teus olhos vagos, distraídos, nesse teu ar distante, indiferente, nessa apatia assim dos teus sentidos que parecem dormir profundamente.
Nessa frieza com que os teus ouvidos ouvem o grito deste amor ardente, nesses teus braços calmos, desprendidos que nunca me cingiram ternamente,
Nessa ausência completa de desejo, nessa boca que foge do meu beijo é que reside o meu maior encanto.
Se o teu amor ao meu amor viesse, se essa felicidade eu conhecesse talvez... talvez não te quisesse tanto!
O mesmo poema foi publicado (com algumas palavras diferentes e diferente ordem nos versos da terceira
estrofe) na seção Literatura do Almanaque de Santos para 1959 (Santos/SP, 1ª edição, 1959 - exemplar no acervo da
Sociedade Humanitária dos Empregados no Comércio - SHEC), página 79:
Imagem: reprodução da página 79 do Almanaque de Santos para 1959
Imagem: detalhe da página 79 do Almanaque de Santos para 1959
Zezinha Rezende recitando o poema
Fábula, do livro Sonetos que o Amor Inspirou
Vídeo postado no YouTube por
dinbrasil
em 14/8/2008, com 34 segundos
Maria José Aranha de Rezende, ou Zezinha Rezende, como era conhecida entre os mais chegados (Santos,
2 de outubro de 1911 — Santos, 17 de junho de 1999) foi uma poetisa e jornalista brasileira. Usou os pseudônimos de Ana Carolina e Maria
Celeste.
A "Poetisa das Rosas", e "Poetisa de Santos", foi uma das fundadoras da Academia Santista de
Letras, junto a outros intelectuais, tendo sido a primeira mulher a ocupar uma cadeira da entidade, a de n° 25, tendo tido como patrono Vicente de
Carvalho, e aos 17 anos de idade. Era membro do Instituto Histórico e Geográfico de Santos.
Sua influência poética surgiu do convívio com intelectuais como Martins Fontes, Paulo Gonçalves e Ribeiro Couto. E
principalmente de seu tio avô, Vicente de Carvalho, o Poeta do Mar. Foi cronista do jornal A Tribuna, de Santos.
Filha de Leôncio de Azevedo Rezende e Georgina Aranha de Rezende. Bisneta de Manuel Carlos Aranha, barão de Anhumas
e sua primeira esposa Ana Tereza de Souza Aranha (filha de Maria Luzia de Souza Aranha, viscondessa de Campinas).
Palacete dos Aranhas
Foi seu avô, Pedro de Souza Aranha, natural de Campinas, corretor de café em Santos, que mandou construir no ano de
1889, esplendido palacete, o primeiro da cidade de Santos, conhecido como "Palacete dos Aranhas", na esquina
das ruas General Câmara com Conselheiro Nébias, no bairro Paquetá, que chamava atenção pela enormidade do terreno, jardins com esplendidas
palmeiras, terraços, mirante, a beleza do estilo. Nele a poetisa nasceu e lhe trouxe grandes recordações.
No Palacete dos Aranhas viveram o poeta Vicente de Carvalho e sua mãe, Augusta Bueno de Carvalho, que tinham
parentesco com o proprietário. E muito do que Maria José se recordou, da famosa moradia, foi contado por sua mãe, Georgina, que mudou-se para lá aos
quatro anos de idade, e lá mesmo casou-se, teve filhos e netos.
Mas o Paquetá ganhou novas características e a família Aranha partiu. O palacete, com todo seu requinte de
construção e materiais finíssimos, virou sede do Centro de Saúde, que ocupou o imóvel por 15 anos, tendo sido mais tarde demolido pela Açucareira
Santista.
A casa e as palmeiras estão imortalizadas em cartões postais de Santos antiga e numa pintura de Gentil Garcez que
Maria José exibia em sua sala. E são tema de uma poesia - Minha Casa - e de uma crônica - A Casa das Palmeiras - da moradora
inconformada com a demolição do imóvel, e que acreditava poder ter sido transformado em um museu, por tudo o que foi e representou.
Obras da autora
Minha casa
A casa das palmeiras
Rosa Desfolhada (seu primeiro livro, em 1949)
Fonte Sonora (1953)
Sonetos que o amor inspirou
...e inúmeras outras.
Seu último livro, Sonetos que o Amor Inspirou, foi elogiado pelo poeta Paulo Bonfim, da Academia Paulista de
Letras, como “Versos de alguém que tem poesia no sangue e no coração”. E, assim, o poeta modernista Manuel Bandeira referiu-se ao livro Rosa
Desfolhada...e outros versos, da autora. Helena Silveira disse que o livro “apresenta momentos de autêntico lirismo e vibração emocional, que
toca e comove”.
Homenagem
Homenageada na cidade de Santos, com o monumento na orla da praia : Busto de Maria José Aranha de Rezende (Avenida
Vicente de Carvalho, em frente à Rua Pindorama).
Em 30 de maio de 2008, a internauta Sue
postou no blogue Poderosamente Mulher esta
biografia (consulta em 28/5/2011):
Magnífica poeta santista, sobrinha neta de Vicente de Carvalho: MARIA JOSÉ ARANHA DE RESENDE
Muito há que se dizer de Maria José Aranha de Resende, 'a cigarra que mais alto canta no planalto paulista', no dizer de Olegário Mariano.
Nascida em Santos em 2 de outubro de 1911, a escritora veio a falecer em 17 de junho de 1999, aos 88 anos, dormindo. Era conhecida entre os amigos
por Zezinha, a poetisa das rosas, pois esta sua flor preferida inspirou-a para muitos poemas e deu nome a seu primeiro livro: Rosa Desfolhada.
Zezinha era cronista do jornal A Tribuna, membro do Instituto Histórico e Geográfico de Santos e fundadora da
Academia Santista de Letras. Foi a primeira mulher a ser admitida em uma entidade literária, e isto aos 17 anos de idade. Suas influências
poéticas foram poetas com quem conviveu muito de perto: o tio-avô Vicente de Carvalho, Martins Fontes, Paulo Gonçalves, Ribeiro Couto e Martins
Fontes.
A cidade de Santos a homenageou em 1974 outorgando o título de Cidadã Emérita a esta poetisa apaixonada por sua
terra, que nunca quis deixar em busca de melhor divulgação para seus textos. Mais tarde excursionando pela América do Sul e pela Europa fazendo
palestras sobre Vicente de Carvalho, por ocasião dos 25 anos da morte do tio-avô, Zezinha confessava sentir muitas saudades de Santos.
Sua obra poética consiste nos seguintes livros: Rosa Desfolhada; Fonte Sonora; A Flor e Outros
Poemas; Sonetos que o amor inspirou; além de um LP Poemas. Sua obra em prosa consiste dos livros: Crônicas de Domingo;
Vicente de Carvalho, o Poeta da Mar (biografia que lhe valeu o prêmio Luiz de Camões da Academia de Ciências e Letras de Lisboa); Affonso d'Escragnolle
Taunay - O Desbravador da História Paulista (biografia que recebeu Menção Honrosa da Comissão Estadual de Literatura); Zezinha escreveu também
Muita Prosa, pouco Verso, obra que recebeu o Troféu Ribeiro Couto - O Livro do Ano em 1983, pela União Brasileira de Escritores.
Zezinha, como era carinhosamente chamada por seus amigos e admiradores, irradiava entusiasmo pela beleza e tanta
alegria em viver, que o mundo à sua volta parecia caloroso e bom. Serei sempre grata a Zezinha pela sabedoria que transmitiu, através de sua fé, sua
coragem e sua determinação em ser feliz, como podemos perceber neste versos:
Cantiga de Rosa (do livro RosaDesfolhada)
Ao contrário dos jardins que há rosas em profusão,
na vida são mais espinhos que ferem a nossa mão.
Não amargures a vida lembrando coisas penosas,
a roseira tem espinhos mas só colhemos as rosas.
Colhe a rosa que te couber perfumada e colorida,
e esquecerás os espinhos que te feriram na vida.
Não abras muito a janela pois o vento pode entrar
e a tua rosa tão bela poderá se desfolhar.
Cultiva, por isso, a rosa, mesmo entre espinhos nascida,
porque os espinhos são muitos e poucas rosas na vida!
Zezinha tinha a capacidade de utilizar a seu favor as adversidades, e podemos perceber sua força espiritual nestes
versos em que ela se refere à poliomielite, doença que a acometeu em criança:
"Mas não fiquei amarga, não....
O que me faltou em movimento
Sobrou em sentimento
O que perdi em ação
Ganhei em imaginação."
Sua última crônica, publicada no jornal A Tribuna no dia dos namorados, foi dedicada ao amor, e finalizada
com estes versos:
"Bendito seja o amor, seja sempre bem vindo
Amemos sempre, sim, com toda a intensidade,
O amor traz para nós um benefício infindo
Quando chega, a sorrir, nos dá felicidade
Quando parte, a chorar, nos deixa uma saudade".
BIBLIOGRAFIA: Artigos de A Tribuna - 1999
Revista Chapéu de Sol - n°2 - 1999
Livros de Maria José Aranha de Rezende
(Texto de Sonia Rodrigues)