HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS -
CÂMARA
As muitas sedes da Câmara quase despejada-1
Embora a história registre muitos endereços para as instalações do Legislativo, este
poder entra no século XXI correndo até o risco de despejo
Poder que de fato governava a Cidade, desde
os tempos coloniais do Conselho Municipal, até que surgisse em 1908 a figura do
prefeito, o Legislativo acumula ao longo de quatro séculos e meio de história uma série de localizações, algumas delas bem
conhecidas dos santistas, como o edifício da Câmara e Cadeia Velha, na Praça dos Andradas, e o
prédio duplo do Valongo onde se instalaram a Prefeitura e a Câmara, até que em 1939 fosse inaugurado o
Paço Municipal na Praça Mauá, abrigando as instalações desses dois poderes.
Com o crescimento das atividades, no final do século XX, a Câmara passou a ocupar um "Anexo" na
Rua XV de Novembro, em prédio alugado - antigo e bastante deteriorado -, razão pela qual o início do século XXI encontra os
vereadores às voltas com uma ameaça de despejo, em 2004, por falta de pagamento do aluguel; a compra (não concretizada) de um prédio na esquina das ruas
General Câmara e D. Pedro II; e a destinação de um terreno da Prefeitura situado na Vila Mathias, onde funcionava em meados
do século XX um mercadinho municipal, depois demolido, que poderia servir para a construção da sede da Câmara (nunca concretizada), mas usado
"provisoriamente" (por mais de duas décadas) como estacionamento alugado de veículos. Só em 2011 a Câmara ganhou prédio próprio, o reformado
Castelinho do Corpo de Bombeiros. O problema da ameaça de despejo
era descrito na edição de 2 de setembro de 2004 do jornal santista A Tribuna:
Câmara não paga aluguel desde junho e corre risco de ser despejada
Foto: Walter Mello, publicada com a matéria
CÂMARA
Gonzalez não tem aval para renovar contrato de locação
Prédio da Rua XV de Novembro está alugado por R$ 49.423,12/mês
Da Reportagem
O presidente da Câmara, Odair Gonzalez (PP), está
tentando renovar por mais cinco anos o contrato de aluguel do prédio que o Legislativo ocupa na Rua XV de Novembro, no Centro. A proposta, no
entanto, não tem o aval dos secretários da Mesa Diretora - os vereadores Geonísio Pereira Aguiar, o Boquinha (PMDB), e Suely Morgado (PT).
Isto, na prática, inviabiliza o fechamento do negócio.
Gonzalez explica que renovar o contrato de locação não significa que a Câmara tenha
desistido de adquirir o prédio localizado na esquina das ruas General Câmara e Dom Pedro II, também no Centro. Segundo ele, é apenas uma forma de
garantir a permanência dos vereadores no prédio atual até que a compra seja efetivada, o que ainda não há previsão para ocorrer.
"Há uma cláusula que nos permite rescindir o contrato, sem nenhum ônus, assim que a
aquisição do novo prédio for concluída. A Câmara não vai ficar no prejuízo", garantiu Gonzalez. "O prazo de cinco anos é só para não dar trabalho
aos novos presidentes que virão depois de mim".
Mesmo assim, Boquinha e Suely reiteraram ontem à tarde a A Tribuna que
não assinarão o contrato, porque discordam dos valores propostos por Gonzalez. O presidente quer renovar a locação por R$ 49.423,12 mensais - o
mesmo valor que vinha sendo pago até maio.
Em junho, julho e agosto, a Câmara não pagou o aluguel e corre risco de sofrer uma
ação de despejo. A dívida, sem o acréscimo de juros e demais correções, já chega a R$ 156.246,24.
"Não sou inflexível, mas, por este valor, eu não assino", disse Suely. "É preciso
baixar para uns R$ 20 mil ou R$ 25 mil, que já vai estar muito bem pago. Não podemos esquecer que o prédio está em condições precárias".
Boquinha sugeriu o mesmo patamar de preço. E disse que, por R$ 20 mil, haveria
a possibilidade de alugar o prédio que a Câmara está tentando comprar, cujas condições estruturais são melhores que o da Rua XV.
"Se ele diz que tem a proposta, que elabore o contrato e ponha na minha mesa que eu
assino embaixo", ironizou Gonzalez. "É muita demagogia dizer que não vai assinar a renovação do contrato. Onde a Câmara vai ficar se não pagarmos o
aluguel de onde estamos?".
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Suely e Boquinha discordam do valor a ser pago
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Em estudo - Responsável pelas negociações com os proprietários do imóvel que
pode ser a nova sede do Legislativo, o prefeito Beto Mansur ainda estuda o processo de desapropriação, informou ontem o secretário de Comunicação da
Prefeitura, Tom Barboza. |
O tema continuava, nesta matéria de A Tribuna, em 3 de novembro de 2004:
LEGISLATIVO
Compra de nova sede deve permanecer indefinida
Da Reportagem
A primeira-secretária da Mesa Diretora da Câmara,
vereadora Suely Morgado (PT), disse ontem que não acredita que a compra da sede definitiva do Legislativo seja concretizada até o final do ano.
Na semana passada, o presidente da Câmara, Odair Gonzalez (sem partido), anunciou o
pagamento de valores atrasados do aluguel do Anexo, instalado em um imóvel da Rua XV de Novembro, cujo vínculo venceu em maio. Gonzalez ainda
aguardava uma definição quanto à prorrogação do contrato, que está sendo avaliada pelos advogados do Legislativo.
A Vereadora Suely Morgado espera que a situação do Anexo seja definida nas próximas
semanas. "Temos a consciência de que a solução do problema não pode mais ser adiada".
RECONHECIMENTO |
"Temos consciência de que a solução do problema não pode mais ser adiada"
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Suely Morgado
Vereadora
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No que se refere à compra da sede definitiva, Suely não acredita que o impasse seja
solucionado a curto prazo. "Houve uma proposta de compra de um imóvel situado na esquina da Rua D. Pedro II com a Praça Mauá, ao lado do Paço, que
acabou não sendo concretizada pela Prefeitura, por causa de divergências nos valores da transação".
Segundo a parlamentar, os proprietários do imóvel teriam feito uma avaliação do
imóvel, que resultou em um valor superior ao oferecido pela Administração Municipal. "Depois disso, a negociação emperrou de vez. Não se falou mais
nada sobre o assunto".
Outra proposta que surgiu nos últimos anos foi a compra de um terreno situado na
esquina das ruas Senador Feijó e Rangel Pestana. A iniciativa também não foi concretizada pela Prefeitura.
"O problema é que a compra do imóvel depende de uma ação da Prefeitura. O Legislativo
não pode tomar esta iniciativa de forma unilateral", assinalou a parlamentar.
Câmara aguarda renovação do contrato de aluguel do Anexo
Foto: Carlos Nogueira, publicada com a matéria
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Ao encerrar seu segundo mandato como prefeito, Beto Mansur assinou e fez publicar no
Diário Oficial de Santos, em 30 de dezembro de 2004:
Decreto nº 4.355
de 29 de dezembro de 2004
REVOGA O DECRETO Nº 4.184, DE 30 DE DEZEMBRO DE 2003, QUE DECLARA DE UTILIDADE
PÚBLICA PARA FINS DE DESAPROPRIAÇÃO, IMÓVEL NECESSÁRIO ÀS INSTALAÇÕES DA SEDE E DEPENDÊNCIAS DA CÂMARA MUNICIPAL.
BETO MANSUR, Prefeito Municipal de Santos, usando das atribuições que lhe são
conferidas por lei, e
CONSIDENDO (SIC), as
informações constantes do Processo Administrativo nº 72358/2004-13, em especial o fato de que a avaliação prévia do imóvel expropriado, levada a
efeito nos autos da desapropriação nº 739/04, cujo processo tramita pela 2ª Vara das Fazendas Públicas desta Comarca, em muito excede o valor venal
do bem;
CONSIDERANDO, que o excessivo valor - ainda em fase de preliminar fixação - onerará em
demasia o erário, posto que o depósito prévio deve se dar de imediato;
CONSIDERANDO que o interesse público deve andar pari passu com o princípio da
eficiência administrativa, onde a economicidade detém morada;
CONSIDERANDO, enfim, que o poder expropriante pode a qualquer tempo desistir da
desapropriação e por conseqüência do processo judicial,
DECRETA:
Art. 1º. - Fica revogado o Decreto nº 4.184, de 30 de dezembro de 2003.
Art. 2º. - Este decreto entra em vigor na data da publicação.
Registre-se e publique-se.
Palácio "José Bonifácio", em 29 de dezembro de 2004.
Beto Mansur
Prefeito Municipal
Registrado no livro competente.
Departamento de Registro de Atos Oficiais da Secretaria Municipal de
Assuntos Jurídicos, em 29 de dezembro de 2004.
Roberto M. de Luca de O. Ribeiro
Chefe do Departamento
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Na edição de 31 de dezembro de 2004 do jornal santista A Tribuna:
Decreto que desapropriou imóvel é de 30 de dezembro de 2003
Foto: Alberto Marques, publicada com a matéria
SEDE DA CÂMARA
Prefeitura pode ser alvo de ação
Da Reportagem
Os proprietários do imóvel que seria usado como sede
definitiva da Câmara, situado na esquina das ruas General Câmara e Dom Pedro II, devem entrar com uma ação de indenização contra a Prefeitura. A
Administração Municipal revogou o decreto que declarava de utilidade pública o prédio para fins de desapropriação.
Advogado de um dos representantes do imóvel, Helio Luiz Cunha de Andrade soube da
revogação do decreto, de 30 de dezembro de 2003, quando foi contatado ontem à tarde por A Tribuna. "Estou sabendo agora por você. Vamos
entrar com uma ação indenizatória. Por um ano, os proprietários tiveram suas negociações atrapalhadas por conta deste decreto", afirmou, por
telefone.
Andrade avalia que os donos do prédio perderam cerca de R$ 1 milhão por deixar de
arrecadar R$ 35 mil de aluguéis e, ao mesmo tempo, pagar R$ 25 mil de impostos.
Assim como a revogação do decreto, também foi publicada no Diário Oficial do
Município a renovação do aluguel do prédio usado como anexo do Legislativo, que fica nos números 103/109 da Rua XV de Novembro e também na Rua
Azevedo Júnior, 13/15.
Presidente da Câmara, o vereador Odair Gonzalez (sem partido) lamentou não ter
conseguido realizar o sonho de comprar a sede própria do Legislativo. Quanto à renovação do contrato com o prédio do anexo, Gonzalez afirmou ser
necessária. "O Poder Público é obrigado a ter este documento por escrito para poder ocupar o local".
Para continuar ocupando este local, o Legislativo gastará R$ 52.082,08 - valor
considerado excessivo por alguns parlamentares. "Falam que o valor é alto? Mas quem ofereceu melhor opção? Eu procurei e não encontrei", justificou
o presidente da Câmara.
Para Adelino Rodrigues (PSB), o prefeito errou ao se precipitar e fazer o decreto de
desapropriação do imóvel na esquina da General Câmara e Dom Pedro II. "O Poder Público não pode agir assim, desapropriar, e depois tentar uma
negociação com os donos".
Sobre a renovação do contrato de aluguel, Adelino destacou que as críticas quanto a
este imóvel já vêm sendo feitas há algum tempo "e que, no passado, o PT se aliou a Gonzalez com o intuito de resolver esta questão. Disseram que
isso seria uma das questões a serem tratadas pela Mesa Diretora".
Cassandra Maroni (PT) respondeu às críticas de Adelino afirmando que a questão da sede
própria do Legislativo não chegou a servir como ponto de acordo com Gonzalez. "Lamento que o Adelino, na saída de seu mandato, ainda faça referência
a este episódio". Não fosse o apoio do PT, há quatro anos, Adelino seria eleito presidente da Câmara. |
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