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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - FUTEBOL - BIBLIOTECA NM
Os primeiros 60 anos do futebol paulista

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Clique na imagem para ir ao índice do livroEm 1956, o jornalista Adriano Neiva da Motta e Silva - o De Vaney - participou de um concurso nacional de crônicas sobre esportes e conseguiu provar, com números e outros dados, que Santos era a cidade mais esportiva do Brasil. Exatamente nessa mesma época, ele começava a publicar em formato de folhetim diário, então muito comum na imprensa, a história das primeiras seis décadas de futebol no Estado de São Paulo. O material, colecionado, formava um livro de 108 páginas. A publicação ocorreu no jornal santista A Tribuna, de 25 de janeiro a 29 de fevereiro de 1956 (ortografia atualizada nesta transcrição):

60 anos de futebol em S. Paulo

De Vaney


[8] - Da ilusão à realidade

As vitórias que o Mackenzie, o Internacional e o Paulistano - cujas equipes eram integradas, na maioria, por jogadores brasileiros - obtiveram, entre 1902 e 1905, sobre os quadros do Germânia (da colônia alemã) e do São Paulo Athletic (da colônia inglesa), serviram de ponto de apoio para uma afirmativa que desde logo se generalizou:

-"O nosso futebol, o nosso modo de jogar, nada fica a dever ao dos alemães e ao dos ingleses".

E se alguém contestava, lembrando que ainda era demasiado cedo para tirar conclusões, logo explodiam os exemplos:

-"O Robinson, o Miller, o Duff, o Pool, não são craques da Inglaterra? O Hans Nobiling e o Herman Friese não foram grandes elementos na Alemanha? No entanto, o que é que eles agora fazem entre nós? Que vantagem eles levam, neste momento, sobre os brasileiros de São Paulo?

E a afirmativa voltava a se fazer ouvir, mais alta, mais sonora, mais petulante:

-"Estamos jogando tanto ou mais que os ingleses e os alemães! Essa é que é a grande verdade!"

***

Bem que se pensava, em São Paulo, em mandar vir uma equipe estrangeira para jogar no Velódromo. Mas as dificuldades eram enormes e os obstáculos, de tão vultosos, se afiguravam intransponíveis.

Houvera, em 1904, a excelente oportunidade do Nothingan Forest, um clube inglês que se exibira na Argentina. São Paulo convidou. O Nothingan Forest disse que vinha. Mas, à última hora, o navio mudou de rumo - medo da febre amarela? -, desviou-se de Santos e tudo não passou de uma esperança frustrada.

Mas agora, em 1906, surgia um outro ensejo, e esse São Paulo não perderia de forma alguma. Já se entendera até pelos meios diplomáticos, e o South Africa, equipe da África do Sul, que se encontrava em Buenos Aires, não lhe escaparia, nem pelas mãos de Deus Padre.

De fato, o South Africa telegrafou, lá da Argentina, avisando que chegaria no dia 30 de junho, para jogar no dia 31.

Foi um alvoroço. Um corre-corre tremendo. Toda a gente atarantada, a fazer preparativos para a recepção. E quando tudo ficou pronto, só faltando a presença dos ingleses do South Africa, a velha afirmativa passou a se fazer ouvir, de boca em boca:

-"Nós somos iguais ou melhores do que os estrangeiros!"

E agora, com aquela esperada oportunidade, o exemplo seria vivo. E quando se perguntasse a São Paulo por que ele se julgava melhor que os estrangeiros, São Paulo tiraria o charuto da boca, daria uma baforada no rosto do indagador e mandaria abrir os livros das estatísticas, para que se pudesse ver, admirar, aplaudir, invejar aquele resultado advindo da derrota que ele impusera ao South Africa.

É só folhear os jornais da época, o Estado, o Correio, e basta ler o que escreveu o emérito Antônio Figueiredo para não se ter a menor dúvida de que o triunfo sobre o South Africa era resolução tomada, assentada e resolvida antes, muito antes, de a peleja começar.

***

Mas quando a peleja findou havia um seis (6) ao lado do nome do South Africa e um zero (0) junto ao nome do selecionado brasileiro de São Paulo.

Aquela foi a primeira água na fervura que se fez sentir, que se fez presente no futebol do Brasil. O Velódromo - é Antônio Figueiredo quem narra - parecia sala de velório ao término do prélio. Mágoa em todos os rostos, desconsolo em todas as fisionomias. O pior, porém, o que doera mais fundo, fora a atitude de zombaria dos ingleses, que, quando a peleja se lhes deparou fácil, e quando chegaram aos 6 a 0, não quiseram fazer mais tentos e passaram a se divertir com a nossa moçada, como o gato com o rato. A bola, coitada, essa ficara a representar o triste papel de queijo, um queijo detestável para quem, como os brasileiros, se julgava com direito às delícias do caviar...

***

Feriu tanto a alma do futebol de São Paulo aquela goleada do South Africa, que durante dois anos os campos da Paulicéia apresentaram-se quase vazios. Um sopro de desânimo, um torpor de desencanto, um complexo de inferioridade, o espancamento no corpo de uma ilusão que parecia imortal, um constante lamento de penitente, a vergonha do ridículo, eis São Paulo de depois do South Africa.

E a frase da superioridade vestiu-se de luto, trajou-se de cantochão:

-"Brasileiro não nasceu para jogar o futebol!"

***

De fato, jogava-se mal, muito mal, o futebol por aqui, por São Paulo, lá pelos idos do princípio do século. Depois do South Africa vieram os argentinos, em 1908. Reavivaram-se, rejuvenesceram-se os ideais de conquista. Esperou-se a reabilitação. Os argentinos nada tinham a ver com a derrota que nos infligiram os ingleses, mas deixe lá - dizia-se - que surrar os argentinos faria esquecer um pouco os ingleses.

Mas não se surrou argentino nenhum. Perdeu-se, isso sim, dos argentinos, nos quatro jogos que com eles se jogou. E o primeiro prélio, o da estréia, contra a seleção paulista, no jogo em que as expectativas de reabilitação estavam mais alentadas que nunca, eis que os argentinos aplicam valente sova no nosso selecionado e - tragédia das tragédias!... - logo pela mesma contagem da surra do South Africa: 6 a 0.

E quando os argentinos rumaram para o Rio, onde - mal de muitos, consolo é... - também ganharam fácil dos cariocas, quando os argentinos se foram, São Paulo deu um murro na bola, resmungou um impropério e andou muito e muito tempo sem querer coisa alguma com o jogo de futebol, originando-se, daí, nova onda de desânimo, que perdurou até 1910.

***

Na verdade, é bom repetir, jogava-se mal o futebol, em São Paulo, quando das visitas do South Africa e dos argentinos. Não havia preocupação de conjunto. O adendo de association ao nome do football era só para constar. O que empolgava o público, o que o fazia vibrar, era o chute forte, o chute alto, o chute em qualquer direção, contanto que contivesse violência para aumentar, ao máximo, o ruído do impacto. O lance pessoal, a posse do balão - e quanto mais demorada, melhor - a fuga isolada, até mesmo em sentido horizontal aos arcos, tudo isso é que era futebol de primeira água para o público daquele tempo. E se a platéia gostava, por que não satisfazê-la? E da satisfação é que vinham os aplausos.

Não era raro o espetáculo oferecido por um zagueiro a se embarafustar, defesa inimiga adentro, à procura do gol. E também ninguém se surpreendia ao ver o goleiro ir fazer suas fintas, aplicar suas negaças, fora de sua área, para fazer pouco do adversário ou para ser alvo de elogios da assistência.

É ainda Antônio Figueiredo, em seu vade mecum do princípio do futebol brasileiro, História do Football de São Paulo, quem comenta que, se se pudesse "reunir hoje (1917) os velhos sportsmen Charles Miller, Ibanez Salles, Boyes, Álvaro Rocha, Belfort, com o mesmo jogo que tinham naquele tempo (1902-1910), eles, se se apresentassem ao público, cairiam no ridículo e seriam até mesmo apupados".

Mário Cardim, essa outra jóia do jornalismo esportivo, também se ocupa do modo de jogar dos nossos primeiros futebolistas. E traça, depois das vindas dos ingleses e dos argentinos, o paralelo entre o sistema de jogar dos nossos (atabalhoado, confuso, inobjetivo) e o dos britânicos e platinos (firme, consciente, bem tramado).

***

Charles Miller, Hermann Friese - os homens-escola do futebol paulista - contribuíram, decididamente, para incentivá-lo.

Charles Miller era o cérebro em função do futebol. Já Hermann Friese era o próprio futebol em ação. Excelente corredor de velocidade, Hermann Friese foi o primeiro cidadão a representar o Brasil, em esportes, no Exterior, tomando parte nos "Juegos Olimpicos Internacionales", efetuados (1907) em Montevidéu, sagrando-se vencedor nos 800 e 1.500 metros.

A mobilidade de Hermann Friese e a segurança de atuação de Charles Miller teriam, forçosamente, que formar escola, mas não era possível conseguir-se, desde logo, que um punhado de nativos, totalmente leigos em futebol, pudesse se transformar, de um momento para outro, em experimentados Charles Millers e desenvoltos Hermann Frieses. A evolução teria que se processar lentamente, naturalmente, exposta aos percalços de todos os aprendizados.

Mas o afluxo de público aos campos, em assombroso crescendo, e, principalmente, o cada vez maior e mais entusiástico interesse demonstrado pelo sexo feminino, criaram no espírito do futebolista nacional a tendência para o exibicionismo, para a apresentação, pura e simples, das atitudes pessoais, dos gestos que tinham muito mais de heróicos, de dramáticos, de teatrais, do que, propriamente, de futebolísticos.

Além disso, a convicção temerária, absolutamente precipitada, de que já se estava jogando muito bem o futebol em São Paulo só porque um Mackenzie vencera a um Germânia, um Paulistano se impusera a um São Paulo Athletic, e os paulistas, nos cotejos interclubes, se avantajavam nitidamente aos cariocas, essa convicção cresceu tanto, tanto se agigantou, que as derrotas ante os ingleses do South Africa, em 1906, e ante os argentinos (quase ingleses), em 1908, constituíram-se tremendas quedas e determinaram uma ameaça aos fundamentos do futebol paulista.

Mas, ainda assim foram surgindo elementos brasileiros dignos de enaltecimento, alunos aplicados de Miller e de Friese: Ibanez Salles, Álvaro Rocha, Belfort Duarte, Tutu Miranda, Léo Bellegarde, Aquino, Alício de Carvalho, Renato Rubião, Argemiro de Souza e outros, que formam, também, nesse autêntico contingente de sapadores do futebol de São Paulo.

 

Ilustração de J.C. Lobo publicada em A Tribuna com o texto

***

O ambiente de pessimismo, que gerara a crença de que o brasileiro não nascera para jogar futebol, passou a ser combatido pelos que tinham dentro de si a flama do ideal. Tratou-se, com calma, com ponderação, com descortino, de apurar-se as causas das derrotas ante o South Africa e a seleção argentina. Chegou-se, então, à conclusão de que o futebol brasileiro, para ser "associação", como o nome inglês aconselhava que fosse, tinha, antes do mais, que obedecer a uma sincronização de movimentos em que o homem e a bola estivessem conjugados para a conquista de um objetivo único: movimentar a equipe em ações defensivas, em tramas ofensivas, sempre com o necessário e imprescindível entrosamento nas jogadas.

Não se diga que mr. John Hamilton (o primeiro técnico de futebol a surgir no Brasil), contratado na Inglaterra pelo C. A. Paulistano, em 1907, não haja contribuído, e muito, para o desenvolvimento desse esporte, em sua forma teórica, entre nós.

Mas não se oculte, também, que foi do aproveitamento das qualidades inatas do jogador indígena, na sua compreensão de que sem conjunto não poderia haver equipe, que se foi firmando, aos poucos, a maneira de jogar dos brasileiros. Esse termo "a maneira de jogar dos brasileiros" é de suma importância e da sua relevância tratar-se-á, linhas vindouras, nesta monografia.

***

As vitórias que os ingleses do Corinthians Team obtiveram em São Paulo, no ano de 1910, já não causam espanto, nem determinam desesperos. Toda a gente já sabe, por aqui, que o Corinthians Team é um grande quadro, que pratica um futebol todo ciência, e que nós, com o nosso futebol ainda de chupeta ao canto da boca, não poderíamos esperar mais do que perder dos britânicos.

E as derrotas (2 a 0, o Palmeiras; 5 a 0, o Paulistano) são encaradas como inevitáveis contingências do tirocínio, vistas até como não de todo más, eis que o São Paulo Athletic, com todos ingleses na equipe, perdera por diferença bem maior: 8 a 2.

Já nessa temporada do Corinthians Team em 1910, o quadro europeu foi olhado com o respeito que merecem os mestres, e sem as fanfarronadas com que se olhara antes, em 1906, ao South Africa. E souberam portar-se bem os paulistanos, porque assim o disseram os próprios caladíssimos ingleses do Corinthians Team, através das palavras de mr. T. Onslew, chefe da comitiva: "Os brasileiros que vimos nessas duas tardes têm bom futuro à sua frente".

Não errou mr. Onslew. Não errou, porque naquelas duas tardes ele vira atuar Rubens Salles, Irineu Malta, Gullo, Godinho, Oscar Egídio, lídimos produtos da época obscura, mas abnegada, sementes para outras gerações e que já não caíam em terreno sáfaro.

E naquela temporada Rubens Salles foi comparado ao famoso centro-médio inglês, Morgan Owen, na opinião unânime da estupenda equipe inglesa do Corinthians Team.

Era a primeira medalha que se colocava no peito do futebol de São Paulo e do Brasil.

***

Agora restava prosseguir. Já havia futebol digno de menção em São Paulo. O Corinthians Team tivera que agir com toda as suas forças, com todos os seus melhores recursos, para sobrepor-se ao Palmeiras por 2 a 0. Não houve, desta vez, tempo e ensejo para que os famosos ingleses brincassem com os paulistas, como fizera o South Africa, como fizera o selecionado argentino.

E não houve gatos. Não houve ratos. Não houve queijos... Tudo correra nos oitenta minutos, como num jogo em que qualquer facilidade, qualquer distração, poderia ser fatal a este ou àquele quadro.

E o futebol paulista começou a ter confiança em si.

***

Sucederam-se, depois, os três fatos de maior realce no futebol didático de São Paulo, três fatos que valem por três episódios de proeminente valor no pebol paulista e brasileiro.

O primeiro consubstanciou-se na vitória que o Americano marcou (3 a 0) sobre o selecionado do Uruguai, que visitava São Paulo em 1911 (um ano, precisamente um ano, note-se bem, após a vinda do Corinthians Team), triunfo esse de justificada ressonância e que fez sacudir em incontido júbilo todo o Velódromo, naquela tarde de 13 de agosto, que nada teve de aziaga, já que assinalou a primeira conquista obtida por um clube de São Paulo, por uma equipe do Brasil, sobre um conjunto estrangeiro.

E é preciso não olvidar - para que se saiba e se conheça ainda melhor a ampla extensão e o enorme significado dessa vitória - que os uruguaios, os mesmos uruguaios que haviam perdido para o Americano por 3 a 0, tinham empatado, em Montevidéu, com o decantado South Africa, o que, por si só, lhe bastava como recomendação e como credencial.

O segundo trecho admirável nesses primórdios da história do futebol paulista foi escrito pelo C. A. Paulistano, na vesperal de 4 de setembro de 1912, ao vencer o selecionado argentino, que para aqui viera certo, certíssimo, de se envolver outra vez nos macios aconchegos das vitórias conquistadas quando de sua primeira visita três anos antes.

Ganhou o Paulistano, por 4 a 3, após um prélio verdadeiramente sensacional, o mais disputado que São Paulo vira até então e a cujo término os argentinos não se contiveram:

-"Como melhoraram os paulistas!"

O terceiro feito do futebol de São Paulo, este então de excepcional saliência, volta a ter como personagem central o S. C. Americano, que, na Argentina, em Buenos Aires, no campo do Racing, na tarde de 10 de agosto de 1913, na primeira vez que um clube, uma equipe nacional deixava o Brasil, nesse dia, nessa tarde, nessa primeira vez, o Americano vence em plagas distantes o selecionado da Argentina, por 2 a 0, atuando a sua gloriosa equipe com Hugo; Chico Netto e Menezes; A. Bertone, J. Bertone e Thiele; Formiga, Alencar, Décio Vicari, Friedenreich e Juvenal.

Fincaram-se assim, em solo exuberante, três marcos de ouro, três estacas a delimitarem os três pontos de onde partiu, em fulgurante arrancada, rumo ao porvir, o futebol paulista.

***

Havia muito de tipicamente inglês, de sensivelmente clássico, no futebol brasileiro que se ia formando no período de 1910-1913.

Mas não era somente inglesa "a maneira de jogar dos brasileiros". Lógico, claro, ponto pacífico, que toda a estrutura inicial, todo o revestimento do futebol brasileiro nos seus primeiros passos, teria que ser à inglesa.

No entanto, com o correr do tempo, foram se observando os choques entre o cerebralismo britânico e a irrequietabilidade do brasileiro. Os que se insurgiram contra a maneira de agir, auto-reflexa, do futebolista nacional, passaram a notar que o futebolista brasileiro se apequenava, diminuía, mirrava, toda vez que um controle de bola, um passe, uma finta, tinham que ser feitos, preferencialmente, em obediência aos preceitos da boa técnica, às exigências do estilo.

A obrigação imposta ao futebolista brasileiro de se afazer a esses métodos austeros, rigorosos, produziu-lhes o complexo de inferioridade de que se viu presa, ao início, o "futebol do Brasil". O medo de errar encontrou um disfarce na precipitação. O pavor do desacerto gerou o personalismo. E foi por isso que se buscou nos tiros longos, fortes, vistosos, ou nas descidas bruscas sem sincronia, o meio melhor de escapar com o estapafúrdio, com o estouvamento, com a excentricidade, o elegante volume das boas maneiras do futebol...

Mas os ingleses do Corinthians Team descobriram qualidades inatas em nossa gente. Não disseram quais eram. Nem inglês costuma descer aos detalhes. Mas nós principiamos a ver e a sentir que na sagacidade, na rapidez, na solércia, na argúcia, no reflexo instantâneo, residiam as nossas armas preferenciais. Mr. Lane já gritava aos paulistas, quando o nosso futebol ainda engatinhava: "Well and quick!" E aquele "bem e depressa" queria dizer "técnica e agilidade!"

Foi com a agilidade se aliando à técnica que o futebol de São Paulo foi se sobrelevando, primeiro ao Rio, depois aos estrangeiros. Os cariocas ainda estavam para se emancipar do jogo estrangeiro e já São Paulo jogava desgarradamente à paulista.

São Paulo se insurgira contra o escravagismo, abraçara a dulocracia, e os cariocas ainda continuavam, em 1914, com os Frech, os Welfare, os Pullen, os Muttzemberg, prosseguidores da mesma escola dos Robinson, dos Schubback, dos Etchegaray da fase inicial.

São Paulo não. São Paulo tirava do inglês o que se poderia aproveitar para transformar em produto brasileiro. Era a matéria-prima - a técnica - sendo utilizada para a confecção na máquina - o homem - no mesmo ideal.

E aparecem, então, na ribalta do futebol nacional, os Rubens Salles, Lagreca, Chico Netto, Menezes, Nazareth, Formiga, Morelli, Itaborahy, Orlando, Demósthenes, Casimiro, Bianco, Zecchi, Dias, Palamone, Carlito etc.

Do futebol inglês nada mais resta. A ala MacLean e Hopckins em breve cederia seu lugar a Neco e Arnaldo, a Haroldo e Arnaldo. O Scotch Wanderers, último reduto, derradeiro baluarte do futebol estrangeiro em plagas paulistas, cai por terra, desaparecendo de maneira desagradável, acoimado de ser núcleo de profissionais, que dividiam entre si a parte das rendas.

São Paulo da emancipação política do Brasil também o é na liberdade do futebol nacional.

Ilustração de J.C. Lobo publicada em A Tribuna com o texto

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