Rua Senador Feijó, por volta de 1920
Foto: livro Café - Santos & História (vários autores,
Editora Leopoldianum/Universidade Católica de Santos, Santos/SP, 1995)
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O trem de ferro na Senador Feijó
"- Em 1893 - prossegue o sr. Sebastião - choveu fartamente na cidade. Chuvas pesadas, porém
não tão longas como as de março deste ano (N.E. quando ocorreu a tragédia dos deslizamentos
nas encostas do morro do Marapé). Como essas, confesso, não vi outras. Naquela ocasião, as ruas do centro ficaram
inundadas, na casa de ferragem do Carvalho, na rua 15, a água chegou à altura do balcão. Nos armazéns, alcançou a altura de quatro sacas de café
empilhadas, causando grandes prejuízos à Praça. Chegou a fazer sucesso, nas ruas 15 e de Santo Antônio (atual do Comércio) uma canoa, na qual houve
quem embarcasse, para ir à estrada de ferro. O volume de água represada foi muito grande; arrebentou o portão de madeira que impedia a passagem dos
pedestres da rua de Santo Antônio para o beco que hoje corresponde à rua Conde d'Eu. Dizia-se que o portão era mantido cerrado ao público pelo dono
do prédio, Júlio Conceição; depois do arrombamento citado não o fecharam mais."
Perguntamos a Sebastião de Castro se tinha algum outro episódio curioso a relatar
ligado à vida na cidade no fim do século e ele anuiu:
"- Sim, o do trenzinho que saindo do Jabaquara, utilizando parte de via-férrea da Cia.
Docas, ainda hoje em uso, alcançava a rua Senador Feijó e por ela enveredava, lado a lado dos trilhos dos bondinhos de burro; depois de cortar a
praça da República ia descarregar material de aterro nas obras do porto. Inúmeras vezes, ao passar pelo bondinho, o maquinista soava o apito da
locomotiva com estridor, e isto fazia que a parelha de burros do bondinho se empinasse, soltasse o "machinho" (engate) e fugisse espavorida. Ficava
então o bondinho imobilizado, com os passageiros a aborrecer o cocheiro-cobrador:
- E agora, moço?
Ao que o cocheiro respondia, calmamente:
- Ou os srs. vão a pé, ou esperem que eu dê um pulo à estação da
Vila, para trazer outra parelha de burros.
A segunda sugestão, porém, era a que recebia sempre aprovação. Não fazia mal esperar
mais um pouco. Pior era bater a rua inteira a pé, naqueles tempos em que havia duas únicas estações a castigar a cidade: uma, favorecendo espantoso
calor; outra, alimentando uma chuva persistente, que fazia a umidade penetrar a fundo nos ossos da gente...".
A pedreira do Jabaquara e a pequena locomotiva, cerca de 1901
Foto cedida pelo Museu do Porto de Santos - Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp)
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