HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS
Um lazareto ao contrário
Nas instalações da Ilha das Palmas ficavam as pessoas sadias: a peste é que ficava de
foraNa tradicional definição de
lazareto (do italiano lazzaretto, lembrando do bíblico Lázaro, ressuscitado por Cristo), consta ser um edifício para quarentenas e/ou hospital
para lazarentos. Na Santos do final do século XIX, dominada pela febre amarela e outras epidemias decorrentes principalmente da falta de saneamento (os
canais apenas começavam a ser construídos), uma empresa de navegação e comércio exterior conseguiu licença para instalar um lazareto ao contrário, em
que eram confinados os tripulantes sadios dos navios, para que não se contaminassem com as pestes que grassavam no porto e na cidade.
Muito tempo antes, já se havia notado que lugares como a Praia do Góis
(município de Guarujá, na Ilha de Santo Amaro) tinham clima melhor e mais saudável, e existia a idéia de criar uma
instalação segregada nesse lugar para receber os tripulantes dos navios - que justificadamente receavam as escalas em Santos, pois eram cada vez mais
freqüentes as notícias de mortes entre os tripulantes dos navios que deixavam esse porto.
Entretanto, esse lazareto ao contrário acabou sendo instalado em local próximo, a Ilha das Palmas, antes de ela
ser comprada pelo Clube de Pesca, como lembrou o jornalista Olao Rodrigues, em sua Cartilha da História de Santos (ed.
A Tribuna, Santos/SP, 1980):
Vista aérea da Ilha das Palmas, em 1976
Foto de M. Rodrigues, na capa do Almanaque da Baixada Santista-1976, de Olao
Rodrigues
Lazareto na Ilha das Palmas
Ilha das Palmas, prodigiosa sede esportiva do Clube de
Pesca, já foi lazareto. Em seu número de 22 de maio de 1892, o matutino Diário de Santos, que foi o jornal de maior vicência no Município
depois de A Tribuna, escreveu a seguinte notícia:
"Na última sessão da Intendência, foi concedida por aforamento, pelo prazo de 10 anos,
à firma Ed. Johnston & Cia., a Ilha das Palmas situada na Barra para instalação de um grande lazareto destinado à tripulação dos navios que vierem a
ela consignados.
Essa providência tem por fim evitar que os tripulantes sejam vitimados pelas
epidemias, como têm sido nestes últimos tempos. A propósito, os peticionários citam o fato, aliás sabido, de serem os tripulantes internados no
Interior do Estado, procurando assim fugir aos seus resultados.
Sujeitando a Intendência tal decisão ao parecer do Sr. Sabóia e Silva, Inspetor do 5º
Distrito, mereceu de sua parte plena aprovação e concordando com o tal melhoramento. Satisfeita assim essa formalidade, vai ser lavrado o competente
contrato de aforamento.
Os Srs. Ed. Johnston & Cia., acreditados negociantes nesta Praça, vêm de prestar um
grande serviço a esta cidade com o estabelecimento de um lazareto na Ilha das Palmas, que será forçosamente o meio único de evitar-se a reprodução
da epidemia da febre amarela que, infelizmente, continua a fazer vítimas a bordo dos navios surtos no Porto.
Não deixa de ser uma lição que aquela firma impõe aos governos que jamais concordaram
no estabelecimento de um lazareto na Praia do Góis, necessidade por nós sempre reclamada". |
A idéia do lazareto, porém, era bem mais antiga, como se verifica na leitura do "Relatório apresentado à
Assembléa Legislativa Provincial de S. Paulo pelo presidente da província, o exm. sr. dr. João Theodoro Xavier em 5 de fevereiro de 1874", impresso
em S. Paulo pela Typ. Americana, no mesmo ano de 1874, e reproduzido em 2005 na Internet -
página A-55 e seguintes, como destaca o internauta Ricardo Pinto de Oliveira Neto, de Capão
Bonito/SP, observando, nas linhas finais, o nome do fiador, que deve ser "Manoel José Martins Patusca e não Patusco, pai de Sizino Patusca e avô de
Araken Patusca, jogador do Santos F. Club":
Capa do relatório
Página A-55
Página A-56
Página A-57
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