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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - Clubes
Clube de Pesca (1)

Surgiu num barracão de sítio. Instalou-se numa ilha exclusiva, que antes fora um lazareto. Assim é o Clube de Pesca de Santos, cuja história foi relatada pelo jornalista Olao Rodrigues, em seu Almanaque de Santos - 1971:

Logo do clube e vista aérea da ilha das Palmas
Logo obtido na página Web do clube
Foto de M.Rodrigues, na capa do Almanaque da Baixada Santista-1976, de Olao Rodrigues

Oásis numa ilha...

O Clube de Pesca nasceu num barracão de sítio; hoje vive em palácio à beira da grande água

Sebastião Arantes, o fundador
Imagem publicada com o artigo

O Rio Casqueiro era o campo de batida e produção daquele grupo de diletantes da pesca. Depois do lanche, ainda madrugada, no antigo café A Leoneza, dos Irmãos Flôres, onde também se concentravam, partiam eles para a prática esportiva de todos os domingos, enquanto outros, do mesmo grupo amigo, preferiam os passeios pelas margens e sítios do velho rio que, "túmido, em ânsias de ser Mar Pequeno, formava como até hoje a Ilha de São Vicente".
Um dia veio a idéia. Por que não a arregimentação associativa em outro ponto, ao lado do mar e das grandes ondas? Todos bateram palmas ao projeto de Sebastião Arantes, notadamente Orlando Esteves, dos mais entusiastas.

Eram cidadãos de boa têmpera, inteligentes, argutos, idôneos e de responsabilidade moral e social. Eis alguns deles: Sebastião Arantes, Vitor Azevedo, Nestor Pacheco, Ernesto de Paiva Azevedo, Heráclito Pereira, Orlando Esteves, Américo Pinto de Oliveira, Renato Pimenta, Martinho Camargo, Carlos Pereira de Andrade, Jaime Pires Lopes, Hiparco Baillot, Carlos Marques Guimarães, Eurico Celso de Figueiredo, Ernesto Correia, Hugo Krausche e Haroldo Levy.

 Salão de jogos, sauna e sanitários do clube
 Imagem publicada com o artigo
Empolgava-os a iniciativa do comandante Sebastião Arantes, homem que sabia o que queria e queria o que podia. E foi assim, nesse ambiente de concórdia e companheirismo, que nasceu o Clube de Pesca de Santos, embalado pelo entusiasmo e energia de outros dedicados elementos, como Alceu Pacheco, Trajano de Castro Serra, Norberto Martins, Feliciano Firmo Ferreira (Javali), Davi Pimenta, José de Figueiredo Melo (Kiki), Adolfo Haiden Barbosa (Dodô), Jair Pontes, Alberto de Moura Ribeiro, Luís Antônio Pimenta (Capitão), Nívio Ribeiro dos Santos, Araldo Machado, Leônidas R. Carvalhais, Aristides de Castro (Pata Larga), Nélson Carvalhais, Pedro Metropolo Júnior, Rodolfo Tabira, Mário Pacheco, Alexandre Maggi, Eduardo Trevões, Gilberto Martins, Reinaldo Pierri e tantos outros.

Instalações: restaurante (E) e churrasqueira (D)
Fotos: Clube de Pesca de Santos
Surge o Clube de Pesca - O comandante Sebastião Arantes marcou o dia 1º de fevereiro de 1934 para a fundação do grêmio que reuniria os adeptos da pesca amadora. A assembléia verificou-se no Sítio São Jorge, de propriedade de Nívio Ribeiro dos Santos, onde aos sábados muitos deles se congregavam para os almoços de camaradagem.

Instalações do clube, tendo ao fundo a Ilha Porchat e a Baía de Santos
Foto: Clube de Pesca de Santos

Orlando Esteves, sempre prestadio, ornamentou o local da histórica reunião, um barraco, dispondo-o com palmeiras e bandeirolas. Lá pelas 20 horas do dia aprazado, Sebastião Arantes abriu os trabalhos e propôs que a direção fosse conferida a Heráclito Pereira, o que se deu por manifestação unânime. Mário e Nestor Junqueira foram os chanceleres, por indicação de Heráclito Pereira, indo também para a Mesa o comendador Júlio Conceição que, a despeito da idade e da saúde, fez questão de prestigiar a assembléia.

E o nome do clube? Alberto de Moura Ribeiro, que já era mestre da ciência de Hipócrates, sugeriu o de Clube de Pesca Enguaguaçu e o comendador Júlio Conceição o de Clube Santista de Pesca. Prevaleceu a denominação de Clube de Pesca de Santos, preconizada por Sebastião Arantes. Foi nomeada Comissão Executiva para dirigir o clube nascente até a assembléia seguinte, que elegeria a 1ª diretoria, depois de aprovar o Estatuto, cuja elaboração coube a Nestor Pacheco, Alceu Pacheco, Araldo Machado e Jaime Pires Lopes. Estava fundado o Clube de Pesca de Santos.

No dia 25 de fevereiro do mesmo ano, ainda no Sítio São Jorge e no mesmo barracão, houve a assembléia que aprovou a carta estatutária e elegeu a diretoria definitiva, que assim se compôs: presidente, Sebastião Arantes; vice-presidente, Nívio Ribeiro dos Santos; primeiro-secretário, Nestor Pacheco; segundo-secretário, Ernesto de Paiva Azevedo; primeiro-tesoureiro, Carlos Marques Guimarães; segundo-tesoureiro, Jaime Pires Lopes; diretor de Material, Orlando Esteves; diretor de Pesca, Vítor Azevedo.

Face Norte da Ilha das Palmas, que abriga o clube
Foto: Clube de Pesca de Santos

Na Ilha das Palmas - Onde se situaria o Clube de Pesca, com seus 68 sócios fundadores? Orlando Esteves manteve gestões com os proprietários da Ilha Porchat e da Praia do Paranapuã, mas o logradouro escolhido foi mesmo a Ilha das Palmas, que ele já conhecia em suas digressões de pesca. Pertencia a empresa de navegação alemã, agenciada em Santos pela tradicional firma Theodor Wille & Cia., da qual era alto funcionário o sócio-fundador Araldo Machado, que serviu de traço de união entre a vendedora e o comprador. Tudo ajustado, foi a ilha arrendada em março de 1935 pela quantia de 100 mil-réis por mês.

E o clube para lá se transferiu, com vagar e tranqüilidade. A ilha estava nua e necessitava de muitas diligências para tornar-se socialmente adequada a um clube que rapidamente crescia. Crescia porque pegou influência nos primeiros meses de existência. Todos queriam ser sócios, a despeito do limite previsto no Estatuto, como até hoje. A imprensa de Santos e da Capital deu-lhe notoriedade, principalmente A Tribuna, o grande órgão jornalístico da Cidade.

Ponte de atracação do clube na Ilha das Palmas
Foto: Clube de Pesca de Santos

Três campanhas, três serviços - Por isso mesmo, o clube não poderia ficar indefinidamente na ilha sob regime de arrendamento. Havia obras que, pelo vulto, [não] deveriam ser executadas em casa alheia. Foi quando se lançou a Campanha da Libra, muito bem acolhida, em que houve esforço e desprendimento de diretores e associados. Quem primeiro assinou o Livro de Ouro foi o embaixador José Carlos de Macedo Soares, com a quantia de 2 e meio contos de réis, seguindo-se a contribuição do Dr. Antônio Cintra Gordinho, no valor de 1 e meio contos de réis. Não se fale no terceiro subscritor, que decepcionou os que a ele recorreram, como Prudêncio Nunes e Américo Pinto de Oliveira.

O preço da aquisição da ilha fora ajustado em mil libras esterlinas, ao câmbio de 70 mil-réis. Otto Uebele, diretor da Theodor Wille & Cia., que havia feito algumas reduções no preço inicial, afirmou a Prudêncio Nunes, presidente do clube, em 1940, que pertencesse a ilha à firma de que era diretor, não teria dúvida em doá-la!

Ponte de atracação do clube na Ilha das Palmas
Foto: Clube de Pesca de Santos

Afinal, com muitos tropeços foi a ilha adquirida por mil libras esterlinas, na gestão de Norberto de Paiva Magalhães, lavrada a escritura, sem qualquer ônus, no Cartório do 8º Ofício, de que era tabelião Michel Alca. Foi um ato histórico, pelos lances de dedicação, esforço e desprendimento que o antecederam.

A Campanha da Água e a Campanha da Luz tiveram dedicados coadjutores, como Prudêncio Nunes, Norberto de Paiva Magalhães, Ernesto de Paiva Azevedo, Brasilino Vaz de Lima, Davi Pimenta, Nestor Pacheco, Davidson Muniz, Eduardo Rocha e tantos outros. Davi Pimenta era o presidente do clube quando da cerimônia inaugural da iluminação elétrica.

Essas três operações marcaram as três grandes fases do adiantamento social do clube ideado por Sebastião Arantes, a que se seguiram muitos outros lances de expansão e progredimento que hoje o situam destacadamente no largo campo do associativismo.

Recanto do Gusmão, na Ilha das Palmas
Foto: Clube de Pesca de Santos

A sopa de peixe - Uma das tradições do Clube de Pesca é a Sopa de Peixe, servida desde os primeiros tempos da ilha. Famosa até nos mais longínquos centros do País, como em João Pessoa - onde o redator principal deste Almanaque, há anos, acompanhado de outros santistas, como Amorim Filho, presidente em 1954/1955, levado a um restaurante da praia, ouviu do proprietário, Mestre Severino, esta sugestão do cardápio:

"Há de especial, meus amigos, Sopa de Peixe, bem preparada, com produto bem fresco, mas não igual ou melhor que a servida no Clube de Pesca, lá na terra de vocês..."

Com amplo edifício-restaurante, de belas linhas arquitetônicas, com capacidade para servir até 300 comensais, invariavelmente requisitado por organizações empresariais de Santos, da Capital e de outros centros, o Clube de Pesca também se faz grande pela excelência da cozinha e do serviço, em que a Sopa de Peixe, famosa e tradicional, é apenas detalhe do conjunto de iguarias...

Homenagem ao antigo barco de pesca Shin
Foto: Clube de Pesca de Santos

Reuniões memoráveis - Naquele ambiente de são companheirismo, em que a alegria de viver é preceito, as pequenas e grandes reuniões sempre se caracterizam pelo senso de compreensão, amizade, expansividade e concórdia.

Vista Sul e ponte que leva à "Pedra Solteira"
Foto: Clube de Pesca de Santos

Grandes festas lá se promovem. Ainda no último mês de junho (N.E.: de 1971), na tradicional reunião social comemorativa de São Pedro, patrono do clube, convergiram para a Ilha das Palmas nada menos de 3.000 pessoas, que se integraram em festividade sadia, ruidosa e álacre, longe de qualquer confusão ou atropelo, em plena identidade de harmonia, ordem e acatamento.

Assim são as reuniões na Ilha. Há, porém, prática já tradicional: aos sábados, só os homens têm acesso franco na Ilha. Mulheres, não! É que, longe de qualquer sentença discriminatória, eles ficam mais à vontade, evocam as proezas de outrora, cantam, bebem, jogam e contam anedotas que elas não podem ouvir...

Dizem que os mais novos já tentaram quebrar a tradição, sustentada energicamente pelos conservadores.

Segundo a revista comemorativa do Jubileu de Prata, organizada e redigida, em parte, por Juarez Bahia, "há apenas quatro damas que se insinuam sorrateiramente entre os homens, dividindo com eles os momentos de distração e alegria. São as damas de copas, paus, espadas e ouro..."

Prainha, junto à ponte de atracação do clube na Ilha das Palmas
Foto: Clube de Pesca de Santos

Jóia da Natureza - Sim, é uma jóia da Natureza incrustada numa ilha. Assim se deve entender a sede esportiva do Clube de Pesca de Santos, que (N.E.: em 1971) chega aos 37 anos  de vida, bem vivida, com imenso saldo de serviços sociais à sua gente e à própria Cidade.

Sua finalidade precípua jamais foi olvidada: pescaria. Lá está o mar para a colheita. Lá estão as embarcações. Lá está todo o material especializado. E não faltam os pescadores. Em memoráveis concursos oficiais, o clube se faz presente, além de organizar e animar torneios internos.

Instalações: vestiário/dormitório feminino (E) e salão de jogos (D)
Fotos: Clube de Pesca de Santos

Não param as obras e serviços de melhoramento da ilha. É uma constante dos homens que passam por sua administração, com um Plano Diretor a orientar as necessidades "urbanas" que o instante propicia e as finanças facultem...

Muita coisa já se fez dentro e fora da ilha. E mais ainda haverá de ser feito para maior nível de expansão e adiantamento do Clube de Pesca de Santos. Não conhecemos outro, na modalidade, que lhe leve vantagem.

A Ilha das Palmas, como se apresenta, é logradouro que a Natureza aquinhoou e a mão do homem alindou, exuberante na formação física e na imagem estética, como atração turística de primeira linha.


Toboágua, no complexo de piscinas do clube
Foto: Clube de Pesca de Santos

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Um lazareto ao contrário