HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS -
TRANSPORTES
Funicular da Nova Cintra: caiu e acabou (2)
Apelidado pelo povo de "tramway da
Nova Cintra", este plano inclinado entrou em funcionamento em 26 de dezembro de 1897, mas 25 anos
depois foi extinto, após um dos troles do funicular ter despencado pela encosta, com seus passageiros.
Nos arquivos do jornal paulistano O Estado de São Paulo, uma das primeiras referências
aos melhoramentos no morro da Nova Cintra data de 26 de setembro de 1896, quando publicou, na página 2 a denúncia de Benjamin Fontana (dono
de terras no morro do Fontana) contra a empresa que instalaria o funicular e o proprietário de terras no
morro de Nova Cintra ou Tachinho, Luiz José de Mattos (Acervo
Estadão - ortografia atualizada nesta transcrição):
Publicado no jornal O Estado de São Paulo em 26 de setembro de 1896, página 2 (Acervo
Estadão)
Santos
EMPRESA NOVA CINTRA
A quem possa interessar, a fim de evitar prejuízos de terceiros, aviso que requeri a
tempo e continua o processo contra Luiz José de Mattos e sua mulher, da demarcação de terras com queixa de esbulho violento consumado de improviso
em dia santo de guarda, por mais de 200 pessoas armadas que construíram uma extensa cerca, esbulhando cerca de 20 casas e uma grande quantidade de
terras com plantações, tudo de minha legítima propriedade, com posse de mais de 30 anos; o processo corre no cartório do tabelião Pacheco e dos
editais judiciais publicados no Diario Oficial e jornais da terra. Eis, pois, as casas e terras da famosa Empresa Nova Cintra.
Benjamin Fontana. |
Em 23 de novembro de 1896, o mesmo O Estado de São Paulo publicou nota na seção Os Municípios/Santos, na
página 1 (Acervo Estadão - ortografia atualizada nesta
transcrição):
Publicado no jornal O Estado de São Paulo em 23 de novembro de 1896, página 1 (Acervo
Estadão)
- O novo bairro Nova Cintra vai ter um plano inclinado, cujo assentamento já foi
contratado com a Companhia Mechanica de S. Paulo - melhoramento esse que se realizará antes de três meses |
Com a instalação em curso, o acesso à base do plano inclinado foi providenciada.O Estado de São Paulo também
publicou, em 18 de agosto de 1897, página 1 (Acervo
Estadão - ortografia atualizada nesta transcrição):
Publicado no jornal O Estado de São Paulo em 18 de agosto de 1897, página 1 (Acervo
Estadão)
OS MUNICÍPIOS
Santos
Os bondes que pela primeira vez transitaram na Rua Rangel Pestana, no trecho
compreendido entre a Vila Mathias e o plano inclinado da Nova Cintra, conduziram para este último local, no domingo, nada menos de 480 passageiros. |
A entrega dos veículos para o plano inclinado também foi registrada por O Estado de São Paulo, na primeira
página da edição de 23 de outubro de 1897, seção Os Municípios/Santos (Acervo
Estadão - ortografia atualizada nesta transcrição):
Publicado no jornal O Estado de São Paulo em 23 de outubro de 1897, página 1 (Acervo
Estadão)
- Destinados ao plano inclinado de Nova Cintra já chegaram àquela cidade três bondes,
de sistema americano, manufaturados nesta capital pela Companhia Mechanica e Importadora. |
Os últimos testes do sistema foram igualmente noticiados por O Estado de S. Paulo, na primeira página da edição
de quarta-feira, 15 de dezembro de 1897, seção Os Municípios/Santos (Acervo
Estadão - ortografia atualizada nesta transcrição):
Publicado no jornal O Estado de São Paulo em 15 de dezembro de 1897, página 1 (Acervo
Estadão)
- Anteontem, às 5 horas da manhã, realizaram-se em Nova Cintra as últimas
experiências do movimento de bondes no Plano Inclinado da Empresa Nova Cintra, devendo a inauguração definitiva realizar-se no domingo.
Pelas experiências realizadas verificou-se que as viagens do Plano Inclinado podem
fazer-se em 2 1/2 minutos, com a máxima segurança. |
O tempo chuvoso adiou por alguns dias a inauguração do sistema. Na edição de sábado, 25 de dezembro de 1897, na
primeira página, o jornal O Estado de São Paulo confirmou (Acervo
Estadão - ortografia atualizada nesta transcrição):
Publicado no jornal O Estado de São Paulo em 25 de dezembro de 1897, página 1 (Acervo
Estadão)
OS MUNICÍPIOS
Santos
É hoje que se realiza em Nova Cintra a inauguração do plano inclinado.
Ao que nos consta, o ato terá um caráter altamente festivo. |
Na página 2 dessa mesma edição, mais pormenores (Acervo
Estadão - ortografia atualizada nesta transcrição):
Publicado no jornal O Estado de São Paulo em 25 de dezembro de 1897, página 2 (Acervo
Estadão)
Nova Cintra
Deve ter seguido hoje, para Santos, a música do 3º batalhão que tomará parte nas
festas de inauguração do plano inclinado do bairro de Nova Cintra, que está destinado a tornar-se um dos mais concorridos arrabaldes da importante
cidade comercial do nosso estado. |
A notícia seguinte desse jornal sobre o assunto já é de 11 de maio de 1900, assim publicada na primeira página (Acervo
Estadão - ortografia atualizada nesta transcrição):
Publicado no jornal O Estado de São Paulo em 11 de maio de 1900, página 1 (Acervo
Estadão)
- Assumiu a direção do plano inclinado da Nova Cintra o sr. Joaquim de Almeida Lopes,
que está trabalhando para o prolongamento da linha até aquele bairro. |
A tragédia que encerrou as atividades deste sistema de transporte foi noticiada por O Estado de São Paulo na
edição de 30 de maio de 1922, na página 4 (Acervo Estadão
- ortografia atualizada nesta transcrição):
Publicado no jornal O Estado de São Paulo em 30 de maio de 1922, página 4 (Acervo
Estadão)
NOTÍCIAS DIVERSAS
Em Santos
Horrível desastre - Um bonde despenca de um plano inclinado - Perecem no
sinistro dois passageiros - Os feridos - Várias notas
Do nosso correspondente de Santos recebemos as seguintes informações:
Santos, 29 - A tarde de hoje ficou assinalada por uma gravíssima ocorrência
que se deu no aprazível bairro da Nova Cintra, situado num dos morros mais pitorescos da cidade.
Cerca de 16,30 horas começaram a circular pela cidade notícias as mais alarmantes
sobre um desastre que se teria dado com um dos bondes empregados no transporte de passageiros, por meio de planos inclinados, para aquele populoso
bairro.
Já a esse tempo a polícia tinha sido avisada do acidente e para o local partira
imediatamente o dr. Ibrahim Nobre, delegado regional de polícia, acompanhado de auxiliares, fotógrafos etc.
O local - Nova Cintra fica colocado num morro de 300 metros mais ou menos de
altitude. Lá habitam, em sua maioria, famílias pobres ou pessoas a quem a fortuna não permite que residam na cidade.
Terminando a Rua Júlio de Mesquita, a empresa Luiz de Mattos, concessionária do
serviço para o morro, à semelhança dos planos inclinados que a São Paulo Railway usa entre essa capital e Santos, emprega fortes cabos de aço que
funcionam por meio de uma bomba hidráulica.
Dessa maneira são empregados dois carros para se proceder ao transporte de
passageiros entre o morro e a sua base. Em tudo parecido com a São Paulo Railway, quando um bonde sobe, outro tem que descer para se estabelecer o
justo equilíbrio.
O desastre - Logo que começaram a aparecer as alarmantes novas enorme multidão
seguiu para o local onde se tinha verificado o acidente. A esse tempo já estavam sendo socorridas as primeiras vítimas que haviam aparecido.
Pelas primeiras informações colhidas soube-se que havia arrebentado, devido ao seu
mau estado de conservação, um dos cabos de aço empregados no serviço de transporte, tendo um dos bondes rolado pelo morro abaixo.
No momento do lamentável acidente, no carro que descia do morro com destino à sua
base, viajavam umas 20 pessoas, além do condutor e motorneiro do veículo.
Partindo-se o cabo, inesperadamente, o pequeno bonde despencou em vertiginosa
carreira pelo morro abaixo, no meio de gritos lancinantes dos que nele viajavam.
Os mais nervosos iam-se atirando para fora do veículo, caindo entre pedras, de
encontro a acidentes do terreno e ferindo-se na violência da queda. Houve algumas pessoas, de maior calma, que permaneceram no veículo até que o
mesmo, chegando ao fim do trilho, descarrilou.
Essas pessoas foram as que menos sofreram.
Os feridos - Ficaram feridas no desastre as seguintes pessoas: Benedicta
Teixeira, de 49 anos, brasileira, solteira; Eulalia de Barros, de 46 anos, brasileira, casada; Virginia Fernandes, de 28 anos, brasileira, casada;
Jesuina Vera, de 27 anos, portuguesa, casada; Maria Antonietta do Espírito Santo, de 28 anos, brasileira, casada; Rosa Keste, de 32 anos,
tcheco-eslovena, casada; Francelina Francisca da Conceição,d e 64 anos, brasileira, solteira; Ananias Maceran, de 72 anos, sírio, viúvo; Alfredo de
Abreu, de 27 anos, brasileiro, casado; João Penteado de Camargo, de 40 anos, brasileiro, e sua exma. esposa, d. Maria de Arruda Camargo, estes dois
últimos em estado grave.
O sr. João Penteado de Camargo reside em S. Carlos, onde exerce o cargo de ajudante
do superintendente da Companhia Paulista.
Os mortos - Pereceram no desastre a menina Olga Gibron, de 8 anos, que ficou
completamente esmagada sob os destroços do bonde, e Francisco Rodrigues de Sá, negociante, de 67 anos, português, que faleceu ao dar entrada na
Santa Casa de Misericórdia.
Os socorros - O dr. Ibrahim Nobre, delegado regional de polícia, providenciou
imediatamente para a remoção dos feridos para a Santa Casa. Automóveis de praça, bondes de carga da Companhia City, ambulâncias, tudo isso foi
aproveitado no angustioso momento.
Diversos bombeiros auxiliaram aquela autoridade nesse serviço, conduzindo até aquele
hospital as pessoas cujo estado demandava socorros urgentes.
O inquérito sobre o fato - Na delegacia regional de polícia, foi aberto
inquérito sobre o triste fato, que consternou bastante a nossa população. Vão ser designados peritos para vistoriar o local e verificar as causas
que determinaram o grave desastre.
No inquérito já depuseram as testemunhas. |
No dia seguinte, 31/5/1922, no mesmo jornal paulistano, mais detalhes e três raras fotos, na página 4 (Acervo
Estadão - ortografia atualizada nesta transcrição):
O cabo que sustinha o ascensor e que se partiu, causando o desastre
O estado em que ficou o bonde que
conduzia passageiros e que despencou no plano inclinado,situado entre Jabaquara e Nova Cintra
Os carros que equilibravam a descida do
bonde, que conduzia passageiros. Partido o cabo, estes carros lançaram-se contra a plataforma, como se vê no "clichê"
Publicado no jornal O Estado de São
Paulo em 31 de maio de 1922, página 4 (Acervo
Estadão)
EM SANTOS
O desastre do bairro da Nova Cintra
Completando as minuciosas informações que publicamos em nossa edição de ontem sobre o
horrível desastre ocorrido em Santos, recebemos do nosso correspondente naquela cidade mais as seguintes notas:
"SANTOS, 30 - Na delegacia regional de polícia prossegue o inquérito aberto
sobre o horrível desastre ocorrido ontem no morro da Nova Cintra, no qual pereceram duas pessoas e ficaram feridas 17, três das quais gravemente.
No necrotério do Saboó foram hoje examinados, pelo médico legista da polícia, sr. dr.
Souza Dantas, os cadáveres da menor Olga Gibron e do negociante Francisco Fernandes de Sá, que pereceram no sinistro.
O sr. dr. Ibrahim Nobre, delegado regional de polícia, designou os srs. dr. Victor
Delamare, engenheiro da Companhia Docas de Santos; Antonio de Almeida, chefe da seção mecânica da Companhia Docas, e Edgard Perdigão, chefe da seção
mecânica da Alfândega, para vistoriarem o local do desastre, a fim de determinar as possíveis causas do acidente.
A diligência dos peritos efetuou-se hoje, às 15 horas.
O laudo, porém, só será conhecido daqui a alguns dias.
- No hospital da Santa Casa continuam em estado grave o sr. João Penteado Camargo,
sua esposa d. Maria de Arruda Camargo e a sra. Benedicta Teixeira. Os outros enfermos estão em condições lisonjeiras". |
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