HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS -
OS IMIGRANTES
A colônia árabe (3)
Beth Capelache de Carvalho (texto). Ademir Henrique e Arquivo de A Tribuna (fotos)
Projeto da sede em estilo oriental da Sociedade Beneficente Islâmica,
com mesquita, biblioteca e escola
O Islam terá a sua mesquita em Santos
Pouca gente sabe que existe em Santos uma crescente e
ativa comunidade muçulmana, formada a partir dos anos 50 por imigrantes árabes, originários principalmente da
Síria e do Líbano. Os muçulmanos da
Baixada são reunidos pela Sociedade Beneficente Islâmica do Litoral Paulista, que funciona provisoriamente em São Vicente,
mas já está construindo sua sede própria, na Av. Afonso Pena.
É uma construção que já começa a adquirir as formas tipicamente orientais, e em breve aparecerá como uma
autêntica mesquita, obedecendo rigidamente ao estilo oriental, cheia de arcos e vitrais. Là funcionará, a partir de fevereiro, a mesquita, uma escola, a
sede social da Sociedade Islâmica, e uma biblioteca.
A Sociedade Beneficente Islâmica do Litoral Paulista foi fundada a 9 de novembro de 1977, tendo como primeiro
presidente um de seus principais organizadores, Ahamad Ismail Assaf. Ela integra todos os seguidores da religião islâmica na Baixada Santista, cerca de
150 famílias, em sua maioria de origem libanesa.
O líder espiritual da comunidade é o cheique Mohamed el Jubul, que preside as reuniões para o culto, realizadas
às sextas-feiras, à uma hora, em casa do presidente da Sociedade, Ibrahim Assaf, enquanto não está pronto o templo.
As finalidades da Sociedade Islâmica são definidas em seus estatutos: construir mesquita, escola, sede social e
biblioteca para a comunidade. A mesquita, em fase final de construção, deverá ser inaugurada em fevereiro, para quando está prevista uma cerimônia única
na vida da comunidade muçulmana.
A escola já está funcionando, embora não seja regulamentada. Mas o objetivo da sociedade é construir as classes
ao lado da mesquita e oferecer a estudantes muçulmanos ou não os cursos oficiais brasileiros, mais um curso de língua árabe e outro sobre a religião
islâmica. Na biblioteca, poderão ser encontrados livros sobre as culturas árabe e brasileira, e sobre a religião dos dois povos. Além disso, a sociedade
promove assistência a órfãos e velhos necessitados, de qualquer religião ou nacionalidade.
Construída inicialmente com dinheiro arrecadado entre os sócios, a sede da comunidade muçulmana teve o seu
terreno comprado exclusivamente com recursos regionais. Mais tarde, para a construção da mesquita e outras dependências, foi recebida a ajuda da
Arábia Saudita, através do seu ministério encarregado dos patrimônios históricos e
religiosos, que dedicou cem mil dólares à Sociedade Islâmica.
Também a República Árabe do Iraque, através de um programa de intercâmbio
entre os dois países, concedeu uma ajuda de 500 mil dólares para todas as sociedades muçulmanas existentes no Brasil, cabendo 20 mil dólares para a
sociedade santista.
Obras da mesquita muçulmana, que será inaugurada em fevereiro [N.E.: de 1983]
Ramadan - Amanhã, os muçulmanos estarão comemorando a sua maior festa, a Id Adha, que celebra o fim do
jejum de Ramadan e anuncia o início da peregrinação a Meca.
Ramadan é o mês mais estritamente ligado às glórias islâmicas e às
datas santas e históricas da religião muçulmana. O Alcorão começou a ser revelado por Deus ao profeta Muhamad no mês de Ramadan, e em Ramadan também
foram revelados os mandamentos de Abraão, a Bíblia e o Evangelho.
Durante todo o mês de Ramadan os muçulmanos devem jejuar, abstendo-se de comer e beber, desde o alvorecer até o
anoitecer, e abstendo-se, também, do sexo e de qualquer outro prazer material. Esse jejum é obrigatório para todos que gozam de perfeita saúde física e
mental.
O jejum começa com as primeiras luzes do dia, e termina pouco antes do anoitecer. Portanto, seu período não é
marcado pelo relógio, mas pela extensão dessa fase do dia. Deve-se fazer a suhur (ceia) nas horas que antecedem o início do jejum.
As pessoas impossibilitadas de jejuar, por motivo de viagem longa, doença e outros motivos citados pela lei
islâmica, devem fazê-lo assim que for possível, ou, em determinados casos, compensar a impossibilidade com esmolas aos pobres.
Recomenda-se aos muçulmanos que orem muito durante o Ramadan, principalmente à noite, e de preferência em
mesquitas, em grupo. Igualmente recomenda-se a leitura e recitação do Alcorão e seu estudo explicativo/elucidativo. Deve-se intensificar as orações nas
últimas dez noites de Ramadan, pois dessa forma todas as preces serão ouvidas e atendidas por Alá.
O jejum é acima de tudo uma purificação espiritual e uma depuração, que enseja ao homem coibir o seu instinto,
fazendo sua espiritualidade dominar, comandar e disciplinar o seu lado material, que lhe causa todas as infelicidades. O jejum entrosa e harmoniza o
indivíduo com a sociedade, o integra na comunidade, na prática de obediência a Deus. Quando ele se encerra, o muçulmano festeja o fato de ter cumprido o
seu dever.
A festa - A festa que os muçulmanos estarão comemorando, amanhã, é a maior do
calendário islâmico. Todos devem trajar as suas melhores roupas e se dirigir à mesquita para orar em grupo, e
depois se confraternizar com a comunidade, cumprimentando a todos, inclusive os que porventura tenham se desentendido.
Nesse dia deve predominar a alegria, o júbilo e a felicidade. Devem imperar a paz e a harmonia entre familiares,
vizinhos e amigos. Faz-se visitas aos doentes e aos pobres, que devem receber presentes, assim como as crianças. E deve ser feita a caridade.
Zakatul Fitr, ou a caridade do desjejum, deve ser paga aos pobres e necessitados antes das orações das
festas, dias ou horas antes delas. Depois, não vale mais como tal. Sua finalidade é proporcionar aos menos favorecidos condições para que desfrutem as
alegrias da Festa de Ramadan. Deve ser correspondente a cada membro da família, em gêneros alimentícios ou dinheiro, contanto que não seja inferior ao
mínimo estabelecido a cada ano.
Veja as partes [1] e [2] desta
matéria
N.E.: A mesquita citada nesta matéria de 1982 foi inaugurada logo depois e
permanece em funcionamento naquele local. A foto abaixo é do interior da mesma e foi publicada em 2006:
Secretário geral da Sociedade Islâmica, Salah Mohammad Ali, ora na Mesquita de Santos
Foto: Leandro Amaral, publicada no semanário santista Jornal da Orla, edição de 15 e
16/4/2006
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