HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS -
OS IMIGRANTES
A colônia árabe (2)
Beth Capelache de Carvalho (texto). Ademir Henrique e Arquivo de A Tribuna (fotos)
As religiões do Oriente
A colônia árabe residente na Baixada Santista é formada, em
sua maioria, por cristãos ortodoxos, que são em número de aproximadamente três mil e freqüentam a Igreja Ortodoxa São Jorge, na Av. Ana Costa.
Mas, a partir de 1950, começaram a chegar à Baixada muitos libaneses pertencentes à religião
muçulmana, e em Santos eles se reúnem através da Sociedade Beneficente Islâmica do Litoral Paulista. Na Av. Afonso Pena, os seguidores do Islam
estão construindo a sua mesquita, que servirá de local de oração e congraçamento dos muçulmanos.
Igreja de São Jorge, onde é praticado o culto ortodoxo
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O culto ortodoxo na Igreja de São Jorge
Jorge, o santo guerreiro, viveu nos anos 300. Era
oficial do Império Romano, mas, ao conhecer a filosofia dos cristãos, passou a ajudar os seus seguidores. Em vez de persegui-los, ele os livrava das
perseguições dos romanos, e por isso o seu castigo foi igual ao reservado para os cristãos: os leões. São Jorge morreu pelos cristãos quando a Igreja
praticamente ainda não existia, quando ninguém dizia impunemente que era cristão, e quando ninguém se atrevia a escrever sobre o Cristianismo.
Os relatos sobre a vida de São Jorge foram passando de boca em boca, de cidade em cidade, de geração em geração.
Sua bravura e sua força acabaram por transformá-lo no grande santo do Oriente. No Egito,
por exemplo, existem 21 igrejas que levam o seu nome, e ele é adorado em todos os países onde predomina a Igreja Ortodoxa.
No Ocidente, São Jorge não era sequer conhecido, até que os Cruzados que se aventuraram para o Oriente voltaram
para seus países, trazendo a história dos seus feitos. Ele se transformou também no santo da Inglaterra e da Alemanha. Na América Latina, São Jorge é o
patrono de quase todas as igrejas ortodoxas, construídas para a celebração do culto ortodoxo pelos imigrantes árabes.
E é São Jorge o patrono da Igreja Ortodoxa de Santos, construída pela comunidade árabe na Av. Ana Costa. Ali se
reúne, para o culto, a comunidade árabe ortodoxa, que em Santos forma a maioria, já que os muçulmanos começaram a chegar alguns anos depois.
No início, o culto da religião ortodoxa era celebrado numa casa residencial, na Rua da Constituição. Não havia
um pároco. O padre vinha de São Paulo para celebrar missas, batizados e casamentos dos filhos dos ortodoxos. Mas logo se começou a pensar num local mais
adequado para o culto, e a Irmandade Ortodoxa São Jorge de Santos começou a fazer campanhas para construir a sua igreja.
Foi então adquirido o terreno da Av. Ana Costa, e tiveram início as obras do templo que ficou pronto por volta
de 1960, com seu estilo oriental, seu interior ricamente decorado e suas pinturas religiosas (os ortodoxos não usam imagens em suas igrejas).
Ritual - O ritual da Igreja Ortodoxa é semelhante ao dos católicos romanos. Os dogmas são os mesmos. A
separação entre as duas igrejas só se deu no ano 1053, e foi de ordem política, não dogmática. Os ortodoxos são batizados, crismados, casam-se, vão à
missa, como os católicos. As diferenças foram surgindo com as reformas adotadas pela Igreja Católica.
Nos batizados, por exemplo, as crianças são totalmente banhadas na Pia Batismal, e para isso são tiradas as suas
roupas. No casamento, são conservados alguns simbolismos, como a coroa que se coloca sobre a cabeça dos noivos, comparados ao rei e à rainha da família,
que é a primeira forma de sociedade. Eles devem tomar vinho no mesmo cálice, pois devem provar sempre as mesmas experiências, sejam amargas ou doces.
A comunhão dos ortodoxos não é feita com hóstias, mas com pão e vinho, e suas confissões são sempre
comunitárias. Sua maior festa não é o Natal, mas a Páscoa, e a Quaresma e a Semana Santa são os principais períodos da vida religiosa. Durante a
Quaresma, são celebradas missas todas as noites, e a Ressurreição é comemorada de madrugada, geralmente à uma hora. E os padres ortodoxos podem se
casar.
Em Santos, a Igreja Ortodoxa é freqüentada também por gregos, russos, iugoslavos e ciganos, que estão espalhados
pela Cidade. Eles costumam reunir-se na igreja para as cerimônias fúnebres, e são quase todos de origem eslava.
Objetos do culto ortodoxo, em exposição no Sírio-Libanês
Patriarcados - O padre Pierre Malas, pároco da Igreja Ortodoxa São Jorge, explica que a Ortodoxia é
dividida em patriarcados, e todos os patriarcas têm o mesmo nível de responsabilidade. Há apenas um representante de todos, que é o patriarca de
Constantinopla.
A igreja de Santos é subordinada ao patriarcado da Antióquia, dirigido por Sua Beatitude Agnatius IV, e tem
cerca de três mil fiéis residentes em Santos.
Sinos eletrificados - No dia 8 de agosto, a Igreja Ortodoxa São Jorge inaugura os seus sinos
eletrificados, seguindo a recomendação dada há algum tempo pelos bispos católicos, de que os sinos deveriam novamente repicar ao meio-dia e às seis
horas da tarde, chamando à oração.
O Conselho Administrativo Ortodoxo, responsável pela administração da igreja, adquiriu o aparelhamento
necessário, inclusive com relógio programador, para que os sinos toquem automaticamente.
Veja as partes [1] e [3] desta matéria
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