A Ilha de São Vicente foi berço da industrialização da
cana-de-açúcar no Brasil, abrigando os primeiros engenhos e exportando as primeiras caixas de açúcar americano para a
Europa. Ao pesquisar o terreno da ilha para a localização de um engenho seu, Martim Afonso de Souza contornou os morros santistas e, após dobrar o
Morro do Saboó, chegou ao sopé do Morro Cutupé, na subida da Caneleira para o Tachinho (atual Nova Cintra), ali encontrando o lugar ideal, em terras
que ainda não tinham sido concedidas a ninguém.
Foto publicada no suplemento A Escolinha do Diário Oficial de Santos,
27/3/1971
Logo após chegar a Lisboa, Martim Afonso convidou João Veniste, Francisco Lobo e o
piloto-mor Vicente Gonçalves para se unirem em sociedade para a criação do engenho, tendo cada um direito a um quarto da propriedade. Decidiu também
que as canas-de-açúcar para esse engenho viriam de algumas terras de Ruy Pinto.
Foto publicada no suplemento A Escolinha do Diário Oficial de Santos,
8/4/1971
Em 1534 foram lançadas as bases do Engenho do Trato ou do Senhor Governador, como
fica conhecido. Mais tarde, a propriedade foi vendida ao alemão Erasmo Scheter, passando a ser conhecida como Engenho de São Jorge dos Erasmos.
Pouco sobrou do incêndio que destruiu o engenho no século XVII: até cerca de 1930,
existiam paredes inteiras remanescentes e alguns lances completos com telhas coloniais, depois saqueadas por favelados.(Foto: reprodução de
História de Santos/Poliantéia Santista, de Francisco Martins dos Santos e Fernando Martins Lichti, 1986, Ed. Caudex Ltda./S.Vicente/SP)
Essa sociedade tem escritura lavrada em Lisboa e registrada no antigo Cartório da
Fazenda Real de São Paulo, como diz o historiador Frei Gaspar, no Livro de Registro de Sesmarias nº 1, título 1.555.
Foto reproduzida do jornal A Tribuna de Santos, 8/3/1998
Ao contrário do que comumente se pensa, o Engenho dos Erasmos é o terceiro
levantado nas terras onde hoje é Santos. O primeiro foi o de Madre de Deus, de Pero de Góes, levantado em 1532; o segundo é o de São João, de José
Adorno, levantado em 1533, perto do atual Morro de São Bento.
Ruínas do Engenho dos Erasmos, como se encontravam na década de 1950
(Foto: reprodução de História de Santos/Poliantéia Santista, de Francisco Martins
dos Santos e Fernando Martins Lichti, 1986, Ed. Caudex Ltda./S.Vicente/SP)
Em meados do século XX, ainda existiam azulejos e o primitivo São Jorge. As ruínas
do local foram doadas à Universidade de São Paulo, que restaurou a unidade mais conservada, ficando de realizar ali as obras restantes e o Museu
Colonial de Açúcar (que, no início do século XXI, continua apenas em projeto).
Ruínas do Engenho dos Erasmos, como se encontravam na década de 1950
(Foto: reprodução de História de Santos/Poliantéia Santista, de Francisco Martins
dos Santos e Fernando Martins Lichti, 1986, Ed. Caudex Ltda./S.Vicente/SP)
A instalação foi tombada para preservação - como exemplo raro (único exemplar
conhecido da primeira tentativa oficial de exploração açucareira) na área de arquitetura rural - pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (IPHAN), em 2/7/1963 (volume I, folha 59, inscrição 360), que
registra: "Na área, além de restos de paredes,
foram desenterradas várias formas de pão-de-açúcar em meio a uma camada de cinzas e entulho que, presume-se, seja resultado de incêndio que nele
ocorreu em 1603".
Planta geral do Engenho dos Erasmos, como provavelmente seria.
(Reprodução de História de Santos/Poliantéia Santista, de Francisco Martins dos
Santos e Fernando Martins Lichti, 1986, Ed. Caudex Ltda./S.Vicente/SP)
As ruínas do Engenho, em foto do início da década de 1960:
Foto: L. C. Massuia, reprodução do livro A Baixada Santista - Aspectos geográficos,
de Ary França e outros especialistas, estudo elaborado pelo Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade
de São Paulo (USP), Editora da Universidade de São Paulo, S. Paulo/SP, volume 2, outubro de 1964
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