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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - ENSINO
A educação... e as antigas escolas (16-A)

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Quando Santos festejou seu primeiro centenário de elevação de vila à condição de cidade, o jornal santista A Tribuna publicou uma edição comemorativa, no dia 26 de janeiro de 1939 (exemplar no acervo do historiador Waldir Rueda), de onde foi transcrita esta matéria (com a grafia atualizada):
 


Trecho da matéria

Conservatório Musical de Santos

Escola Superior de Arte Especializada - Fiscalizado pelo Governo Estadual
Rua 7 de Setembro n. 37 - tel. 4965 - Santos

- "O Conservatório Musical de Santos não presta..."
- Por quê?
- Os professores não são bons?
- Não prestam.
- Os programas são defeituosos?
- Não prestam...

Não diziam os motivos, mas os "entendidos" asseveravam que não prestava...

E não se limitavam a desfazer, davam-se ao trabalho de procurar os alunos da casa e insinuar-lhes com insistência que deviam sair, o que seguidamente obtinham.

E assim os anos foram se passando. Em vão eram postos em prática os meios mais eficientes e leais de reclame: audições primorosas, concertos gratuitos, nenhum pedido ao público, diligência e pontualidade nas aulas e cursos, mestres de nomeada contratados para lecionar, às vezes, um só aluno!...

Persistia a maledicência: "o Conservatório não presta"...

Assim, entretanto, não entendeu o Conselho Nacional do Ensino, o qual, além de elogiar o dr. Luís Wetterlé com a referência de "benemérito da ... (N.E.: trecho ilegível por falha de impressão) brasileira", concordou em dar ao estado de São Paulo (ao primeiro em todo o Brasil) um inspetor na pessoa da exímia pianista Antonietta Rudge, como medida preliminar à equiparação ao Instituto Nacional de Música, onde pontificam os grandes mestres da arte nacional.

Exigiu, entretanto, o Conselho, que a propriedade do Conservatório não continuasse a ser de uma só pessoa física e que, para ser equiparado, passasse a constituir patrimônio de uma pessoa jurídica, eis que preenchidas estavam todas as condições exigidas para a equiparação.

Foi nessa ocasião que o dr. Wetterlé, visando o bem dos alunos e desprezando ofertas comercialmente vantajosas, passou o estabelecimento à direção de d. Antonietta Rudge e de I. Tabarin, e, alquebrado por 6 anos de labor sobre-humano, foi procurar repouso em outras atividades.

Isso foi em fins de 1932.

O Conservatório fora reconhecido pelo governo federal como "uma escola de ensino superior", dando assim boa resposta aos que ainda teimavam em dizer: "não presta"...


Um aspecto do concerto das diplomadas pelo Conservatório Musical de Santos, em 1937.
A soprano, sra. Nenê Ferreira Thahn, cantando a ária de Yara, da ópera Lo Schiavo
de Carlos Gomes, acompanhada ao piano pelo maestro Tabarin
Foto publicada com a matéria

Um pouco de história do Conservatório de Santos

O estabelecimento de ensino artístico-musical existente nesta cidade sob a competente e desinteressada atual direção do maestro I. Tabarin e Antonieta Rudge, começa, após 12 anos de sua fundação, a despertar o carinho a que fazem jus a dedicação, honestidade e heroísmo dos que o vêm conduzindo.

Foram sem conta os obstáculos opostos ao desenvolvimento de uma casa de ensino que já mereceu os mais significativos aplausos do Conselho Nacional de Ensino, e que sem favor é uma das instituições, no gênero, que, pela seriedade no ensino, e pela alta competência do corpo docente, pela norma impecável estabelecida inicialmente e sempre mantida com o maior exemplo, é um dos mais perfeitos modelos a se apresentar no Brasil como legítimo padrão de ensino artístico.

Foi em 1927 que o conhecido artista dr. Luís Wetterlé ideou e realizou a fundação do nosso conservatório. A sessão solene teve lugar na noite de 29 de julho daquele ano, no salão do Clube Eden Santista. Foi então lavrada a ata da fundação e que recebeu, entre aplausos, as assinaturas dos entusiastas da idéia e que enchiam o vasto recinto.

Os cursos foram então anunciados e deveriam ter início no dia 2 de agosto, daí a 3 dias. Surgiu, entretanto, a primeira dificuldade. O proprietário do prédio onde o estabelecimento iria funcionar, à Rua Rangel Pestana, arrependeu-se... e os móveis chegados de São Paulo tiveram que aceitar o abrigo dos pobres (e isso era bem significativo) no edifício novo ainda não inaugurado, do Albergue Noturno.

O fundador fazia, entretanto, empenho em que as coisas fossem efetivamente inauguradas no dia 2. E na manhã do dia 2, com a presença do sr. prefeito e outras autoridades diversas, foram inauguradas no sobrado n. 43 da Rua Braz Cubas, embandeirado e florido. p>Foram adotados desde o início os programas do Instituto Nacional de Música, do Rio de Janeiro, e teve o diretor, dr. Wetterlé, a preocupação máxima de se cercar de auxiliares de valor artístico acima de quaisquer suspeitas. Entretanto, o número de alunos, que no fim daquele ano atingira a meia centena, decresceu sensivelmente na reabertura das aulas em fevereiro de 1928. Não desanimou o administrador e, julgando que a melhoria de prédio viesse a influir no aumento do número de matrículas, transferiu o conservatório para um palacete nas imediações da Av. Conselheiro Nébias.

Foi desastrada a mudança, pela dificuldade que oferecia no transporte dos alunos. No mesmo ano houve nova mudança, para o excelente prédio em que, meses depois, se instalava a União Operária, nova proprietária, dando ao conservatório, sob intimação judicial, o prazo de um mês para a mudança...

Seguia o estabelecimento a sua sina, e mais uma vez se transferiu, com graves despesas e contrariedades de toda a sorte, para um salão da Praça Mauá, rejeitada a sua presença em novo edifício que na mesma praça acabava de ser construído, porque o proprietário "não queria barulho"...

Da Praça Mauá foi novamente despejado pelo capricho da proprietária e teve pela última vez (?) de colocar os pianos e móveis nos caminhões à procura de nova residência, onde ainda se encontra (à Rua 7 de Setembro).

Ao lado de tais contrariedades, outras e bem maiores foram aparecendo, fruto da intriga e maledicência.

O Conservatório Musical de Santos, escola de arte, entra no seu 12º ano de existência. Através das manifestações públicas e nas estações de rádio, puderam os santistas, de alguma forma, verificar o esforço que empenhou sua direção, para dar a esse Instituto um espírito novo, obtendo assim a proficiência do seu ensino e o ato criterioso de sua direção, a cargo da virtuose pianista Antonietta Rudge e maestro I. Tabarin.

Aparelhado como está, o Conservatório Musical de Santos espera, no presente ano, dilatar ainda mais seu raio de ação. Todas as vocações musicais desta cidade devem procurar esse Instituto, certos de que terão uma segura direção e um máximo de aproveitamento.

O Conservatório Musical de Santos é um centro de ensino e de arte que enche de justo orgulho a cultura de S. Paulo e do Brasil.

Seu corpo docente, dos mais provectos, contando com nomes estelares no campo da música, é de per si a melhor garantia do ensino professado em tão notável estabelecimento.

O corpo docente do Conservatório Musical de Santos está assim constituído: inspetora, d. Antonietta Rudge (profª. honorária da Universidade Musical do Rio de Janeiro).

Professores: Savino de Benedictis (diretor da Academia Musical de São Paulo); Calixto Corazza (solista do Departamento de Cultura de S. Paulo); Dino Fioretti (prof. da Academia Musical de São Paulo); José Lopes (diretor do Ginásio "Tarquínio Silva"); I. Tabarin (ex-professor do Instituto Musical de Pádua - Itália - e professor da Academia Musical de S. Paulo). Professoras; dd. Irene Carranca, Maria José Sanches Caldeira, Maria do Carmo de Oliveira, Judith Doubeck Lopes e Alcina de Almeida Tavares.

O Conservatório Musical de Santos, fundado em 1927 pelo dr. Luís Wetterlé, conta, entre seus fundadores, os nomes saudosos do senador Azevedo Júnior e cap. João Salermo, e dos ilustres srs. drs. João Carvalhal Filho, José de Freitas Guimarães, José de Sousa Dantas, M. Nascimento Jr., Ismael de Sousa, Victor de Lamare, cel. José de Andrade Maria Filho, Mariano Gomes e outros.

Em 1929, o Conservatório Musical de Santos foi registrado na Diretoria de Ensino (São Paulo), sob n. 182.

Em 1938, foi novamente registrado, na Superintendência da Educação de São Paulo, sob. n. 366, nos termos do decreto 6.841, de 4/12/1934, e atualmente está sob a fiscalização oficial do Conselho de Orientação Artística de São Paulo, conforme decreto publicado no Boletim Oficial de 8 de dezembro de 1938 p.p., sendo assim unificados, para todo o Brasil, os diplomas.


"Fotografia tirada durante a cerimônia da entrega de diplomas à turma de 1942 do Conservatório Musical de Santos, Escola de Arte Especializada, reconhecida oficialmente pelo decreto do governo federal n. 9798, de 7 de dezembro de 1938. Essa solenidade foi realizada no dia 3 de dezembro de 1943, presidida pelo dr. Antonio Gomide Ribeiro dos Santos, prefeito municipal, tomando lugar à mesa d. Antonietta Rudge, diretora do Conservatório Musical de Santos; vigário Alfredo Sampaio, representante do bispo diocesano; prof. Múcio Lobo da Costa, fiscal do governo; dr. Menotti Del Picchia, da Academia Brasileira de Letras, e paraninfo da turma; prof. Dino Fioretti, professora Alcina Tavares, e Benedito Merlin, crítico da A Tribuna. Ao centro vê-se o Orfeão do Conservatório, sob a regência do Maestro Tabarin"
Foto-legenda: revista santista Flama, janeiro de 1944 (ano XXIII, nº 1)


"Diplomandas da Turma de 1942, do Conservatório Musical de Santos, Escola de Arte Especializada, reconhecida oficialmente pelo Decreto 9.798, de 7 de dezembro de 1938. Vê-se, ao centro, o dr. Antonio Gomide Ribeiro dos Santos, prefeito municipal; o dr. Menotti Del Picchia, da Academia Brasileira de Letras, paraninfo; o padre Alfredo Sampaio, representante do bispo diocesano; e a profa. d. Alcina Tavares, rodeados pelas alunas, que receberam os respectivos diplomas no dia 3 de dezembro do ano passado."
Foto-legenda: revista santista Flama, janeiro de 1944 (ano XXIII, nº 1)

A matéria de 1939 serviu de base para a redação de outra, publicada na edição especial comemorativa do cinqüentenário do jornal A Tribuna (exemplar no acervo do historiador Waldir Rueda), em 26 de março de 1944 (grafia atualizada nesta transcrição):


Grupo feito em frente à sede do Conservatório Musical de Santos, à Rua Sete de Setembro, 37, por ocasião de uma das visitas da grande pianista patrícia Guiomar Novais ao tradicional estabelecimento de arte superior especializada
Foto e legenda publicadas com a matéria

Um pouco de história do Conservatório Musical de Santos

As atividades desse útil estabelecimento de ensino superior especializado, nos seus 17 anos de existência, toda ela votada ao desenvolvimento da arte em nossa cidade

O Conservatório Musical de Santos, estabelecimento de arte especializado, fiscalizado pelo governo da União, conforme decreto n. 9.798, de 7 de dezembro de 1938, e que obedece à orientação da notável virtuose do teclado, Antonieta Rudge, começa, após 17 anos de sua fundação, a despertar o interesse dos santistas, interesse esse perfeitamente justificável, pois são relevantes os serviços que ele vem prestando à nossa cidade, no setor da arte da música e do canto.

Fiscalizado eficientemente pelo prof. Múcio Lobo da Costa, foram sem conta os obstáculos encontrados no desenvolvimento do programa que se traçou, mas graças à dedicação dos seus atuais dirigentes, ocupa ele, hoje em dia, lugar de justo relevo entre os seus congêneres existentes nas mais adiantadas cidades do país, não só pela reconhecida competência do seu corpo docente, como pela norma estabelecida inicialmente e sempre mantida como um exemplo de legítimo padrão de ensino artístico.

Foi em 1927 que o conhecido artista dr. Luís Wetterlé ideou e realizou a fundação do nosso conservatório. A sessão solene teve lugar na noite de 29 de julho daquele ano, no salão do Clube Eden Santista. Foi então lavrada a ata da fundação e que recebeu, entre aplausos, as assinaturas dos entusiastas da idéia e que enchiam o vasto recinto.

Os cursos foram então anunciados e deveriam ter início no dia 2 de agosto, daí a três dias. Surgiu, entretanto, a primeira dificuldade. O proprietário do prédio onde o estabelecimento iria funcionar, à Rua Rangel Pestana, arrependeu-se... e os móveis chegados de São Paulo tiveram que aceitar o abrigo dos pobres (e isso era bem significativo) no edifício novo ainda não inaugurado, do Albergue Noturno.

O fundador fazia, entretanto, empenho em que as coisas fossem efetivamente inauguradas no dia 2. E na manhã do dia 2, com a presença do sr. prefeito e outras autoridades diversas, foram inauguradas no sobrado n. 43 da Rua Braz Cubas, embandeirado e florido.

Foram adotados desde o início os programas do Instituto Nacional de Música, do Rio de Janeiro, e teve o diretor, dr. Wetterlé, a preocupação máxima de se cercar de auxiliares de valor artístico acima de quaisquer suspeitas.

O Conservatório Musical de Santos, escola de arte, entra agora no seu 17º ano de existência. Através das manifestações públicas e nas estações de rádio, puderam os santistas de alguma forma verificar o esforço que empenhou sua direção para dar a esse Instituto um espírito novo, obtendo assim a proficiência do seu ensino e o ato criterioso de sua direção, a cargo da virtuose pianista Antonieta Rudge.


D. Antonieta Rudge, a grande pianista patrícia que, juntamente com o consagrado maestro I. Tabarin, vem presidindo os destinos do Conservatório Musical desta cidade, imprimindo-lhe uma diretriz segura e eficiente

O Conservatório Musical de Santos é um centro de ensino e de arte que enche de justo orgulho a cultura de S. Paulo e do Brasil. O seu corpo docente, dos mais provectos, contando com nomes estelares no campo da música, é de per si a melhor garantia do ensino professado em tão notável estabelecimento.

O corpo docente do Conservatório Musical de Santos está assim constituído: diretora, Antonieta Rudge, catedrática honorária do Instituto Nacional de Música, hoje Universidade; fiscal, prof. Múcio Lobo da Costa; secretárias, Nívia Rocha Silveira e Generosa Florinella; professores: Antonieta Rudge, Piano, curso superior; José Lopes de Oliveira, Português; Savino de Benedictis, Harmonia, História da Música e Contraponto; Ângelo Chimin, Órgão e Pedagogia Aplicada à Música; Calixto Corazza, Violoncelo; Dino Fioretti, Violino; I. Tabarin, Piano e Canto; Alcina Tavares, Piano; Ondina Carneiro, Piano; Vanda Pereira Sampaio, Piano; Irene Carranca, Matéria Teórica da Música e Solfejo; Maria Ulisséa Rocha Corrêa, Piano; Maria do Carmo de Oliveira, Piano; Sônia de Andrade Maia, Piano e Teoria Musical; José Guilherme Whitaker, Fisiologia da Voz.

O Conservatório Musical de Santos conta entre os seus fundadores os nomes saudosos do senador Azevedo Júnior e cap. João Salermo, e dos ilustres srs. João Carvalhal Filho, José de Freitas Guimarães, José de Sousa Dantas, M. Nascimento Jr., Ismael de Sousa, Victor de Lamare, cel. José de Andrade Maria Filho, Mariano Gomes e outros.

Em 1929, o Conservatório Musical de Santos foi registrado na Diretoria de Ensino (São Paulo), sob n. 182. Em 1938, foi novamente registrado, na Superintendência da Educação de São Paulo, sob. n. 366, nos termos do decreto 6.841, de 4/12/1934, e atualmente está sob a fiscalização oficial do Conselho de Orientação Artística de São Paulo, conforme decreto publicado no Boletim Oficial de 7 de dezembro de 1938, em face do qual seu diploma é reconhecido pelo governo federal.

Madalena Tagliaferro - "Ao Conservatório de 
Santos, tão eficientemente orientado pela
minha ilustre colega e amiga Antonieta Rudge,
com o meu sincero apreço pela sua magnífica
obra e os meus votos de contínua prosperidade".
(a) Madalena Tagliaferro

 

Fotos e legendas publicadas com a matéria

Guiomar Novais Pinto - "Oxalá cada cidade brasileira tivesse um conservatório igual ao desta progressista cidade de Santos, cultivando o entusiasmo da mocidade pela sublime virtude da Música - aos seus dignos diretores, Antonieta Rudge e Maestro Tabarin, todo o meu aplauso e grande admiração". (a) Guiomar Novais Pinto

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