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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - BIBLIOTECA - TEATROS
Memórias do Teatro de Santos (27)


Clique na imagem para voltar ao índice da obraComo em muitas outras cidades brasileiras, a memória do teatro santista raramente é registrada de modo ordenado que permita acompanhar sua história e evolução, bem como avaliar a importância dos artistas no contexto nacional, rememorando as grandes atuações, as principais montagens etc.

Uma tentativa neste sentido foi feita na década de 1990 pela crítica teatral santista Carmelinda Guimarães, que compilou depoimentos escritos e orais, documentos e outros registros, nas Memórias do Teatro de Santos - livro publicado pela Prefeitura de Santos em 1996, com produção de Marcelo Di Renzo, capa de Mônica Mathias, foto digitalizada por Roberto Konda. A impressão foi da Prodesan Gráfica.

Esta primeira edição digital em Novo Milênio foi autorizada pela autora, Carmelinda Guimarães, em 6 de janeiro de 2011. O exemplar aqui utilizado foi cedido pelo ator santista Osvaldo de Araujo:

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Memórias do Teatro de Santos

Carmelinda Guimarães

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Paulo Autran, o ator da nossa memória

Paulo Autran foi considerado o ator da memória de Santos, em pesquisa realizada por este projeto. 90% dos formulários preenchidos pelos entrevistados tiveram, como resposta à questão "Que espetáculo marcou sua memória?", o nome do autor ou de alguma peça em que ele fazia parte do elenco.

Por este motivo, embora não sendo um ator de Santos, ele veio dar seu depoimento como figura da memória do teatro de Santos, dia 1 de outubro de 1994.

Para a platéia atenta, Paulo contou que nasceu no Rio de Janeiro, na Tijuca, e que desde garoto gostava de brincar de teatro com suas irmãs, inclusive cobrando ingressos da vizinhança nas apresentações. Uma de suas irmãs, Gilberta Autran von Pfuhl, pertence ao teatro de Santos, onde teve importante atuação como figurinista bem como o marido, o médico e dramaturgo Oscar von Pfuhl.

Ele contou que tentou ser advogado, mas um convite de Tônia Carrero fez com que assumisse o teatro definitivamente em sua vida. Segundo ele, um ator deve se experimentar sempre: "Em minha carreira sempre tentei mudar de gênero e não marcar um mesmo personagem. Um ator deve procurar se descobrir no personagem e não ter medo de desafios. Eu não canto nada e, no entanto, dois dos meus maiores sucessos no palco foram nos musicais Homem de La Mancha e em My Fair Lady. A minha voz não era boa, mas percebi que o mais importante era dizer a letra no ritmo certo".

Para ele, Shakespeare é o autor mais completo: "Ele dá todas as possibilidades ao ator porque conseguiu de maneira prática e dramática colocar todos os sentimentos humanos em seus textos. Em cada peça ele domina mais um sentimento humano. No Brasil eu fiz Otelo 300 vezes e acho que foi um recorde mundial, com certeza. Mas aqui é assim, a produção fica tão cara que você tem que explorar ao máximo pelo menos para ter de volta o dinheiro que emprestou".

A Televisão, segundo ele, é uma força muito grande, mas ainda deixa muito a desejar sobre o ponto de vista artístico: "O mundo inteiro compra as novelas do Brasil, mas o que eu sinto falta nelas é de um aprofundamento social e psicológico maior".

Amadurecimento – Desde que os cabelos ficaram brancos, Paulo diz que tem sido cobrado para interpretar o Rei Lear. Agora acha que finalmente o momento chegou e provavelmente será no próximo ano. Atualmente, Paulo está passando por um momento muito pessoal, de valorização apenas do que é essencial: "Quando a gente amadurece percebe que certos compromissos inadiáveis podem ser esquecidos. Não há nada melhor do que a tolerância para tentar entender o outro que tem idéias diferentes das suas. Com isso, você vai tornando a sua vida mais fácil. E é tão bom entender que com tranqüilidade é possível se ter uma vida tão apaixonante quanto com a intranqüilidade".

Depois de elogiar as iniciativas do teatro amador, Paulo Autran deixou  uma mensagem para jovens iniciantes na profissão: "Se você quer fazer teatro, faça, comece agora. Saiba que você não vai encontrar o prato feito, mas se tiver dentro de você a vocação e a vontade de fazer, não perca tempo. Mesmo que sua motivação seja a vaidade (e essa é geralmente a de todos que entram na profissão), procure se preocupar com o resultado. Eu, no início da carreira, me achava sensacional, o melhor. Com o tempo e o conhecimento entendi que a gente tem que ser humilde diante de cada personagem, nunca se sabe o suficiente. Cada vez que entro em um novo personagem, penso: isso vai ser difícil. Não há papel que  se tire de letra. Caso contrário, você vai acabar sempre repetindo o mesmo papel, não vai criar".

Segundo Paulo, "a grande maravilha do teatro é que ele, como as palavras, muda de sentido constantemente e é preciso estar aberto para as novas experiências. Cada personagem exige um processo diferente. E lembre: não há nada melhor do que batalhar pelo que você realmente gosta".

A Paixão de Cristo. Carlos Pinto é o centurião à direita

Foto publicada com o texto