Crônica da época: O
novo Theatro Colyseu
Visando acompanhar a vertigem
progressista de Santos, a Companhia Cinematográfica Brasileira através a atividade de seus diretores srs. Antonio Candido de Camargo, cap. Antonio
Gadotti e Silverio Ignarra, planejou e executou sob a competente direção do seu associado em Santos, sr. comendador M. Fins Freixo, a ereção no
centro da cidade, de um teatro digno desse progresso.
O nosso teatro, entregue há bem
pouco ao público desta cidade, é um dos mais belos e confortáveis do Brasil.
A sua pomposa inauguração teve
lugar a 21 de junho com a representação do mimoso conto lyrico 'A bela adormecida', libreto do dr. João Kopke e partitura do eminente dr.
Carlos de Campos, muito digno presidente de São Paulo.
Ao ato inaugural,
epilogado com um selecto baile a que compareceu o 'set'
santista, assistiu o laureado autor e digno chefe de Estado, acompanhado dos seus auxiliares de governo e altas autoridades federais e municipais.
Consta o soberbo edifício de um
majestoso vestíbulo que faculta acesso ao suntuoso salão nobre, uma verdadeira maravilha de arte arquitetônica.
Possui esse amplo salão 11
largas janelas e 6 portas com custosos vitraes, franqueando estas a passagem para a pitoresca 'terrasse' que defronta a Praça José Bonifácio;
39 riquíssimos lustres, distribuídos convenientemente por entre as suas 11 colunas de ordem dórica espadanam luz em profusão, fazendo cintilar o
cristal 'dos espelhos que exornam as paredes'.
Como delicada nota de arte,
destacam-se as decorações do inspirado artista cav. Fonzari. Soberbos cortinados e luxuosas tapeçarias que foram especialmente confeccionados pela
Casa Alemã, completam a nababesca impressão do conjunto.
A platéia é modelar,
elegante e a sua forma de 'ferradura'
permite a observação, sem esforço, dos mais insignificantes detalhes da cena.
Em cima, uma arrojada
concepção, de subido valor, devida ainda ao painel de Fonzari. Trata-se de uma empolgante alegoria sobre a música e a comédia, na qual 'Euterpe'
se compraz em deleitar, com harmoniosos sons, uma revoada de serafins, enquanto 'Thalia', empunhando os símbolos
de comédia e da tragédia, contempla em êxtase o quadro delicioso.
O vão destinado à orquestra, em
estilo wagneriano, é vasto e comporta 100 professores. A iluminação ultrapassa a expectativa, pois é profusa e optimamente distribuída.
Quanto à 'caixa', bem
poucos teatros do Brasil, sob o ponto de vista de comodidade e de técnica, satisfaz plenamente. Dispõe ainda de 35 confortáveis camarins, salão de
cenografia, salão de ensaios, de contra-regra, depósito para o material e moderníssima 'cabine'
elétrica.
A iluminação do palco é a última
palavra e está distribuída em 10 colossos gambiarras de 100 lâmpadas cada uma, na ribalta com cerca de 200, em diversos focos de grande poder e
inúmeros tangões.
Atendendo aos rigores da estação
calmosa, foram rasgadas, em ambos os flancos do magestoso edifício, inúmeras janelas que concorrem para o arejamento natural, não falando nos
modernos aparelhos de renovação de ar.
Em todas as ordens,
servidas por vastos corredores, existe para usos dos srs. espectadores uma seção de vestiário e 'buffet'
e as mais modernas quanto higiênicas instalações sanitárias para ambos os sexos.
Contíguo ao salão nobre
está um cômodo 'buffet'
que se desdobra em cozinha para facilitar o respectivo serviço durante os banquetes que ali sejam realizados etc.
Preventivamente, a Empresa,
tendo em vista facultar ao público, a par do conforto máximo, a máxima segurança em casos imprevistos, fez abrir saídas mais que suficientes, bem
como distribuiu diversos aparelhos contra incêndios e registros de água para serviço dos bombeiros.
E finalmente,
daremos em algarismos a demonstração das comodidades que encerra sua lotação, que é grande capacidade, mais ou menos assim distribuídas: 600
poltronas, 225 poltronas de Foyer, 27 frisas, 27 camarotes de primeira, 25 de segunda, 220 balcões, 110 galerias numeradas e 600 geraes, ao todo
2.300 pessoas.
Revista Novidades,
1924. |