TRINTA ANOS DE PROGRESSO
A estrada recebeu o nome de Anchieta
Texto de Áureo de Carvalho
Fotos de Rafael Dias Herrera
"Procurando dar cumprimento ao que Vossa Senhoria houve
por bem nos determinar, vimos expor, a seguir, alguns dos motivos e razões que justificam e impõem a imediata construção de uma nova rodovia
inteiramente pavimentada, entre São Paulo e Santos". O texto é de um protocolo da Secretaria de Viação e Obras Públicas do Governo do Estado de São
Paulo, datado de 13 de novembro de 1934, e encaminhado ao então interventor estadual Armando de Salles Oliveira. É o primeiro de uma série de
documentos coletados pelo engenheiro Manoel Rodrigues Ferreira, do DER de São Paulo, que contam a história da Via Anchieta.
No Brasil e no mundo, talvez nenhuma outra rodovia tenha recebido tantas inaugurações
e tantos marcos inaugurais, muitos dos quais sucessivamente colocados e arrancados por políticos da época, cada um reivindicando para si a
paternidade de uma obra, que não era de ninguém porque pertencia ao povo.
As características da nova estrada São Paulo-Santos, propostas pela Secretaria da
Viação e Obras Públicas em 1934: extensão- 62 quilômetros; largura do leito - 8 metros; uma pista única de 6 metros, pavimentada com concreto de
cimento; faixa demarcada entre cercas - 20 metros; túneis e viadutos na serra - 300 metros lineares; curvas horizontais mínimas - 50 metros; rampas
máximas - 5 por cento.
O primeiro pedágio, que funcionou durante muitos anos à altura do km 54, já na Baixada
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A crise nos transportes
O início da década de 20 (N.E.: década de 1920)
foi de grande desenvolvimento econômico no Brasil, particularmente para o Estado de São Paulo, cuja principal produção - café - era quase totalmente
exportada para os Estados Unidos, via Porto de Santos. Em conseqüência, a importação de bens cresceu extraordinariamente, e a ferrovia de Santos a
São Paulo - a São Paulo Railway ou SPR - ficou congestionada.
As obras representaram um desafio à engenharia
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As
cargas ficavam estocadas no porto por falta de transporte. Surgiu o que se chamou de crise nos transportes, que entrou numa fase aguda de 1925,
quando começou a ser feita a pavimentação da atual Estrada Velha ou Antigo Caminho do Mar. O cimento para essas obras era importado e chegava a
Santos em barricas, sendo transportado até o pé da serra em carroças de tração animal, bastante comuns na época.
Essa crise tornou-se rotineira, e em 11 de novembro de 1925 o jornal O Estado de São
Paulo, na página 3, abria manchete com o título A Crise no Porto de Santos, descrevendo que "nenhum problema tem para São Paulo, no
momento atual, a importância econômica igual à de que se reveste esta questão, agora debatida, no Porto de Santos, e das comunicações entre o
Litoral e São Paulo". Em seguida, o jornal anunciava que a partir dessa data passaria a ouvir pessoas credenciadas sobre a solução do "amargo
problema".
Em Santos, o jornal A Tribuna abria seguidas manchetes na 1ª página, abordando
a situação do porto, cujo cais de acostamento permanecia sempre tomado por navios, enquanto outras embarcações fundeadas ao largo faziam descarga de
mercadorias importadas em chatões que, no retorno aos navios, traziam café destinado aos Estados Unidos. Paralelamente, os armazéns da faixa
portuária permaneciam abarrotados de mercadorias, suplantando a própria capacidade de armazenagem.
No jornal O Estado de São Paulo, em 12 de novembro de 1925, era publicada uma
entrevista com o dr. R. Teixeira Soares, que disse inicialmente da necessidade de se construir uma nova estrada de rodagem entre São Paulo e Santos,
salientando: "Não a estrada de passeio ou de pequeno tráfego local, como já as tem o Estado de São Paulo, que é nesse particular, como em muitos
outros pontos, um Estado de vanguarda no Brasil. Não me refiro a esse tipo de estrada, mas ao tipo que já vai surgindo no estrangeiro, cobrindo a
Europa e os Estados Unidos de uma vasta rede de veiculação: a estrada de rodagem para tráfego intenso e pesado. A estrada de rodagem está reservada
para um papel econômico de uma importância extraordinária, formidável, direi, e do qual a maioria do público ainda não tem idéia precisa".
Na denominação a homenagem dos paulistas
O decreto de abertura de crédito às obras da nova estrada São Paulo-Santos, de grande
significação na cronologia do desenvolvimento rodoviário de São Paulo, foi assinado no dia 27 de maio de 1939:
Decreto 10.231 - Abre crédito especial de 5.000:000$000 (cinco mil contos de
réis) e dá outras providências
O Doutor Adhemar Pereira de Barros, interventor federal em São Paulo, usando de
suas atribuições.
Considerando que se acham concluídos os estudos preliminares, de modo que possa
ser iniciada a construção da estrada São Paulo-Santos, que receberá o nome de Via Anchieta;
Considerando que a despesa poderá ser distribuída por vários exercícios e assim
custeada com recursos do Fundo Rodoviário;
Considerando que no presente exercício ocorrerá um provável excesso de arrecadação
no Estado;
Considerando que a parte a ser construída no corrente exercício está orçada em
cinco ml contos de réis, DECRETA:
Artigo 1º - Fica aberto no Tesouro do Estado de São Paulo à Secretaria de Viação e
Obras Públicas um crédito na importância de cinco mil contos de réis (5.000:000$000) por conta da autorização constante do Decreto n. 7.162, de
24/5/1935, e destinado ao início da construção da estrada de rodagem de São Paulo a Santos, denominada Via Anchieta;
Artigo 2º - O Tesouro do Estado efetuará os pagamentos requisitados pela
Secretaria de Viação e Obras Públicas, até o limite de 800:000$000 mensais, a partir de junho deste ano, ficando autorizadas as operações de
crédito necessárias à execução do presente decreto. |
Também na cronologia, é a primeira vez que se fez oficialmente a menção do nome de
Anchieta dado à estrada, certamente numa homenagem que São Paulo quis prestar ao jesuíta que foi um dos fundadores da Capital. O próprio Adhemar de
Barros justificaria essa homenagem, logo em seguida, declarando publicamente que "sem o trabalho de Anchieta, São Paulo nunca existiria".
Os grandes viadutos eram uma novidade
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A obra começa e ganha definição governamental
Em 10 de novembro de 1937, após a instalação do Estado Novo, assume a interventoria de
São Paulo o engenheiro Cardoso de Melo Netto, que um mês depois da posse determina ao DER novos estudos para a construção de uma rodovia na Serra do
Mar, aproveitando o traçado pelo Rio das Pedras.
E nesses estudos o DER toma outra importante decisão, decidindo a construção de duas
pistas paralelas no Planalto, fato até então inédito na engenharia rodoviária do Brasil. Pela sua importância, vale o registro da ordem de serviço
nº 14, do engenheiro-chefe do DER ao projetista do mesmo departamento: "Peço-vos seja feito um projeto de seção transversal para a Estrada São
Paulo-Santos, com quatro linhas de tráfego, tendo 3,5 metros em cada uma. No eixo deverá haver uma faixa separadora, que irá levar uma arborização
baixa e onde possa também, de trechos em trechos, ficar parado um automóvel". Apareciam assim, pela primeira vez, dois dispositivos de segurança em
rodovias brasileiras: a proteção ao motorista contra o ofuscamento, pela arborização, e o acostamento ou refúgio para o automóvel.
Em abril de 1938 era nomeado interventor de São Paulo o médico Adhemar Pereira de
Barros e em agosto do mesmo ano o engenheiro-chefe do DER lançava num memorando interno a seguinte anotação: "De acordo com instruções recebidas,
está sendo locada a nova Estrada São Paulo-Santos, que, tendo começado no Arco do Sacomã, está na presente época pouco adiante da Vila de São
Bernardo. Na parte referente à Serra do Mar, o serviço está paralisado por não se ter ainda uma definição do traçado a adotar, cujos estudos ainda
se encontram na Seção de Projetos. Mas na parte do Planalto poder-se-á iniciar a construção imediatamente, desde o Sacomã até o vilarejo de São
Bernardo, ou até um pouco além".
No dia 29 de abril de 1939 realizou-se no Sacomã, onde foi levantado um arco, a
solenidade festiva de início das obras da estrada, presente, entre muitas autoridades, o interventor federal em São Paulo, dr. Adhemar Pereira de
Barros, que fez inflamado discurso no qual lançou uma trilogia como meta governamental que marcou época: Estradas-Escolas-Hospitais.
Faltava uma definição sobre os recursos destinados ao custeio das obras da nova
estrada, cabendo ao próprio interventor Adhemar de Barros essa definição, um marco também na história do desenvolvimento de São Paulo.
Inicialmente as pistas foram de cimento concretado,
sem observar as técnicas modernas de vibroacabamento
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Tentativa inicial do Estado deu em fracasso
O congestionamento ferroviário entre São Paulo e Santos, estendendo-se ao porto de
Santos, permaneceu nos anos seguintes. As péssimas características técnicas do Caminho do Mar exigiam, por outro lado, uma estrada moderna, e essa
exigência se transformou num estado de espírito. Daí dois engenheiros associados - Francisco de Paula Camargo e Pedro de Siqueira Campos - terem
proposto à Prefeitura Municipal de Santos a construção de uma nova estrada na Serra do Mar, para substituir o Caminho de Lorena.
Como eles pretendiam construir nova estrada pelo Vale do Rio Perequê, e como essa área
achava-se no Município de Santos, os dois engenheiros solicitaram concessão, aprovada pela Câmara Municipal em 16 de junho de 1928, com a lei nº
833. Paralelamente, dois outros engenheiros, L.R. Sanson e D.L. Derron, obtinham igual concessão do Governo do Estado de São Paulo. Os dois projtos
dependiam de financiamento para as obras no exterior.
Em outubro de 1929, veio o crack da Bolsa de Nova Iorque, surgindo então uma
crise financeira mundial, com reflexos imediatos no Brasil, e até 1934 nem o Projeto Perequê nem o de Sanson e Derron foram sequer iniciados por
falta de recursos. Ambos acabaram caducando, pelos prazos vencidos.
Já em 1934, o interventor federal em São Paulo, Armando de Salles Oliveira, como
iniciativa pioneira, determinou à Secretaria de Viação e Obras Públicas que estudasse a questão de uma nova estrada de rodagem entre a Capital e o
Porto de Santos. No mesmo ano, um outro protocolo entre o interventor paulista e aquela repartição estadual sugeria a instituição do pedágio na
estrada "como única forma de reembolsar os cofres governamentais de tais despesas".
No dia 24 de maio de 1935, o mesmo interventor Armando de Salles Oliveira assinava o
decreto nº 7.162, autorizando a construção de uma estrada São Paulo-Santos, e no ano seguinte, a 31 de março, o DER de São Paulo publicava os
primeiros editais de concorrência para as obras especificando que os interessados deveriam apresentar ou sugerir seus próprios financiadores,
cabendo ao DER o fornecimento "somente de projetos, especificações e normas". O projeto se desenvolvia pelo Vale do Rio Perequê, "com passagem pela
Vila de Cubatão, aproveitando parte do traçado do Caminho do Mar, devido às condições geológicas do terreno, em sua quase totalidade composto de
mangues e alagadiços".
Nenhum dos interessados na concorrência conseguiu superar os itens do financiamento, e
três dos concorrentes concluíram por indicar que caberia ao próprio Governo de São Paulo custear a obra, o que levou o DER a anular integralmente a
licitação.
Casas dos trabalhadores, nas encostas: origem dos futuros bairros-cota
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Uma inauguração simbólica que ampliou os horizontes
A inauguração oficial da Via Anchieta ocorreu em 22 de
abril de 1947, quando uma das pistas ficou praticamente pronta, e mais da metade das obras da outra pista estava concluída. Havia um clima político
conturbado, à época da inauguração, quando o então governador Adhemar de Barros reivindicava para si a realização da obra, a exemplo de seus
opositores, um dos quais esteve na chefia do Governo de São Paulo e havia feito uma inauguração simbólica, precedida por outras, também figurativas.
Mas o DER, por seus arquivos, mostra que só no dia 16 de outubro de 1947 é que uma das
pistas da Via Anchieta estava realmente aberta em sua totalidade e com pleno funcionamento. Nas viagens São Paulo-Santos e vice-versa, os veículos
da época rodavam alternadamente na pista ascendente e descendente, principalmente no trecho da Serra do Mar.
Na Baixada, por exemplo, o tráfego partia de Santos e rodava os 15 primeiros
quilômetros pela Avenida Bandeirantes, tendo passagem obrigatória pelo local onde hoje se situa o centro comercial de Cubatão. Depois, foram
concluídos os demais trechos que integram a chamada Baixada, e aos poucos o tráfego pela Avenida Bandeirantes foi abandonado. No seu todo, a Via
Anchieta foi construída em diversas administrações, muitas das quais com aberto antagonismo à anterior.
Deve-se ao então governador Jânio da Silva Quadros, por exemplo, o crédito da
realização de cerca de 70 por cento das obras da Via Anchieta na Baixada, inclusive as duas pontes - uma para cada pista - que cruzam o Rio
Casqueiro. Esse fato ganha importância quando se sabe que Jânio Quadros era um ferrenho opositor de Adhemar de Barros, que muitos apontam (até hoje)
como o construtor da Via Anchieta.
O povo na obra - Todos os recursos consumidos na construção da Via Anchieta só
tiveram uma origem: o tesouro público. E se o povo custeou a obra, o mesmo povo ajudou a conservá-la, através dos pedágios sucessivos, que ainda
permanecem.
Mas a estrada que ganhou o nome de Anchieta, idealizada por muitos e construída por
outros, só teve uma conclusão efetiva quando a Desenvolvimento Rodoviário S/A (Dersa) assumiu o controle operacional da rodovia. Essa empresa, que
nasceu da falta de recursos do DER e da desatualização tecnológica desse órgão, construiu os acessos definitivos da Anchieta em Santos,
reaproveitando, inclusive, um viaduto à entrada de Santos - o elefante branco -, que fora construído sem observar um planejamento e quase foi
dinamitado.
Com a Dersa, a Anchieta ganhou nova fisionomia, a partir do recapeamento das pistas e
a substituição das antigas placas de cimento do piso pelo pavimento maleável que é o asfalto. Outros melhoramentos se seguiram, como as defensas
metálicas e as lâmpadas anti-ofuscantes, estas substituindo a arborização pioneiramente idealizada pelo DER no canteiro central entre as pistas.
A importância - A Via Anchieta, pode-se dizer, veio na hora certa, quando São
Paulo e o Brasil explodiam em desenvolvimento. Há quem afirme exatamente ao contrário, garantindo que sem a Via Anchieta São Paulo seria hoje o
estado líder no desenvolvimento do Brasil.
Mas São Paulo precisava da rodovia, para embarcar no Porto de Santos as riquezas
produzidas no Planalto, e com a estrada, as duas faces da Via Anchieta, à direita e à esquerda - antes desertas e varando terrenos de matas virgens
- se transmudaram, transformando vilas em cidades, e povoados em municípios prósperos e pujantes.
A história também deve à Via Anchieta uma outra primazia, porque em seus acostamentos
foi iniciada e implantada a indústria automobilística do Brasil, provocando o desenvolvimento rodoviário que chegou aos confins do Acre, levando nos
caminhões produzidos em São Bernardo do Campo o asfalto para a Belém-Brasília.
Como o criador de feras, que acaba sendo vítima dos seus próprios animais, a Anchieta
também não fugiu ao destino: ficou saturada pelos automóveis e populações que fomentou e ajudou a construir. Daí nasceu a idéia de a construção da
Rodovia dos Imigrantes.
Da Via Anchieta, ainda, há uma citação do engenheiro Caio Dias Batista, que sintetiza
a sua realização:
"O projeto da Via Anchieta permaneceu imobilizado na prancheta dos engenheiros, na
situação e utopia irrealizável, porque a técnica sozinha era impotente para abrir os caminhos que o nanquim riscara no papel. Para que a utopia
tivesse o seu lugar na realização material, era necessário o elemento coragem, que impulsionou os operários e os engenheiros que desbravaram, depois
de José de Anchieta, os confins da Serra do Mar. A serra foi vencida, porque os administradores colocaram recursos à mão dos operários, mas, também,
porque técnicos e operários tiveram coragem, esse elemento herdado aos Bandeirantes".
As pistas construídas na Serra do Mar exigiram uma tecnologia inovadora
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A Via Anchieta descrita no DER
Nos arquivos do DER há um relato sobre a Via Anchieta, elaborado em 1950, que é
bastante oportuno para permitir comparações 27 anos depois:
A partir de São Paulo, a Via Anchieta segue o rumo Suleste e atravessa uma região
caracterizada por três aspectos topográficos perfeitamente distintos: o Planalto, a Serra e a Baixada.
O Planalto - estende-se a 40 quilômetros da Capital. É caracterizado por
ondulações entre as altitudes de 70 (N.E.: 700...) a 800 metros acima do nível do mar,
e por acidentes do terreno de menor importância. Apresenta três travessias de vulto, que requereram obras de arte especiais. Essas travessias
provêm de três cursos de água, pequenos mas que se avolumam em virtude do grande reservatório em que se transformou o sistema fluvial da área
circunvizinha. É o reservatório que alimenta a usina da Companhia de Luz, Força e Carris Urbanos de São Paulo (hoje, Light), colocada quase ao
nível do mar. Esse sistema hidreoelétrico, que aproveita uma queda de cerca de 700 metros, dá a maior potência instalada no País, podendo,
quando necessário, atingir 1 milhão de HP.
A Serra - é um degrau de 700 metros, aproximadamente, que se precisa galgar
para, do Litoral, atingir-se o interior. Esse degrau, fortemente acidentado, se estende em boa parte do País e teve a sua função histórica, como
obstáculo natural à penetração para o Interior. A estrada aí se desenvolve por 13 quilômetros, em terreno escarpado, com taludes que vão até os
60 graus de inclinação, recobertos por vegetação vigorosa. Os acidentes topográficos exigiram recursos especiais de traçado e numerosas
obras-de-arte. Foi necessário, na maior parte, o desdobramento da estrada em duas vias escalonadas, uma para o tráfego ascendente e a outra para
o descendente. As duas vias, em geral, seguem pela mesma encosta, aproximando-se paralelas em planta e perfil, exceto em três pontos, onde as
vias se cruzam sobrepostamente. Nesses cruzamentos as altitudes variam de 300 a 500 metros, onde foram construídos túneis e viadutos. Nesta
região as chuvas são abundantes, alcançando a média anual de 4.300 milímetros.
A Baixada - estende-se entre a serra e o mar. É uma extensão de 12
quilômetros de formação de aluvião, pouco inclinada para o mar. Mas é recortada por muitos cursos de água irregulares e extremamente sinuosos,
um dos quais é o braço de mar que separa a Ilha de São Vicente do Continente. Toda essa extensão é formada por um depósito com elevado teor
orgânico assente sobre camadas de areia, ou sobre embasamento rochoso. As condições geológicas exigem um tratamento especial das fundações das
obras-de-arte construídas na estrada, sob pena do seu comprometimento. |
Numa das inaugurações da Anchieta,
a tradicional caminhada das autoridades e convidados ela nova pista
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A rodovia terá mais segurança segundo a Dersa
Existem ou persistem na Via Anchieta, segundo a própria Dersa, alguns pontos negros,
onde os acidentes são freqüentes e periódicos. Os acidentes dividem-se em dois grupos: atropelamentos e colisões.
Para solucionar o problema dos atropelamentos, conforme explicou o diretor de
operações da Dersa, engenheiro Constantino Angelino Netto, serão construídas na Anchieta quatro novas passarelas, todas na região do Planalto,
beneficiando a travessia de pedestres nos quilômetros 16, 20, 21 e 28. "Está claro - diz o diretor de operações da Dersa - que atropelamentos
continuarão ocorrendo em outros locais, sempre que um pedestre burlar a vigilância da Polícia Rodoviária ou da própria Dersa, e cruzar as pistas.
Mas os locais já levantados - onde a travessia é constante - terão as passarelas, e nesse caso os acidentes teoricamente devem diminuir e
desaparecer por completo".
Os outros pontos negros, onde acontecem colisões diversas, situam-se no Km 44 (Curva
da Onça) e entre os quilômetros 52 e 53. Em ambos, segundo a própria Dersa confessa, existem defeitos técnicos na pista que agora serão corrigidos.
Na Curva da Onça - onde em 1974 ocorreram 76 acidentes na pista descendente e 94 na
ascendente; em 75, 54 acidentes na pista descendente e 101 na ascendente; e em 76, 103 na descendente e 68 na ascendente - o problema não é novo e
vem sendo acompanhado pelo DER e pela Dersa nos últimos dez anos. Ali, há 10 anos, a Serra do Mar vem sofrendo uma movimentação considerada pelos
geólogos como anormal. A movimentação do terreno foi tão acentuada que o DER, na época, viu um dos viadutos seriamente comprometido em sua
estrutura. Por medida de segurança do próprio tráfego, o viaduto foi isolado e quase completamente desmontado, construindo-se em seu lugar um desvio
provisório da pista, com o emprego de aterros e cortes num talude.
Agora, segundo a Dersa, o solo sofreu uma estabilização que, de acordo com os
técnicos, deve ser a definitiva. No local será construído um novo e sólido aterro, para eliminar parte da curva existente, de raio muito pequeno ou
curto, e com isso a velocidade de segurança da área será elevada de 30 para 50 quilômetros por hora.
Nessa "pequena" obra a Dersa vai investir cerca de Cr$ 5 milhões nos próximos seis
meses. A concorrência para os serviços será aberta nos próximos trinta dias, porque o projeto de engenharia, elaborado pela Temag, foi concluído na
semana que passou.
Outra curva - No sentido São Paulo-Santos, quase no final da Serra do Mar, a
Dersa já iniciou as obras de melhoramentos na pista, entre os quilômetros 52 e 53. Nesse local, apontado pela Dersa como outro ponto negro da
Via Anchieta, também devido à movimentação da Serra do Mar, a pista perdeu a sobrelevação nas curvas, desgovernando os carros que se chocam, ora
contra as defensas, ora derrubam as defensas e invadem a pista contrária, ou ainda derrapam e capotam.
Também ali, em média duas vezes por semana, as turmas da Dersa são convocadas para
recompor as defensas que separam as pistas. Entre os quilômetros 52 e 53, na pista descendente, ocorreram 35 acidentes graves em 1974, 64 em 1975 e
113 em 1976. Na pista ascendente, devido à menor velocidade imprimida pelos veículos na subida da Serra, foi também menor o número de acidentes: 24
em 1974, 31 em 75 e apenas 14 no ano passado.
Nesse trecho de dois quilômetros serão construídas novas pistas, suavizadas as curvas
e levantada a sobrelevação do terreno. Nos próximos seis meses, a Dersa vai investir nessa área cerca de Cr$ 4,5 milhões.
Mas a Dersa garante que essas obras serão executadas até março do próximo ano,
constituindo um ponto de honra da diretoria presidida pelo engenheiro Luís Roberto Marri Amaral. O diretor de operações da Dersa, Constantino
Angelino Netto, fala das obras com um grande entusiasmo, salientando que elas visam dotar a Via Anchieta de mais segurança ainda para os motoristas.
"Pouca gente sabe - diz ele - que a Dersa executa, no trecho da Serra do Mar,
constantes obras de contenção, empregando nessa tarefa, diariamente, cerca de 180 trabalhadores. São obras escondidas, a 200 e às vezes 300
metros acima das pistas, e longe portanto dos olhos dos motoristas, na recomposição da drenagem, na construção de muros de arrimo e na conservação
do revestimento vegetal. Graças a essa atividade anônima, nos últimos três anos praticamente não ocorreram deslizamentos de taludes na época das
chuvas, ocorrências que já eram comuns no passado.
"Sem os deslizamentos, a estrada manteve o seu alto padrão de segurança e
funcionalidade. E vai ser melhorada ainda mais, com as obras que estão em curso, porque segurança rodoviária é o principal objetivo da Dersa". |