Em
1962, foi publicado em Sorocaba/SP este livro de 200 páginas (exemplar no acervo do historiador santista Waldir Rueda), composto e impresso nas
Oficinas Gráficas da Editora Cupolo Ltda., da capital paulista (ortografia atualizada nesta transcrição):
Pequeno histórico da Mayrink-Santos
Meus serviços prestados a essa linha entre Mayrink e Samaritá
Antonio Francisco Gaspar
[...]
2ª PARTE - ESTUDOS E CONSTRUÇÃO
XXVII - Inauguração da linha - Mayrink a Santos
Ao finalizar esta minha resumida resenha da grandiosa obra executada por diligentes
engenheiros brasileiros, à qual eu também concorri com meus parcos préstimos como simples instalador dos primeiros aparelhos telefônicos e
telegráficos, tenho o prazer e a satisfação de dizer algo, sobre a sua espetacular inauguração.
Depois de quase dez anos de intensos e penosos trabalhos feitos por todos os
empreiteiros nesse árduo tentamen, no dia 2 de dezembro de 1937 correu entre São Paulo e Santos via Mayrink, em viagem experimental, uma
composição de passageiros (primeiro trem), conduzindo toda a administração da Sorocabana, representantes da Imprensa de São Paulo, Rio de Janeiro,
Santos, pessoas gradas e convidados.
Essa visita especialmente dedicada à imprensa pelo esclarecido engenheiro dr. Mário
Sales Souto, diretor da Sorocabana, cuja expectativa era esperada e foi constatada pelos srs. visitantes, foi uma excursão inteiramente coroada de
êxito. Desde o início, como chefe da 5ª Divisão, o dr. Mário Souto foi quem dirigiu esse grande empreendimento, essas pesadas obras de arte, com o
fim de serem vencidos os obstáculos imprevistos da Serra do Mar.
Falecendo a 3 de maio desse 1937 o dr. Gaspar Ricardo Júnior, o dr. Mário Sales Souto
foi empossado no cargo de diretor, continuando o mesmo programa de Gaspar Ricardo, a solução da Mayrink a Santos - onde esse saudoso engenheiro
dedicou o melhor de sua vida, apaixonando-se pela ligação da Sorocabana - do planalto ao mar.
O início de trens de cargas seria dia 10 de dezembro de 1937, bem assim os trens de
passageiros. A inauguração oficial só se faria em outra data, por medida de precaução e prudência, embora a linha já se encontrasse consolidada.
A administração ainda não ia franqueá-la ao tráfego de passageiros. Dia 26 de julho de
1938, às 8,30 horas. O dr. Getúlio Vargas, presidente da República, viajou pela estrada de rodagem à estação Engenheiro Marcillac e dali até Santos,
inaugurando, então, a linha Mayrink-Santos.
Voltemos a falar sobre o trem especial da visita oferecida à Imprensa, pelo dr. Mário
Sales Souto.
O engenheiro dr. Rui Costa Rodrigues também foi um grande animador desse
empreendimento - a Mayrink a Santos -, bem assim os inúmeros engenheiros ligados a essa iniciativa, que foi e é uma das mais completas e admiráveis
estradas de ferro, não só do Brasil, mas em todo o mundo.
Acompanhados pelo dr. Mário Sales Souto, seguiram no trem especial os srs. Bento
Rolim, secretário do sr. diretor; dr. Aníbal Souto e exma. filha; dr. Raul Cavalcanti, ajudante do sr. diretor; dr. Luiz Orsini de Castro, chefe do
tráfego; dr. Carlos Veiga, chefe do Departamento de Finanças; dr. Rui Costa Rodrigues, chefe do Departamento de Construção; dr. Luiz Domingues,
chefe do Departamento de Mecânica; dr. Jarbas Trigo, chefe da Tração; dr. Luiz Netto, chefe do Movimento; dr. Balduíno de Almeida, inspetor geral da
linha de Santos a Juquiá; dr. Olavo Faria de Oliveira, ajudante do Departamento de Construção; dr. Sebastião Ferraz, idem; dr. Luiz Seti, chefe da
seção do mesmo departamento; dr. Nobre Mendes, auxiliar técnico do sr. diretor; dr. Demerval Veras, chefe da Comissão de Patrimônio e Cadastro; dr.
Lamartine Navarro, advogado da mesma Comissão; dr. Antonio Pedro de Oliveira Ribeiro Neto e dr. Paulo Almeida Sales, ajudantes do consultor
jurídico; dr. Augusto Nunan, engenheiro chefe da 1ª Residência; dr. Augusto Machado Wernek, chefe do 1º Distrito, bem como o dr. Humberto Pascali,
médico do Serviço Sanitário e drs. Paraíba e Bernardo Câmara, empreiteiros na linha Mayrink-Santos.
Seguiam redatores dos seguintes jornais: O Estado de São Paulo, Diário de
São Paulo, Folha da Manhã, Correio Paulistano, A Acção, Diário Alemão, Fanfula, O Dia, A Gazeta,
O Jornal, Diário da Noite, Diário Popular, Diário de Santos, Revista Universal, O Jornal (do Rio), Agência
Havas, Agência United Press, Diário da Noite (do Rio), A Noite (do Rio) (inclusive carioca) e a Noite Ilustrada, União dos
Jornalistas Brasileiros, Nossa Estrada (revista da Sorocabana), O Globo (do Rio), Associação Paulista de Imprensa e os seguintes
representantes de estações de Rádio Tupi, Rádio Bandeirantes, Rádio Cultura, bem como representantes da Inspetoria Federal de
Estradas, drs. João Lobato e Mário Gordinho.
O trem especial, chegando a Mayrink e após rápida parada nessa estação, rumou pelo
novo ramal. Os excursionistas iam apreciando as belas paisagens que se descortinavam ante seus olhos.
Passaram pelos confins das águas da represa de Cotia, proximidades de Caucaia; pelas
vizinhanças de Santo Amaro e Itapecirica, cujas torres da igreja e casaria desta pequena e velha cidadezinha paulista se podem ver ao longe.
No túnel 32, nessa obra de engenharia, foram empregados processos de construção
inteiramente desconhecidos no Brasil. Aplicaram-se estacas "Larsen", as quais diminuíram o custo desse túnel em Cr$ 1.900,00.
Os engenheiros, contentíssimos, iam minuciosamente explicando aos excursionistas todos
os detalhes empregados nas obras da Mayrink-Santos, principalmente nesse túnel, metade em céu aberto e metade em rocha. Após a visita aos três
túneis construídos pela Empresa José Giorgi, continuou-se a viagem.
Aparecem, de espaço a espaço, as estações da linha, as casas da Vila Permanente,
escolas e Higiene. Na construção desse ramal, devido essa zona ser uma das mais ingratas, a Sorocabana fez ao lado do engenheiro seguir o médico e o
professor para os filhos dos trabalhadores, cuidando também da questão do saneamento, pois na zona além do túnel 32 para Santos chovia quase que
diariamente. O ar era úmido e reinava uma cerração contínua, dificultando os trabalhos dessa notável obra.
O trem especial, em Rio dos Campos, parou para o almoço. Iniciou-se a descida da Serra
do Mar, e infelizmente a cerrada neblina impediu que se avistasse a dez metros adiante. Atravessaram-se viadutos, pontes, aterros, túneis, uns
emendando nos outros. Dos dois lados sempre o abismo. Trinta e dois túneis foram perfurados e cerca de 46 pontes foram levantadas. A parte
culminante dessa gigantesca obra é, sem dúvida, a que se refere às pontes e viadutos.
Assim, atravessando precipícios, às 16 horas encontrava-se o trem especial com a
seleta comitiva no Marco 0 (em Samaritá). A Sorocabana, para efeito de quilometragem, contava de Samaritá para Mayrink, 135 quilômetros.
O regresso a São Paulo deu-se às 18 horas pelo trem rápido da São Paulo Railway, em
dois carros especiais, fretados pela Sorocabana.
Os excursionistas e convidados, satisfeitos pelo belo passeio à Mayrink-Santos, dias
depois, principalmente os jornalistas, teceram elogiosas referências à Mayrink-Santos; aos inúmeros engenheiros que ali deixaram consignados os seus
nomes; aos trabalhadores em geral, aos médicos e aos empreiteiros desse grandioso tentamen autorizado pelo egrégio Governo do Estado de São
Paulo.
Em 10 de dezembro foi então a linha definitivamente entregue ao tráfego de mercadorias
e passageiros.
Tenho o prazer de transcrever para este capítulo as palavras do saudoso dr. Mário
Sales Souto:
"Não podemos deixar de assinalar, com entusiasmo, esse
auspicioso acontecimento, que representa o término feliz de uma grande luta contra a natureza, e toda a sorte de embaraços, que se antepunham à sua
realização.
"A Sorocabana vê assim concretizada sua antiga aspiração, e a nação fica dotada de
mais um poderoso elemento propulsor de seu progresso.
"Cumprimos o dever de registrar o nosso agradecimento a todos aqueles que, direta ou
indiretamente, concorreram para a concepção dessa obra grandiosa, e prestamos à memória daqueles que não puderam presenciar do êxito do grande
empreendimento, orgulho da engenharia nacional, homenagem que sintetizamos, com justiça, em Gaspar Ricardo, infatigável lutador pela sempre
crescente grandeza da Sorocabana.
"Concluídas as obras mais importantes da linha, foi feita, neste ano (1937) a ligação
dos trilhos, obtendo-se uma extensão total de 134.638 metros entre Mayrink e Samaritá".
O dr. Gaspar Ricardo Júnior não era esquecido e, ainda até hoje, passados mais de 25
anos de seu desaparecimento de nosso convívio, ele é e será sempre lembrado pelos seus similares e amigos.
Os primeiros chefes de estações ou telegrafistas da MK-Santos
Os nomes dos primeiros telegrafistas que inauguraram as primeiras estações ou postos
telegráficos.
Os aparelhos telefônicos e telegráficos foram instalados primeiramente em vagões
imprestáveis e fora do tráfego, e depois em prédios construídos de tijolos.
Vou relembrar, conforme os tenho registrado nas páginas de meu Diário, que
iniciei em 1929, quando para a linha Mayrink-Santos eu ia a serviço.
Se equivoquei ou esqueci algum nome, peço escusas aos velhos colegas e amigos, pois
pode haver algum engano, mas meu Diário não falha: à noite, antes de repousar, eu anotava tudo aquilo que acontecia durante o dia.
Guaianã - 25-1-1930 - Sr. Joaquim Costa Pinto
Cangüera - 25-1-1930 - Sr. Antonio Faccas
Aguassaí - 24-5-1931 - Sr. Antônio Fidelis
Caucaia - 24-5-1931 - Sr. Benedito Ramos
Posto K.111 - 11-10-1938 (N.E.: SIC: seria 1931)
- Sr. Antônio Manente
Rancho Fundo - 30-7-1931 - Sr. Aparecido de Freitas
Boca Túnel 32 - 10-6-1932 - Sr. Benedito Lopes
Aldeinha - 8-6-1932 - Sr. Mário Nunes Vieira
Itaquaciara - 11-6-1932 - Sr. Francisco Barros Pestana
M'Boy-Guassu - 22-7-1933 - Sr. Pedro Bueno
Cipó - 22-7-1933 - Sr. Perini
Dúvidas - 18-8-1933 - Sr. Benedito Pedroso
Evangelista de Souza - 21-10-1933 - Sr. Otávio Campos
Rio dos Campos - 14-1-1934 - Sr. Otávio Campos
Chapéu - 6-12-1937 - Sr. Antônio Faccas
Pai Matias - 2-12-1937 - Sr. Artur Belém
Mãe Maria - 11-12-1937
Sales da Cruz - 7-2-1935
Acaraú - 19-1-1938 - Sr. Aroastro Ferraz
Estaleiro - 15-2-1929 - Sr. telegrafista de Santos
Samaritá - Entroncamento K. 19, da linha Santos a Juquiá
Nomes de mais alguns empregados
Na 5ª Divisão, seção de Patrimônio e Cadastro, na categoria de Desenhista, o sr. José
Antônio Nareff, muito auxiliou na Mayrink-Santos, confeccionando mapas e desenhos de obras de arte.
Foram ligados os trilhos lado de Santos com o lado de Mayrink na Ponte nº 4, próximo à
estação de Chapéu (hoje Engenheiro Ferraz).
O 1º maquinista que desceu a serra da Mayrink-Santos foi o sr. Antônio Antunes
Ferreira, caderneta número 4.416. Com a locomotiva nº 280, conduzindo um trem especial Inspeção de Engenheiros, em 27 de novembro de 1937. Esse
trem, que partira diretamente de Mayrink, chegou a Santos às 16 horas, tendo feito uma viagem esplêndida.
Foram os 1ºs chefes de trens nesse ramal os srs. Joaquim Pereira Oliveira, Eduardo
Castilhos, João Antônio dos Santos e Giácomo Antônio Vernaglia, trem de lastro.
O sr. José Camargo foi um dos primeiros bagageiros que desempenharam esse cargo, nos
trens da Mayrink-Santos.
Durante a construção desse tão almejado ramal da Sorocabana rumo a Santos, havia
diversos trens de lastro, cujos chefes desses trens, maquinistas, foguistas e trabalhadores, seus nomes não me lembro no momento.
Foram, como já falamos noutro capítulo, os primeiros mestres-linha no assentamento dos
trilhos durante a construção da via-permanente e outros serviços designados a eles na Mayrink-Santos, os incansáveis srs. Joaquim Ribeiro, Mário das
Neves, Manoel Simões, Mário Vitório, José Pinto, Casimiro Busk e Américo Alves da Silva, como feitores gerais, muito fizeram para que as paralelas
de aço da Estrada de Ferro Sorocabana atingissem Santos.
A todos esses senhores e a todo o pessoal que na Mayrink-Santos labutaram, os meus
mais profusos parabéns.
Sr. Jorge Scibora, fiscal de túneis, Alfredo Silva e Elias Sodré, em 1934
(N.E.: SIC: notada a legenda original na voto: Rio dos Campos - 28-3-1935)
Imagem e legenda reproduzidas do livro
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