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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - ESTRADAS - BIBLIOTECA
Pequeno histórico da Mayrink-Santos (16)

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Em 1962, foi publicado em Sorocaba/SP este livro de 200 páginas (exemplar no acervo do historiador santista Waldir Rueda), composto e impresso nas Oficinas Gráficas da Editora Cupolo Ltda., da capital paulista (ortografia atualizada nesta transcrição):

Pequeno histórico da Mayrink-Santos

Meus serviços prestados a essa linha entre Mayrink e Samaritá

Antonio Francisco Gaspar

[...]


2ª PARTE - ESTUDOS E CONSTRUÇÃO
XVI - Depois de M'Boy-Guassu

Desse lugar para diante, enquanto era construída a ponte de alvenaria sobre o rio M'Boy-Guassu, com 18 metros de comprimento, o avançamento prosseguia ininterruptamente.

O leito da linha entre essa ponte e além do bairro Cipó (Embura), hoje Mário Souto, era "canja" e de fácil construção. Esse trecho, quase todo plano, cognominado "Planícies de M'Boy Guassu e Embura", foi um dos quais não houve grande movimento de terras.

Os trilhos e pertences, após estar perfurado o túnel de Taquaciara e ser feita uma ponte provisória de madeira, iam sendo paulatinamente assentados pelo pessoal apto, dirigido pelo mestre-linha Manoel Simões e o feitor geral Casemiro Busk. O chefe-trem do Lastro do transporte desses materiais era o sr. Giacomo Antonio Vernaglia.

De Dúvidas (Engenheiro Marcillac) para a frente houve empecilhos a valer, pois o traçado da via férrea, passando por terrenos montanhosos, cheio de pontes, viadutos, grandes aterros, cortes e túneis, com a descida da Serra a 2% rumo ao mar, terminava em Samaritá com 131 quilômetros a partir de Mayrink (tronco).

Quando a ponta dos trilhos achava-se à margem do ribeirão Claro, um quilômetro além de Dúvidas e onde devia ser construída uma estação e casas de turma para a Via Permanente, o avanço da linha ficou estacionado.

Pelo motivo de ser essa parte do traçado muito montanhosa e o ribeirão Claro dar muitas voltas por entre altas montanhas, a Sorocabana foi obrigada a construir três pontes, sobre esse sinuoso ribeirão.

Então, foi requisitado para ali o Especial e Pontes. O trem Especial de Pontes, aparelhado com maquinário adequado para esse serviço e pessoal habilitado, dirigido pelo exímio artífice sr. João Roncon, sr. Amorim, maquinista dos guindastes e pertences e pessoal, chegou ali no mês de julho de 1933.

Eu, na qualidade de eletricista, recebi do dr. Gaspar Ricardo um recado particular. Esse recado era para eu procurar o mestre geral das oficinas de Sorocaba e dizer a ele "que no domingo, 23 de julho de 1933, estava um carro de 1ª classe à disposição de todos os mestres para irem a Mayrink, de onde deviam seguir em trem especial com restaurante à ponta dos trilhos da Mayrink-Santos".

Avisei o sr. mestre geral das oficinas e todos os mestres, também o dr. Fernandes Barros, médico da C.A.P. e uma orquestra chefiada pelo sr. Lapa.

No dia designado, embarcamos. Em Mayrink, nos esperavam o dr. Ruy Costa Rodrigues, chefe do Departamento da Mecânica, e o dr. Luiz Domingues, seu auxiliar.

O mestre geral, sr. Gustavo Flud, não foi. Estava acamado. O mestre sr. Lourenço Pucinelli representou-o.

Foi uma viagem esplêndida, por todo o percurso.

A orquestra, composta de 8 músicos, empregados das oficinas da Sorocabana, de vez em quando enchia o recinto do carro de 1ª classe e os ares daquelas plagas da Mayrink-Santos, com suas harmoniosas valsas, polcas, rancheiras, dobrados e marchas. Era a primeira vez que por ali passava uma autêntica orquestra, que, dirigida pelo mecânico sr. Otavio Gomes Lapa, este acionava bateria americana.

Ao meio-dia, chegamos à ponta dos trilhos. Futura estação Engenheiro Marcillac.

Ali nos aguardava o dr. Gaspar Ricardo, diretor da Sorocabana. Cumprimentos, abraços, boas vindas etc. Disse-nos o dr. Gaspar que estava empenhado em dar pronta uma das três pontes. Ponte essa de 3 vãos de poucos metros cada.

As outras 2 pontes já estavam concluídas e davam passagem a trens de lastro. Convidou para virmos até ali, para ajudá-lo nesse tentamen. Fomos a pé ver o que se podia fazer.

O dr. Gaspar precisava de vigas de peroba para ser feito o tabuleiro da ponte de 3 vãos para dar passagem aos trens de materiais, enquanto os pedreiros iriam construindo o tablado de cimento armado nos pilares ao lado, pois a via ia ser dupla. Desejava que até no sábado, 29, estivessem as vigas ali na ponta dos trilhos. O sr. João Roncon deu ao mestre dos carpinteiros de Sorocaba todas as medidas do comprimento das toras que eram necessárias para esse serviço tão urgente.

Depois dessa orientação e detalhes, o dr. Gaspar convidou-nos ao almoço no carro-restaurante, que veio ligado a esse trem especial. Durante esse opíparo ágape, houve troca de idéias, projetos e ficou certo da vinda das respectivas vigas por toda a semana. Disse o dr. Gaspar com entusiasmo: "Se os senhores me auxiliarem e me derem no sábado as vigas aqui para o sr. João Roncon, segunda-feira, de amanhã há 8 dias, eu serei o homem mais feliz e agradecido para com vocês: a linha Mayrink-Santos é um tentamen que eu desejo ver quanto antes realizado".

Após o almoço, o dr. Gaspar, dr. Rui Costa Rodrigues e dr. Luiz Domingues despediram-se de nós todos e regressaram por estrada de rodagem a São Paulo, via Santo Amaro, com o automóvel da diretora.

O trem especial, nos conduzindo de volta a Mayrink, na mais franca camaradagem, corria célere por aquela zona do Estado de São Paulo, que não muito longe ia chegar o dia, que a Sorocabana entraria em Santos, orgulhosa.

Em Mayrink o nosso carro foi ligado ao trem noturno e às 23 horas estávamos em Sorocaba.

O pessoal da oficina atendeu cordialmente o pedido do sr. diretor e não no sábado, mas na quinta-feira, as gôndolas carregadas com as vigas estavam na ponta dos trilhos com o sr. Roncon, que por sua vez adiantou o serviço.

O dr. Gaspar Ricardo ficou contentíssimo e satisfeito com a prontidão com que o pessoal das oficinas de Sorocaba atendeu esse pedido de emergência e antes do prazo fixado. Foi uma vitória!

A ponte em pouco mais de um mês ficou dando passagem e o trem de lastro pôde levar avante as paralelas de aço até Rio dos Campos. Ali, mais uma vez, ficou estacionado o avançamento por algum tempo. Foi o primeiro chefe de Rio dos Campos o sr. Otávio Campos.

Nesse tempo, também, estava sendo estudada a represa do rio Capivari, com o fim de ser construída, ali, a atual Usina Elétrica do Capivari, que falarei noutro, em um capítulo mais adiante.

Lista dos membros que anuíram ao pedido do sr. diretor e mais alguns empregados da Sorocabana:

Sr. Lourenço Puccinelli
Sr. Euclides G. Silva
Sr. Firmino J. Oliveira
Sr. Pedro Alberto Escher
Sr. Alfredo E. G. Bertolini
Sr. Antônio Gomes Ludovico
Sr. Carlos de Arruda
Sr. Leoni Mismetti
Sr. Ivo Pedrassi
Sr. Osvaldo Ceribella
Sr. Ary Blazeck
Sr. José Brasil
Sr. Antônio Domingos
Sr. Gabriel Laghi
Sr. Antônio Francisco Gaspar
Sr. Otávio Gomes Lapa e seu jazz-band composto de srs. oito músicos.


Ponte provisória de madeira sobre o ribeirão Claro, entre Dúvidas e Monos - 1933
Imagem e legenda reproduzidas do livro


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