Em
1962, foi publicado em Sorocaba/SP este livro de 200 páginas (exemplar no acervo do historiador santista Waldir Rueda), composto e impresso nas
Oficinas Gráficas da Editora Cupolo Ltda., da capital paulista (ortografia atualizada nesta transcrição):
Pequeno histórico da Mayrink-Santos
Meus serviços prestados a essa linha entre Mayrink e Samaritá
Antonio Francisco Gaspar
[...]
1ª PARTE - PREÂMBULO
V - Júlio Prestes e a Mayrink-Santos
Júlio Prestes de Albuquerque, quando deputado estadual, muito se interessou pela
encampação da Estrada de Ferro Sorocabana, que estava arrendada à Brasil Railway Company.
Após enérgica e brilhante luta sustentada no Congresso Legislativo, foi a Sorocabana
novamente incorporada ao patrimônio do Estado.
E, no governo Carlos de Campos, sendo diretor da Sorocabana o Dr. Arlindo Luz, a linha
tronco entre São Paulo e Santo Antônio foi duplicada; foi reformada a oficina de Mayrink e construídas as novas oficinas de Sorocaba; foi iniciada a
grande estação da Capital, a qual foi com vigor construída; fizeram-se diversas obras de vulto na linha e foi aumentado o material rodante, como
também o de tração.
E, com essa remodelação da Sorocabana, o governo de Carlos de Campos, coadjuvado por
Júlio Prestes e mais deputados, contribuiu para que o confuso problema da Sorocabana, na solução de seus transportes, fosse resolvido.
Tudo correu a contento. Tudo foi nela imediatamente mantido um regime que hoje não
difere das estradas de ferro entregues nas mãos de particulares.
Em 1926, ao assumir o governo do Estado o dr. Júlio Prestes de Albuquerque, filho de
Itapetininga, uma das zonas a que a Sorocabana serve, e tendo a estrada estudos para levar sua linha ao litoral Sul, ele retoma o magno problema de
rasgar mais uma comunicação do nosso hinterland com o porto de Santos.
Para isso, inicialmente, como ainda vigorava o privilégio de zona da São Paulo
Railway, mandou comprar a linha da Southern Railway, o que foi feito, e em seguida passada a Escritura de Compromisso.
Sabe-se que, depois, o dr. Júlio Prestes teve uma conferência com os secretários da
Fazenda e da Agricultura e o diretor da Sorocabana, o engenheiro dr. Gaspar Ricardo Júnior. Estudaram a situação financeira e econômica da
importante via férrea e resolveram, suspendendo as obras adiáveis, atacar as obras da Mayrink-Santos, esperando não só o aumento de renda da
Sorocabana, como cumprir a convenção exposta da plataforma no seu programa de governo.
O alto preço do transporte dos produtos para o porto de Santos e vice-versa e a
solução das crises que, de tempos em tempos, afligiam o Estado pela deficiência dos meios de comunicações que havia para o mar, é que foi resolvido
esse tentamen.
Com o prolongamento da Sorocabana a Santos, mais de 50% das estradas de ferro de São
Paulo teriam livre acesso àquele porto de mar, independente de baldeação em Barra Funda para a bitola larga da Inglesa. E, sobre a
administração do Estado, essa anomalia desaparecia e a Sorocabana ia conquistar uma das mais grandiosas aspirações que ela desejava há muitos anos.
Ao porto de Santos iriam convergir os vagões da Mogiana, Noroeste, Paraná-Santa
Catarina e outras estradas de ferro de bitola estreita.
Essa resolução do governo paulista foi acatada e de toda parte chegaram ao eminente
dr. Júlio Prestes os aplausos por esse seu grande ato, dando ordens ao dr. Gaspar Ricardo Júnior, levar até Santos os trilhos da Sorocabana.
O árduo problema, então, começou. Foram atacados os serviços nos dois primeiros
trechos que eram, por administração: P.1 e S.1.
Agindo assim, o dr. Júlio Prestes tomava uma providência que envolvia os mais amplos
interesses da economia de São Paulo. E, também, todos os outros trechos foram em seguida atacados, bem como a construção dos túneis.
Houve ápodos, críticas e vexames a granel contra esse arrojado projeto; por essa nobre
causa; ideal desse ilustre estadista. Mas, ele não esmoreceu e ao cabo de pouco tempo pôde galhardamente inaugurar as primeiras estações dessa
grandiosa obra de vulto.
Após os preparativos para essas duas inaugurações, foi designado o sábado, 25 de
janeiro de 1930, para a cerimônia do trecho P.1 - Mayrink a Cangüera, e o sábado 15 de fevereiro desse mesmo ano, a cerimônia do trecho S.1 -
Samaritá (quilômetro 19 da linha de Juquiá) a Estaleiro.
Estação Cangüera (provisória em um vagão) inaugurada em 25-1-1930
Imagem e legenda reproduzidas do livro
Inserimos neste capítulo as Atas de Inauguração lavradas e assinadas nesses dias:
"Aos vinte e cinco dias do mês de janeiro de 1930, com a
presença dos exmos. srs. drs. Júlio Prestes de Albuquerque, presidente do Estado; José de Oliveira Paes de Barros, secretário da Viação e Obras
Públicas, e outras pessoas que vão abaixo assinadas, deu-se por inaugurado, na estação de Cangüera, o primeiro trecho da linha Mayrink a Santos, da
Estrada de Ferro Sorocabana, entre os quilômetros 69 mais 310 metros e 79 mais 667 metros, trecho este que compreende as estações de Guiana e
Cangüera. A construção da linha Mayrink a Santos, resolvida pelo governo do exmo. sr. dr. Júlio Prestes de Albuquerque, foi executada sob a
administração dos srs. drs. José Oliveira de Barros, na Secretaria da Viação e Obras Públicas, e Gaspar Ricardo Júnior, na diretoria da Estrada de
Ferro Sorocabana, sendo chefe da 5ª Divisão (construção) o dr. Mário Salles Souto. Os serviços de campo foram efetuados pelo dr. Sebastião Ferraz e
os de escritório pelo sr. João Batista Gomes Carneiro. Sobre a solenidade proferiram discursos os srs. João Russo de Souza e o dr. Júlio Prestes.
Para constar, eu Luiz Orsini de Castro, lavrei in loco a presente ata, que assino com todas as pessoas presentes"
(seguem-se as assinaturas dos srs. presidente do Estado, secretários do Governo, pessoas da comitiva e outras autoridades presentes a esse ato).
Por ocasião desse grandioso acontecimento da assinatura da ata inaugural, foi servida
uma taça de champanha aos presentes, usando da palavra o dr. Gaspar Ricardo Júnior, que agradeceu o comparecimento do sr. presidente do Estado e a
todas altas autoridades do governo e ao povo, à inauguração oficial do trecho
inicial da linha Mayrink-Santos.
"Aos quinze dias do mês de fevereiro de 1930, com a
presença dos exmos. srs. drs. Júlio Prestes de Albuquerque, presidente do Estado de São Paulo; Heitor Penteado, vice-presidente; José Oliveira
Barros, secretário da Viação e Obras Públicas, e outras pessoas adiante assinadas, deu-se por inaugurado o trecho de cinco quilômetros e 240 metros
da linha Mayrink a Santos, compreendido entre o entroncamento desta, no quilômetro 19 da linha Santos-Juquiá, e a referida estação Estaleiro. Os
trabalhos de campo deste trecho foram executados pelos engenheiros Raul Cavalcanti e Armando Carneiro Monteiro e os de escritório pelo sr. João
Batista Gomes Carneiro, sendo chefe da Divisão (construção) o engenheiro Mário Salles Souto e diretor da Estrada de Ferro Sorocabana o engenheiro
Gaspar Ricardo Júnior. A construção do trecho inaugurado foi feita da estaca 0 à estaca 212 por administração direta do Estado, sob a chefia do
engenheiro Agenor Guerra Corrêa, e da estaca 212 à final 262, pela Empresa Velloso, sob a fiscalização do engenheiro José de Carvalho Sobrinho. Para
constar, eu, Luiz Orsini de Castro, chefe do Tráfego da Estrada de Ferro Sorocabana, lavrei, in loco, a presente ata, que assino com todas as
pessoas presentes" (seguem-se as assinaturas dos srs. presidente do Estado, secretários do Governo, pessoas da comitiva
e as autoridades presentes).
Cópia do telegrama passado ao sr. Washington Luiz, presidente da República, nessa
ocasião:
"CANGÜERA, 25 - Sr. presidente da República - Rio. Ao
inaugurarmos a estação de Cangüera, segunda estação aberta ao tráfego na linha Mayrink-Santos, temos o prazer de enviar a V. Excia. as nossas
efusivas saudações. (aa) Júlio Prestes, Heitor Penteado, Oliveira de Barros, Fernando Costa e Gaspar Ricardo Júnior".
Era mais um grande passo que a Sorocabana alcançava rumo ao mar!...
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