Mayrink a Santos - Trecho P-9 - Aterro nº 4
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site Julio Prestes
O prolongamento de Mairinque à estação de Samaritá, na linha de Santos a
Juquiá, tem um desenvolvimento calculado em 135 quilômetros e 600 metros. Quer isto dizer que de Mairinque às Docas, pela Sorocabana e Ingleza,
ou pelo prolongamento em execução, a distância é praticamente a mesma.
A nova linha está sendo construída com os seguintes característicos técnicos: rampa máxima de dois
por cento, com tangentes de cem metros, intercaladas entre curvas de raios opostos e raio mínimo de 245,62 m.
A plataforma nos cortes, para linha dupla, é de 8,50 m e o gabarito de livre passagem, nos túneis
e obras de arte, tem a altura de 6,45 m acima dos trilhos, permitindo francamente a futura eletrificação da linha.
As superestruturas das pontes e viadutos foram calculadas para um trem mais pesado que os atuais,
tendo em vista o natural aperfeiçoamento das locomotivas.
Os respectivos estudos ofereceram algumas dificuldades, diante das condições técnicas a observar,
mas foram elas prontamente removidas pela 5ª Divisão da Estrada, encarregada dos mesmos estudos e da construção da linha.
A preparação do respectivo leito reclama um desmonte de terra calculado em 11.500.000 metros
cúbicos, devendo ser construídos cerca de trinta túneis com o provável desenvolvimento de dois mil e oitocentos metros.
São inúmeras as obras de arte da estrada, constando da planta a construção de 27 viadutos
metálicos e de concreto armado e 96 muros de arrimo em alvenaria, além de pontes e pontilhões que serão construídos à medida que se forem tornando
necessários.
Como se sabe, antes de atacarem propriamente as obras, tiveram os empreiteiros de executar
trabalhos preliminares, como seja a abertura de caminhos e estradas de acesso aos diferentes pontos da linha, no alto da Serra, onde a maior parte
da região é completamente desprovida de meios de transporte.
Os empreiteiros não descansam. As turmas de operários trabalham ativamente no preparo do leito da
futura via férrea, tudo fazendo crer que, dentro do preparo do leito da futura via férrea, tudo fazendo crer que, dentro do prazo prefixado, estará
o nosso Estado gozando das inúmeras vantagens que lhe trará esse novo caminho sobre trilhos em direção ao mar, abrindo novos horizontes à grandeza
de S. Paulo e desenvolvendo em toda a vastíssima região, a que vai servir, as fontes de energia que aí se acham latentes.
Uma vez concluído o ramal de Mairinque, ficará o porto de Santos emancipado da tutela da Ingleza,
única estrada que até hoje tem desfrutado o privilégio exclusivo do transporte de toda a produção paulista para o litoral. As mercadorias
procedentes do interior e que se destinarem à exportação pelo nosso principal porto marítimo não serão mais oneradas, como agora, pelas despesas de
baldeações e armazenamentos forçados, pois a bitola estreita encaminhada ao litoral evitará esses encargos e transtornos, dando pronta saída à
produção e conjurando definitivamente as crises de transporte tão freqüentes no regime atual, em que a Ingleza se confessa sem o indispensável
aparelhamento para trazer em dia o respectivo serviço, com graves prejuízos para o comércio e para o público.
Os opositores ao projeto do prolongamento da Sorocabana insistem, entretanto, em afirmar que, por
falta de mercadorias a transportar, a estrada não terá, nesse ramal, renda compensadora do capital empregado, quando é certo, todavia, que,
incrementado o desenvolvimento das regiões a que a linha de Mairinque vai servir, direta ou indiretamente, não faltarão volumes para os seus vagões,
estando já a referida zona em franca expansão na cultura de café e cereais, sem contar a indústria de madeiras e outros materiais de construção.
A estrada de ferro não tem por função apenas a indústria de transporte, para o efeito de facilitar
as comunicações entre os centros produtores e os mercados consumidores. Ela tem acima de tudo a missão de levar a civilização a todos os pontos que
forem atingidos por seus trilhos, por suas locomotivas e por seus vagões, facilitando-lhes a aquisição de instrumentos agrários e outros recursos
para o seu desenvolvimento e inoculando-lhes assim a seiva de vida nova para prosperarem.
Os que negam renda suficiente à futura estrada baseiam-se na média da produção cafeeira dos
últimos anos, na respectiva zona, esquecendo-se de que até lá, isto é, até à entrega, ao tráfego, do ramal em construção, as lavouras de café terão
aumentado consideravelmente de área, ao mesmo passo que se terão desenvolvido outras fontes de riqueza.
Admitindo-se mesmo, com pessimismo, a hipótese de que, efetivamente, faltará renda compensadora
nos primeiros anos, mesmo assim não deverá prevalecer essa circunstância para condenar a grandiosa obra que o governo está levando a efeito, porque
o seu objetivo não é empregar capitais com fito, desde logo, nos lucros que estes lhes possam dar, mas unicamente beneficiar com a bitola estreita
até o litoral as vastíssimas regiões do interior paulista e dos estados vizinhos, cuja produção está sofrendo os encargos das baldeações e dos
armazenamentos forçados, impostos pela única estrada que tem o privilégio de encaminhar seus trilhos até Santos.
Página do livro Governo Júlio
Prestes, incluída nesta reprodução parcial do site Julio Prestes
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Página 44 a 46 do livro Governo Júlio
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