Foto: reprodução (publicada com o artigo)
Nossa foto, velhíssima e desbotada, dos anos 20 [N.E.:
1920/1930], abrange paupérrimo panorama rural, em que se mesclam três palhoças e poucas carroças de caçamba, tiradas
por muares. Bem em seu centro, trecho toscamente tratado; rampa de suave declive que receberia, depois do chão compactado, camadas de pedra britada,
dormentes de madeira e trilhos de ferro, na armação de linha ferroviária de bitola estreita.
E, entretanto, o pobre cenário assinalava em 1927 o período inicial da construção da
ferrovia Mairinque-Santos. Que se constituiria, através de obras de arte e engenhosas soluções - túneis rasgados em solo de má consistência,
encostas atirantadas com cabos de aço - justificando orgulho de nossa engenharia cabocla.
Entre os instrumentos de trabalho vistos na foto, nem mesmo o perfil do clássico operário
mecânico: o heróico trator! E nela se vê a futura estrada, rumando para o alto, para o Planalto; insinua-se, a modo de serpente, pelo corte
perpetrado na encosta do morrete dos fundos...
A construção da Mairinque-Santos foi acoroçoada pela crise no comércio do café em 1924,
provocada pelo tremendo congestionamento no transporte de mercadorias na antiga São Paulo Railway, nos dois sentidos: no S.
Paulo-Santos, pertinente a mercadorias de exportação; e no Santos-São Paulo, atinente a mercadorias importadas. A inglesa foi responsável por
prejuízo causado ao comércio paulista na gama de 300.000.000$000 (trezentos mil contos de réis), valor astronômico na época. Estes dados nos foram
fornecidos por Oberdan Faconti, prestimoso relações-públicas da Fepasa. À Fepasa vinculam-se hoje a antiga Santos-Juquiá
(ex-Sorocabana) que, bordejando as praias do Litoral Sul, demandava as cidades de Itanhaém e Peruíbe, bem como a
Mairinque-Santos.
Foi em 10 de outubro de 1927 que Júlio Prestes,
governador do Estado de São Paulo, presidiu a solenidade do fincamento da estaca zero no Km 19 da Santos-Juquiá (na
Baixada) referente à ferrovia que, galgando a Serra, chegaria a Mairinque. E em 17 de setembro de 1937, no Morro do Chapéu, próximo à Estação
Engenheiro Sebastião Ferraz (hoje Estação Engenheiro Ferraz) se encontraram os trilhos assentes pela equipe partida de Mairinque com os montados
pela equipe vindo de Samaritá. Estava conclusa a ferrovia Mairinque-Santos, de simples aderência, sem necessidade de apelo - como fizera a São Paulo
Railway - ao sistema funicular...
Outros fatos ligados à Mairinque-Santos serão por nós contados oportunamente, em artigo de
maior fôlego, valendo-nos os préstimos de Oberdan Faconti.
Nos anos 30 participei de romarias de paroquianos ligados à Igreja de Santa Cruz, da Vila
Mathias. Íamos a Itanhaém, bordejando o litoral, pela então Santos-Juquiá. Cooperava eu com o coro dos romeiros na
exaltação dos santos; e eles se queixavam: "Pare de desafinar!" Obrigando-me a retrucar: "A Virgem e os santos bem sabem das minhas intenções! Não
fazem caso dos falsetes!..."
Nos anos 40 subi muitas vezes pela Mairinque. Ia a Cipó (estação Mário Souto). Gente de
Santos, em penca, ia comprar lotes de terreno, na Vila Santista, na expectativa de futuras valorizações. Cipó não progrediu muito neste meio-tempo.
E a Vila Santista era semi-pantanosa.
Pela Mairinque desceu a Santos, em décadas passadas, muito grão de café. Hoje é
insignificante a quantidade transportada. Cargas mais expressivas: soja, grãos outros, farelos, cimento, produtos industrializados na Capital.
Acresceram à via férrea terceiro trilho, dando-lhe bitola de 1,60 m. Houve em dados períodos supressão dos trens de passageiros. A Fepasa, agora,
está dando particular atenção à ligação suburbana, na Baixada, com boa demanda da parte dos usuários. |