MORROS COBRAM ATENÇÃO E MAIS SERVIÇOS PÚBLICOS - Assim como em outras áreas elevadas de Santos,
os moradores dos morros Santa Maria, Saboó e Chico de Paula prezam a tranqüilidade de seus núcleos e o contato com a natureza. Porém, se ressentem
da falta de investimentos do Poder Público em áreas de lazer, unidades de saúde e outras benfeitorias. No Chico de Paula, as famílias utilizam
água de uma nascente, pois não há rede da Sabesp. O núcleo é o menor de todos, com apenas 63 moradores
Imagem: reprodução parcial da primeira página de A
Tribuna de 18/10/2010
Santa Maria carece de investimentos
Embora desfrutem de muita tranqüilidade, moradores se ressentem da falta de
serviços públicos na área de saúde e de espaços de lazer
Luiz Gomes Otero
Da Redação
Com cerca de 1,6 mil habitantes, o
Morro Santa Maria tem como principais características a tranqüilidade e uma vista privilegiada da Cidade. Porém, os moradores ainda aguardam
benfeitorias por parte do Poder Público, como a construção de um espaço de lazer e de uma área de convivência para jovens e adultos. Além disso,
lutam também pela regularização de suas propriedades.
Boa
parte das ocupações do Morro Santa Maria começou a se consolidar nas últimas três décadas. O local abriga muitos ex-moradores de núcleos vizinhos,
como Vila Progresso e Morro Nova Cintra. Seus limites, segundo a Prefeitura, são os seguintes: Avenida Nossa Senhora de Fátima, Viela 269 dessa
via, Caminho Santa Maria, Rua 1 e Rua 10.
O transporte público é feito por meio de lotações (peruas vans). Apesar de estarem pavimentadas,
as vias do núcleo carecem de obras de manutenção mais freqüentes. Prova disso são os inúmeros buracos surgidos nas ruas Um e Três, prejudicando o
tráfego de veículos.
"Já reclamamos para muita gente, mas ninguém dá jeito nisso", reclama Luiz Gonzaga da Silva,
morador da Rua Três, que já se feriu ao cair em um buraco nas proximidades de sua casa. Atendimento médico, aliás, é outro problema na região. O
posto de saúde mais próximo é o da Vila Progresso, o que obriga as pessoas a percorrer uma distância razoável para ter acesso ao serviço.
Devido à escassez de espaços de lazer e de serviços públicos, os moradores do Morro Santa Maria
são obrigados a recorrer aos bairros vizinhos. Alguns estabelecimentos comerciais, no entanto, já começaram a se instalar em pontos mais
movimentados, como a Rua Um.
Consolidado como bairro nas últimas três décadas, o Morro Santa Maria abriga muitas moradias que
ainda não estão regularizadas
Foto: Paulo Freitas, publicada com a
matéria
Preocupação - Conforme as lideranças do bairro, o que mais preocupa é a questão da
regularização fundiária. Muitos imóveis ainda têm pendências que impedem a regularização. Prova disso é que a Sociedade de Melhoramentos (SM) do
bairro, por intermédio do seu presidente, Lucas Marcelino da Silva, tem incentivado os proprietários de imóveis a se recadastrarem na entidade que
comercializou as glebas no morro.
Silva explica que a Prefeitura também tem acompanhado o processo e procurado orientar os
proprietários. "O recadastramento é fundamental para que todos possam ter suas posses reconhecidas de fato".
O líder comunitário também se manifestou sobre a falta de espaços de lazer, explicando que já
fez várias solicitações à Prefeitura, que se comprometeu a analisar a reivindicação. "Nós precisamos mesmo de um espaço de convivência, para dar
às crianças um local adequado para passar o dia".
O comerciante Carlos Pereira, conhecido como Alemão, e que mantém uma loja de materiais
de construção no bairro, criticou o estado de conservação das vias. "Os buracos nas ruas são muito freqüentes. Quem vem aqui tem reparado isso",
disse ele.
Números |
421.319 m² é a área total do Morro Santa Maria |
107.067 m² é a área total do Morro Chico de Paula |
377.305 m² é a área total do Morro do Saboó |
232.049 m² é a área total do Morro da Caneleira |
Com 1.200 habitantes, bairro possui várias casas em situação de risco
Foto: Paulo Freitas, publicada com a
matéria
Saboó necessita de infra-estrutura
Localizado nos fundos do Cemitério da Filosofia, o Morro do Saboó tem uma população estimada em
1.200 habitantes. Seus moradores, assim como os vizinhos do Santa Maria, também reivindicam serviços públicos. Por falta deles, são obrigados a se
deslocar para os bairros vizinhos.
A Unidade Municipal de Ensino (UME) 28 de Fevereiro supre as necessidades no que se refere ao
Ensino Fundamental, pois não fica muito longe do morro. Mas, no que diz respeito à área Saúde, os moradores são obrigados a ir até o Valongo para
conseguir atendimento na rede pública.
Morador há 40 anos no bairro, Edson Gomes do Nascimento também se queixa da falta de um centro
comunitário ou de outro tipo de entidade de prestação de serviço.
"Não temos um espaço adequado para o lazer no morro. Se houvesse uma entidade atuante aqui,
garanto que não iria faltar gente para ajudar. Queremos que as crianças do bairro possam se sentir bem aqui, sem ter que descer para brincar em
pontos mais distantes".
O acesso de carros é dificultado pela falta de infra-estrutura. A única pista existente no morro
precisa de reparos. "Mas o que a gente mais sente mesmo é a ausência de serviços públicos. Depender dos bairros vizinhos é muito ruim", reclamou
Nascimento.
Morro da Caneleira - O Morro da Caneleira está na mira da
fiscalização da Defesa Civil, por abrigar grande quantidade de moradias construídas em áreas de risco.
O órgão monitora todos os pontos onde há moradias em situação de risco, conforme relata o
engenheiro Luiz Marcos Albino. Um novo levantamento deverá apontar um quadro mais atualizado da situação desse e de outros morros da Cidade.
O Censo de 2000 do IBGE identificou 1,5 mil habitantes no bairro, que também não conta com
equipamentos públicos. A delimitação desse bairro é definida assim: Praça Maria Mercedes Féa, Caminho São Jorge, Rua das Pedras, Caminho da
Esperança e Rua 10.
As residências do Chico de Paula se concentram no sopé do morro
Foto: Paulo Freitas, publicada com a
matéria
Com apenas 63 moradores, Chico de Paula é puro sossego
A impressão inicial que se tem do Morro Chico de Paula é de que se trata de um local desabitado,
com muitas áreas verdes. Exagero, mas o fato é que o bairro soma apenas 63 moradores (segundo o Censo IBGE de 2000), alguns deles estabelecidos há
mais de 60 anos.
O acesso ao morro é feito pela Rua Itanhaém, praticamente nos fundos da Escola Estadual
Bartolomeu de Gusmão, que fica na mesma via. As poucas moradias existentes se concentram no sopé do morro, onde é captada água de nascente para as
residências. Não há rede de água da Sabesp nesse ponto.
Proprietária de uma avícola na Rua Itanhaém, Neide Jesus Pereira, de 72 anos, revela que mora há
68 anos em um imóvel no alto do morro.
"Meus pais vieram para cá quando eu era criança. E, desde então, não saí mais. Não penso em
mudar, porque aqui tenho o sossego que não encontraria em outros bairros de Santos. Parece até uma cidade do interior".
No início, segundo Neide, seus pais cultivavam banana e cana-de-açúcar no terreno da
propriedade. E até hoje ela vende as bananas na avícola.
Marli da Silva Fontana, que mora há 57 anos em uma casa no sopé do morro, tem como vizinhos dois
familiares.
"Construímos uma casa próxima da outra para nos manter unidos. Realmente, esse bairro tem um
diferencial. Todos que nos visitam ficam encantados com o visual e a tranqüilidade, apesar de não estarmos tão longe assim da Avenida Martins
Fontes".
A delimitação do morro Chico de Paula é simples: entre o Morro do Saboó, Vila Progresso, Morro
Santa Maria e o bairro do Saboó.
Personagens
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Vanderlei
Luiz de
Oliveira - 63 anos
O morador chegou ao Morro
Santa Maria há seis anos, com
a esperança de ter uma vida melhor. Encontrou
uma
paisagem tranqüila, mas ainda aguarda a
regularização de sua propriedade. "Aqui falta
somente uma manutenção
mais freqüente nas ruas e
resolver de vez essas
pendências burocráticas,
para podermos realmente
ficar tranqüilos". |
Marli da
Silva Fontana - 57 anos
A dona-de-casa afirma que deixou
o emprego há 30 anos para cuidar do filho. E não se arrependeu da decisão. Para ela, o Morro Chico de Paula difere dos demais por ter menos
moradias. "Com o apoio da Diocese, estamos construindo uma igreja em uma área que estava bem abandonada no sopé do morro. Essa obra é fruto
do esforço de todos nós". |
Edson
Gomes do Nascimento - 53 anos
O portuário Edson Gomes do
Nascimento mora há 40 anos
no Morro do Saboó. Ele aponta como
principal carência a
falta de serviços públicos,
o que obriga os moradores a
buscarem atendimento em núcleos vizinhos. "Pelo
menos uma área de lazer
acho que esse morro
merecia, pela sua tradição e pelo
número de habitantes. Queremos muito isso". |
Fotos: Paulo Freitas, publicadas com a
matéria |