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NO MORRO DA PENHA, LENDAS E UM
SONHO DE LAZER - Com sua origem no século 18, o Morro da Penha coleciona uma série de histórias e lendas que se tornaram folclóricas. Uma
delas é a do homem da capa preta que perambulava pelas ruas à noite. Situado entre os morros do Saboó e do Pacheco, em frente ao Cemitério
da Filosofia, a comunidade local aguarda a realização de um sonho: a criação de uma área de lazer
Imagem: reprodução parcial da
primeira página de A Tribuna de 11/10/2010 |
Penha guarda histórias e lendas em sua rotina de tranqüilidade
Ocupação do morro acompanhou a evolução urbana da Cidade. Mas moradores ainda
sentem falta de espaços de lazer
Luiz Gomes Otero
Da Redação
Localizado entre os morros do Saboó
e do Pacheco, em frente ao Cemitério da Filosofia, o Morro da Penha coleciona uma série de histórias e lendas que se tornaram folclóricas, como a
do homem da capa preta que perambulava pelas ruas no período da noite. Ou mesmo as que envolvem fantasmas que saíam do meio de um matagal.
Entre lendas e histórias, a comunidade vive aguardando a realização de um sonho: a criação de
uma área de lazer. Hoje, a diversão das crianças é correr pelas ruas e empinar pipas.
O acesso por carro é feito somente pela Estrada João Batista, que fica ao lado do Cemitério da
Filosofia, com ponto final no chamado Largo da Caveira, que abrigou os primeiros estabelecimentos comerciais do bairro.
Nesse trajeto ficava o antigo Hospital das Bexigas, nome dado a uma clínica de isolamento
para tratamento de varíola, que funcionou no início do século 20.
Na década de 30, esse hospital foi desativado e o prédio, demolido. O terreno foi retomado pelo
Poder Público, que construiu no local a atual Escola Municipal Martins Fontes, o único colégio do bairro e ainda uma referência para os moradores.
Bairro tem muitas casas de alvenaria. No passado, predominavam os chalés de madeira em estilo
português, como nos morros vizinhos
Foto: Walter Mello, publicada com a
matéria
Portugueses e nordestinos - A história do morro teve início bem antes. Mais precisamente
no século 18, conforme relata o historiador Francisco Martins dos Santos, no livro História de Santos.
O antigo Sítio da Penha, que acabou dando origem à denominação atual, apareceu pela primeira vez
em 1810, quando dona Ana Maria das Neves doou aquela área para sua filha, Ana Cardoso de Menezes.
Outros documentos surgiram em 1826, mostrando a venda de uma parte do sítio para Antônio Martins
dos Santos. Há registros de 1856 tratando do arrendamento da maior parte do sítio para José Baptista Leal.
A ocupação da Penha seguiu o mesmo processo do núcleo vizinho - o Morro do Pacheco. Começou com
imigrantes portugueses - fato facilmente comprovado pela presença de alguns chalés de madeira - e mais tarde teve migrantes nordestinos.
União e fé - O Morro da Penha registra várias histórias que fazem a evolução do bairro,
como a construção da Capela de Nossa Senhora da Penha, erguida em regime de mutirão pelos próprios moradores.
Parte do material utilizado na obra foi doado pelos moradores e empresários. Outra parte foi
obtida com dinheiro arrecadado com a venda de bolos e doces feitos por integrantes da comunidade.
Inaugurado em julho de 1982, hoje em dia o imóvel também abriga o Centro Comunitário, que além
de manter um espaço de convivência para os moradores, dá apoio à comunidade com atividades lúdicas para estudantes da rede pública.
"Houve um sentimento de união em torno da causa, que era erguer uma igreja aqui no bairro.
Graças a Deus conseguimos concluir o trabalho, que foi o resultado de um esforço coletivo autêntico", relata a moradora Maria da Guia.
Violência - Como acontece em outros morros, a Penha registra problemas com o aumento da
violência, motivada principalmente pelo tráfico de entorpecentes e por assaltos.
Este fato motivou a comunidade a reivindicar um posto da Polícia Militar no bairro, como forma
de coibir a criminalidade na área.
Números |
2.519
habitantes
é a população estimada da Penha, segundo o
Censo 2000 do IBGE |
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207.858
metros quadrados
é a área total do Morro da Penha, segundo a
Prefeitura |
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A Capela de Nossa Senhora da Penha foi construída pelos moradores
Foto: Walter Mello, publicada com a
matéria
Ex-morador lembra passado de união
Com 55 anos de idade, Valter Cardoso acompanhou de perto a evolução do Morro da Penha. Viu o
número de casas aumentar durante esse período. Mas também vivenciou uma época em que havia mais união da comunidade em torno do bairro.
"Antigamente você saía de casa e até deixava a porta de casa abeta. Hoje em dia, é claro,
ninguém mais faz isso por motivos óbvios. Mas o que me marcou mesmo no passado foi que os moradores se conheciam pelo nome. Visitavam um a casa do
outro e se ajudavam quando surgia algum tipo de problema", recorda Cardoso.
A construção da Capela de Nossa Senhora da Penha foi um dos fatos que marcaram Cardoso na
evolução do bairro. "Foi muito emocionante ver a obra concluída graças aos esforços de todos. Quem chegou recentemente ao bairro não tem noção do
valor dessa igreja, ou mesmo a unidade de saúde da família que funciona desde 2007".
Hoje em dia, Cardoso reside no Rádio Clube. Mas está sempre presente no bairro para rever os
amigos e a família. "Tenho familiares que ainda moram aqui. Nunca serei capaz de deixar a Penha".
Saudade |
"Não consigo deixar o passado para trás, pois
tenho consciência de que faço parte da história do Morro da Penha" |
Valter Cardoso, ex-morador do Morro |
Valter Cardoso ainda se emociona ao lembrar sua época no bairro
Foto: Walter Mello, publicada com a
matéria
Comunidade luta por novos espaços de lazer
Apesar de ter registros de ocupação desde o início do Século 20, o Morro da Penha não conta
ainda com espaços adequados para lazer e convivência da comunidade.
O único local de referência é conhecido como Largo da Caveira. O nome do local veio de um antigo
armazém de secos e molhados do empresário português conhecido como João da Venda ou João da Caveira, por causa da decoração de sua loja.
Moradores mais antigos lembram que havia um relógio de pêndulo na entrada do estabelecimento. No
alto de uma das prateleiras, em um local de destaque, ficava uma caveira, que muitos até hoje não sabem se era humana ou de um animal.
O fato é que o comerciante, cujo estabelecimento não existe mais no local, acabou contribuindo
para consolidar a denominação do largo.
Há ainda quem pergunte onde está a tal caveira do local, ou se ela realmente existiu. Alguns
respondem de forma bem humorada, que ela só aparece durante a noite, junto com os fantasmas. Alimentam assim ainda mais as lendas do bairro.
Brincadeiras à parte, os moradores defendem a construção de um complexo esportivo e cultural no
final da Avenida Brigadeiro Newton Braga. A proposta está sendo analisada pela Prefeitura.
Também estão em fase de análise pela Prefeitura a repavimentação da Estrada João Batista e a
recuperação das escadarias do morro.
Personagens
Lizânia
de Almeida - 47 anos: |
Nelson
Esteves - 64 anos |
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Quando chegou ao Morro da Penha, há cerca de um
ano, para coordenar o Centro Comunitário do bairro, Lizânia encontrou uma comunidade participativa e atuante. Pelo fato do bairro não contar
com espaços públicos de convivência, os moradores dão um valor enorme para esse aspecto. "Não se vê sujeira ou pichação nas paredes, porque
todos entendem o valor que
isso tem" |
Um dos moradores mais antigos do
bairro, Nelson Esteves participou ativamente da construção da Capela de Nossa Senhora da Penha. Ele também acredita que o
que mais faz falta no bairro é a
união da comunidade. "Eu costumava receber os vizinhos para tomar o café da tarde. E
retribuía a visita no dia
seguinte. Hoje em
dia a gente não vê mais esse tipo
de coisa" |
Fotos: Walter Mello, publicadas com a
matéria |