CASTELO. DOS BANANAIS E JACARÉS À PROSPERIDADE - No passado, era uma das regiões mais afastadas
de Santos, com mangues e bananais. Havia até jacarés, segundo os mais antigos. Hoje, o Castelo vive uma realidade diferente. No bairro, há
escolas, unidades de saúde e centros de lazer. Como todo núcleo que cresce rapidamente, há problemas também, mas nada que afete o orgulho de seus
moradores
Imagem: reprodução parcial da primeira página de A
Tribuna de 11/1/2010
EXPECTATIVA
Tranqüilidade e prosperidade
Apesar de boa infra-estrutura, habitantes convivem com enchentes, que devem
acabar com a macrodrenagem da ZN
Sandro Thadeu
Da Redação
Uma região das mais afastadas de Santos,
tomada pelo mangue e bananais no início da segunda metade do século passado, deu lugar ao Castelo, um dos bairros mais procurados para se viver na
Zona Noroeste.
Os jacarés - facilmente encontrados por lá no passado - ficaram somente na lembrança dos mais
antigos. De maneira tímida, a urbanização chegou. Enfim, não era mais preciso buscar água em São Vicente e as ruas foram pavimentadas.
O comércio se desenvolveu rapidamente e tornou-se variado. Escolas, creches, equipamentos de
saúde e de lazer não faltam. Essa ampla infra-estrutura faz com que os moradores do Castelo dificilmente queiram sair dali.
Grande parte dos cerca de 12 mil habitantes está concentrada nos conjuntos habitacionais:
Marechal Humberto Castelo Branco (636 unidades), Dale Coutinho (formado por 1.200 apartamentos distribuídos em 75
prédios) e Marechal Arthur da Costa e Silva (804 casas).
O último citado foi erguido pelo Instituto de Orientação às Cooperativas Habitacionais (Inocoop).
Os outros, pela Companhia Habitacional da Baixada Santista (Cohab-ST).
Por outro lado,
a poucos metros dali, encontram-se muitas famílias em palafitas, instaladas às margens do Rio dos Bugres, totalmente poluído.
Para atender a demanda, a população tem à disposição dez linhas de ônibus municipais e uma
intermunicipal. Uma situação bem diferente de anos anteriores, quando os moradores precisavam andar até o Cemitério da Areia Branca para ter
acesso a transporte público.
Os habitantes do Castelo mantêm as mesmas características do passado: união, solidariedade e
amizade. Tais sinais são nítidos durante os bate-papos entre vizinhos e nos momentos das enchentes, um problema que se arrasta desde a construção
das primeiras casas.
Um diferencial do bairro é o fato de abrigar o Complexo Hospitalar da Zona Noroeste, composto
por cinco pronto-socorros (adulto, infantil, ortopédico, psiquiátrico e buco-maxilo-facial).
O local abriga ainda o ambulatório de especialidades, o Núcleo de Atenção Psicossocial, além dos
hospitais Arthur Domingues Pinto e a Maternidade Silvério Fontes. Ainda este ano, o Castelo ganhará uma Unidade de Saúde da Família.
Diversão e lazer - Apesar da correria do dia a dia e intensa movimentação de veículos, os
jogos e as conversas nas seis praças do bairro são hábitos dos moradores do local. A tranqüilidade reina. É possível observar cavalos cruzando as
principais ruas e avenidas do Castelo.
Crianças e adolescentes também brincam à vontade nos brinquedos, possuem espaço para andar de
skate ou bicicleta e até mesmo empinar pipa, brincadeira essa compartilhada com muitos marmanjos.
Nos últimos anos, a Praça da Paz Universal transformou-se num verdadeiro palco de grandes
atividades culturais, shows e da tradicional comemoração do aniversário da Zona Noroeste. Com 19,6 mil metros quadrados de área, o
logradouro é o maior daquela região.
Outro orgulho dos habitantes do Castelo é o Centro Esportivo da Zona Noroeste, o maior parque
público do gênero na Baixada Santista. Situado na antiga área do ginásio do Dale Coutinho e inaugurado em junho de 2008, o espaço é utilizado para
competições esportivas e atividades recreativas das crianças e adolescentes dos bairros do entorno.
Proximidade com o Complexo Hospitalar da Zona Noroeste é um privilégio dos moradores, mas a
falta de médico é um problema constante
Foto: Walter Mello, publicada com a matéria
Vila Gilda: comunidade quer virar bairro
Apesar da ampla infra-estrutura urbana, uma das chagas da Cidade no que diz respeito à questão
habitacional está no bairro: o Dique da Vila Gilda, localizado às margens do RIo dos Bugres. Sua área abrange também o Rádio Clube e o Bom Retiro.
Mais de 20 mil pessoas vivem em palafitas no local, segundo pesquisa da Cohab-ST, feita em 2006.
Essas moradias do Castelo estão distribuídas pelos caminhos da União, da Capela e da Divisa.
Uma das aspirações da comunidade local é transformar a região num novo bairro de Santos. Essas
idéia surgiu durante a realização da Agenda 21 comunitária, iniciada há cerca de dois anos.
Conforme a presidente da Sociedade Pró-Melhoramentos da Vila Gilda, Lucinéya Marques de Lima
Souza, essa é uma forma de dar maior reconhecimento á área que margeia o Rio dos Bugres.
Dona Néya, como é mais conhecida, explica que um dos motivos para justificar o pleito é a recusa
de financiamento de projetos. "O território é considerado de baixa exclusão social, o que não é verdade, porque os dados levam em conta a
população do Castelo e do Rádio Clube".
Seja nas tragédias da vida, como incêndios e enchentes, seja na hora de tomar um cafezinho com
bolo para conversar, os moradores mantêm a união e solidariedade, o que facilita o encarar os problemas do dia a dia.
Mais apoio - Fundada em 1966, a entidade é um verdadeiro posto de informação para os
moradores. No entanto, clama por uma maior atenção das universidades locais. Atualmente, apenas a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)
mantém um trabalho ali, voltado para a área da saúde.
"Espero que elas não apenas se dediquem ao Projeto Rondon e ajudem a população da Baixada que
tanto precisa. Os estudantes terão muito a aprender aqui e se transformarão em profissionais com um novo olhar sobre a realidade daqui".
A representante da sociedade pró-melhoramentos explica que a população
do Dique acredita em dias melhores com o projeto Santos novos Tempos, que prevê obras de urbanização e macrodrenagem da Zona Noroeste, bem como a
contenção de encostas nos morros.
Personagem
LUCINÉYA MARQUES DE LIMA - PRESIDENTE DA SOCIEDADE PRÓ-MELHORAMENTOS DA VILA GILDA - A busca por
melhores condições de vida da comunidade sempre foi o principal objetivo dessa líder do Dique da Vila Gilda. Ela diz que o Castelo tornou-se com o
passar dos anos um dos melhores bairros para se viver. "O progresso demorou muito para chegar. Pegar ônibus só na Areia Branca e a água tínhamos
que pegar em São Vicente. Com certeza, a situação de hoje é muito melhor", destaca Dona Néya, que mora no bairro desde seu nascimento, em 1959.
Ela admite que a comunidade ainda carece de informação. Por esse motivo, na entidade há uma biblioteca aberta à população. "Só com mobilização e
informação conseguiremos resolver os nossos problemas". O local abriga ainda a Cooperativa das Costureiras do Dique da Vila Gilda, formada por 40
mulheres. O projeto mudou a auto-estima das participantes
Foto: Fernanda Souza, publicada com a matéria
CURIOSIDADES |
Origem do nome
A inspiração da denominação do bairro veio do conjunto habitacional
Humberto de Alencar Castelo Branco, formado por 636 casas e erguido em 1966 pela Cohab-ST, numa área que faz divisa com o Rádio Clube.
Curiosamente, o nome do empreendimento é igual ao do BNH da Aparecida, que começou a ser construído somente em
1967. O nome oficial foi dado com a elaboração do Plano Diretor de 1968. O aniversário do bairro é comemorado em 10 de fevereiro. |
Praça Bruno Barbosa
Embora os moradores do Castelo considerem que o logradouro onde
está o Posto de Bombeiros e a Igreja Sagrada Família pertença ao bairro, a Praça Bruno Barbosa fica no vizinho Rádio Clube. |
Pioneiro
O primeiro empreendimento verticalizado da Zona Noroeste foi o
Conjunto Habitacional Dale Coutinho, inaugurado em 1980 |
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Outras queixas da população
REFORMA - Os moradores do Castelo reclamaram bastante da má ilumnação da Praça Francisco de
Marchi. No local, a associação dos moradores já solicitou à Prefeitura a troca do paralelepípedo por outro piso, bem como a pintura de bancos e
instalação de mesas de jogos para crianças e idosos. A reforma deve ocorrer ainda este ano
Foto publicada com a matéria
SUJEIRA - Moradores do conjunto habitacional Marechal Arthur da Costa e Silva enfrentam há anos
as enchentes, devido ao transbordamento das águas do canal da Avenida Haroldo de Carvalho, que tem 600 metros de extensão. No local, não há mureta
de proteção. Entulho, madeiras, plásticos e papéis são sempre encontrados no local
Foto publicada com a matéria
Falta de médicos é problema constante
Apesar do Complexo Hospitalar da Zona Noroeste estar situado no bairro e ser um dos orgulhos dos
moradores, a comunidade questiona os motivos da constante falta de médicos naquela unidade de saúde. As enchentes também estão entre as queixas
mais citadas.
O presidente da Associação de Moradores Pró-Melhoramentos do Castelo, João Benedito da Costa, o
Giba, ressalta que a Prefeitura deveria ser mais ágil para resolver esse problema constante.
"Não adianta termos um hospital bonito se faltam profissionais para atender o povo. Isso
acontece sempre. Também recebemos reclamações de aparelhos quebrados e da demora para providenciar o conserto ou troca deles", afirma.
Cavalos - A comunidade explica que as enchentes melhoraram em comparação ao passado,
graças ao aperfeiçoamento do sistema de drenagem. Porém, a situação persiste quando chove. Alguns pontos são críticos, como a Avenida Haroldo de
Camargo, além das ruas Laerte Gonçalves e Laurindo Chaves.
Conforme Giba, outra questão problemática é a má iluminação das vias. "As lâmpadas foram
trocadas há cerca de quatro anos e já estão fracas, o que causa insegurança", diz.
Os cavalos, encontrados no Castelo, também incomodam. Segundo o presidente do Centro Comunitário
do Conjunto Residencial Marechal Arthur da Costa e Silva, Pedro Estevão, a Seção de Vigilância e Controle de Zoonoses não faz a apreensão de
animais, porque "dizem que não há espaço adequado para prendê-los". |