As crianças não têm onde brincar
As crianças que sonham com um parquinho e um campo
O garoto se entusiasma todo, arregala os olhos e pergunta
com o ar mais esperançoso do mundo: "A Prefeitura vai fazer um campo de futebol para nós?"
Outros se aproximam com o mesmo ar de esperança, aguardando uma resposta positiva. "É só limpar o terreno e
colocar a trave", sugere um, enquanto os outros à volta começam a sonhar mais alto: falam em um parquinho de diversão, uma quadra de vôlei e uma
piscina.
A ansiedade e a expectativa das crianças da Rua Marquês de Herval evidenciam o quanto sentem falta de uma área
de lazer. São meninos e meninas que ficam sozinhos enquanto os pais trabalham, não sabem o que é uma praia, não têm dinheiro para ir ao cinema e
nem quintais decentes para brincar. A sociedade lhes nega até o direito ao lazer e ao prazer.
A principal diversão deles é subir nos caminhões que invadem as ruas e olhar o mundo pelo ângulo dos adultos.
Pegam carona nas carroçarias, se arriscam, e fazem das jamantas os substitutos dos carrinhos que não possuem.
Quando não fogem para áreas da estação ferroviária, pulam de vagão em vagão e se metem nas águas podres que
ficam acumuladas sob eles para pegar rãs. O William faz questão de demonstrar como é bom no estilingue: com essa arma, ele e os amiguinhos
matam as pombinhas que voam pelo cais em busca de restos de alimentos. Não liquidam as avezinhas por serem perversos ou por pura diversão: é para
comer mesmo.
Se as coisas andam difíceis para quem pode, imaginem para aqueles sem oportunidades, obrigados a ganhar salário
mínimo, viver à custa de subempregos ou biscates. Por isso mesmo, até a criançada da Rua Marquês de Herval se vira para ajudar a família: entre
uma brincadeira e outra, ajudam a descarregar caminhões ou vendem os sorvetes preparados pela Sônia ou pela Marli. Se faturam pouco, entregam tudo
para a mãe; se conseguem um pouquinho a mais, guardam uns trocados para o lanche na escola ou para satisfazer um desejo qualquer.
Conhecem cada palmo da imunda via onde moram (um borracheiro instalado nela há vários anos a considera a mais
suja de Santos) e não percebem o perigo dos restos de produtos químicos deixados nos cantos das ruas sem saída e nos enormes terrenos baldios da
Eletropaulo. A empresa deixa os terrenos no mais completo abandono, e caminhoneiros e outros elementos que não residem no bairro (os moradores
respeitam o lugar onde vivem e tentam preservá-lo) se aproveitam disso para jogar entulhos e tudo quanto é tipo de porcaria.
Numa dessas áreas ociosas, a garotada gostaria de ter um campinho de futebol e outros equipamento de lazer. E
todos são obrigados a admitir que não pedem muito essas crianças que, apesar de viverem numa área decadente e suja, conseguem sorrir de
felicidade. Crianças que conservam o bom humor e a capacidade de dar carinho e ficariam satisfeitas ao verem seus nomes ou apelidos estampados nos
jornais.
Aí vai: Renato ou Maguila, Cláudia ou Chica, Alberto ou Testão, Hélio ou Desdentado,
William ou Testa de Arrombar Navio (ganhou o apelido porque cortou o cabelo e ficou com a testa de fora, brilhando), Gledistônio ou
Charles Chaplin. E mais: Beto, Douglas, Feridento, Vampiro do Meio-Dia, Pinóquio, Rabicó (é gordinho e usa
sempre um shorts vermelho), Suquito, Colombo, Siri, Diano Biquini, Zé Luís, Nilcéia, Marquito e
um último de apelido impublicável.
Elas pedem a transformnação dos abandonados terrenos da Eletropaulo em áreas de lazer
Origem do nome gera dúvidas entre estudiosos
Que o bairro chama-se Valongo há muito tempo, ninguém
duvida. Os pesquisadores apenas divergem quanto à origem do nome.
Segundo Francisco Martins dos Santos, a denominação teria surgido das palavras vae ao longo, usadas pelos
portugueses quando se referiam ao caminho que servia à antiga vila, ao longo das águas do estuário. Com o correr do tempo, o o termo virou
simplesmente Vallongo (depois, Valongo) e passou a designar o canto da Cidade para os lados da Estrada de Ferro Inglesa.
O mesmo pesquisador apresenta outra hipótese: desde os tempos da colonização, os genoveses João Adorno e
Francisco Adorno usariam a expressão "la estrada que va al lungo del mare" para designar a viela que servia os primeiros sítios coloniais,
"pelo lado de fora" (junto ao estuário). E como José Adorno morou por aqueles lados, muitos defendem a idéia de transformação de "va al lungo"
em Vallungo e depois Valongo.
Mas há estudiosos que excluem tais origens, levando em conta que no Rio de Janeiro também existe um Valongo, que
teria recebido esse nome devido à semelhança com um local da cidade do Porto, em Portugal. Lá, o termo, surgiu das palavras vale e longo,
que significam planície à beira do rio. Daí os portugueses batizaram o lugar de acordo com a configuração, como fizeram em sua terra. |