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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SEU BAIRRO/mapa
Prosperidade e decadência, as duas faces do Valongo (4)

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Publicado em 27/1/1983 no jornal A Tribuna de Santos

 Leda Mondin (texto) e equipe de A Tribuna (fotos)


As crianças não têm onde brincar

As crianças que sonham com um parquinho e um campo

O garoto se entusiasma todo, arregala os olhos e pergunta com o ar mais esperançoso do mundo: "A Prefeitura vai fazer um campo de futebol para nós?"

Outros se aproximam com o mesmo ar de esperança, aguardando uma resposta positiva. "É só limpar o terreno e colocar a trave", sugere um, enquanto os outros à volta começam a sonhar mais alto: falam em um parquinho de diversão, uma quadra de vôlei e uma piscina.

A ansiedade e a expectativa das crianças da Rua Marquês de Herval evidenciam o quanto sentem falta de uma área de lazer. São meninos e meninas que ficam sozinhos enquanto os pais trabalham, não sabem o que é uma praia, não têm dinheiro para ir ao cinema e nem quintais decentes para brincar. A sociedade lhes nega até o direito ao lazer e ao prazer.

A principal diversão deles é subir nos caminhões que invadem as ruas e olhar o mundo pelo ângulo dos adultos. Pegam carona nas carroçarias, se arriscam, e fazem das jamantas os substitutos dos carrinhos que não possuem.

Quando não fogem para áreas da estação ferroviária, pulam de vagão em vagão e se metem nas águas podres que ficam acumuladas sob eles para pegar rãs. O William faz questão de demonstrar como é bom no estilingue: com essa arma, ele e os amiguinhos matam as pombinhas que voam pelo cais em busca de restos de alimentos. Não liquidam as avezinhas por serem perversos ou por pura diversão: é para comer mesmo.

Se as coisas andam difíceis para quem pode, imaginem para aqueles sem oportunidades, obrigados a ganhar salário mínimo, viver à custa de subempregos ou biscates. Por isso mesmo, até a criançada da Rua Marquês de Herval se vira para ajudar a família: entre uma brincadeira e outra, ajudam a descarregar caminhões ou vendem os sorvetes preparados pela Sônia ou pela Marli. Se faturam pouco, entregam tudo para a mãe; se conseguem um pouquinho a mais, guardam uns trocados para o lanche na escola ou para satisfazer um desejo qualquer.

Conhecem cada palmo da imunda via onde moram (um borracheiro instalado nela há vários anos a considera a mais suja de Santos) e não percebem o perigo dos restos de produtos químicos deixados nos cantos das ruas sem saída e nos enormes terrenos baldios da Eletropaulo. A empresa deixa os terrenos no mais completo abandono, e caminhoneiros e outros elementos que não residem no bairro (os moradores respeitam o lugar onde vivem e tentam preservá-lo) se aproveitam disso para jogar entulhos e tudo quanto é tipo de porcaria.

Numa dessas áreas ociosas, a garotada gostaria de ter um campinho de futebol e outros equipamento de lazer. E todos são obrigados a admitir que não pedem muito essas crianças que, apesar de viverem numa área decadente e suja, conseguem sorrir de felicidade. Crianças que conservam o bom humor e a capacidade de dar carinho e ficariam satisfeitas ao verem seus nomes ou apelidos estampados nos jornais.

Aí vai: Renato ou Maguila, Cláudia ou Chica, Alberto ou Testão, Hélio ou Desdentado, William ou Testa de Arrombar Navio (ganhou o apelido porque cortou o cabelo e ficou com a testa de fora, brilhando), Gledistônio ou Charles Chaplin. E mais: Beto, Douglas, Feridento, Vampiro do Meio-Dia, Pinóquio, Rabicó (é gordinho e usa sempre um shorts vermelho), Suquito, Colombo, Siri, Diano Biquini, Zé Luís, Nilcéia, Marquito e um último de apelido impublicável.


Elas pedem a transformnação dos abandonados terrenos da Eletropaulo em áreas de lazer

Origem do nome gera dúvidas entre estudiosos

Que o bairro chama-se Valongo há muito tempo, ninguém duvida. Os pesquisadores apenas divergem quanto à origem do nome.

Segundo Francisco Martins dos Santos, a denominação teria surgido das palavras vae ao longo, usadas pelos portugueses quando se referiam ao caminho que servia à antiga vila, ao longo das águas do estuário. Com o correr do tempo, o o termo virou simplesmente Vallongo (depois, Valongo) e passou a designar o canto da Cidade para os lados da Estrada de Ferro Inglesa.

O mesmo pesquisador apresenta outra hipótese: desde os tempos da colonização, os genoveses João Adorno e Francisco Adorno usariam a expressão "la estrada que va al lungo del mare" para designar a viela que servia os primeiros sítios coloniais, "pelo lado de fora" (junto ao estuário). E como José Adorno morou por aqueles lados, muitos defendem a idéia de transformação de "va al lungo" em Vallungo e depois Valongo.

Mas há estudiosos que excluem tais origens, levando em conta que no Rio de Janeiro também existe um Valongo, que teria recebido esse nome devido à semelhança com um local da cidade do Porto, em Portugal. Lá, o termo, surgiu das palavras vale e longo, que significam planície à beira do rio. Daí os portugueses batizaram o lugar de acordo com a configuração, como fizeram em sua terra.

Veja as partes [1], [2] e [3] desta matéria
Veja Bairros/Valongo

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