Quantas histórias interessantes se ouve nos morros do Pacheco e Boa Vista! O primeiro,
apesar de não ser dos mais famosos, reserva um mundo bem particular para quem se dispõe a subir as escadarias, observar o seu dia-a-dia e
conversar com antigos moradores, invariavelmente apaixonados pelo lugar e ótimos contadores de "causos".
Não dá para negar que esse morro de 183 casas e mais de dois mil moradores tem algo de
especial. Basta saber que lá mora "seu" Antônio, que perpetua a velha tradição de se benzer crianças. Nada mais bonito do que vê-lo, aos 91 anos
de idade, fazer toda aquela gesticulação, um tanto mística, e recitar as suas fórmulas litúrgicas!
Ele é um dos primeiros moradores do Pacheco e em outros tempos encantava todos com os
balões de mais de 100 lanternas que confeccionava. Tão bom quanto as festas que organizava era acordar no meio da noite com uma serenata. Músicos
não faltavam no Pacheco de outras décadas! Quem mora lá dificilmente troca o lugar por outro, apesar dos problemas de posse de terra, da falta de
acesso para carros e da inexistência de áreas de lazer.
O Boa Vista é bem menor que o Pacheco, tem apenas 90 moradores, e em outros tempos
abrigou até tribos de índios. Índios mesmo, desses que fazem batucadas e dançam ao redor de fogueiras. Mas seu passado registra também diversos
desbarrancamentos com vítimas: o perigo sempre espreita das encostas.
Passar um dia com os moradores desses dois morros é ouvir histórias que não acabam
mais. Histórias contadas entre os sorrisos, gestos e entonações típicas de pessoas simples e acolhedoras, que fazem de tudo para agradar um
visitante. Aos poucos, revelam o quanto amam o morro e que não o trocam por lugar algum no mundo. E como diz a letra de um samba cantado entre
eles, "quem vive na Cidade/só pode ser igual/porque melhor não é". Vale a pena ler o que essa gente boa tem para contar.
Muitas histórias, nos morros do Pacheco e de Boa Vista
São mais de dois mil moradores nesse morro de densidade ocupacional elevada
|