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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS
Marquesa de Santos (2)

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Uma das figuras mais controvertidas do Primeiro Império, a paulistana dona Domitília de Castro Canto e Mello - que se tornaria Marquesa de Santos embora nunca tenha residido nesta cidade, como relata o pesquisador J. Muniz Jr. -, teve grande influência sobre Dom Pedro I, inclusive intrigando-o contra o santista José Bonifácio, de quem ela não gostava. Dom Pedro inclusive estaria retornando ao Rio de Janeiro, após uma visita a Santos e à dona Domitília, quando, às margens do Ipiranga, em São Paulo, decidiu proclamar a Independência do Brasil.

Em Santos, criou-se a lenda de que um casarão teria sido residência da Marquesa. O historiador Costa e Silva Sobrinho desmentiu categoricamente a história, neste artigo publicado no jornal santista A Tribuna, em 3 de setembro de 1972, página 9 do 2º caderno:

"Imaginárias propriedades da Marquesa de Santos"

Costa e Silva Sobrinho

Existia na Rua Júlio Mesquita, há vários anos atrás, uma casa bem diferente das demais. Era térrea, mas ao lado direito possuía uma torre quadrada, com o um segundo andar, e acabada em ameias na parte mais alta. Ficava mais para os fundos do terreno, distinguindo-se na parte da frente duas palmeiras. À entrada, um comprido gradil de ferro com o seu portão no centro.

- Onde ficaria hoje esse interessante imóvel? Para a resposta não encontramos nenhuma dificuldade. Situava-se o aludido prédio à Rua Júlio de Mesquita, onde estão hoje as casas de número 166, 168 e 170. Denominavam-no o castelo, por causa do seu aspecto e, sobretudo, em face daquela torre, no alto rodeada de ameias e parapeito.

Edificado no princípio do corrente século (N.E.: século XX), nela funcionou durante muitos anos uma escola alemã de ensino primário, dirigida pela professora particular d. Maria Marfut. Os alunos, meninos e meninas, levavam lousa e livro debaixo do braço, dirigindo-se para ali todos os dias, sorridentes e contentes. A professora e os escolares estimavam-se mutuamente, como mãe e filhos! Aquela escolinha, de duas dúzias de alunos ou pouco mais, leva-nos a meditar ainda hoje nestas palavras de Antônio Feliciano de Castilho, o mais puro dos clássicos modernos, nas Novas Telas, vol. 3, pág. 117: - "As pirâmides do Egito reunidas não valem a mais humilde escola".

Mas, depois de 1930, tudo isso desapareceu. Adquirida  casa por Antonio Mauá, irmão do falecido leiloeiro Natalino Mauá, foi imediatamente posta no seguro. Pouco tempo depois... um incêndio que o inquérito policial julgou propositado. Antônio Mauá foi a júri. Na promotoria estava o dr. Nílton Silva. O réu, entretanto, defendido pelo dr. Samuel Baccarat, obteve absolvição.

O formoso castelo, abraçado pelas frondes das velhas palmeiras, encontra-se agora quase em ruínas. Em A Tribuna de 7 de fevereiro de 1950, ficamos sabendo que ele de fato ruiu. Dera-se o lamentável fato às 14,30 horas do dia anterior. O prédio pertencia então ao sr. Manuel de Oliveira Pires, que hoje reside em Ribeirão Pires na Rua Ovídio Abrantes n. 141.

Divulgou-se então uma curiosa notícia. É que o prédio sinistrado, segundo diziam, pertencia à Marquesa de Santos...

Pura invencionice de indivíduos amigos de balbucionar a história. A quadra onde se encontrava o castelo, formada pelas ruas Júlio Mesquita, Comendador Martins, Rangel Pestana e Senador Feijó, pertencia em 1890 ao conselheiro Francisco de Paula Mayrinck. Nenhuma construção fora construída ali até aquela época. Logo, como é que aquele castelo, edificado no começo deste século, podia ter pertencido à Marquesa de Santos?

As denominações das ruas Júlio Mesquita, Rangel Pestana, Júlio Conceição, Treze de Maio e outras foram dadas pelo conselheiro Mayrinck quando levantou a planta dos seus terrenos na Vila Matias, em 1890. Oficializou-as a lei municipal n. 647 de 16 de fevereiro de 1921. A lei municipal n. 28 de 8 de junho de 1894 autorizou o intendente de obras a chamar concorrentes para o calçamento das ruas Rangel Pestana e Júlio Mesquita.

O conselheiro Mayrinck era residente no Rio de Janeiro e ali exercia também o comércio. Era casado com d. Maria José Paranhos Mayrinck. Pertencia ela, portanto, à família do barão do Rio Branco. Além disso, tomou o conselheiro parte na propaganda abolicionista e republicana.

Os terrenos que ele adquiriu para revendê-los, constantes da planta acima referida, são tantos que compreendem grande parte da Vila Matias. As ruas denominadas I, II, III, IV, V e Rua VI bem demonstram sobejamente esse fato. Se Matias Costa teve o seu nome ligado à Vila Matias, o conselheiro Mayrinck devia ter pelo menos o seu nome em uma das ruas da referida Vila. Pensou ele em Rangel Pestana, Júlio Mesquita e tantos outros mas não se lembrou de si; seria justo, portanto, que a atual Câmara Municipal lembrasse ao digno prefeito a dívida que a Cidade tem para com tão ilustre brasileiro.

Cumpre-nos lembrar ainda que o conselheiro Mayrinck era sócio benemérito do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro.

Foi ele quem levou a Estrada Santos-Juquiá até Mayrinck, que era um estação com uma só rua naquele tempo. Hoje, Mayrinck é uma belíssima cidade. Tem Prefeitura Municipal, delegacia de Polícia e Fórum Judicial. Luz, água e esgotos foram as primeiras benfeitorias que os poderes públicos fizeram.

Mayrinck está ligada por estrada de ferro e de rodagem a São Paulo, a São Roque e ao Paraná. Ultimamente, tem ela progredido em todos os sentidos. O desenvolvimento de seu comércio é notável. Até a excelência do clima tem concorrido para o seu desenvolvimento, para o aumento de sua população. Ninguém esquece naquela localidade o culto da memória do seu fundador.


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