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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - RADIOFONIA
Rádio Clube de Santos (4)

Prefixo: PRB-4
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Sobre o presidente dessa que foi a primeira emissora de rádio santista, o jornal diário Cidade de Santos, publicou, em 1º de janeiro de 1978, na coluna A Pessoa:
 
Aos 83 anos, Brito ainda é um pioneiro

Aos 83 anos de idade, ele ainda é um adepto das inovações. Pioneiro no radioamadorismo, fotografia e cinema no Brasil, Hermenegildo Rocha Brito entusiasma-se ao dizer que a Rádio Clube de Santos, presidida por ele há cinqüenta anos, terá dentro em breve um transmissor com potência de 10 mil watts. "Não encaro o rádio como uma profissão, pois trabalhei sempre como comerciante de café", conta ele. "Mas tudo o que interessa às comunicações, desperta minha atenção".

Nascido em Jaboticabal, interior de São Paulo, passou o início da infância nas fazendas de café de seu pai. "Saímos da cidade devido à epidemia de febre amarela que ali grassava. Quando eu estava com sete anos, nossa família mudou-se para Portugal. Meus pais tiveram 24 filhos, dezesseis dos quais ainda estão vivos. Iniciei meus estudos na cidade do Porto, e sete anos mais tarde retornamos ao Brasil, indo residir em Ribeirão Preto".

"Quando estava lá, comecei a me interessar por fotografia, que na época tratava-se ainda de um método novo. As máquinas eram aquelas caixas enormes, e não existiam laboratórios fotográficos. Eu mesmo revelava as fotos que tirava, num quarto escuro", diz Hermenegildo.

Como o negócio da família era o café, ele resolveu vir para Santos trabalhar numa comissária exportadora: "Cheguei aqui aos 17 anos, no dia 29 de julho de 1912. Depois, nunca mais saí, sem tirar um dia de férias, e sem faltar nenhuma vez ao serviço". Começou na firma Junqueira Carvalho como office-boy, e quando a empresa foi extinta, em 1938, já era seu gerente.

"Quando cheguei aqui, Santos era bem diferente. O coração da cidade era a praça do Rosário, hoje praça Rui Barbosa. O meio de transporte era o bonde puxado pelos burros e, junto à praia, existiam apenas algumas chácaras. Aos domingos, costumava andar de charrete ou a cavalo pela praia. Só algum tempo depois é que iniciaram as linhas de bondes elétricos", recorda.

Em 1938 passou a ocupar a direção da Bolsa Oficial do Café de Santos, da qual só saiu ao aposentar-se, em 1965. "Na época em que estive na Bolsa, o governo suspendeu as suas operações, modificando bastante o sistema de mercado cafeeiro. Depois que o IBC - Instituto Brasileiro do Café - foi inaugurado, as mudanças foram ainda mais radicais. Mas depois me aposentei, me desliguei completamente do setor e, agora, deve estar tudo bem diferente, pois de ano para ano surgem novidades e transformações".

Rádio - O radioamadorismo chamou sua atenção logo que começou a ser difundido no país. "Eu mesmo montei meu transmissor e receptor, que hoje são adquiridos completos. Passei então a manter contato com radioamadores de todo o mundo. O número de adeptos no Brasil é atualmente bastante grande, sendo o terceiro país do mundo neste setor".

Três anos após a fundação da Rádio Clube de Santos, Hermenegildo foi eleito vice-presidente (1927), passando logo em seguida para a presidência. Trabalhando ainda no café, ele ia à Rádio na hora do almoço ou à noite, sempre se interessando pelas inovações. Quando assumiu, o transmissor era de 50 watts e a sede era nas dependências de outra entidade, no bairro do Boqueirão. Compraram então o terreno da Rua José Cabalero, e construíram a nova sede com amplo auditório, aumentando a potência para mil watts e depois para 5 mil, que é a atual.

"A nossa transmissora de mil watts foi a primeira que a Philips exportou para um país fora da Europa", conta ele. De uns anos para cá, o auditório da Rádio foi alugado, e ali funciona um cinema. "Os programas de rádio gravados ao vivo, em auditório, já não atraem mais público".

Na sua opinião, o rádio e a televisão vivem harmonicamente: "têm vidas paralelas, pois um depende do outro. Tanto que em toda estação de TV há também uma de rádio. A televisão pode ter maior audiência que o rádio à noite, mas não durante o dia. Isso porque, para assistir TV a pessoa não pode estar desenvolvendo outra atividade que exija concentração. Já o rádio pode ser ouvido por alguém que trabalha, que dirige um veículo, que escreve, e até mesmo que estuda".

"É lógico que, após o aparecimento da televisão, o rádio modificou-se. Mas isso não quer dizer que não tenha tanta importância, como sempre teve. O homem atual, especialmente o que mora na cidade, não pode mais viver sem o rádio e a TV. Hoje, temos necessidade de receber informações rapidamente, de todo o mundo", conclui.

No cenário artístico, vários nomes conhecidos foram lançados pela Rádio Clube, como Lolita Rodrigues, Leni Eversong e Renata Fronzi, além dos locutores Ribeiro Filho, Mota Neto e Raul Duarte. "No campo do radiojornalismo já demos vários furos: o desembarque dos aliados na Normandia, durante a Segunda Guerra; a chegada de Lindenberg a Paris, após cruzar o Atlântico num aeroplano; a queda de Mussolini; e o encontro de Nobile no Pólo Norte. Tudo foi captado da BBC, de Londres", conta. "Atualmente, só temos um programa de notícias, que é informativo policial, por Aldo Santos. Não temos planos de expansão na área devido ao rigor da atual Censura".

"A Rádio Clube foi a primeira emissora no país a lançar um programa infantil e outro feminino, ambos organizados por Renira Catunda. Também o primeiro jogo de futebol transmitido da Europa foi captado por nós, e pela Estação Cruzeiro do Sul", diz, com orgulho.

Outro passatempo a que Hermenegildo se dedicou foi o cinema, sendo que a sua máquina filmadora foi pioneira na categoria amadorística a chegar ao Brasil. "Os filmes eram revelados nos Estados Unidos, e levavam três meses para voltar".

Viúvo há alguns anos, de dona Jurema Franco Rocha Brito, Hermenegildo tem três filhos: Gildo, que é médico-diretor do Hospital Ana Costa; Pierina, chefe de pessoal do Hospital Guilherme Álvaro; e Iolanda, aposentada pela Legião Brasileira de Assistência. Tem três netos, José Paulo, José Mário e José Fernando. "Minha gestão na Rádio seria até 1980, pela eleição, mas não sei se continuarei até lá. Por enquanto, continuo cumprindo o expediente de oito horas diárias".


Foto publicada com a matéria

Vinte dias depois dessa entrevista, o mesmo jornal Cidade de Santos divulgou, em 21 de janeiro de 1978:

Proposta de milhões para a compra da Rádio Clube

O locutor e atual superintendente da Rede Capital de Comunicações, Hélio Ribeiro, fez uma proposta ao empresário Edson Arantes do Nascimento, para a compra da Rádio Clube de Santos. A oferta gira em torno de 30 ou 40 milhões de cruzeiros, e as informações dão conta de que o "negócio" estaria praticamente fechado. Entretanto, o gerente e quase fundador da emissora, Hermenegildo Brito, afirmou ontem não ter tomado conhecimento de tal proposta. Explicou que a rádio é uma sociedade anônima, da qual os empresários Edson Arantes e Vasco Faé são detentores de 80% das ações.

Hermenegildo, o terceiro acionista da Rádio Clube de Santos, disse que na manhã de ontem recebeu um telefonema perguntando sobre a veracidade da proposta, e só neste instante ficou sabendo do assunto. Mas "não sei se eles (Pelé e Vasco Faé) são tão bobos, a ponto de vender suas ações por apenas 40 milhões de cruzeiros. Só as nossas instalações ultrapassam essa quantia", salientou Hermenegildo, que trabalha na Rádio Clube de Santos há 50 anos.

Atualmente, a Rádio cobre todo o litoral, desde o Espírito Santo até o Rio Grande do Sul, e, segundo Hermenegildo, "a cada dia que passa, mais áurea é a fase da Rádio Clube. Por isso acho difícil que eles queiram realmente vendê-la".

Fundada em 1924, a Rádio Clube de Santos foi a quarta emissora do Brasil e a primeira do município. Em 1927, Hermenegildo Brito foi eleito vice-presidente e, logo após, presidente, cargo que exerce até hoje. Quando assumiu - conta ele - o transmissora era de 50 watts, e a emissora funcionava nas dependências de uma outra entidade, no bairro do Boqueirão.

Algum tempo depois, foi construída a nova sede, contendo um amplo auditório, na Rua José Caballero. A potência do transmissor foi então aumentada para 1.000 watts, e a seguir para 5 mil watts, ficando assim até hoje.

A Rádio Clube de Santos, que, segundo Hermenegildo "nunca deixou de progredir", em sua fase áurea chegou a lançar diversos artistas famosos. Entre eles, estão Lolita Rodrigues, Leni Eversong e Renata Fronzi. Lá iniciaram a sua carreira os locutores Ribeiro Filho, Mota Neto e Raul Duarte. A emissora foi ainda a primeira do Brasil a apresentar programas infantis e femininos.

Atualmente, o amplo auditório, onde durante algum tempo até Manuel de Nóbrega se apresentou, foi alugado para o Cine-Teatro Alhambra. E os programas de notícias, que eram tão freqüentes, foram reduzidos a um só informativo policial, apresentado por Aldo Santos.

E é talvez por toda essa história e pela glória da Rádio Clube de Santos, somadas aos equipamentos atuais de alcance a longa distância, que o seu presidente Hermenegildo Brito não acredita que os maiores acionistas tenham a  intenção de vendê-las.

Em 13 de março de 1993, o jornal santista A Tribuna noticiava:

Morre um dos fundadores da Rádio Clube, a 4ª mais antiga

Da Editoria Local

Um dos grandes empreendedores da área de comunicação, Hermenegildo Rocha Brito, diretor-presidente da Rádio Clube de Santos, faleceu na última terça-feira, aos 97 anos de idade. Até os últimos dias de vida, atuou à frente da sociedade anônima, na função que executava desde 1927, ininterruptamente.

Rocha Brito esteve à história do rádio, já que participou da fundação da Rádio Clube de Santos, a quarta estação radiofônica instalada no Brasil e a primeira emissora do Litoral Paulista. Sua importância na comunicação radiofônica foi ressaltada por Olao Rodrigues na 5ª edição do Almanaque da Baixada Santista.

Conta Olao Rodrigues que o radioamador Rocha Brito foi chamado por volta de 1927 para administrar a pequena estação de rádio do Boqueirão, que atuava com a contribuição de sócios, também radioamadores. O novo administrador começou por substituir o aparelho transmissor por outro mais potente, de sua "fabricação", introduziu os anúncios de propaganda comercial (a princípio graciosamente) e contratou o primeiro locutor da radioemissora.

Outra iniciativa vitoriosa: convidou a Orquestra Miramar para tocar na rádio, dando origem às programações ao vivo. Quando o governo da União proibiu as emissoras de funcionarem em base de agremiações amadorísticas, Rocha Brito transformou a Rádio Clube numa sociedade comercial, por ações, dividiu-as proporcionalmente entre os 96 remanescentes do quadro associativo, mantendo, dessa forma, a continuidade da ex-PRB-4.

Viúvo, Hermenegildo Rocha Brito deixou duas filhas e um filho. Seu corpo está sepultado no Cemitério do Paquetá.

Fazem parte do acervo da emissora estes dois textos datilografados, mensagens recebidas durante a revolução constitucionalista de 1932:



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