A entrada dos estúdios da PRB-4
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Rádio Clube de Santos
Como nasceu a idéia de sua fundação
Um fato que todos os apreciadores da nossa
radiotelefonia ignoram e que nos foi revelado pelo engenheiro Max Valdez é o que passamos a relatar, na certeza de que irá interessar grandemente a
todos os que acompanham de perto o progresso do Rádio Clube de Santos.
Conta-nos o dr. Valdez que certa ocasião, ele e seus dois amigos, Paulo C. Supplicy e
Frederico Magalhães Hafers, encontraram na bagagem de seu comum amigo, Roberto Simonsen, que voltava do Rio Grande do Sul quando terminara a
revolução de Isidoro, um objeto que se constatou ser um transmissor Pekan e que ali fora parar ninguém sabe como.
Querendo fazer uma surpresa ao dr. Roberto Simonsen, os dois engenheiros construíram
um receptor que causou grande admiração naquele tempo. Impressionado, o dr. Roberto aventou a idéia de fundar-se uma sociedade para o fabrico e
exploração comercial de aparelhos de rádio, sociedade que recebeu o nome de Sociedade Anonyma Radio Industrial (S.A.R.I.) e cujos aparelhos
receberam a denominação de Rádios Rex, premiados com medalhas de ouro.
Entretanto, era necessário que para maior difusão dos aparelhos fosse localizada uma
estação radiofônica. E daí nasceu a idéia de fundar-se uma emissora. Paulo C. Supplicy, Frederico Magalhães e Max Valdez foram, portanto, os
fundadores do Rádio Clube de Santos.
Tendo o sr. Domingos Fernandes cedido gentilmente uma parte do salão de festas do
Miramar, foram ali instalados os primeiros apetrechos para a consumação de tão relevante idéia. Durante as experiências, controlaram em São Paulo,
os primeiros passos do Rádio Clube, os engenheiros Amaral Cezar e Jorge Corbisier, falecidos, e Leonard Jones. O Rádio Clube começou a funcionar com
50 wats - Pekan, com o prefixo de PRAS, tendo sido seu primeiro presidente o dr. Antenor da Rocha Leite, falecido, e que era vereador à Câmara de
Santos.
O discurso de apresentação era para ser feito pelo também falecido Azevedo Júnior.
Mas, por motivo de doença, substituiu-o o dr. João Carvalhal Filho.
E, foi graças à idéia audaciosa de Paulo C. Supplicy, Frederico Magalhães Hafers e Max
Valdez, que hoje temos, como patrimônio da cidade, o Rádio Clube de Santos.
Aspecto interior, com o salão de auditório
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Outros dados históricos - Foi em 1924. Nessa época, muito embora fossem amplos
os horizontes que se apresentavam à radiotelefonia, o seu futuro era uma incógnita, uma interrogação.
Ninguém podia prever o futuro de uma indústria nascente e ninguém podia calcular o
sucesso formidável alcançado pela transmissão das ondas.
A 26 de dezembro desse ano de 1924 era fundado em nossa cidade um clube destinado a
recrear seus associados e ouvintes, poucos nessa época em que os aparelhos receptores deixavam muito a desejar.
Tratava-se de um clube como outro qualquer. Sem finalidade lucrativa e, diga-se de
passagem, sem muita esperança.
Cumpre frisar a relevância da iniciativa, considerando que, nesse ano, apenas o Rádio
Clube do Brasil e a Rádio Educadora de São Paulo espalhavam suas ondas pelo firmamento do Cruzeiro do Sul. A nova emissora vinha, pois, integrar o
primeiro trio de radiodifusão no Brasil.
Inicialmente SQLI, SQAI, PRAS, passou depois para RCS. O Rádio Clube de Santos,
estação Miramar, tinha seus "estúdios" (?) instalados no Miramar, de onde contribuía com suas irradiações, para o passatempo da cidade, graças à
gentileza do sr. Fernandes que cedia graciosamente as "amplas" instalações.
Para contar o que foi a luta titânica em que se empenharam os fundadores da
"Pioneira", seria longo. Seria longo, muito embora fosse interessante contar as passagens que se registraram, cômicas umas, tristes outras. Era a
vontade férrea de vencer sobrepondo-se ao desânimo de uns e ao ceticismo de outros. A falta de capital com que se pudesse tomar qualquer iniciativa
de vulto acabrunhava os fundadores do clube.
Em abril de 1932, a diretoria do Rádio Clube de Santos realizava o primeiro grande
passo. Recorrendo ao auxílio do comércio de Santos, conseguiam adquirir o terreno onde se eleva parte do prédio onde está localizada a estação. A
rifa de um bilhete de Natal da loteria de Espanha rendia ao Rádio Clube a apreciável soma de quarenta e dois contos de réis, o que facilitava
grandemente a tarefa dos dirigentes da "Pioneira", dando-lhes ânimo e fé num futuro melhor.
A nove de julho de 1932, ia-se proceder à mudança para a nova sede que então não
passava de quatro paredes levantadas no terreno recém-adquirido.
O movimento nacionalista veio colher de surpresa ao público em geral, lançando
novamente um véu de dúvidas aos diretores da B-4, diante das dificuldades financeiras em que se debatiam.
Arrostaram-se ainda essas dificuldades, como outras passadas, e a 16 desse mês de
julho nossa cidade ouvia o Hino Nacional, transmitido pela estação que tanto serviço prestou à causa constitucionalista, tomando a liderança
na campanha do sabonete e do agasalho para o soldado paulista.
Inovações - Vejamos agora algumas inovações introduzidas no rádio nacional pela
estação "Pioneira", que, diga-se, não ficou estagiária aguardando para imitar as inovações das outras.
PIKAP - Suprimindo o processo de levar a vitrola para diante do microfone, o Rádio
Clube de Santos introduziu no Brasil o sistema "Pikap", pelo qual as transmissões de discos são feitas diretamente, isto é, sem microfone.
Foi a primeira estação brasileira que transmitiu uma ópera completa. E foi Aída
a primeira ópera transmitida. Por essa ocasião, o sr. Brito abanava as lâmpadas para esfriá-las e aproveitar todo o rendimento do acumulador, cuja
corrente terminaria às 10 horas da noite, hora esta em que não estariam passados todos os discos de Aída. Isso ainda na estação Miramar.
Foi o Rádio Clube a primeira estação que fez uma irradiação externa, tendo atualmente
exclusividade nos campos de futebol da cidade, o que, sem dúvida, representa sua boa vontade em bem servir aos esportistas.
A B-4, conjuntamente com as Cruzeiro do Sul de S. Paulo e Rio e com o Rádio Clube de
Juiz de Fora, foram fundadores e participantes da primeira cadeia de radiodifusão, em conjunto. A rede Verde-Amarelo. Foi a primeira estação que
transmitiu a palavra de um sacerdote. E foi feliz nessa iniciativa, pois brindou a todos seus ouvintes com a palavra inflamada do grande orador
sacro, Pe. João Batista de Carvalho.
Outras muitas iniciativas partiram do Rádio Clube. Como dissemos, essas inovações
valem pelo que representam de esforço em bem servir ao público.
Não podemos deixar de nos referir, embora ligeiramente, à campanha do anúncio. Quando
a estação se iniciava, os anúncios eram feitos gratuitamente. E quanto sacrifício para que os negociantes permitissem a irradiação do nome de seu
estabelecimento. Era preciso implorar e só por uma deferência toda especial o negociante terminava acedendo, quando o fazia...
Isto é alguma coisa do que foi a vida, os primeiros passos da PRB-4.
A sala do estúdio principal
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O que é atualmente a PRB-4 - O Rádio Clube de Santos, à Rua José Cabalero, 60,
em prédio próprio, edifício esse que, quando terminado, será de uma suntuosidade única. Construído especialmente para esse fim, oferecerá todas as
comodidades aos visitantes e aos artistas que estarão perfeitamente à vontade dentro dos "estúdios".
Com a continuação das obras do prédio, será construído um grande auditório com
capacidade para duzentas pessoas, podendo ser utilizado como salão de conferências, quando assim se quiser. Será pois um prédio que honrará a cidade
e a radiofonia brasileira. Obedecerá sempre ao mesmo gosto artístico do vestíbulo, em cuja pintura foram gastos trinta e dois contos de réis!
O melhor programa - O Rádio Clube de Santos, ao apresentar, pela primeira vez
no Brasil, um programa com crianças, estava longe de imaginar que esse programa viesse a alcançar o retumbante sucesso que tem obtido nos últimos
tempos.
A "Hora Infantil", logo iniciada, é incontestavelmente o melhor programa da cidade. Aí
aparecem valores precoces que nos dão a esperança de ver Santos transformada no celeiro do rádio nacional. Esse programa gostoso foi criado pelo
presidente da B-4, em 1928. E desde então tem marchado em crescente progresso, conquistando cada vez mais a simpatia dos longínquos recantos onde
são ouvidas com carinho as irradiações da "pioneira". Em nossa cidade, esse programa não pode conquistar mais ouvintes porque todos os santistas de
há muito admiram o programa das crianças, feito para todas as idades.
Nesse programa se celebrizaram os componentes do regional "Calungas", tornando-se
conhecidos pelas soberbas interpretações do conjunto.
Outros elementos se tornaram grandes. Seria longo enumerar as crianças que, sob a
atual orientação de d. Alayde Camargo, emprestam seu concurso ao programa querido da cidade.
Hora social - Este programa, irradiado todos os dias no período do almoço, é,
sem dúvida, um programa bastante apreciado pelos rádio-ouvintes da cidade. Foi mais uma das boas iniciativas do Rádio Clube.
A voz do Mangue - Muito embora se trate de um programa já extinto, não podemos
deixar de fazer uma referência ligeira à irradiação que foi a "cachaça" de outros tempos.
Se fosse possível arregimentar todos os valores que lhe emprestavam seu concurso,
estamos certos de que PRPCH20 voltaria a obter o mesmo sucesso retumbante que tornou conhecidos os nomes de Dito, Coronel Juvêncio, Bartuíra,
Xantippa etc.
Locutores - O corpo de locutores, chefiado por Ary Falconi, conta mais com o
concurso de José Luiz Lopes, Olavo Martins, Rubens Vasconcellos e Arnaldo Alfaya.
Regional - O regional de Burgos, classificado entre os melhores do Estado, é
composto dos seguintes elementos: Burgos, a flauta enfeitiçada; Cícero Pacheco, o mestre do violão; Arnaud Castro, o compositor nº 1; Antonio Russo,
a sonoridade irrequieta; Castilho, o pandeiro cadência.
"Cast" - Atualmente emprestam seu concurso nesta emissora os seguintes artistas
exclusivos: Norma Lopes, a "voz bonita" da cidade; Cynira Rios, o samba santista; Ida Ribeiro, a "voz melodia"; Julieta Falconi, a grande
intérprete; Alberto Cruz, Luiz Carlos, Cyro Lemos e Carlos Marques; Carmencita e La Soberana, a consagrada cantora internacional.
Aspirantes - Os aspirantes do rádio, de há longo tempo, vêm tendo oportunidade
de se apresentarem ao microfone do Rádio Clube, pelo programa de novatos, sob a orientação de Joaquim Serra, o apreciado dr. Rapozeira.
Visitantes - Entre os nomes dos astros que têm cantado para os ouvintes da PRB-4,
destacamos os seguintes: Hekel Tavares, Elisa Coelho de Andrade, Ricardo Dias, o incomparável criador de La Cumparsita, Sartorato, o cantor
que entusiasmou o Rio e que começou nesta emissora. Lamartine Babo, Aracy Cortes, Sônia Carvalho, Zilah Fonseca, Nuno Roland, outro astro que se faz
aqui, Jeanette e seu chapéu de palha, Calixto Corazza, o grande musicista; maestro Tabarin, Elisinho Pierotti, Yara, Ida Alencar, Equisello, Ary
Barroso, Alzirinha Camargo, Othelo Santiago, Estellinha Egg e Henrique Beltrão.
Quinteto - O apreciado conjunto musical está sob a orientação de Vetró, o
diretor artístico da estação, e conta mais com o concurso dos seguintes senhores: Francisco Pirro, José Fernandes, Otho Colbak e Natsie Villa.
Sala de operações técnicas
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Contribuição - O Rádio Clube de Santos contribuiu para o rádio nacional com os
seguintes elementos, que começaram aqui suas atuações: Zezé Lara, Manoel Reis, Lenny Eversong, Heleninha, Romilda Simões (Garota), José Ferreira,
Plínio Ferraz, Cherubim Corrêa (como "speaker"), Raul Duarte, hoje diretor artístico da Record, dr. Archimedes Bava, Toledo Duarte e muitos
outros.
Homenagem - Ao lembrarmos o que tem sido a atuação do Rádio Clube de Santos,
não podemos de maneira nenhuma deixar de fazer uma referência. O nome de d. Yayá Freitas Guimarães, grande benemérita da B4, é pronunciado com
carinho por todos quantos estão ao par do que foram os primeiros passos da "pioneira". D. Yayá, juntamente com Zezé Lara, foram os primeiros
elementos femininos que se interessaram pelo rádio, no Brasil, emprestando-lhe todo o valioso concurso de seu interesse e de sua dedicação. Também a
senhora Maria Luíza Barboza Rocha e Silva muito contribuiu com a sua "Hora do Lar".
Diretoria atual - Os destinos do Rádio Clube de Santos estão sendo dirigidos
pela seguinte diretoria: presidente, Hermenegildo da Rocha Brito; vice, Benedicto Egydio de Souza; 1º secretário, Armando Barreira Fernandes; 2º
secretário, Herculano Craveiro Júnior; 1º tesoureiro, Hermínio Ferreira Martins; 2º tesoureiro, Casemiro Reis Vasconcellos; diretores-vogais:
Vicente Duarte, Francisco de Barros Mello, Heitor Muniz, Dirceu Santos e José A. de Almeida Prado.
Diretor geral do Programa Santista de Rádio - dr. Arnaldo Pereira da Silva; diretores
auxiliares: comercial, Ary Farconi, e artístico, José Vetró.
Um nome - Ninguém contesta que são muitos os elementos aos quais se deve grande
parte do que está feito no Rádio Clube. Ninguém contesta, igualmente, que, entre esses elementos, aparece a figura de Hermenegildo da Rocha Brito. O
presidente do Rádio Clube de Santos tem sido a figura central de todas as iniciativas e empreendimentos. Por essa razão, Rocha Brito goza da maior
estima no seio da simpática emissora.
Encerrando - O Rádio Clube de Santos, que representa o esforço insano de um
pugilo de bem intencionados, pela brilhante trajetória que tem sido sua vida e pela boa vontade empregada em bem servir aos rádio-ouvintes, merece
bem a consideração em que é tido e o carisma que o público lhe dispensa.
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Dr. Arnaldo Ferreira da Silva - diretor geral |
Ary Falconi, diretor comercial
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Luiz Monteiro da Cruz,
contador e chefe do escritório |
José Vetró,
diretor artístico
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