Em séculos anteriores, o sal foi motivo de grandes
disputas, existindo uma Rua do Sal e ocorrendo até a invasão da vila de Santos por paulistas de
serra-acima, para a obtenção do produto. No século XX, o sal consumido na região - e movimentado em direção ao interior paulista e outros estados -
procedia principalmente das salinas do Rio Grande do Norte. Uma das principais empresas a operar com o produto, a Salmac, instalada no bairro do
Macuco, registrava em matéria no jornal santista A Tribuna, edição de 9 de julho de 1954 (exemplar no acervo do
historiador Waldir Rueda):
O expressivo cliché mostra-nos o belo edifício da Salmac, à Rua Euzébio de Queiroz,
no Macuco, junto ao cais da Mortona, vendo-se ao fundo parte do populoso bairro
e, mais além, trecho da P. da Praia e seus arranha-céus
Foto publicada com a matéria
Salmac, paradigma do comércio e da indústria do sal brasileiro
Empresa nitidamente nacional, a Salmac vem colaborando de modo eficiente em prol
do fortalecimento econômico do país
O populoso bairro de Vila Macuco, até há pouco, era
sobejamente conhecido dos santistas e dos forasteiros pelo fato de ali estar sediada a Inspetoria Geral da Companhia Docas, com suas grandes
instalações mecânicas, elétricas e portuárias, bem como seu dique e oficinas, onde uma quantidade considerável de operários empregavam sua atividade
nos mais diferentes e úteis misteres. Esses operários, como é óbvio, possuíam seus lares modestos nas ruas que cortavam o bairro em todos os
sentidos, de modo que o Macuco era tido e havido como um bairro essencialmente proletário.
Com o perpassar dos anos, porém, a situação sofreu visível transformação, claro que
para melhor, pois já não se nota mais no conhecido centro populacional apenas aquela avalanche de homens do trabalho rude, tanto em terra como no
mar, porém núcleos de belas residências em ruas asfaltadas e avenidas arborizadas, as quais dão ao bairro antes pobre e humilde uma sensação de
bem-estar e conforto. Comerciários, industriários, funcionários de todas as categorias e elementos das classes liberais vivem agora no Macuco,
concorrendo para o seu progresso e adiantamento.
Além disso, vêm sendo ali instaladas grandes fábricas, bem assim estabelecimentos
comerciais e industriais ergueram suas sedes nesse centro, contribuindo sobremaneira para a modificação de seu aspecto urbanístico.
Entre esses estabelecimentos, pela grandeza de sua massa de construção, assim como
pela elegância e sobriedade de suas linhas arquitetônicas, sobressai o edifício da Salmac, Salicultores de Mossoró-Macau Ltda., o qual está
localizado na zona portuária conhecida por Mortona, à Rua Euzébio de Queiroz, 72-77. As instalações da Salmac são moderníssimas e deverão ser
inauguradas dentro em breve.
Digamos, porém, algumas palavras sobre a notável empresa. É a Salmac uma companhia que
se constituiu para produzir e vender o sal em alta escala. Suas grandes salinas se encontram em Areia Branca, Macau e Mossoró, no Estado do Rio
Grande do Norte, e sua capacidade de produção é superior a 140.000 toneladas por ano, e movimenta uma tonelagem que representa 23,60% da quota total
do Rio Grande do Norte, 19,94% do consumo total do país, no qüinqüênio 1945/49.
O sal, que é transportado daquele Estado do Norte em navios adequados, é descarregado
diretamente para o grande armazém da Salmac na Mortona, por meio de dois carregadores com a capacidade total de 200 toneladas por hora, e esteiras
transportadoras que permitem a descarga direta do sal a granel dos porões dos barcos para os depósitos do armazém da Salmac. Para se poder aquilatar
da importância dessas instalações do porto para a armazenagem e depósito da empresa salineira, é suficiente dizer-se que as mesmas atendem ao
movimento total de importação, calculado em 250.000 toneladas por ano, trabalhando apenas 3,30 horas por dia.
Em seguida, ao armazém e depósitos da Salmac, que são servidos por um desvio
ferroviário da Estrada de Ferro Sorocabana, com bitolas larga e estreita, encostam os vagões, os quais, depois de
carregados, conduzem o sal para o hinterland, isto é, para os centros consumidores dos Estados de S. Paulo, Minas Gerais, Mato Groso, Goiás e
Paraná. A capacidade do armazém é para 24.000 toneladas.
A Salmac possui sua matriz no Rio de Janeiro, onde tem instalada
uma refinaria a vácuo, constituindo o mais moderno processo de refinar sal, com similar apenas nos Estados Unidos; tendo filiais em S. Paulo, Santos
e Areia Branca, no Estado do Rio Grande do Norte.
Anúncio publicado no álbum Companhia Docas
de Santos - produzido em 1957 pelo Magazin das Nações - Editora & Publicidade Roman Ltda. - acervo de Fábio Ferraro Oliari, que ofereceu as
imagens a Novo Milênio
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